Resumen
O artigo se propõe a refletir sobre como se configuram os sentidos dos corpos periféricos na ficção seriada brasileira. Nessa proposta, o conceito de corpo extrapola o âmbito físico e se refere a um conjunto mais amplo de traços que compõem a sua comunicabilidade em ambientes diversos. Partimos do pressuposto de que os corpos são geradores de sentidos com potencial para producir semioses ilimitadas, mantendo o que é estabelecido como norma (regularidades/previsibilidades) e promovendo rupturas de sentidos (irregularidades/imprevisibilidades), logo, eles engendram sentidos claramente bio-políticos (Tucherman, 1999) e estão associados à sociedade disciplinar e à sociedade de controle (Foucault, 1979). Assim, a pesquisa direciona a atenção para os corpos apresentados em narrativas ficcionais e tidos como destoantes em relação aos padrões midiáticos e culturais vigentes, respeitando o estudo de suas linguagens e processos de significação. Privilegiamos uma condução téorico-metodológica que parte da perspectiva da semiótica da cultura (Lotman, 1996; 1999; 2013; 2021) para identificar e buscar compreender o processo de semiose de corpos periféricos na ficção seriada brasileira, tendo a cartografia como método, buscou-se sustentação na reflexão de Kastrup (2007) sobre o funcionamento da atenção do pesquisador, considerando suas quatro variedades: rastreio, toque, pouso e reconhecimento atento. Nossas observações deram conta, de forma geral, de que os textos ficcionais seriados de produções brasileiras cartografados oferecem relativo espaço aos corpos periféricos, porém com pouco protagonismo.
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