José Carlos Quaresma
Faculdade de Ciências Sociais e Humanas. Universidade Nova de Lisboa
CHAM – Centro de Humanidades
jcquaresma@fcsh.unl.pt 0000-0003-3139-1975 GRX-8297-2022
Resumo O presente artigo discute a estratigrafia de um sector de Tarraco, uma das mais importantes cidades portuárias do Mediterrâneo ocidental. Fruto de um intenso labor arqueológico e ceramológico, esta cidade, capital da Tarraconensis, apresenta já um quadro empírico apreciável, do ponto de vista estratigráfico e estatístico, para o seu comércio alimentar e cerâmico, respeitante ao Período Imperial e Antiguidade Tardia, romana e pós-romana.
O século IV d.C., fruto da contracção da Provincia da Tarraconensis (com a criação da Gallaecia e da Carthaginensis) e da criação da Diocesis Hispaniarum (com capital em Augusta Emerita, na Lusitania), representa uma contracção da densidade urbana de Tarraco, que se reflecte arqueologicamente numa recorrente ausência de estratigrafias.
Este panorama urbanístico tem levado a uma distorção da base empírica ceramológica do século IV, subrepresentada. Este artigo apresenta assim um contributo para as linhas gerais das redes de importação alimentar que a cidade tinha em práctica nesta época.
Palavras-chave Antiguidade Tardia, comércio alimentar, linhas comerciais, estratigrafia, estatística.
Abstract The present paper discusses the stratigraphy of a sector of Tarraco, one of the most important port cities of the western Mediterranean. As the result of intense archaeological and ceramological work, this city, capital of Tarraconensis, already presents an appreciable empirical framework, from a stratigraphic and statistical point of view, for its foodstuff and ceramic trade, concerning the Imperial Period and Late Antiquity, Roman and post-Roman.
The 4th century AD, because of the contraction of the Provincia of Tarraconensis (with the creation of Gallaecia and Carthaginensis) and the creation of the Diocesis Hispaniarum (with its capital in Augusta Emerita, in Lusitania), represents a contraction of Tarraco’s urban density, which is archaeologically reflected in a recurrent absence of stratigraphy.
This urbanistic panorama has led to a distortion of the under-represented empirical 4th century ceramological base. This article thus presents a contribution to the general lines of the foodstuff import networks that the city had in practice at this time.
Key words Late Antiquity, food-stuff trade, trade routes, stratigraphy, statistics.
Fecha recepción: 21/10/2021 Fecha aceptación: 13/02/2022
Quaresma, J. C. (2022): “Tarraco, sector de Font dels Lleons (PERI-2): consumo anfórico entre c. 350 e c. 400 d.C.”, Spal, 31.2, pp. 215-268. https://dx.doi.org/10.12795/spal.2022.i31.25
3.1. UE 18007 (intrusões de 400+ d.C.)
3.2. UE 18006 (intrusões de 420+ d.C.)
3.3. UE 18005 (intrusões de 425+ d.C.)
3.4. UE 18004 (intrusões de 425+ d.C.)
3.5. UE 18003 (intrusões de 425+ d.C.)
3.6. UE 18002 (intrusões de 450+ d.C.)
Anexo. Material complementario
Figura 1. Localização de Tarraco-Tarragona.
Figura 4. Planta da UA 1: cisterna e rua exterior (Lasheras, 2018, fig. 129).
Figura 8. Cerâmicas da UE 18007.
Figura 9. Cerâmicas da UE 18006.
Figura 10. Cerâmicas da UE 18005.
Figura 11. Cerâmicas da UE 18005.
Figura 12. Cerâmicas da UE 18004.
Figura 13. Cerâmicas da UE 18004.
Figura 14. Cerâmicas da UE 18004.
Figura 15. Cerâmicas da UE 18004.
Figura 16. Cerâmicas da UE 18003.
Figura 17. Cerâmicas da UE 18002.
Figura 18. Cerâmicas da UE 18002.
O trabalho que ora apresentamos resulta de uma colaboração frutífera com o Museu Nacional Arqueològic de Tarragona, encetada desde finais de 2014. Nessa altura, a nossa perspectiva era a de poder quantificar o comércio lusitano de ânforas, ao longo do período imperial e tardo-antigo, no seio de estratigrafias fiáveis e estatisticamente sólidas. Nasceu assim a hipótese de realizar um estudo ceramológico, com base estratigráfica, após uma primeira conversa com o arqueólogo responsável pelos estudos dos sectores escavados na cidade, Josep Anton Remolà Vallverdú, que nos propôs, numa primeira fase, a análise ceramológica do sector em epígrafe.
A nossa intenção de somar uma área tão importante como Tarraco, eminente porto do Mediterrâneo ocidental, para além de capital provincial, vinha no decurso de outros estudos entretanto dados à estampa. Para além de uma análise genérica feita sobre vários pontos de consumo dos produtos envasados em ânforas pelos centros produtores lusitanos (preparados de peixe, mas também vinho) onde se comparava a dispersão comercial entre o Mediterrâneo e o Atlântico (Quaresma, 2017), somou-se um estudo de caso relativo a outro ponto de consumo de importância maior – Arles. Nesse estudo sobre a sub-capital imperial tardo-antiga e igualmente porto de primeira ordem no Mediterrâneo ocidental, durante todo o período imperial, pudemos quantificar o total de ânforas lusitanas existente nos depósitos do Musée Departemental de l’Arles Antique e nos depósitos do Institut National de Recherche Archéologique Préventive de Aix-en-Provence onde se encontram alguns dos dados relativos a intervenções no espaço urbano de Arles (Djaoui e Quaresma, 2016; Quaresma, 2018; Quaresma, no prelo) (fig. 1).
Tarragona foi assim escolhida como um segundo ponto de análise exaustiva, mas neste caso, não almejando a quantificação total das ânforas lusitanas nos depósitos arqueológicos da cidade. O objectivo era agora o de fortalecer a análise estratigráfica do processo comercial. A fácil parceria construída com a equipa de Tarragona permitiu assim a identificação de um sector inédito em estudos ceramológicos e ricos em espólio anfórico, o que permitiria seguramente uma visão estatística baseada em estratigrafia de qualidade. Mas ainda mais importante, o nosso projecto de investigação de Tarragona acabou por se tornar numa análise completa de contextos estratigráficos, com enfoque comercial, mas também tipológico, para ânforas, cerâmicas finas e de cozinha.
A extensa bibliografia sobre Tarraco é bem conhecida por qualquer ceramólogo e a sua listagem seria aqui demorada e algo inútil. Para além de importantes trabalhos recentes de análise urbanística (Mar et al., 2015; Lasheras, 2018), do ponto de vista ceramológico, e no que às ânforas diz respeito, é incontornável o trabalho de Josep Anton Remolà Vallverdú sobre o consumo tardo-antigo na cidade, baseado numa quantificação extensa de unidades estratigráficas (Remolà Vallverdú, 2000). O nosso trabalho é assim um pequeno e modesto complemento a essa obra.
O sector PERI-2 situa-se no subúrbio portuário de Tarraco, na intersecção das actuais ruas denominadas Carrer Pere Martell e Carrer d’Eivissa, e corresponde igualmente a uma antiga via de saída da cidade romana, continuada em uso na época medieval. Na Antiguidade, este ponto suburbano estaria a cerca de 200 metros da linha de costa portuária e estaria envolvido por uma densa malha de ocupação do espaço (Pociña López e Remolà Vallverdú, 2002, p. 41-42) (fig. 2).
Este sector PERI-2, e em particular a UA 1, surge em época tardo-republicana, em torno a finais do século II a.C. e terá sobrevivido até inícios do século VIII d.C. No seu interior, registou-se, com algum grau de conservação, um edifício dedicado à obtenção e gestão dos recursos hídricos urbanos, com 15,8 metros de comprimento, 3,88 metros de largura e 2,9 metros de alçado conservado: uma fonte monumental, de carácter público, demonstradora das preocupações que as entidades responsáveis municipais tinham para com o fornecimento de água à população. Em dois trabalhos principais são traçados e problematizados os períodos evolutivos deste sector, sob o ponto de vista urbanístico e arquitectónico (Remolà Vallverdú e Pociña López, 2004; Pociña López e Remolà Vallverdú, 2002), aos quais sucede uma análise aturada da estratigrafia e da planimetria (Lasheras, 2018).
Na periodização estabelecida pelos dois primeiros artigos (Remolà Vallverdú e Pociña López, 2004; Pociña López e Remolà Vallverdú, 2002), temos os seguintes momentos:
Nos meados do século I d.C., o pórtico frontal do edifício da cisterna é substituído por um muro de fecho que monumentaliza o espaço, fazendo-se agora o acesso ao interior da cisterna através de uma porta no extremo oriental da fachada. Nesta, são acoplados três fontanários com forma de cabeça de leão, em pedra sedimentar, contrastante com a textura e tonalidade do edifício. Pela mesma altura, a densidade urbanística deste subúrbio fica comprovada, entre outros casos, pela erecção de uma domus a apenas 4,5 metros de distância da fachada da cisterna monumental. É justamente a rua formada entre os dois edifícios, cisterna e domus, cujo pavimento vai sendo sedimentado ao longo da sua vida secular, até à Antiguidade Tardia plena. A riqueza ceramológica deste sector resulta exactamente da diversidade funcional dos edifícios neste suburbium, onde edifícios públicos, como a fonte monumental, armazéns ou ateliers, se conjugavam com edifícios privados residenciais, como a referida domus (figs. 3, 4, 5 e 6).
Coluvião e restos (sobretudo cerâmicos e essencialmente anfóricos), vão colmatando o piso em terra batida da rua que passa pela fachada da cisterna, ao longo dos séculos I e II d.C., até que os próprios níveis de circulação sucessivamente acumulados (e nem sempre nivelados) acabam por amortizar os fontanários em forma de cabeça de leão. A partir deste processo de amortização dos fontanários que deverá estar concluída por volta de meados do século III, a captação de água, para diversas funções hipotéticas, justifica outrossim a riqueza do material anfórico usado para a sua recolha do interior da cisterna, imergindo os contentores seguros por cordas de arrasto, cuja acção deixou as suas marcas de uso na própria silharia da cisterna. O uso intenso do espaço e um uso preferencial de ânforas para recolha e transporte da água, explica cabalmente o peso quantitativo da tipologia anfórica e a escassez de outras tipologias, como as cerâmicas finas, que não serviam esta funcionalidade.
Talvez em torno a meados do século IV, a cobertura da cisterna cai e o seu derrube espalha-se igualmente sobre a piscina limaria, e, na rua, um nível de colmatação é-lhe correspondente (UE 18008), segundo a riqueza em tegulae. Os lodos existentes sobre o pavimento da cisterna e subjacentes ao derrube da cobertura permitem concluir que a mesma já não seria correctamente mantida há algum tempo, permitindo concluir da dificuldade de manutenção de equipamentos públicos na Tarraco do século IV (sobre este assunto voltaremos infra, neste capítulo). A inoperacionalidade parcial da cisterna monumental será coeva de outros processos de amortização, a algumas centenas de metros de distância, dos colectores do Carrer Unió e do Carrer Apodaca (Pociña López e Remolà Vallverdú, 2002). A colmatação posterior da piscina limaria (deixando de poder funcionar como tanque de decantação) aponta igualmente para um momento situável num século IV pleno, baseado no material anfórico, na terra sigillata e nos numismas. A amortização do espaço (embora não total, pois continuará a permitir a recolha de água pela imersão de ânforas, cujas cordas de arrasto deixarão ainda mais as referidas marcas na silharia) possui igualmente um espólio de cerca de 200 moedas, onde pontuam os Antoninianos do século III e as emissões de 348 e 361 d.C. (Pociña López e Remolà Vallverdú, 2002).
