n. 40 (EXTRA) (2025): Duplo colapso: ecossistêmico e humanista

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Para os coetâneos dos primeiros 25 anos do Século XXI, a contemporaneidade, entendida como condição histórica e pauta cultural, reformula problemáticas e introduz novos temas de estudo, condicionando a revisão de procedimentos e marcos teóricos aparentemente consolidados. A consciência do viver em novas eras, como do antropoceno e do digital, abre hipótesis de transição para um mundo pós-humano no qual a cidade e o território, o espaço público e as práticas sociais, a arquitetura e a estética da vida cotidiana se enfrentam como o final de um ciclo histórico, dando lugar a um estado diferente. Para José Luis Pardo (2011), em razão da mudança civilizatória que atravessamos, estamos instalados em uma transição permanente de paradigmas: é assim no Sul Global?

Desde a modernidade, o sentido do desenvolvimento da técnica afeta a distintos campos disciplinares, como o da Arquitetura e do Urbanismo, que têm se constituído em distintos saberes absolutos sobre os modos de habitar a Terra, considerada como um recurso disponível a ser instrumentalizado, com o consequente desaparecimento de biomas e a degradação de paisagens. Os territórios urbanos, as cidades, têm se transformado e constituído em dispositivos de alto impacto ambiental. Na coetaneidade de novos paradigmas, Antropoceno, Capitaloceno ou Chthuluceno surgem como conceitos que, por sua amplitude, expressam a multicausalidade dos processos que afetam o planeta em seu conjunto, abrindo a possibilidade de desenvolvimento de uma nova ética mna relação entre a humanidade e a natureza.

Da mesma forma, a consolidação da era digital promove a lógica informacional em todas as ordens da existência, facilita uma conectividade compulsiva entre indivíduos monádicos (Sadin, 2020) e expande a aplicação de inteligência artificial, dando lugar a fenômenos de crises que transcendem limites nacionais e desafiam o poder dos Estados. Emergem realidades nas quais os sujeitos desenvolvem, por imperativo da época, novas sensibilidades e capacidades cognitivas que alteram a noção de espaço e de tempo. O locus urbano, como fator de estabilidade no espaço e duração no tempo, cede frente a volatilidade e instantaneidade do digital, modificando as práticas coletivas en el espacio público urbano.

As cidades (do Sul Global), caracterizadas por suas múltiplas temporalidades e espacialidades, que em si mesmo podem explicar-se por sua complexidade histórica, se enfrentam com a necessidade de processar novas externalidades próprias de suas singularidades e da mundialização política, económica y cultural. De tal modo que, a questão de nossos tempos, do antropoceno e do digital, constitui um epifenômeno que introduz novos parâmetros para pensar a cidade como palimpsesto de significados, elementos materiais e práticas sociais.

Se trata de mundos em ruínas que se instauram? Mundos humanos e não-humanos produzidos a partir de uma lógica de fugacidade e instantaneidade, de tempos efêmerose espaços amnésicos (A. F. Carlos, 2007), de esquecimentos e substituições? Nesta nova era, a separação entre Natureza e Cultura, como também entre sujeito e sociedade, é insustentável e exige testar novas perspectivas e abordagens para fazer frente a dualismos, ao colonialismo e a hegemonia, aspectos próprios do mundo ocidental.

Considerando que a cidade atual, que é expressão do poder do capitalismo globalizado e expressa uma nova chave, da tríade cidade-trabalho-política para cidade-gerenciamento-negócio, potencializada pela presença disruptiva da tecnologia, fizemos as seguintes perguntas, às quais os textos apresentados aqui respondem sob diferentes aspectos:

  • Em consequência de um campo civilizatório em transformação, quais são as possibilidades e limitações do Sul frente a complexidade e as tendencias contemporâneas?
  • Estas tendencias constituem novas ameaças ou oportunidades para sociedades marcadas desigualdades agudas?
  • Em que medida o Sul Global propõe uma epistemologia situada, adequada para enfrentar os desafios do momento coetâneo? O que surge como desenvolvimento desta epistemologia em relação aos valores, elementos e procedimentos de disciplinas projetuais como a Arquitetura e o Urbanismo?

Cujas respostas foram classificadas em 4 giros:

  • Giro 1: Arquitectura, Límites y Transformaciones. Artigos 1, 2, e 3
  • Giro 2: Arquitectura, Género y Alteridad. Artigos 4 e 5
  • Giro 3: Arquitectura, Naturaleza y Cultura. Artigos 6, 7 e 8
  • Giro 4: Arquitectura, Proyecto y Sociedad. Artigos 9 e 10

 

Publicado: 2025-12-09

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