“Participação”, “resolução negociada” de conflitos e (neo)extrativismo no Brasil: o Parque Nacional da Serra do Gandarela (MG).

Autores/as

  • Claudia Marcela Orduz-Rojas Universidade Federal de Minas Gerais
  • Doralice Barros-Pereira Universidade Federal de Minas Gerais
  • Janise Bruno-Dias Universidade Federal de Minas Gerais

DOI:

https://doi.org/10.12795/rea.2018.i36.06

Palabras clave:

participação, resolução de conflitos, (neo)extrativismo, Serra do Gandarela, Vale S.A

Resumen

A adoção de mecanismos de participação e técnicas de gestão e resolução negociada de conflitos tornaram-se o caminho privilegiado para resolver “impasses” ambientais (Monteiro et al., 2012; Mungai, M., 2008). A partir dos embates da Vale S.A e da criação do Parque Nacional da Serra do Gandarela, na Região Metropolitana de Belo Horizonte-MG (Brasil), analisamos os limites do paradigma consensual no contexto do (neo)extrativismo tendo em conta a tipologia de participação de Pimbert, M. & Pretty, J. (1995).  As reflexões foram elaboradas a partir de documentos oficiais, entrevistas semi-estruturadas e da observação de espaços de participação e negociação como Audiências e Consultas Públicas, Grupos de Trabalho e Mesas de Negociações Diretas. Concluímos que a adoção desses mecanismos participativos e consensuais produzem uma falsa ilusão quanto a “participação” e “harmonização” de interesses. Além disso, os acordos alcançados em longos processos de negociação revelaram-se insuficientes e deliberadamente negligenciados, garantindo uma vez mais às empresas o acesso e controle territorial e a reprodução do seu espaço de produção. 

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Biografía del autor/a

Claudia Marcela Orduz-Rojas, Universidade Federal de Minas Gerais

Graduada em História pela Universidade Nacional de Colômbia (2006). Mestrado em Geografia pela Universidade Federal de Minas Gerais (2014). Doutorado em andamento em Geografia (UFMG). Faz parte do Programa internacional de pesquisa Cidade e Alteridade: convivência multicultural e justiça urbana (Faculdade de Direito-UFMG), do Programa Mapeamento dos Povos e Comunidades Tradicionais de Minas Gerais (FAFICH-UFMG) e do projeto Mobiliza Rio Doce, vinculado ao Programa Participa UFMG - Mariana-Rio Doce (Pro Reitoria de Extensão-UFMG). Temas de pesquisa e interesse: ecologia política, conflitos ambientais, mineração, desastres, áreas protegidas, comunidades tradicionais. 

Doralice Barros-Pereira, Universidade Federal de Minas Gerais

Graduada (1986) e mestre (1992) em Geografia pela UFMG e doutora em Geografia pela Universidade de Montréal (2002). Professora Associada IV da UFMG com pesquisas em Geografia Humana em: geografia urbana, conflitos territoriais, A produção e organização sócio-espacial de áreas de proteção ambiental, representações sociais, ideologias, a atuação do Instituto Histórico e Geográfico do Brasil e em Minas Gerais na construção do pensamento geográfico, a influência do livro Através do Brasil para a construção do pensamento geográfico escolar; Os cursos de Geografia das Universidades Federais de Minas Gerais e de Uberlândia: memória dos docentes. Professora visitante na Universidade de Lille 1, em outubro de 2016 e com a qual desenvolve pesquisa Riquezas Compartilhadas, sub-projeto Riquezas naturais, diversidades naturais e diversidades sociais.

Janise Bruno-Dias, Universidade Federal de Minas Gerais

Graduada em Ciências Biológicas pela Universidade Federal de Minas Gerais (1987), mestre em Geografia e Análise Ambiental pela Universidade Federal de Minas Gerais (2001) e doutora em Meio Ambiente e Desenvolvimento pela Universidade Federal do Paraná (2006). Professora e pesquisadora da Universidade Federal de Minas Gerais desde 2009. Experiência na área de Geografia, com ênfase em Biogeografia, atuando principalmente nos seguintes temas: estudo da paisagem, políticas públicas socioambientais, áreas protegidas e conservação, meio ambiente e desenvolvimento rural.

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Publicado

2018-07-25

Cómo citar

Orduz-Rojas, C. M., Barros-Pereira, D., & Bruno-Dias, J. (2018). “Participação”, “resolução negociada” de conflitos e (neo)extrativismo no Brasil: o Parque Nacional da Serra do Gandarela (MG). Revista De Estudios Andaluces, (36), 121–146. https://doi.org/10.12795/rea.2018.i36.06
Recibido 2018-02-28
Aceptado 2018-06-06
Publicado 2018-07-25