Com base na análise estratigráfica feita por Ada Lasheras (Lasheras, 2018, pp. 466-476) sobre os sedimentos acumulados na rua externa ao edifício, podemos constatar que as UEs 18010 e 18009, nivelados no seu topo, corresponderão a níveis de circulação efectivos, que correspondem, também, ao momento de amortização dos fontanários em forma de cabeça de leão. A unidade imediatamente posterior, a UE 18008 corresponde ao derrube da cobertura da cisterna, que deverá rondar os meados do século IV (no que toca à terra sigillata, engloba terra sigillata africana C, pelos tipos Hayes 42 e 50, e terra sigillata africana D, pelo tipo Hayes 59: Lasheras, 2018, p. 474, nn. 33 e 34). Segundo Ada Lasheras, a saída descontrolada de água em direcção à rua, a partir desta época, explica em parte a irregularidade topográfica dos níveis de sedimentação da rua, nem sempre condizentes com taxativos níveis de circulação, em virtude da incipiente regularização dos mesmos. Note-se em particular o acentuado declive, em direcção à fachada monumental da cisterna, das UEs 18007, mas sobretudo 18006 e 18005. Nestes três momentos mais antigos, com posteridade à amortização da cisterna, o uso do espaço para circulação e recolha de água parece ser feito de forma pouco cuidada e a água saída da piscina limaria parece provocar desgaste regular na faixa de rua mais próxima da fachada. Já os últimos três níveis tardo-antigos, as UEs 18004, 18003 e 18002 apresentam uma regularização adequada e consentânea com eficazes níveis de circulação em terra batida.
Sobre a datação destes níveis falaremos ao longo deste artigo. No nosso estudo, decidimos analisar, com quantificação total, as ânforas, a terra sigillata e a cerâmica africana de cozinha. Deixámos assim, de lado, o espólio numismático (sumariamente citado supra: Pociña López e Remolà Vallverdú, 2002), a cerâmica comum e os vidros. As unidades estudadas são as UEs 18007, 18006, 18005, 18004, 18003 e 18002, ou seja, a sedimentação da rua posterior ao derrube da cobertura da cisterna (UE 18008), por volta de meados do século IV.
A sequência estudada apresenta um volume de dados importante para o conhecimento dos consumos, eminentemente alimentares (anfóricos), na Tarraco do século IV pleno. Esta é uma época com poucos dados estratigráficos registados, em boa medida pela contracção da densidade de ocupação da malha urbana da cidade. Tal ocorre, nesta época, em virtude do decréscimo da sua importância, resultante da formação da Diocesis Hispaniarum, com capital em Augusta Emerita, e pela perda de 2/3 do território provincial da Tarraconensis, graças à criação das provinciae da Gallaecia e Carthaginensis. A partir deste momento, o pomerium e os suburbia de Tarraco perdem vitalidade de ocupação, já de si profundamente afectada pelos ataques francos da década de 260 d.C.. Uma cidade assim mais polarizada na sua ocupação, com uma consequente falta de dados estratigráficos, que impede um conhecimento mais efectivo da época, como já o salientou Josep Anton Remolà Vallverdú (Remolà Vallverdú, 2000, p. 292).
O espólio em análise revela uma componente essencialmente formada no século IV, possivelmente em torno a 350-400 d.C., sem excluir uma possível génese ainda durante 300-350 d.C., mas igualmente pequenas quantidades de materiais anfóricos e terra sigillata que indicam infiltrações estratigráficas, entre c. 400 e c. 450 d.C. (fig. 7).
Na abordagem ceramológica que fazemos a esta série de UEs tardo-antigas, que entendemos terem tido um processo formativo entre c.350 e c.400 d.C., decidimos tomar a seguinte estratégia: os materiais anteriores a 350 d.C. são considerados residuais e os materiais posteriores e 400 d.C. são considerados intrusivos. O corpo coevo a 350-400 d.C. é assim o alvo da problematização mais intensa, podendo ainda incluir-se neste bolo os materiais com difusão comercial até à primeira metade da centúria.
A relevância desta estratigrafia para o conhecimento comercial da Tarraco da segunda metade do século IV reside nas baixas taxas de residualidade e sobretudo de intrusibilidade. A residualidade varia entre 2,43 e 7,43%, com duas UEs a destacarem-se por valores de 20,68 e 46,49%. Na intrusibilidade, os valores balizam-se entre 0 e 3,78%.
Calculámos o Número de Fragmentos e o Número Mínimo de Indivíduos, segundo o Protocolo de Beuvray (Arcelin e Tuffreau-Libre, 1998), ao qual aplicámos a regra de pelo menos um indivíduo para uma produção que só inclua tipos indeterminados.
Nesta unidade de base (fig. 8) na sequência estratigráfica posterior ao colapso da cobertura da cisterna ocorrida por volta de 350 d.C., uma tipologia é totalmente residual: a Campaniense A, de época republicana, que totaliza apenas 1,29%. As restantes tipologias, eminentemente coevas de um grande bolo comercial de um século IV pleno, são largamente dominadas pelas ânforas (85,71%), seguidas muito à distância pela cerâmica africana de cozinha (11,68%) e pela terra sigillata (1,29%). O tipo Fulford 19 de cerâmica africana de cozinha constitui a intrusibilidade desta fase, feita em 400+ d.C.
Se nos focarmos nas duas tipologias finas, a terra sigillata possui apenas a produção de africana C, sendo ainda inexistente a africana D. A cerâmica africana de cozinha revela uma aparente maior capacidade de distribuição, com alguma variedade tipológica, mas uma única origem tunisina, a da região setentrional da Zeugitana, na versão de patina cinzenta.
Nesta tipologia, para além de um conjunto maioritário de tipos que se podem datar entre o século II e os inícios do século V, encontramos já um tipo novo, relativo a um segmento comercial cronologicamente posterior a esse grande pacote de época imperial. Referimo-nos ao tipo Fulford 19 (nº 2). Este tipo é já bem conhecido em Tarraco, como Vila-Roma 5.40, na monografia sobre a lixeira de 425-450 d.C., onde possui um peso considerável entre as ollae presentes (TED’A, 1989, pp. 196-197). Neste contexto, os bordos parecem variar entre levemente oblíquos (a maioria) e oblíquos em 45 graus, ou fortemente oblíquos (TED’A, 1989, fig. 91, nº 5.48). Este último caso parece ser o que mais se assemelha aos exemplares da nossa UE 18007 (nº 2), apesar de o exemplar de Vila-Roma ter uma moldura muito espessada e a concavidade interna do bordo muito suavizada. Os próprios diâmetros de bordo diagnosticados na lixeira da cidade, entre 130 e 160 mm, dão uma baliza inferior ao nº 2, que possui 170 mm. Se analisarmos os dados de Cartago, onde se conceptualizou o tipo Fulford 19 (Fulford e Peacock, 1984, p. 184-185), este é descrito como tendo um bordo tendencialmente vertical, enquanto, na Fulford 20, o bordo é tendencialmente oblíquo ou mesmo extremamente oblíquo, para além de extremar a concavidade interna. Tendo em conta a orientação dos bordos que surgem em Tarraco, tanto na UE 18007 (nº 2), como na lixeira de Vila-Roma (425-450 d.C.), parece que, em Tarraco, se terá consumido essencialmente uma forma de transição entre os tipos Fulford 19 e 20. Na monografia de Cartago, propõe-se que a olla Fulford 19 surja antes de 425 d.C., possivelmente em finais do século IV, obtendo percentagens elevadas em 475-500, quando terminará a sua existência. Nesta altura surge a Fulford 20, que pode recuar a meados do século V e se prolonga a meados do século VI.
O restante bolo de cerâmica africana de cozinha apresenta formas habituais do mundo imperial pleno. O prato Hayes 23B, o tacho Hayes 197 e as tampas Hayes 196B, Hayes 196A e Hayes 195 (nº 1), com fabricos semelhantes ao dos exemplares de Fulford 19 e cujas cronologias podem atingir os inícios do século V (Hayes, 1972; Bonifay, 2004).
O mundo anfórico, com 66 indivíduos, é naturalmente complexo, como acontece nas restantes UEs posteriores. Podemos excluir da análise os casos residuais, claramente anteriores ao século IV: os tipos Pascual 1 e Dressel 2-4 da Tarraconensis e todo o material da área campana de Italia.
Africa domina com 49,99%, onde a Zeugitana lidera (33,33%), seguida da Byzacena (10,6%) e pela costa africana, com 6,06% (esta última, relativa à Keay IB, pode incluir a própria Africa Proconsular/Zeugitana, o que faria crescer as cifras desta região). A segunda região mais representada é a Hispania, com 28,78%, aos quais se poderá somar outros 1,51% béticos, mas interrogados. Contudo, destes 28,78% devemos retirar 4,54%, respeitantes aos três indivíduos residuais tarraconenses. Apesar de tudo, no seio da Hispania, a Tarraconensis lidera com 14%-4,54%=9,46%, seguida por Ibiza (indeterminados, que podem, todavia, ser hipoteticamente de formas residuais alto-imperiais recorrentes, como a PE 25) e pela Baetica litoral, com 3,03% e quiçá outros 1,51% (o que prefazeria 4,54%). A terceira região é a Gallia Narbonensis, também muito bem representada, com 12,12%. O Mediterrâneo oriental totaliza 6,23%, que se repartem por Éfesos (3,03%) e por localizações indeterminadas, com 1,51%.
Ao nível morfológico e cronológico, por região, o tipo Keay IB (ou Dressel 30) atinge os meados do século IV, em Arles, e a segunda metade do século IV, em Ostia (Bonifay, 2004, p. 148). Os nºs 5 e 6 revelam alguma diversidade morfológica de bordos e pasta compatíveis com áreas como a Zeugitana. Contudo, a indefinição (ou talvez, diversidade geográfica de produção, com pastas de localização indefinida, mas que atingem pelo menos toda a Mauritania Caesarensis) quanto à sua geografia de produção leva-nos a não arriscar nenhuma procedência segura. O nº 5 revela um bordo de face externa levemente ondulante, alto e quase vertical; o nº 6 possui um bordo mais baixo, esvasado e levemente triangular.
A Byzacena apresenta os tipos Africana I e Africana IID1 (nº 11). O primeiro tipo pode alcançar o século IV, enquanto o segundo aparenta um final de vida semelhante, até ao primeiro terço do século IV (Bonifay, 2004, pp. 115-117). Com excepção dos fragmentos indeterminados, as referidas morfologias da Byzacena são procedentes sempre de Sullecthum.
A Zeugitana apresenta uma ligeira maior diversidade, com a Africana I (fragmentos de asa, indefinidos na variante), as Africanas IIC3, IID1, IID2 e IIIA, com aparente domínio da Africana IIC3. Bonifay (Bonifay, 2004, p. 114) data A Africana IIC3 até meados do século IV e, como referido, as Africana IID1 e IID2 até ao primeiro terço dessa centúria. Tal como com respeito à Byzacena, os exemplares da Zeugitana (nºs 7, 8, 9 e 10) são demasiado curtos para algum comentário adicional. A única excepção será a do nº 9, que se pode classificar como Africana IIIA=Keay 25.1, variante precoce, datável na transição dos séculos III e IV d.C. (Bonifay, 2004, p. 122).
O comércio da provincia em que se integra e capitaliza Tarraco, a Tarraconensis, apresenta então um bom conjunto de Gauloise 4, com a típica asa de canelura forte, longitudinal, ou bordo em moldura espessa (nºs 3 e 4). A produção tarraconense setentrional está datada entre 50 e 300 d.C. e apresenta estabilidade de bordos, próximos dos protótipos gálicos, com um perfil mais triangular ou mais circular, como o do nº 4. Certas produções desta área hispânica podem ter fabricos semelhantes aos gálicos (Tremoleda Trilla e Járrega Dominguez, 2016), mas tal não é o caso dos exemplares da UE 18007 de Tarraco. Não é de excluir possíveis origens meridionais do espólio de Gauloise 4 tarraconense da UE 18007, já que, no Sul da provincia, as pastas podem atingir tonalidades alaranjadas e castanho-vermelho claro (Mateo Corredor e Molina Vidal, 2016).
