Estratégias de cuidado na educação arquitetônica para a prática futura

Resumo

Este artigo considera estratégias pedagógicas de cuidado ao longo do currículo de licenciatura na Escola de Arquitetura e Planeamento (SoAP) da Universidade da Witwatersrand (Wits). Estas estratégias foram desenvolvidas em resposta ao património colonial e do Apartheid na África do Sul, bem como aos apelos mais recentes por uma educação descolonizada no âmbito do movimento #FeesMustFall. O artigo apresenta três estudos de caso que propõem estratégias para contrariar o colonialismo no sistema de ensino de arquitetura Sul-Africano, que historicamente privilegiou epistemologias ocidentais e marginalizou conhecimentos indígenas e modos de saber incorporados. Tal contexto levou à formação de estudantes preparados para a indústria, mas não para a prática, reforçando assim modos de prática extrativos. Em contraste, este artigo coloca o cuidado em primeiro plano, enquanto prática crítica e descolonial no ensino da arquitetura que promove a prontidão para a prática. Exploram-se estratégias pedagógicas de cuidado ao longo da licenciatura. No primeiro ano, o Character-Led Design cultiva empatia e consciência social através da narrativa e da prática de contar histórias, refletindo sobre a história mineira de Joanesburgo e os primórdios coloniais. No segundo ano, práticas materiais incorporadas situam os estudantes entre o mundo humano e o mais-que-humano, promovendo sensibilidade às atmosferas e à matéria através da prática incorporada. No terceiro ano, narrativas espaciais pessoais desenterram conhecimento tácito de design a partir da experiência vivida, permitindo aos estudantes situarem-se criticamente nos quadros institucionais e profissionais. Estas abordagens estruturam o desenvolvimento da autoconsciência, da empatia e da agência crítica dos estudantes, equipando-os como futuros profissionais capazes de desafiar normas extrativas. Argumentamos que o cuidado no ensino da arquitetura não é apenas pastoral, mas uma posição epistémica e ontológica que valida o conhecimento relacional, incorporado e afetivo. Tais estratégias de micro-resistência contestam paradigmas coloniais enraizados, promovem inclusão e preparam os diplomados para praticar arquitetura de forma atenta à justiça social, à interdependência ecológica e a visões pluriversais, transformando simultaneamente a profissão e as suas pedagogias a partir de dentro.