Resumo
Este artigo analisa a relação entre povos ameríndios e a floresta amazônica, com ênfase nas práticas de caça e na construção da paisagem. Baseia-se principalmente em pesquisa etnográfica realizada entre os Xikrin do Bacajá e destaca a ecologia das trilhas multiespécies, nas quais humanos e outros-que-humanos interagem em uma dinâmica de reciprocidade. As atividades de trekking são exploradas para compreender como a floresta é produzida, não apenas como um espaço físico, mas como um território vivo e em constante transformação, influenciado por uma diversidade de agentes, incluindo animais, vegetais e espíritos. A caça, longe de ser uma prática utilitária, envolve os protagonistas em dinâmicas arraigadas na memória, no conhecimento ecológico, no desenvolvimento de habilidades e na produção de ritmos derivados de engajamentos interdependentes no ambiente. O estudo reflete sobre os impactos contemporâneos nas práticas tradicionais de caça e conservação, sugerindo uma abordagem cosmopolítica que reconcilia a natureza e cultura, considerando a floresta como um campo de agência multiespécies em disputa.
Referências
Albert, Bruce (2016) “The polyglot forest”. En H. Chandès (coord.) The Great Animal Orchestra. Paris: Fondation Cartier pour l'Art Contemporain, pp. 320-325.
Albert, Bruce y Le Tourneau (2007) “Ethnogeography and Resource Use among the Yanomami: Toward a Model of “Reticular Space’”. Current Anthropology, 48(4): 584-592.
Aparicio, Miguel (2019) A relação banawá: socialidade e transformação nos Arawá do Purus. Tese, Rio de Janeiro: Museu Nacional.
Arregui, Aníbal (2024) Infraespécie: del fin de la naturaleza al futuro salvaje. Madrid: Alianza Editorial.
Barad, Karen (2007) Meeting the Universe Halfway: Quantum Physics and the Entanglement of Matter and Meaning. Durham, NC: Duke University Press.
Bechelany, Fabiano (2019) “Hunting paths in the Amazon: technics and ontogenesis among the Panará”. Vibrant, 16: 1-24.
Bechelany, Fabiano (2017) Suasêri: a caça e suas transformações com os Panará. Tese, Brasília: Universidade de Brasília (UnB).
Cabral, Joana (2016) “Mundos de roças e florestas”. Boletim do Museu Emílio Goeldi, 11(1): 115-131.
Chaparro, Anahi (2020) “Entrelazamientos entre cuerpos y territorio en la crianza kichwa lamista”. Amazonia Peruana, 17(33): 87-108.
Coelho de Souza, Marcela et al. (2017) “T/terras indígenas e territórios conceituais: incursões etnográficas e controvérsias públicas projeto de pesquisa”. Entreterras, 1(1).
Descola, Philippe (2023[2005]) Para além de natureza e cultura. Rio de Janeiro: Eduff.
Escobar, Duvan (2024) Paisagens multiespécies: caça, trilhas e movimento nos Xikrin do Bacajá. Espaço Ameríndio, 18 (2): 358-399.
Escobar, Duvan (2024b) “Trajetórias dos Xikrin do Bacajá: aportes para um estudo sobre as migrações e cisões no médio Xingu”. In: W. Viana (Et Al.) Amazônia: tópicos atuais em ambiente, saúde e educação. São Paulo: Editora Científica
Escobar, Duvan (2023) Caminhando para aprender: caça, pessoa e movimento nos Xikrin do Bacajá. Tese, Campinas: Unicamp.
Fausto, Carlos (2008) “Donos demais: maestria e domínio na Amazônia”. Mana, 14(2): 329-366.
Fausto, Carlos (2001) Inimigos fiéis: história, guerra e xamanismo na Amazônia. São Paulo: Edusp.
Fisher, William H. (1991) Dualism and Discontents: Social Process and Village Fissioning among the Xikrin-Kayapó of Central Brazil. Tese, Ithaca: Cornell University.
Garcia, Uirá (2018) Crônicas de caça e criação. São Paulo: Hedra.
Garcia, Uirá (2010) Karawara: a caça e o mundo dos Awá-Guajá. Tese, São Paulo: USP.
Giannini, Isabelle (1991) A ave resgatada: "a impossibilidade da leveza do ser". Dissertação, São Paulo: USP.
Haraway, Donna 2023[2016] Ficar com o problema: fazer parentes no Chthuluceno. São Paulo: N-1 Edições.
Haraway, Donna (2007) When Species Meet. Minneapolis: University of Minnesota Press.
Ingold, Tim (2013) Making: anthropology, archaeology, art and architecture. London: Routledge.
Ingold, Tim (2011) Being Alive: Essays on Movement, Knowledge and Description. London: Routledge.
Ingold, Tim (2002) The perception of the environment: essays on livelihood, dwelling & skill. London: Routledge.
Ingold, Tim (1987) The appropriation of nature: essays on human ecology and social relations. Manchester: Manchester University Press.
Kohn, Eduardo (2018) How dogs dream: Amazonian natures and the politics of transspecies engagement. American Ethnologist. 34 (1): 3-24
Kohn, Eduardo (2013) How Forests Think: Toward an Anthropology Beyond the Human. Berkeley: University of California Press.
Kopenawa, Davi e Albert, Bruce (2015) A queda do Céu. São Paulo: Companhia das Letras.
Latour, Bruno (1993) We Have Never Been Modern. Cambridge, MA: Harvard University Press.