O importante conjunto de Gauloise 4 da Gallia Narbonensis, que pode atingir o século IV (Laubenheimer, 1985, p. 391), não apresenta morfologias dignas de registo, sobrevivendo essencialmente através de asas. O mesmo sucede com a Baetica litoral, onde a Beltrán 68 não conserva qualquer bordo e pode atingir todo o século IV (Bernal Casasola, 2016a).
O Mediterrâneo oriental apresenta fragmentos de asa indeterminados e de região indeterminada, para além de típicos bojos delgados e ricos em muscovite, de pasta castanha, pertencentes ao tipo Agora F65, e de pastas semelhantes, mas pertencentes à ânfora de maior porte, a LRA 3 (nº 12). Se o primeiro tipo pode chegar ao século IV (Bertoldi, 2012, p. 136), já a LRA 3 começa em meados dessa centúria a sua produção (Pieri, 2005, p. 94) (tab. 1).
Tabela 1. Estatística da UE 18007.
Classe |
Origem |
Grupo |
Tipo |
Frgs. |
NMI |
MNMI Prod. |
% NMI Prod. |
Campaniense (1,29%) |
Campaniense A |
|
Indeterminado |
1 |
1 |
1 |
100 |
Total |
1 |
1 |
1 |
100 |
|||
Terra sigillata (1,29%) |
TSAf C |
|
Indeterminado |
4 |
1 |
1 |
100 |
Total |
4 |
1 |
1 |
100 |
|||
Cerâmica de cozinha (11,68%) |
Norte da Tunísia |
Patina cinzenta |
Hayes 195 |
2 |
2 |
9 |
100 |
Hayes 196B |
2 |
2 |
|||||
Hayes 197 |
1 |
1 |
|||||
Hayes 196A |
1 |
1 |
|||||
Hayes 23B |
1 |
1 |
|||||
Fulford 19 |
2 |
2 |
|||||
Total |
9 |
9 |
9 |
100 |
|||
Ânfora (85,71%) |
Indeterminado |
|
Indeterminado |
2017 |
1 |
1 |
1,51 |
Africa |
|
Keay IB |
6 |
4 |
4 |
6,06 |
|
Africa, Byzacena |
|
Indeterminado |
1 |
1 |
7 |
10,6 |
|
Fabrico 2 = Sullecthum |
Af. IID1 |
2 |
2 |
||||
Af. I |
2 |
1 |
|||||
Af. II |
6 |
3 |
|||||
Africa, Zeugitana |
|
Af. I |
3 |
2 |
22 |
33,33 |
|
|
Af. II |
29 |
12 |
||||
|
Af. IIC3 |
4 |
4 |
||||
|
Af. IID1 |
2 |
2 |
||||
|
Af. IID2 |
1 |
1 |
||||
|
Af. IIIA/Keay 25.1 |
1 |
1 |
||||
Baetica, litoral |
|
Indeterminado |
2 |
|
2 |
3,03 |
|
|
Beltrán 68 |
65 |
2 |
||||
Ibiza |
|
Indeterminado |
12 |
3 |
3 |
4,54 |
|
Tarraconensis |
|
Pascual 1 |
1 |
1 |
14 |
21,21 |
|
|
Dressel 2-4 |
3 |
2 |
||||
|
Gauloise 4 |
22 |
11 |
||||
Gallia, Narbonensis |
|
Gauloise 4 |
111 |
8 |
8 |
12,12 |
|
Italia, Campania |
|
Dressel 1 |
1 |
1 |
1 |
1,51 |
|
|
Indeterminado |
3 |
|
||||
Mediterrâneo Oriental, Éfesos |
|
LRA 3 |
2 |
1 |
2 |
3,03 |
|
|
Agora F65 |
1 |
1 |
||||
Mediterrâneo Oriental, Indeterminado |
|
Indeterminado |
2 |
1 |
1 |
1,51 |
|
Baetica, litoral? |
|
Almagro 51c? |
1 |
1 |
1 |
1,51 |
|
Total |
2300 |
66 |
66 |
100,00 |
|||
Total |
2314 |
77 |
77 |
100,00 |
|||
Residualidade: 5,19% |
|||||||
Intrusibilidade: 2,59% |
A fase estratigráfica correspondente à UE 18006 (fig. 9) apresenta um domínio anfórico menos acentuado, com 63,79%, mas com proporções semelhantes às da fase anterior, sendo que agora, a cerâmica africana de cozinha representa 24,13% e a terra sigillata 12,06%. Justamente a terra sigillata indica uma intrusão datável de 420+ d.C., através do tipo Hayes 91A ou 91B de africana D1 (Bonifay, 2004), enquanto a terra sigillata hispânica, alto-imperial, e a africana A (nº 14), datável até 300 d.C., são residuais. A única produção claramente contemporânea será a africana C, com o tipo Hayes 50 (Hayes, 1972). Igualmente residuais serão as ânforas do Guadalquivir bético (Haltern 70), bem como as Dressel 7-11 e Beltrán II do seu litoral, a par da Dressel 2-4 tarraconense e da Gauloise 1 da Gallia Narbonensis.
A cerâmica africana de cozinha é novamente fornecida exclusivamente pela Zeugitana, na sua técnica de patina cinzenta. Mas, tal como nas fases seguintes, já não surge nenhuma forma típica do século V, estando o pacote exclusivamente ocupado pelas formas imperiais – no caso vertente, os pratos Hayes 23A, 23B e 181, o tacho Hayes 197 a tampa Hayes 196 (Bonifay, 2004).
No comércio anfórico, voltamos a registar um domínio claro de Africa, que totaliza 45,94%, maioritariamente representados de novo pela Zeugitana, com 43,24%, restando 2,7% à Byzacena, onde Sullecthum é agora exclusivo (quando era maioritário na fase anterior). A Hispania totaliza 21,62%, através da Baetica litoral e vale do Guadalquivir e da Tarraconensis, mas 16,2% são residuais, perfazendo assim apenas 5,4% coevos. A Italia totaliza 13,5%, que se repartem sobretudo por Empoli (8,1%), a par de Forlimpopoli e costa tirrénica, com 2,7% cada. A Gallia Narbonensis, com 10,81% possui 8,1% coevos e 2,7% residuais (Gauloise 1: nº 17). O Mediterrâneo oriental volta a ocupar a última posição, com apenas 5,4% e localizações imprecisas: novamente fragmentos indeterminados de origem indeterminada, mas também um bojo de possível Kingsholm 117, predecessora da LRA 4 a caminho do século IV, embora o engobe branco-creme e sobretudo a pasta fina, sem as inclusões cinzas de pequena dimensão típicas dessa ânfora possam afastar esta hipótese de classificação palestiniana (Bertoldi, 2012, p. 147).
Morfologicamente, a Byzacena faz-se representar pela Africana I, igualmente presente nas importações da Zeugitana, onde surge igualmente a Africana II e a Africana IIIC=Keay 25.2. Como dito no subcapítulo anterior, se a Africana I pode atingir o século IV e a Africana II mais ainda, a variante específica Africana IIIC = Keay 25.2 inicia a sua produção em finais do século IV d.C. (Bonifay, 2004, pp. 119-122).
Na Baetica litoral, o tipo Beltrán 68 volta a estar mal conservado, não merecendo análise, mas faz-se agora acompanhar pela Almagro 51c (nº 15), com fabrico de elementos não plásticos (ENP) negros (sobre este fabrico falaremos novamente infra: nº 146). Não apontamos nenhuma região específica para este fabrico, embora a Almagro 51c esteja particularmente bem diagnosticada numa plêiade de centros da costa oriental bética, na área de Málaga: centros oleiros de Carranque/Avenida Juan XXI, Calle Cerrojo, Huerta del Rincón e La Cizaña (Corrales Aguilar et al., 2018, pp. 116-123).
Também a Gauloise 4 narbonense não possui bordos para análise; o mesmo acontecendo com as ânforas itálicas de Empoli, Forlimpopoli e costa tirrénica.
Tabela 2. Estatística da UE 18006.
Classe |
Origem |
Grupo |
Tipo |
Frgs. |
NMI |
MNMI Prod. |
% NMI Prod. |
Terra sigillata (12,06%) |
TSH-LR |
|
Tigela |
3 |
1 |
1 |
14,28 |
TSAf A |
|
Hayes 15 |
1 |
1 |
3 |
42,85 |
|
|
Hayes 27 |
2 |
2 |
||||
TSAf C |
|
Hayes 50 |
7 |
2 |
2 |
29,56 |
|
TSAf D1 |
|
Hayes 91A ou B |
1 |
1 |
1 |
14,28 |
|
|
Indeterminado |
6 |
|
||||
Total |
20 |
7 |
7 |
100 |
|||
Cerâmica de cozinha (24,13%) |
Norte da Tunísia |
Patina cinzenta |
Hayes 23A |
1 |
1 |
14 |
100 |
Hayes 23B |
1 |
1 |
|||||
Hayes 23 |
1 |
|
|||||
Hayes 181 |
1 |
1 |
|||||
Hayes 197 |
2 |
2 |
|||||
Hayes 196, var. precoce |
1 |
1 |
|||||
Hayes 196A |
9 |
8 |
|||||
Indeterminado |
6 |
|
|||||
Total |
22 |
14 |
14 |
100 |
|||
Ânfora (63,79%) |
Africa, Byzacena |
Fabrico 2 = Sullecthum |
Af. I |
2 |
1 |
1 |
2,7 |
Africa, Zeugitana |
|
Af. I |
15 |
8 |
16 |
43,24 |
|
|
Af. II |
16 |
7 |
||||
|
Af. IIIC/Keay 25.2 |
1 |
1 |
||||
Baetica, Guadalquivir |
|
Haltern 70 |
1 |
1 |
1 |
2,7 |
|
Baetica, litoral |
|
Beltrán 68 |
6 |
1 |
4 |
10,81 |
|
|
Dressel 7-11 |
1 |
1 |
||||
|
Beltrán II |
1 |
1 |
||||
Fabrico enp negros |
Almagro 51c |
1 |
1 |
||||
Tarraconensis |
|
Gauloise 4 |
2 |
1 |
4 |
10,81 |
|
|
Dressel 2-4 |
7 |
3 |
||||
Gallia, Narbonensis |
|
Gauloise 1 |
1 |
1 |
4 |
10,81 |
|
|
Gauloise 4 |
60 |
3 |
||||
Italia, Empoli |
|
Empoli |
6 |
3 |
3 |
8,1 |
|
Italia, Forlimpopoli |
|
Forlimpopoli |
1 |
1 |
1 |
2,7 |
|
Italia, Tirreno |
|
Dressel 2–4 tardia |
4 |
1 |
1 |
2,7 |
|
Mediterrâneo Oriental, Palestina? |
|
Kingsholm 117? |
1 |
1 |
1 |
2,7 |
|
Indeterminado |
|
Indeterminado |
863 |
1 |
1 |
2,7 |
|
Total |
989 |
37 |
37 |
100,00 |
|||
Total |
1031 |
58 |
58 |
100,00 |
|||
Residualidade: 20,68% |
|||||||
Intrusibilidade: 1,72% |
Esta fase estratigráfica é preenchida unicamente por ânforas (figs. 10 e 11), não havendo registos de terra sigillata ou de cerâmica de cozinha. A sua residualidade é composta pela Dressel 7-11 bética, pelo espólio tarraconense (possivelmente contendo apenas a Dressel 2-4), pela PE 25 de Ibiza, pela Gauloise 9 da Gallia Narbonensis e pelo pacote tirrénico de Italia (Dressel 2-4 e Greco-Itálica). Já a pequena taxa de intrusão é composta pelas Keay 35A e 35B da Zeugitana, produzidas no século V d.C. (Bonifay, 2004, p. 134) e pela LRA 4A2, palestiniana, produzida a partir de 425 d.C. (Pieri, 2005, p. 101).
