Ecoprodutoras Invisíveis

Espaços de agricultura familiar galega para autoconsumo local

Resumo

No primeiro quartel do século XXI, estamos a enfrentar os efeitos do profundo impacto de séculos de sobre-exploração da terra e da consolidação de um capitalismo globalizado com profundas raízes coloniais e patriarcais. Dois grandes desafios convergem neste momento crucial: a crise climática e a crescente desigualdade social. A abordagem urbanocêntrica dos estudos críticos representa um obstáculo significativo à construção de contra-narrativas transformadoras. Nos estudos urbanos e territoriais, tendemos a produzir análises centradas na cidade que ignoram a pegada ecológica nos espaços - e corpos - que as sustentam, muitas vezes referidos como territórios esvaziados. No entanto, na Galiza, persistem práticas territoriais que, apesar de historicamente desvalorizadas, sobreviveram até aos dias de hoje. É o caso da agricultura familiar para consumo local. Os espaços da agricultura familiar galega permitem-nos imaginar formas alternativas de habitar a terra que ultrapassam a dicotomia rural-urbano. Muitas mulheres galegas idosas continuam a apoiar este sistema de produção e reprodução da terra, criando redes essenciais de cooperação e interdependência. Este artigo de investigação documenta os espaços de trabalho de algumas destas produtoras ecológicas de ascendência agrícola que desempenharam, e continuam a desempenhar, um papel decisivo na soberania alimentar de numerosas famílias galegas, respeitando o ambiente e cuidando da biodiversidade.