Lévi-Strauss, Claude (1964) Mitológicas. Volume 1: O Cru e o Cozido. São Paulo: Cosac & Naify.
Leroi-Gourhan, André (2002 [1965]) O gesto e a palavra: 2 - Memória e ritmos. Lisboa: Edições 70.
Lima, Tânia Stolze (1996) “O Dois e Seu Múltiplo: Reflexões sobre o Perspectivismo em uma Cosmologia Tupi”. Mana, 2(2): 21-47.
Matos, Beatriz (2018) “Povo onça, povo larva: animais e plantas na constituição da pessoa, diferenciação de gênero e parentesco Matses”. Revista de Antropologia, 61(3): 109-129.
Moraes, João. (2018) Caminhos mẽbêngôkre: andando, nomeando, sentando sobre a terra. Dissertação, Brasília: UnB.
Otero, Julia (2019) “Andar sobre a Terra: constituição de grupos, lugares e espaços-tempos entre os Karo-Arara”. Ilha, 21(1): 139-169.
Peirce, Charles (2012[1992]) Obra filosófica reunida. Tomo II (1893-1913). D.F. México: Fondo de Cultura Económica.
Posey, Darrell (2002) Kayapó ethnoecology and culture. New York: Routledge.
Posey, Darrell (1987) “Manejo de floresta secundária, capoeiras, campos e cerrados (Kayapó)”. En B. Ribeiro y D. Ribeiro (coords.) Suma etnológica brasileira v.1 (Etnobiologia). Petrópolis: Vozes.
Posey, Darrell (1985) “Indigenous management of tropical forest ecosystems: the case of the Kayapo indians of the Brazilian Amazon”. Agroforestry Systems, 3: 139-158.
Rival, Laura (2002) Trekking through history: the Huaorani of Amazonian Ecuador. New York: Columbia University Press.
Rival, Laura (1999) “Introduction: South America”. En R. Lee y R. Daly (coords.) The Cambridge Encyclopedia of Hunters and Gatherers. Cambridge: Cambridge University Press, pp. 77-85.
Santos, Raquel (2021) Direitos de propriedade e conservação da castanha-do-Brasil (Bertholletia excelsa) no rio Iriri (Amazônia Oriental, Brasil). Tese. São Paulo: USP.
Seeger, Anthony, Roberto Da Matta y Eduardo Viveiros de Castro (1979) “A construção da pessoa nas sociedades indígenas brasileiras”. Boletim do Museu Nacional, Série Antropologia, 32: 2-19.
Stengers, Isabelle (2010) Cosmopolitics I. Minnesota: University of Minnesota Press.
Strathern, Marilyn (2006 [1988]) O gênero da dádiva: problemas com as mulheres e problemas com a sociedade na Melanésia. Campinas: Unicamp Editora.
Sztutman, Renato (2019) Um acontecimento cosmopolítico: O manifesto de Kopenawa e a proposta de Stengers. Mundo Amazónico, 10 (1): 83-105.
Teixeira-Pinto, Marnio (1997) Ieipari, sacrifício e vida social entre os índios Arara. São Paulo: Editora Hucitec – Anpocs.
Tsing, Anna (2015) The Mushroom at the End of the World: On the Possibility of Life in Capitalist Ruins. Princeton, NJ: Princeton University Press.
Tsing, Anna (2012) “Unruly Edges: Mushrooms as Companion Species”. Environmental Humanities, 1: 144-154.
Vidal, Lux (1977) Morte e vida de uma sociedade indígena brasileira. São Paulo: Hucitec Edusp.
Viveiros de Castro, Eduardo (2002) A inconstância da alma selvagem e outros ensaios de antropologia. São Paulo: Cosac & Naify.
Viveiros de Castro, Eduardo (1996) “Os pronomes cosmológicos e o perspectivismo ameríndio”. Mana, 2(2): 115-144.
Viveiros de Castro, Eduardo (1986) Araweté: os deuses canibais. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, Anpocs.
Willerslev, Rane (2012) “Percepções da presa: caça, sedução e metamorfose entre os Yukaghirs da Sibéria”. Anuário Antropológico, 37(2): 57-75.
Willerslev, Rane (2007). Soul hunters : hunting, animism, and personhood among the Siberian Yukaghirs. Berkeley and Los Angeles: University of California Press.
Zanotti, Laura (2016) Radical Territories in the Brazilian Amazon: The Kayapó’s Fight for Just Livelihoods. Tucson: University of Arizona Press.

Este trabalho encontra-se publicado com a Licença Internacional Creative Commons Atribuição-NãoComercial-CompartilhaIgual 4.0.
Direitos de Autor (c) 2025 La Universidad de Sevilla se reserva todos los derechos sobre el contenido de las revistas científicas tuteladas por su editorial. Los respectivos textos no pueden ser utilizados, distribuirse, comercializarse, reproducirse o transmitirse por ningún procedimiento informático, electrónico o mecánico con ánimo de lucro, directo o indirecto, ni tampoco incluirse en repositorios ajenos, sin permiso escrito de la Editorial Universidad de Sevilla. La distribución de estas obras derivadas se debe hacer con una licencia igual a la que regula la obra original y podrán ser usados y citados para fines científicos y referenciados con transformación para usos académicos, indicándose en todo caso la autoría y fuente, pudiendo para ello remitir al correspondiente enlace URL de Internet