Africa volta a ser maioritária, com 39,99%, repartidos pela Zeugitana (35,83%), Byzacena (2,5%), Tripolitana (0,83%) e pela costa africana indefinida (1,81%), tendo ressurgido aqui a Keay I (=Dressel 30). A Hispania consolida a sua segunda posição (com 37,63%, aos quais se devem retirar os 2,64% residuais da Tarraconensis e de Ibiza - nº 36 -, perfazendo 34,99%), desta vez surgindo claramente (possivelmente pela primeira na estratigrafia em estudo) a área de Málaga; e surgindo um caso muito possivelmente hispânico, possivelmente da zona meridional da Tarraconensis, com imitação da Keay 25 africana. A Hispania reparte os seus efectivos então pela Baetica litoral (17,5%), pela costa de Málaga (3,33%) e pela citada região indefinida com imitação da Keay 25 (0,83%). Surge, pela primeira vez em estratigrafia, o comércio da Lusitania, com 13,33% (devido ao exemplar de Dressel 14: menos 0,83% residuais = 12,5%), que se reparte pelo Tejo/Sado (7,5%) e pelo Algarve (5,83-0,83%=4,5%). Também a Italia consolida a sua posição, até aqui incipiente: num total de 12,49%, reparte-se por Empoli (5,83%) e Forlimpopoli (5,83%), regiões às quais se junta agora a Sicília (0,83%). A Gallia Narbonensis perde importância: aos seus 3,33% deve retirar-se 0,83% residuais, perfazendo 2,5%. O Mediterrâneo oriental mantém a sua posição muito secundária, com 4,16%, surgindo agora em definitivo a área palestiniana, mormente minoritária (0,83%), mantendo-se um bolo de origem indefinida neste Mediterrâneo oriental (3,33%).
Ao nível morfológico, a Zeugitana (para além da intrusão de Keay 35A e 35B: nºs 44 e 45) abandona o seu fornecimento de Africana I e Africana II (esta apesar de tudo interrogada), centrando-se agora nas diversas variantes da Africana III, com os subtipos A, B e C a seguirem-se igualmente em ordem de importância. A Africana IIIA=Keay 25.1, dominante, data-se até inícios do século IV, enquanto a Africana IIIB=Keay 25.3 percorre toda a centúria e a Africana IIIB=Keay 25.2 deve começar em finais do século IV d.C. (Bonifay, 2004, p. 122) (nºs 40-45).
Já a Byzacena parece ter uma postura mais conservadora, mantendo fornecimentos de Africana IIC1 (que atinge os inícios do século IV: Bonifay, 2004, p. 115), para além das novidades das Africana IIIA=Keay 25.1 e Africana IIIB=Keay 25.2 (nºs 39 e 46). A Tripolitana surge pela primeira vez, com o tipo Tripolitana II, essencialmente alto-imperial (em Ostia tem o seu auge no século II), mas que pode alcançar o século IV. O nº 38 possui bordo atrofiado, típico do século IV, justamente (Bonifay, 2004, p. 89). Contemporâneos são também os exemplares de Keay 1 (= Dressel 30) da costa africana (nºs 47 e 48).
A Baetica litoral rejuvenesce também o seu repertório, surgindo agora em força a Almagro 51C (mas não com o fabrico de ENP negros), acompanhada de Almagro 50 e sobretudo de Keay 19A-B, que se torna de imediato maioritária. Não deixa de ser possível que estes fabricos classificados como do litoral central bético, dado a maior pureza das suas pastas, possam ser da área mais oriental da provincia, o que, a ser verdade, tornaria a área costeira de Málaga como uma forte fornecedora desta fase. Como referimos supra, vários centros produtores desta região produziram tipos tardios: Carranque/Anevida Juan XXI (Keay 19 e Almagro 51c), Calle Cerrojo (Keay 19 e Almagro 51c), Huerta del Rincón (Almagro 51c), La Cizaña (Keay 19 e Almagro 51c) e Calle Cerrojo/Fuentecilla (Keay 19 e Almagro 51c) (Corrales Aguilar, Suárez Padilla e Arancibia Román, 2018, p. 116-123). Seguramente de Málaga, continua a chegar, embora em pequenas quantidades, Gauloise 4 (Bernal, 2016b) e Keay 19 ou Keay 13=Dressel 23 (neste caso, os fragmentos conservados, de asa, não permitem a distinção) e possivelmente Almagro 51c.
Se compararmos os fabricos de Almagro 51c da Baetica litoral central e de possivelmente Málaga, constatamos as seguintes diferenças (ver anexo https://revistascientificas.us.es/index.php/spal/article/view/19654/19573) descrição de fabricos e fotos: nos 29 e 35).
As pastas em si não revelam aspectos directamente relacionados com Málaga, como os elementos metamórficos, mas a relativa sujidade das superfícies das paredes no nº 35 apontam essa possibilidade. Neste ponto, a inexistência de fichas tipológicas específicas dos tipos Almagro 51c, 50 e Almagro 51a-b (=Keay 19A-B e Keay 19C), referentes à Baetica litoral, na base de dados do Amphorae ex Hispania, é um factor-chave para a maior dificuldade na distinção de fabricos e possíveis locais de origem de cada tipo.
Ao nível morfológico, o nº 35 (Almagro 51c proveniente possivelmente de Málaga) revela uma certa pequenez, com apenas 80 mm de diâmetro, enquanto os exemplares béticos centrais variam entre versões gráceis e mais robustas: o nº 29 tem um perfil robusto, mas semelhante ao do nº 35, com bordo perolado; o nº 26 tem bordo simples; o nº 27, grácil, possui bordo quase quadrangular, enquanto o nº 28 possui bordo triangularizado.
A Almagro 50, mal conservada, possui no nº 25 um exemplar de bordo, com arranque de asa a meia-altura daquele e diâmetro de 135 mm. A relativa exiguidade deste valor poderia colocá-la em dúvida perante uma classificação de Almagro 51c, mas a robustez do bordo e da parede tornam clara a sua classificação.
Ao nível da Keay 19A-B, para além de fundos troncocónicos, de base côncava alargada (nºs 33 e 34), os bordos têm molduração muito ténue (nºs 30 e 31 e sobretudo nº 32) que os aproxima eminentemente da Keay 19C, bem descrita para a região oriental da Baetica e do Sul da Tarraconensis, apesar da pouca altura do bordo do nº 31. Tal como nos exemplares vertentes, os exemplares sud-hispânicos publicados na bibliografia, enunciados como Keay 19C, possuem uma molduração apenas no lábio e não na base do bordo, onde apenas se produz uma carena, na ligação ao colo. No entanto, a maior ou menor concavidade externa da parede do bordo e a sua obliquidade parecem complexificar, a nosso ver, uma simples nomenclatura de Keay 19C. Produzida também na área granadina (em Los Barreros e Los Matagallares), tal como em Ceuta, possivelmente, este parece ser um tipo cuja classificação merece uma análise futura mais aprofundada, até pela partilha morfológica que aparenta possuir igualmente com o Sul da Tarraconensis (Berrocal Caparrós, 2016). Na própria obra dedicada ao centro de Los Matagallares, onde o tipo Keay 19 é escasso, em função da cronologia centrada no século III para este sítio (quando o tipo Keay 19 deverá ter início no século IV, provavelmente em meados), Dario Bernal sublinha a ligeira molduração dupla do bordo, preferindo chamar aos escassos exemplares de Keay 19 similis (Bernal Casasola, 1998, pp. 298-299 e fig. 116 nºs 185 e 186).
Ainda relativo ao espaço hispânico, um exemplar de Keay 25 possui fabrico indefinido (nº 37). Com fabrico fora dos padrões norte-africanos, nomeadamente tunisinos, onde se encontram os centros produtores do protótipo (Bonifay, 2004), a produção desta morfologia de imitação está hoje bem diagnosticada no Sul da Tarraconensis, nomeadamente no centro anfórico de El Mojón (área de Múrcia), onde a fisionomia do bordo do nº 37 encontra paralelo exacto (Berrocal Caparrós, 2016b, fig. 1; Quevedo, 2021, p. 208; Bonifay, 2016, p. 84).
Esse centro parece inspirar-se nas variantes Keay 25C, G, L, Q e Z72, mas também nas variantes Keay 26F e I, com bordos esvasados e espessados e com secção levemente triangularizada, produzindo um lábio incipiente (Keay, 1984). M. Berrocal Caparrós assimila esta morfologia igualmente ao tipo Beltrán 64-65 e coloca a hipótese de uma produção cumulativa na área de Málaga, no centro de Huerta del Rincón (Berrocal Caparrós, 2016b). O fabrico do nº 37 (ver igualmente infra, fabrico do nº 98, pertencente à UE 18004) não se aproxima das características metamórficas da área malaguenha, nem tão-pouco do fácies micácico que caracteriza El Mojón. Neste centro, as pastas são de cor laranja intensa, com vacuolos e mica dourada, podendo as paredes serem engobadas em tom beije-amarelo (Berrocal Caparrós, 2016b). M. Bonifay (Bonifay, 2004, p. 458) descreve exemplares de formas inspiradas na Keay 25.3 (=Africana IIIB), datadas tipológica e estratigraficamente no século IV (por exemplo, na estratigrafia de Pupput) como possuindo pasta micácica e engobe branco. Admite, porém, uma origem africana indeterminada. Os exemplares demonstrados para esta produção diferem morfologicamente, tanto de El Mojón (com quem partilham as pastas micácicas), como de Vinalopó (Alicante), apesar de os seus bordos serem amendoados altos (Pupput) ou com leve moldura dupla (Shreki Bank) (Bonifay, 2004, p. 257, nos 1 e 3), como acontece de forma mais nítida na Ware 1 de Vinalopó (Reynolds, 1993, est. 28, nº 950).
P. Reynolds (Reynolds, 1993, p. 101-112) descreve a sua Ware 1 (possivelmente da área de Alicante), como um fabrico de pasta dura, fina, com alguma calcite (rara ou abundante) e quartzo, com superfícies cremes ou castanho-vermelho claro. É um fabrico não micácico, como o do nº 37, bem representado no sítio de Benalúa 42.4 e 42.3, com datações apontadas por P. Reynolds para 500/550+ ou 525-550 d.C. (Reynolds, 1995, p. 194 e 247), o que torna aparentemente sucedâneo das imitações de El Mojón, possivelmente datadas entre o final do século III e o século V d.C. (Berrocal Caparrós, 2016b; Lagóstena Barrios, 2001, p. 328). A forma 48 da Ware 1 do vale de Vinalopó, inspirada numa síntese das Keay 25 e 35, é, contudo, por este aspecto, diferente da morfologia do nº 37 (sem foto de fabrico: pasta R19 de grão fino-médio, com poucos vácuos pequenos, amorfos. ENP compostos por bastante calcite fina, quartzo hialino e possível feldspato de pequena dimensão, escasso possível mineral ferro-magnesiano, minerais máficos de pequena dimensão, sem classificação (Ver anexo descrição de fabricos e fotos, nº 98).
Este apresenta-se, assim, muito próximo do fabrico da Ware 1 da área de Alicante, mas similar às morfologias fabricadas em El Mojón, na área murciana. Por essa razão, deixamos em aberto a sua adscrição regional, embora apontado para um centro algures no quadrante sudeste hispânico.
O comércio lusitano, dominado levemente pelo Tejo/Sado, tem, nesta região, uma exclusividade da Almagro 51c, com bordos tendencialmente triangulares, heterogéneos, e asas de secção transversal, igualmente heterogénea; de igual modo, os bocais apresentam morfologias mais gráceis (nºs 18-19) ou de maior dimensão (nº 20) – um quadro compatível com as descrições tipológicas nas áreas de produção (Viegas et al., 2016). Para a Almagro 51c, o Algarve (ver anexo descrição de fabricos e fotos, nos 23 e 24) apresenta sobretudo bordos perolados, com maior ou menor espessamento (nºs 21-23), podendo ocorrer uma fisionomia triangularizada (nº 24). Em dois casos, o bordo possui sulco externo, mais largo e a meia-altura (nº 23), ou mais fino e perto do fundo (nº 24: possui igualmente sulco no topo do bordo), aspecto que será muito pouco habitual (Viegas, 2016; Alves et al., 1990; Arruda e Fabião, 1990; Fabião e Arruda, 1990; Silva et al. 1990). Se a Almagro 50 está presente, embora menos bem conservada, já a Almagro 51a-b=Keay 19A-B, não surge nesta fase estratigráfica, parecendo ser um exclusivo dos produtores béticos, através dos quais surge muito bem representada, como vimos supra.
