Camões e Tartessos: leituras em torno de dois excertos d’os Lusíadas
DOI:
https://doi.org/10.12795/spal.2008.i17.07Palabras clave:
Luís de Camões, Tartessos, Fontes, Nebrija, Pedro de Medina, Métrica, Historiografia.Resumen
Luís Vaz de Camões, no poema épico Os Lusíadas, refere os Campos Tartésios (III, 100) e o rio Tarteso (VIII, 29). O objectivo deste artigo é explicar a presença destas referências geográficas no poema, analisando a vida do poeta (e as discussões em torno desta) e a sua relação com o contexto cultural e intelectual no Portugal do século XVI, bem como alguns aspectos da construção deste brilhante testemunho da literatura portuguesa. Após a discussão deste contexto, analisa-se a discussão em torno das fontes clássicas, portuguesas e espanholas que, provavelmente, o autor utilizou para escrever o poema, o que é comparado com as poucas informações que detemos quando tentamos reconstruir a vida do poeta. Neste sentido, é provável que Camões tenha adquirido alguns conhecimentos na Índia e não apenas em Portugal. Conclui-se que as prováveis fontes para Tartessos n’Os Lusíadas são o Dictionarium de A. A. Nebrija e o Libro de Grandezas y cosas memorables de España, de Pedro de Medina, escrito em 1548 (i.e., antes da partida de Camões para a Índia), especialmente o primeiro na versão latina do termo (tartessus/ tartessius). Analisam-se, igualmente, as regras da métrica que, provavelmente, obrigaram o poeta a incluir, n’Os Lusíadas III, 100 e VIII, 29, os termos campos tartésios (uma alternativa a campos de Tarifa) e Tarteso (uma alternativa a Guadalquivir, Bétis e outros sinónimos utilizados no poema). Do ponto de vista historiográfico, Camões não estava interessado neste tema, uma vez que tenta, primeiro, dar ao seu país uma espécie de identidade colectiva e uma mensagem nacionalista (Lusíadas = filhos de Luso). Estas referências levam-nos a incluir Camões na história da recepção de Tartessos na historiografia ibérica.
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