A Italia apresenta um comércio bem estruturado e equilibrado entre Empoli (Tirreno) e Forlimpopoli (Adriático), embora esta última proveniência possa ser residual, se realmente terminar a sua difusão ainda no século III d.C. (Bertoldi, 2012, p. 112). A sua boa representação nas fases estratigráficas de Tarraco, em pareço, apesar de apenas conservado essencialmente por fragmentos de asas e de fundos, pode sugerir a sua continuidade até ao século IV d.C. Seguramente contemporâneo é o comércio de Empoli (Bertoldi, 2012, p. 105; Cambi, 1989), dos quais, nesta fase, apenas se conservam bem alguns fundos, com as morfologias típicas de pequeno diâmetro, pivot de secção cónica, fundo onfalado ou em botão (nºs 48-50). Nesta fase, surge o único exemplar, em toda a diacronia, de comércio siciliano.
A MRA 2 (nº 51) foi descrita primeiramente por J. Riley (Riley, 1989, pp. 180-181), em Berenice, na Líbia, como tendo um colo estreito, com arranque de asa a meio do colo. Para além do mais, o autor apontava, à época, a área de Atenas e de Creta como duas de várias potenciais regiões produtoras, mas cujos fabricos não coincidiam com os exemplares consumidos em Berenice. O espólio desta cidade da Tripolitana, cujo fabrico é descrito como sendo ”normally a very smooth buff with ocasional white grits” parece até mais próximo de produções como a siciliana, contendo micro-fósseis e não tendo vestígios de muscovite. Apesar de tudo, tendo em conta a pequenez do fragmento, deixamos a sua classificação morfológica interrogada.
O Mediterrâneo oriental, novamente com baixa representação (da qual excluímos aqui a intrusão palestiniana de LRA 4A2: ver supra e nº 52) está representado unicamente por áreas indeterminadas.
O nº 54 coloca muitas interrogações, com um fabrico de rara muscovite que o afasta dos parâmetros habituais da Agora M273, forma que além do mais, costuma ter um colo tendencialmente curvilíneo, com convexidade larga e ligeira a meia-altura, o que não acontece no caso vertente, côncavo. Possui, habitualmente em Tarraco, pastas bem depuradas, beije-marron-vermelho, com calcite e mica, o que leva J.A. Remolà Vallverdú a colocar uma origem egeia para esta ânfora situável nos séculos IV e V, não existindo nos contextos de século VI da cidade (Remolà Vallverdú, 2000, p. 212).
Um outro conjunto (ao qual voltaremos infra, por surgir em quantidades interessantes ao longo do diagrama estratigráfico mais tardio), para além de geografia indeterminada oriental, tem uma classificação algo genérica, que tal como no tipo anterior, nos serve para situar a sua problemática. Pela natureza mais ou menos homogénea dos bordos, decidimos denominar como Dressel 24/Cup-shaped rim/MRA 18/Zeest 90. São bordo esvasados, com topo arredondado ou levemente suavizado, tendencialmente rectilíneos ou muito suavemente curvados, produzindo uma inflexão na união com o colo. Os nºs 55 e 56 possuem diâmetros de 160 e 130 mm.
No trabalho de T. Bezeczky (Bezeczky, 2013, pp. 72-74) sobre Éfesos, corresponde ao tipo 8, o qual, nascendo no mundo alto-imperial, parece chegar a cronologias tardias, o que o leva a ser considerado (nomeadamente a Dressel 24) como antecessor da LRA 2. Tal como em Tarraco, os fabricos descritos em Éfesos demonstram uma enorme heterogeneidade, bem como a fisionomia dos bordos. T. Bezeczky sugere áreas produtivas na ilha de Chios e na costa anatólica próxima desta, em Erythrae.
Por fim, o nº 57, sem classificação formal, é um fundo troncocónico com pé-de-anel incipiente e fabrico indeterminado, atribuível ao Mediterrâneo oriental.
A existência de minerais máficos, possivelmente ferro-magnesianos, pode sugerir o Egeu e uma proximidade a tipos como o Agora M334 (Reynolds, 2009, fig. 2), mas os fabricos deste tipo, muitas vezes ricos em calcite, embora finos ou granulosos, e sem nunca conterem minerais máficos (Reynolds, 2005, p. 571, afastam aparentemente esta hipótese (sobre este tipo Agora M334, voltaremos a falar infra).
Tabela 3. Estatística da UE 18005.
Classe |
Origem |
Grupo |
Tipo |
Frgs. |
NMI |
MNMI Prod. |
% NMI Prod. |
Ânfora (100%) |
Indeterminado |
|
Indeterminado |
40 |
1 |
1 |
0,83 |
Africa, Byzacena |
|
Af. IIIA/Keay 25.1 |
1 |
1 |
3 |
2,5 |
|
|
Af. IIIB/Keay 25.3 |
1 |
1 |
||||
|
Af. IIC1 |
1 |
1 |
||||
Africa |
|
Keay I |
2 |
2 |
2 |
1,65 |
|
Africa, Tripolitana |
|
Tripolitana II |
1 |
1 |
1 |
0,83 |
|
Africa, Zeugitana |
|
Af. II ou Af. III/Keay 25 |
30 |
20 |
43 |
35,83 |
|
|
Af. III/Keay 25 |
20 |
10 |
||||
|
Af. IIIA/Keay 25.1 |
6 |
6 |
||||
|
Af. IIIB/Keay 25.3 |
4 |
4 |
||||
|
Af. IIIC/Keay 25.2 |
1 |
1 |
||||
|
Keay 35A |
1 |
1 |
||||
|
Keay 35B |
1 |
1 |
||||
Baetica, litoral |
|
Dressel 7-11 |
3 |
3 |
21 |
17,35 |
|
|
Almagro 51c |
5 |
5 |
||||
|
Almagro 50 |
2 |
2 |
||||
|
Keay 19 |
3 |
3 |
||||
|
Keay 19A-B |
10 |
8 |
||||
Ânfora (100%) |
Baetica, Malaga |
|
Gauloise 4 |
1 |
1 |
3 |
2,50 |
|
Keay 19 ou Keay 13 |
3 |
2 |
||||
Baetica, Malaga? |
|
Almagro 51c |
1 |
1 |
1 |
0,83 |
|
Tarraconensis |
|
Dressel 2-4 |
2 |
2 |
2 |
1,65 |
|
|
Indeterminado |
19 |
|
||||
Hispania, Sudeste |
Fabrico não-micácico |
Keay 25 |
1 |
1 |
1 |
0,83 |
|
Ibiza |
|
PE 25 |
1 |
1 |
1 |
0,83 |
|
Lusitania, Algarve |
|
Dressel 14 |
1 |
1 |
7 |
5,78 |
|
|
Almagro 51c |
4 |
4 |
||||
|
Almagro 50 |
2 |
2 |
||||
Lusitania, Tejo/Sado |
|
Almagro 51c |
9 |
9 |
9 |
7,43 |
|
Italia, Empoli |
|
Empoli |
13 |
7 |
7 |
5,78 |
|
Italia, Forlimpopoli |
|
Forlimpopoli |
14 |
7 |
7 |
5,78 |
|
Sicília |
|
MRA 2? |
1 |
1 |
1 |
0,83 |
|
Italia, Tirreno |
|
Dressel 2-4 |
1 |
1 |
2 |
1,65 |
|
|
Greco-Itálica |
1 |
1 |
||||
Gallia, Narbonensis |
|
Gauloise 4 |
6 |
3 |
4 |
3,30 |
|
|
Gauloise 9 |
1 |
1 |
||||
Mediterrâneo Oriental, Indeterminado |
Engobe branco |
Indeterminado |
1 |
1 |
4 |
3,30 |
|
|
Dressel 24/Cup-shaped rim/MRA 18/Zeest 90 |
2 |
2 |
||||
|
Agora M273? |
1 |
1 |
||||
Mediterrâneo Oriental, Palestina |
|
LRA 4A2 |
1 |
1 |
1 |
0,83 |
|
Total |
218 |
121 |
121 |
100,00 |
|||
Residualidade: 7,43% |
|||||||
Intrusibilidade: 1,65% |
A base empírica avoluma-se nitidamente nesta UE (figs. 12, 13, 14 y 15), com residualidade formada pela terra sigillata hispânica (La Rioja e Andújar) e africana A, no que toca às cerâmicas finas, e pelas ânforas da Baetica litoral, Guadalquivir, Ibiza (nº 80), Tarraconensis (Dressel 2-4 e Pascual 1), da Italia tirrénica, Creta (Cretoise 2: nº 103) e Cilicia (Agora M54). As intrusões são formadas pelas ânforas africanas Spatheion IB e ID, Keay 35A e 35B (nºs 92-95, datadas do século V: Bonifay, 2004).
O espólio anfórico mantém-se dominante (85,98%), com a cerâmica de cozinha em segundo lugar (7,57%) e a terra sigillata em terceiro, com 6,43%, mas mais de metade do seu espólio já residual.
O consumo de terra sigillata diversifica-se nesta unidade, com equilíbrio entre a africana C, a africana D1 e a luzente, todas com 11,76%, possivelmente ainda acompanhadas pela hispânica intermédia (com metade da percentagem daquelas, sem que tal seja significativo, em função da escassez da amostra).
Ao nível morfológico (nºs 58-61), a forma 70 da terra sigillata luzente, proveniente do Sul da Gallia, datada a partir de 350 d.C. (Raynaud, 1993b), enquadra-se perfeitamente na cronologia estratigráfica, tal como o nascimento da Dragendorff 37t de hispânica tardia, em torno a esses mesmos meados do século IV d.C., como propomos noutros trabalhos (Quaresma, 2021), a partir da sua constatação em certos contextos mesetenhos, como La Relea (Juan Tovar et al., 1995) e o Mercado de Abastos de Toledo (Carrobles e Rodríguez Montero, 1988). A mesma data de início de fabrico aplica-se aos tipos africanos Hayes 50B (africana C) e Hayes 67 (africana D1) (Hayes, 1972; Bonifay, 2004).
Na cerâmica africana de cozinha modifica-se o quadro típico observado na maior das UEs deste diagrama: o pacote de formas imperiais já não é totalmente oriundo da Zeugitana (embora esta mantenha a exclusividade da técnica da patina cinzenta), com 95%, havendo agora uma presença escassa de imitações tarraconenses, produzidas sem patina cinzenta e com simples polimento homogéneo, com 5% dos indivíduos.
Ao nível morfológico (nº 62-67), o pacote imperial, com as formas já conhecidas (Hayes 23, 196A, 196B e 197), acresce agora novas formas como a Hayes 200 e a Hayes 181D, esta última, típica variante do prato no século IV d.C. (Bonifay, 2004). Já o exemplar de fabrico tarraconense imita, com parede irregular e lábio curto, a tampa Hayes 195 (nº 68).
O universo anfórico disfruta também de uma maior diversidade qualitativa, herdeira da fase estratigráfica anterior, mas reforça quantitativos. Africa volta a ser predominante, com 42,72-4,4=38,32% que se repartem pela Zeugitana (39,2-3,52=35,68%), Byzacena (2,2-0,88=1,32%) e Africa indefinida (1,32%).
A costa bética litoral central perde a liderança no seio intra-provincial, nesta fase (4,84-0,44=4,4%), enquanto a costa de Málaga reforça claramente a sua posição, não só sendo hegemónica na sua provincia, como também reforçando o seu peso no mercado, agora com 6,6%. No quadro hispânico, voltamos a ter a Keay 25 de produção algures do Sudeste peninsular (0,44%), a par da Tarraconensis, enfraquecida (1,32-0,88=0,44%). Por fim, a Lusitania mantém um fornecimento estável, com 4,84%, repartidos pelo Tejo/Sado e pelo Algarve, mas com a primeira área a tornar-se hegemónica (4,4 contra 0,44%).
Se a Gallia Narbonensis parece persistir no seu peso secundário, à base de Gauloise 4 (4,4%), já a Italia consolida extraordinariamente a sua posição, com 25,98%, repartidos por Empoli, que se assume como a grande área fornecedora (18,06%), seguida por Forlimpopoli —que aparenta ainda não ser residual (4,84%)—, e pela Calábria (3,08%). Esta última é uma novidade e apresenta de imediato um comércio sólido, substituindo-se à Sicília, que na fase anterior havia feito uma aparição esporádica.
O Mediterrâneo oriental mantém os seus valores secundários, que denotam novamente uma certa estabilidade diacrónica. Verifica-se aqui, de novo, um predomínio de fabricos de origem indeterminada (4,4%), seguidos pela Palestina (1,76%).
Ao nível morfológico, a Byzacena (com alguns exemplares seguramente de Sullecthum) está reduzida à Africana III, nas variantes Africana IIIB=Keay 25.3 e Africana IIIC=Keay 25.2 (nºs 95-97). O leque zeugitano mantém ainda alguma Africana II, nas variantes IIC1 e IIC2, mas é agora plenamente dominado e com quantitativos sólidos, pela Africana III, sobretudo nas variantes Africana IIIC=Keay 25.2 e Africana IIIA=Keay 25.1, com a Africana IIIB=Keay 25.3 numa posição mais branda (nºs 81-91). O comércio de Keay I=Dressel 30 da costa africama também parece manter-se recorrente.
Na Hispania, a costa de Málaga impõe-se claramente, ultrapassando a costa central da provincia, depois de uma presença tímida na fase anterior. O seu repertório mantém a Gauloise 4 (um outro exemplar é fornecido pela Tarraconensis), com perfil robusto e bordo quadrangularizado, portador de asa praticamente sem a depressão longitudinal externa (nº 77). Também a um nível reduzido volta a surgir a Keay 13=Dressel 23. O domínio é agora, de forma evidente, da Keay 19A-B (nº 78 e sobretudo nº 79), que apresenta perfis perfeitamente moldurados, ao contrário da fase anterior, o que nos levou a questionar a propriedade absoluta da aplicação taxonómica de Keay 19C, que possui bordo muito mais rectilíneo, com simples perolamento superior (Keay, 1984; Berrocal Caparrós, 2016a).
A Baetica litoral (na sua costa central), embora ultrapassada por Málaga, mantém um fornecimento estável e variado, onde a Keay 19C, acompanhada pela Almagro 51c pela Almagro 50, continuando a presença de Keay 13=Dressel 23 meramente hipotética. Nesta fase surge claramente a variante Keay 19C, exclusiva, quando na fase anterior, o exclusivo havia sido do que preferimos denominar de Keay 19A-B. Agora, os bordos surgem claramente simplificados, podendo nem ter o espessamento superior, o que os inclui indubitavelmente na variante C (nº 74). A Almagro 51c pode conter perfis de bordo externo com ligeira aresta (nº 75) e a Almagro 50 apresenta um colo verticalizado (nº 76).
Se a Tarraconensis mantém o fornecimento de Gauloise 4, também a área indefinida do Sudoeste peninsular mantém um fornecimento ocasional de imitações de Keay 25, como já havia acontecido na fase anterior (nº 37). O fabrico não micácico é igual ao do nº 98 que surge, nesta fase, em muito melhor grau de conservação, demonstrando também o mesmo perfil de bordo, com lábio externo. São claramente a mesma ideia morfológica e o mesmo fabrico. Se o nº 37 apresentava 125 mm de diâmetro de bordo, o nº 98 é ligeiramente maior, com 130 mm. Estes valores ultrapassam os do centro produtor de El Mojón, onde variam entre 100 e 120 mm. O perfil mais conservado do nº 98 torna também mais evidente a maior largura do colo e a sua menor altura, por comparação com os exemplares de El Mojón (Berrocal Caparrós, 2016b, fig. 1). No entanto, tal como neste centro produtor do Sul da Tarraconensis, também o nº 98 apresenta a canelura no fundo do colo, para além da asa de secção oval irregular e do já referido perfil de bordo.
No conjunto lusitano, a Almagro 51c algarvia apresenta parede de colo e bordo robustos (nº 73), enquanto a Almagro 51a-b, variante A-B apresenta bordos muito verticalizados e um pouco oblíquos, próximos da variante C, com moldura interna e externa no topo do bordo aplanado (nº 70), ou com bordo alto, podendo ser algo oblongo ou curvo e possuindo ruptura de perfil na união com o colo (nºs 71-72).
Se o espólio de Forlimpopoli continua a fornecer exemplares menos conservados, com fundos ou asas parciais, já Empoli apresenta exemplares bem conservados e com alguma variabilidade. Esta diversidade não é surpreendente, quando no próprio centro produtor se verifica ao menos seis variantes de bordo (Cambi, 1989, fig. 2). Os nºs 99 e 100 apresentam asas constantes de secção rectangular, mas bordos e colos diferentes. Ambos são altos, mas o colo do primeiro é mais largo e vertical (mas côncavo), a parede mais espessa e o bordo espessado quase descai em lábio incipiente; no segundo, a parede do colo é mais estreita, o colo mais estreito e oblíquo e o bordo é mais fortemente espessado, com perfil triangularizado suave. O fundo do nº 101 revela o típico botão, para além de uma canelura no pivot.
A Calábria, inédita no diagrama, fornece agora uma boa quantidade de Keay 52 (Keay, 1984), com colo alto e bordo triangular com lábio inferior (nº 102). É uma forma bem conhecida em Tarraco, onde surge com bons quantitativos nos séculos IV (sobretudo a partir da segunda metade) e V d.C., embora neste último século decresça acentuadamente (Remollà Vallverdú, 2000, p. 202).
No Mediterrâneo oriental, com respeito a origens indefinidas, a Agora M273 surge agora (ao contrário da fase anterior: nº 54), com fabricos contendo alguma muscovite e perfis mais claramente assimiláveis à morfologia canónica, embora variável. O nº 107 tem bordo espessado esvasado e colo mais verticalizado, embora sinuoso; o nº 198 possui bordo espessado simples, mas colo mais robusto, troncocónico e algo menos sinuoso. As asas são de secção oval irregular.
A possível LRA 1A respeita a uma simples asa com parede. Já os nºs 104 e 105 poderão ser classificados como Agora M334 (algo que também não ficou claro com o nº 57, na fase anterior), com muitos centros produtores diagnosticados junto à fronteira da Palestina setentrional com o Líbano. Normalmente apresenta fabricos ricos em calcite, com pasta de cor laranja-salmão claro, podendo fabricos mais grosseiros, vermelhos, mas bem cozidos igualmente; outros fabricos apresentam areias marinhas e pastas mais de tom castanho/vermelho, igualmente com ENP brancos. Em Beirute, surge entre os inícios do século IV, sendo abundante até c. 450 d.C. (Reynolds, 2005, p. 571). O nº 104 possui, contudo, um arranque de asa abaixo do bordo, quando o normal é arrancar directamente dele; já o fundo nº 105, em botão, segue a norma tipológica.
A Palestina surge com o tipo LRA 4A2, datado a partir da segunda metade ou finais do século IV d.C. O nº 106 possui bordo espessado, com protuberâncias externas e as irregularidades de alisamento da parede típicas (Pieri, 2005, p. 104).
Por fim, voltamos a ter um conjunto de exemplares que denominamos, à falta de melhor opção, como Dressel 24/Cup-shaped rim/MRA 18/Zeest 90, tal como fizemos na fase anterior (ver supra). Na UE 18005, o conjunto apresentava-se, porém, com bordos rectos, em fita oblíqua (nos 55-56). Na presente fase, os nºs 109-114 revelam a mesma obliquidade, mas bordos curvos, com espessura amendoada (com excepção do nº 114, ainda recto, como na UE 18004). Nos nºs 109 e 111 (mas não no nº 110), o bordo amendoado tem uma ligeiríssima inflexão na passagem para o colo. Este parece arrancar desde o bordo de maneira vertical. Os seus diâmetros variam entre 110 e 130 mm, enquanto os nºs 56 e 55 da UE 18005 possuem 160 e 130 mm, sendo o valor de 160 mm claramente uma excepção.
Tal como afirmámos, no comentário para a fase anterior, para T. Bezeczky (Bezeczky, 2013, p. 72-74) este tipo de bordos parece chegar a cronologias tardias, podendo ser antecessor da LRA 2, em particular a forma Dressel 24. D. Pieri (Pieri, 2005, p. 85) concorda igualmente com o recuo dos protótipos da LRA 2 até ao século II, mas com bordo altos, convexos e algo escavasados, que serão frequentes na área istrio-pôntica, tornando-se, no século IV, verdadeiras formas de transição para a LRA 2, que se canoniza no século V d.C. O conjunto da UE 18004 não é claro nessa filiação da forma transitória, mas a sua diversidade morfológica e de fabricos, sempre de boa qualidade, justifica que equacionemos uma proximidade a esta família de ânforas (tab. 4).
Tabela 4. Estatística da UE 18004.
Classe |
Origem |
Grupo |
Tipo |
Frgs. |
NMI |
MNMI Prod. |
% NMI Prod. |
Terra sigillata (6,43%) |
Luzente |
|
Luzente 70 |
2 |
2 |
2 |
11,76 |
Terra sigillata hispânica intermédia |
|
Drag. 37t |
1 |
1 |
1 |
5,88 |
|
Terra sigillata hispânica - La Rioja |
|
Drag. 37b |
1 |
1 |
4 |
23,52 |
|
|
Prato |
1 |
1 |
||||
|
Indeterminado |
2 |
2 |
||||
Terra sigillata hispânica - Andújar |
|
Prato |
1 |
1 |
2 |
11,76 |
|
|
Drag. 37B |
1 |
1 |
||||
Terra sigillata Africana A |
|
Hayes 6A ou 6B |
1 |
1 |
3 |
17,64 |
|
|
Hayes 15, var. precoce |
1 |
1 |
||||
|
Hayes 15 |
1 |
1 |
||||
|
Indeterminado |
6 |
|
||||
Terra sigillata Africana C |
|
Hayes 50 |
1 |
1 |
2 |
11,76 |
|
|
Hayes 50B |
1 |
1 |
||||
Terra sigillata Africana D1 |
|
Hayes 58B |
1 |
1 |
1 |
5,88 |
|
|
Hayes 67 |
2 |
2 |
2 |
11,76 |
||
|
Indeterminado |
2 |
— |
||||
Total |
25 |
17 |
17 |
100,00 |
|||
Cerâmica de cozinha (7,57%) |
Tarraconensis |
Cerâmica comum |
Hayes 195 |
1 |
1 |
1 |
5,00 |
Norte da Tunísia |
Patina cinzenta |
Hayes 200 |
1 |
1 |
19 |
95,00 |
|
Hayes 196B |
2 |
2 |
|||||
Hayes 196A |
5 |
5 |
|||||
Hayes 197 |
3 |
3 |
|||||
Hayes 181D |
3 |
3 |
|||||
Hayes 23 |
5 |
5 |
|||||
Indeterminado |
6 |
|
|||||
Total |
26 |
20 |
20 |
100,00 |
|||
Ânfora (85,98%) |
Indeterminada |
|
Indeterminado |
62 |
1 |
1 |
0,44 |
Africa |
|
Keay I |
3 |
3 |
3 |
1,32 |
|
Africa, Byzacena |
|
Af. II ou Af. III/Keay 25 |
1 |
1 |
5 |
2,20 |
|
|
Af. IIIC/Keay 25.2 |
1 |
1 |
||||
|
Af. IIIB/Keay 25.3 |
1 |
1 |
||||
|
Spatheion tipo 1B |
1 |
1 |
||||
|
Keay 35A |
1 |
1 |
||||
Africa, Zeugitana |
|
Indeterminado |
27 |
|
89 |
39,20 |
|
|
Af. II |
2 |
2 |
||||
|
Af. II ou Af. III/Keay 25 |
15 |
15 |
||||
|
Af. IIC1 |
2 |
2 |
||||
|
Af. IIC2 |
2 |
2 |
||||
|
Af. III/Keay 25 |
10 |
9 |
||||
|
Af. IIIA/Keay 25.1 |
16 |
16 |
||||
|
Af. IIIB/Keay 25.3 |
6 |
6 |
||||
|
Af. IIIC/Keay 25.2 |
21 |
20 |
||||
|
Af. III/Keay 25 |
9 |
9 |
||||
|
Keay 35A |
6 |
6 |
||||
|
Keay 35 |
1 |
1 |
||||
|
Spatheion tipo 1D |
1 |
1 |
||||
Ânfora (85,98%) |
Baetica, litoral |
|
Dressel 7-11 |
3 |
3 |
11 |
4,84 |
|
Almagro 50 |
1 |
1 |
||||
|
Almagro 51c |
3 |
2 |
||||
|
Keay 19C |
5 |
4 |
||||
|
Keay 19 ou Keay 13 |
2 |
1 |
||||
Baetica, Guadalquivir |
|
Haltern 70 |
1 |
1 |
1 |
0,44 |
|
Baetica, Malaga |
|
Gauloise 4 |
3 |
2 |
15 |
6,60 |
|
|
Keay 13=Dressel 23 |
1 |
1 |
||||
|
Keay 19 |
1 |
1 |
||||
|
Keay 19A-B |
25 |
10 |
||||
|
Keay 19A-B? |
1 |
1 |
||||
Hispania, Sudeste |
Fabrico não-micácico |
Keay 25 |
1 |
1 |
1 |
0,44 |
|
Ibiza |
|
PE 25 |
1 |
1 |
1 |
0,44 |
|
Tarraconensis |
|
Dressel 2-4 |
1 |
1 |
3 |
1,32 |
|
|
Pascual 1 |
1 |
1 |
||||
|
Gauloise 4 |
1 |
1 |
||||
|
Indeterminado |
12 |
|
||||
Lusitania, Algarve |
|
Almagro 51c |
1 |
1 |
1 |
0,44 |
|
Lusitania, Tejo/Sado |
|
Almagro 51a-b, var. A-B |
4 |
4 |
10 |
4,4 |
|
|
Almagro 51c |
6 |
6 |
||||
Gallia, Narbonensis |
|
Gauloise 4 |
23 |
10 |
10 |
4,4 |
|
Italia, Calábria |
|
Keay 52 |
9 |
7 |
7 |
3,08 |
|
Italia, Empoli |
|
Empoli |
89 |
41 |
41 |
18,06 |
|
Italia, Forlimpopoli |
|
Forlimpopoli |
22 |
11 |
11 |
4,84 |
|
Italia, Tirreno |
|
Indeterminado |
1 |
1 |
1 |
0,44 |
|
Mediterrâneo Oriental, Creta |
|
Cretoise 2 |
1 |
1 |
1 |
0,44 |
|
Mediterrâneo Oriental, Cilícia |
|
Agora M54 |
1 |
1 |
1 |
0,44 |
|
Mediterrâneo Oriental, Indeterminado |
|
Dressel 24/Cup-shaped rim/MRA 18/Zeest 90 |
6 |
6 |
10 |
4,40 |
|
|
Agora M273 |
2 |
2 |
||||
|
LRA 1A? |
1 |
1 |
||||
|
Agora M334? |
2 |
1 |
||||
Mediterrâneo Oriental, Palestina |
|
LRA 4 |
1 |
1 |
4 |
1,76 |
|
|
LRA 4A2 |
3 |
3 |
||||
Total |
423 |
227 |
227 |
100,00 |
|||
Total |
461 |
264 |
264 |
100,00 |
|||
Residualidade: 7,57% |
|||||||
Intrusibilidade: 3,78% |
A base empírica decresce acentuadamente nesta unidade (fig. 16) onde, tal como na UE 18005, apenas se regista ânforas. A residualidade desce também significativamente (Dressel 7/11 tarraconense e Lusitana 3 da Lusitania). É também a única UE na qual não se verifica nenhuma intrusão, recebendo por isso, de forma automática, a proposta cronológica da unidade sobre a qual se deposita directamente (UE 18004).
Africa domina com 41,96%, repartidos pela Zeugitana (38,27%), Byzacena (1,23%) e Africa indefinida (2,46%). A Hispania totaliza 27,14-2,46=24,68% (Dressel 7/11 e Lusitana 3 residuais), com claro domínio da Baetica litoral (22,22%), região seguida ao longe pela costa malaguenha (2,46%), Tarraconensis (2,46-1,23=1,23%) e Lusitania (2,46-1,23=1,23%). Se Málaga decresce fortemente, a Lusitania, para além de um decréscimo, nota o desaparecimento do Algarve, ficando restringida ao Tejo/Sado. Também a Gallia Narbonensis perde um pouco do seu peso (2,46%), ao contrário da Italia que se mantém numa posição destacada (em certa medida, equilibrada com os valores da Hispania), embora novamente restringida a Empoli (14,81%) e Forlimpoli (6,17%). O Mediterrâneo oriental, apesar de não ter nenhuma representação da Palestina, parece manter o seu peso, totalizando 4,88%, repartido por localizações indefinidas (3,65%) e pelo Egipto, uma novidade regional esporádica, que surge apenas nesta fase, com 1,23%.
Ao nível tipológico, o território tunisino surge agora mal representado e focado na Africana III, através da variante Africana IIIC=Keay 25.2, que apenas se pode diagnosticar na Zeugitana; enquanto a Keay I=Dressel 30 (nº 121) mantém o seu comércio, reduzido, mas estável, desde as fases anteriores.
A Baetica litoral volta a ter uma forte representação de Keay 19A-B, como havia acontecido na UE 18005, enquanto a Keay 19C, que dominou a fase imediatamente anterior (UE 18004), está agora numa posição marginal (nos 125-129). Málaga está agora reduzida à Keay 13=Dressel 23, forma que só na UE 18002, a mais tardia do diagrama, terá a sua variante especificada. A Tarraconensis continua reduzida à Gauloise 4 e a Lusitania, para além de só fornecer dados do Tejo/Sado, está limitada à Almagro 51c (nº 131), de bordo biselado, incipiente e asa espessa. O nº 130, da mesma região, com a asa a nascer imediatamente abaixo do bordo, poderá não ser deste último tipo, mas antes da Lusitana 3, que seria assim residual, nesta fase.
No caso itálico, apenas Empoli fornece exemplares com interesse para comentário morfológico. Vemos nesta fase um exclusivo dos bordos mais canónicos, com espessamento abatido, em maior ou menor grau, mas asas, que, sendo predominantemente de secção transversal sub-rectangular, podem ter casos raros mais irregulares. Já os pivots parecem estabilizar em fundos planos (nºs 115-119).
Por fim, o Mediterrâneo oriental tem agora uma nova região possível, o Egipto, com um possível fundo do tipo AE3, embora este tipo não pareça alcançar o século IV e os seus pivots costumem ter caneluras oblíquas, o que não acontece no nº 122. Este exemplar possui, contudo, as típicas marcas de erva à superfície, que o relacionam com uma produção egípcia (Dixneuf, 2011, p. 28) (tab. 5).
Tabela 5. Estatística da UE 18003.
Classe |
Origem |
Grupo |
Tipo |
Frgs. |
NMI |
MNMI Prod. |
% NMI Prod. |
Ânfora (100%) |
Indeterminada |
|
Indeterminado |
117 |
1 |
1 |
1,21 |
Africa |
|
Keay I |
1 |
1 |
2 |
2,42 |
|
|
Keay I? |
1 |
1 |
||||
Africa, Zeugitana |
|
Af. II |
1 |
1 |
31 |
37,80 |
|
|
Af. II ou Af. III/Keay 25 |
30 |
20 |
||||
|
Af. III/Keay 25 |
8 |
4 |
||||
|
Af. IIIC/Keay 25.2 |
6 |
6 |
||||
Africa, Byzacena |
|
Af. II ou Af. III/Keay 25 |
1 |
1 |
1 |
1,21 |
|
Baetica, litoral |
|
Almagro 51c |
1 |
1 |
18 |
21,95 |
|
|
Keay 19 |
11 |
7 |
||||
|
Keay 19A-B |
19 |
9 |
||||
|
Keay 19C |
1 |
1 |
||||
Baetica, Malaga |
|
Keay 13= Dressel 23 |
2 |
2 |
2 |
2,46 |
|
Tarraconensis |
|
Indeterminado |
14 |
|
2 |
2,42 |
|
|
Dressel 7/11 |
1 |
1 |
||||
|
Gauloise 4 |
1 |
1 |
||||
Lusitania, Tejo/Sado |
|
Lusitana 3 |
1 |
1 |
2 |
2,42 |
|
|
Almagro 51c |
1 |
1 |
||||
Gallia, Narbonensis |
|
Gauloise 4 |
4 |
2 |
2 |
2,42 |
|
Italia, Empoli |
|
Empoli |
26 |
12 |
12 |
14,63 |
|
Ânfora (100%) |
Italia, Forlimpopoli |
|
Forlimpopoli |
8 |
5 |
5 |
6,17 |
Mediterrâneo Oriental, Egipto |
|
AE 3 |
1 |
1 |
1 |
1,21 |
|
Mediterrâneo Oriental, Indeterminado |
|
Agora M334? |
2 |
2 |
2 |
3,65 |
|
|
Indeterminado |
1 |
1 |
1 |
|||
Total |
259 |
82 |
82 |
100,00 |
|||
Residualidade: 2,43% |
|||||||
Intrusibilidade: 0% |
O Mediterrâneo oriental volta a apresentar fundos que poderíamos adscrever ao tipo Agora M334, ricos em calcite ou micro-fósseis, com pivot cilíndrico de fundo em botão, ou troncocónico de fundo levemente onfalado (nºs 123-124).
Nesta última fase estratigráfica (figs. 17, 18 e 19), a base empírica volta a crescer e a diversificar-se, mas também revela um crescimento acentuado da residualidade. O predomínio do material anfórico, com 65,6%, é evidente sobre a cerâmica africana de cozinha (3,93%) e os 31,21% de terra sigillata estão fortemente eivados de residualidade. Nesta tipologia, toda a terra sigillata sudgálica, hispânica e de Africana A é residual. No seio das ânforas, são residuais o material tripolitano, todas as formas tarraconenses, com excepção da Gauloise 4, a Gauloise 1 narbonense, e a Cretoise 3 de Creta (nº 153). As intrusões são realizadas através da Hayes 73 (nº 134) de terra sigillata africana D1 (425+ d.C.: Hayes, 1972), e pela ânfora Tardia A, já do século V d.C., mas sobretudo pelos tipos de transição LRA 1A/B, datável a partir de 450+ d.C., quando os diâmetros de bordo começam a crescer podendo alcançar até 90 mm, entre 450 e 500 d.C. (Pieri, 2005, p. 72).
No seio da terra sigillata, o tipo 28 de Luzente (nº 133) e a Dragendorff 37t do vale do Ebro (nº 132) indicam os meados do século IV d.C. (Raynaud, 1993b; Juan Tovar et al., , 1995; Carrobles e Rodríguez Montero, 1988). A cerâmica de cozinha tem agora o peso mais fraco em toda o diagrama estratigráfico, mas diversifica as suas áreas de fornecimento. O Norte da Tunísia, com patina cinzenta (Hayes 197 e 196B: nºs 135-136. A Hayes 197 revela-se sempre pelos perfis anteriores aos finais do século IV – Bonifay, 2004), partilha agora o espaço com a Byzacena, que surge pela única vez nesta tipologia, através do tipo Ostia II, 302 (nº 137), e novamente com um comércio escasso da Tarraconensis, com a mesma técnica de cerâmica comum de paredes polidas, sem patina cinzenta, através do tipo Hayes 197 (na UE 18004 havia surgido com um exemplar de Hayes 195: ver supra), com bordo moldurado simplificado (nº 138).
No comércio anfórico, Africa perde claramente fôlego, em detrimento do comércio da Baetica litoral (acompanhado da costa malaguenha) e do Mediterrâneo oriental, regiões que a ultrapassam agora. Africa perde pela primeira a Byzacena e fica reduzida à Zeugitana, já que a ânfora tripolitana aqui presente é residual. Apresenta assim um valor de 8,73-0,97=7,77%, muito abaixo dos valores anteriores.
Já a Hispania reforça de novo o seu peso, aproveitando o comércio estável que a caracterizava, embora com decréscimo acentuado da Lusitania, que já se prenunciava na fase anterior. Com um total de 53,39%, a Hispania apresenta uma forte residualidade, já referida, pelo comércio balear e por quase toda a Tarraconensis. Assim, o seu valor corrigido é de 53,39-24,27=29,12%, um dos mais altos ao longo da estratigrafia. Este valor hispânico é assim sobretudo almejado pelo papel da Baetica litoral (22,33%), acompanhado pela costa de Málaga (5,82%) e pela Tarraconensis (23,3-22,33=0,97%). O atlântico lusitano está agora reduzido a 0,97%, e a uma única região, o Algarve, quando na fase anterior o exclusivo era do Tejo/Sado.
A Gallia Narbonensis denota um decréscimo do seu peso (1,94-0,97=0,97%), enquanto a Italia, apesar de manter diversidade regional, desce claramente o seu peso. Os seus 6,79% repartem-se pela Calábria (0,97%), por Empoli, que desce de forma acentuada (1,94%) e por Forlimpoli, que, com 3,88%, poderia dar a impressão de liderar este segmento regional, embora tal deva ser ilusório.
O Oriente consolida finalmente o seu papel, até aqui meramente secundário. Dos seus 29,11% devemos excluir 0,97 residuais (Cretoise 3) e 4,85% intrusivos (LRA 1A/B, Tardia A e Tardia K), perfazendo 23,29%, o que significa uma quadruplicação ou quintuplicação dos seus valores médios anteriores. A Cilicia domina claramente (17-2,91=14,09%), seguida ao longe pela Palestina (3,88%), áreas indeterminadas com Dressel 24/Cup-shaped rim/MRA 18/Zeest 90 (1,94%), áreas indeterminadas com a Tardia K (1,94%) e uma série de outras áreas com 0,97%: o Chipre oriental, que fornece agora cumulativamente à Cilicia, LRA 1A, e ainda Creta, Creta ou Peloponeso e Egeu.
Ao nível tipológico, a Zeugitana apresenta escassa Africana II e alguma Africana III, pelas variantes Africana IIIA=Keay 25.1 e Africana IIIC=Keay 25.2 (nºs 140-151), acompanhadas pela novidade da Keay 27A (nº 152).
A Baetica litoral volta a confirmar a nossa proposta taxonómica de Keay 19A-B para muitos dos seus exemplares. Nesta UE, dominam de uma forma esmagadora, com os bordos bi-moldurados da Keay 19A-B a perfazerem 16 indivíduos, contra apenas um de Keay 19C, produzido num fabrico com inclusões negras, já referido, diagnosticado em dois exemplares das UEs 18006 e 18005, em Almagro 51c (nº 15: fundo levemente troncocónico). Na unidade vertente, UE 18002, o nº 146 possui bordo vertical com espessamento superior externo, biselado no topo que descai para o interior. As asas, de secção elíptica algo irregular, descaem imediatamente após o arranque na parte superior do colo, atingindo ainda a parte inferior do bordo. Este tipo tem semelhanças evidentes com o que J. A. Remolà Vallverdú denomina de Keay 68/91, sobretudo na sua variante de bordo B; o fabrico descrito por este autor (que o atribui hipoteticamente à Tarraconensis) para a cidade de Tarraco não coincide com o dos exemplares do nosso estudo, já que não possui ENP negros. A referida Keay 68/91 apresenta um fabrico homogéneo, com pastas de cor marron-vermelho, abundantes ENP heterométricos, sobretudo com quartzo, calcite e alguma mica, para além de ENP vermelhos indeterminados. Mas a sua cronologia estratigráfica é, por seu lado, um outro indicador de paralelismo com os três exemplares do nosso estudo, já que, em Tarraco, a Keay 68/91 surge em contextos do século IV e primeira metade do V d.C. (Remolà Vallverdú, 2000, p. 196-199 e fig. 68, sobretudo o nº 5).
Ainda na Baetica litoral, uma outra forma surge agora, com alguma representatividade e uma certa variação contida nos bordos introvertidos: a Keay 41. Os nºs 143-145 apresentam, respectivamente, bordo triangular espesso e suavizado, bordo triangular mais anguloso (com finos sulcos externos junto ao topo) e bordo incurvado. Os diâmetros variam entre 95 e 110 mm, o que se encaixa nas balizas tipológicas que situam o tipo entre 64 e 112 mm. Segundo M. Berrocal Caparrós (2016c), a Keay 41 (pelo menos a produzida no Sul da Tarraconensis, em El Mojón, por exemplo), terá sido produzida entre 275 e 500 d.C., inspirada em protótipos africanos já debatidos por S. Keay (Keay, 1984, fig. 253, nº 1). Esses bordos tarraconenses são, contudo, mais robustos do que os béticos. Os nºs 143-145 encontram indubitavelmente melhor paralelo em alguns dos exemplares de produções meridionais como as publicadas em Los Matagallares (Bernal Casasola, 1998, fig. 260, fig. 94, nºs 61-63). D. Bernal Casasola atribui a produção sud-hispânica à área de Granada (Los Matagallares e Los Barreros: pastas acastanhadas); sem embargo, os fabricos dos nºs 143-145 parecem radicar antes de uma produção da costa mais central da Baetica, sobretudo pela ausência de materiais metamórficos e pela maior limpeza das superfícies. As dúvidas que subsistem, no entanto, quanto à verdadeira nomenclatura deste tipo de bordo produzido em solo hispânico (a par da sua confirmada produção no território africano: Bonifay, 2016, p. 605), levam-nos a optar por uma nomenclatura prudente de Keay 41 similis.
Ainda na Baetica litoral, o nº 147 é um fundo robusto que atribuímos à Keay 19.
A costa malaguenha, por seu lado, apresenta alguns exemplares de Keay 19A-B e Almagro 51C (nº 142), formas já discutidas como podendo ter origem em centros desta área (Corrales Aguilar et al., 2018, pp. 116-123).
A Keay 13=Dressel 23 é uma ânfora da costa malaguenha que surge, embora escassamente, com regularidade no diagrama em estudo, a partir da UE 18006 (ausente na UE inferior, 18007). Na UE 18002, surge, pela primeira vez, com uma variante definida, a Keay 13C = Dressel 23D, a sua última versão morfológica, que deve centrar-se nos séculos IV e V d.C., surgindo em naufrágios como os de Chrétienne D e Les Catalans, do século IV. Ao lado do nº 141 (fundo sem variante definível) nº 147 possui bordo assimilável à variante B da Keay 13C = Dressel 23D, com colo quase inexistente, bordo arredondado com aresta externa na sua base (Fantuzzi et al., 2017), bem representada no contexto de Vila-Roma (425-450 d.C.), em Tarraco (Remolà Vallverdú, 2000; TED’A, 1989).
A Tarraconensis faz-se representar novamente por um único exemplar de Gauloise 4 (nº 148), enquanto o único exemplar da Lusitania, provém do Algarve, e o seu perolamento aproxima-o do tipo Almagro 51a-b, var. C (=Keay 19C), denominado por alguns autores como Algarve 1, pelas característcas próprias das produções algarvias – nomeadamente o arranque descaído das asas (Fabiao et al., 2010).
A Gallia Narbonensis fornece um último exemplar de Gauloise 4, a par de escassos exemplares de ânforas itálicas tipo Empoli, Forlimpoli e Keay 52 (Calábria).
O Mediterrâneo oriental apresenta agora a sua maior diversidade geográfica e tipológica. Em relação às ânforas coevas da formação do que consideramos ser o grande pacote de 350-400 d.C. nesta estratigrafia, Creta fornece agora um exemplar de Cretoise 1 (nº 154), datável até meados do século IV d.C. (Marangou-Lerat, 1995).
Da Cilicia chega um bom contingente de LRA 1A (nºs 156-160), com grande variedade na morfologia dos bordos e diâmetros entre os 60-78 mm, que se podem datar a partir de finais do século IV d.C., acompanhados por um indivíduo do Chipre oriental (nº 155), com fabrico que se distingue do observado na Cilicia (Pieri, 2005, p. 71).
Do Egeu chega o primeiro e único exemplar relacionado com a LRA 2, na sua versão precoce que poderá ainda recuar ao século IV d.C. (Pieri, 2005, p. 85). O nº 164 possui um bordo já algo desenvolvido, curvo e inflexão na passagem para o colo.
Parece-nos haver uma relação morfológica clara entre este exemplar de LRA 2 precoce e a forma Dressel 24/Cup-shaped rim/MRA 18/Zeest 90, com área indeterminada (Bezeczky, 2013, p. 72-74), que já bordámos anteriormente (ver nºs 55, 56, 109-114). Os nºs 109-111 da UE 18004 já prenunciavam uma tendência (ou versão?) de bordos algo convexos e algo verticalizados, tornando-os morfologicamente mais próximos da LRA 2 precoce. Essa verticalização torna-se clara nos exemplares de Dressel 24/Cup-shaped rim/MRA 18/Zeest 90 da UE 18002, nºs 165-166, com diâmetros de 110 mm, maiores do que o da LRA 2 precoce (nº 164), com 97 mm.
Da área palestiniana chega um exemplar bem conservado de LRA 4A1 (nº 167), com bordo de espessamento incipiente e asa curta, próxima deste, datável do século IV d.C. (Pieri, 2005, p. 104).
O material intrusivo oriental merece-nos, neste último ponto, alguns breves comentários, pela sua importância tipológica e crono-estratigráfica.
A LRA 1A/B, datada por D. Pieri a partir de 450 d.C., quando começa a desenvolver os diâmetros de bordo entre 75 e 90 mm, está bem representa nesta UE, com dois ou possivelmente três indivíduos (nos 161-163). Se os nºs 161 e 163 são homogéneos morfologicamente, já o nº 162 destoa, com um bordo muito recto na sua parte superior, a única conservada.
A Tardia K não possui área geográfica determinada, sendo ainda conhecida por poucos exemplares em Tarraco, onde surge com colo troncocónico, lábio espessado, em fabricos de pasta vermelha, com quartzo, calcite e mica, em contextos de 450-500 d.C. (Remolà Vallverdú, 2000, p. 242). O nº 170, com 80 mm de diâmetro, tem a ligação ao colo sem a ruptura de perfil que caracteriza outros fragmentos de Tarraco, sendo assim, uma morfologia de andamento mais simplificado (Remolà Vallverdú, 2000, fig. 91, nºs 8-10)
Já a Tardia A está adscrita a Creta ou mais provavelmente ao Peloponeso. Descrita pela primeira vez na monografia do contexto de Vila-Roma, de 425-450 d.C. (TED’A 1989, p. 305). Surge igualmente em sítios catalães como a villa de Puig Rodon, entre 400 e 450 d.C.; no contexto de 425-450 d.C. de Schola Praeconum, em Roma (Whitehouse et al., 1982); ou no sector da Bolsa de Marselha, em meados do século V d.C. (Bonifay et al., 1998). Apresenta uma grande uniformidade de fabricos, para além de tituli picti sempre em grego, que lhe apontaram desde cedo uma origem oriental (Remolà Vallverdú, 2000, p. 234). O nº 169 tem 90 mm de diâmetro e uma morfologia e fabrico canónicos.
Tabela 6. Estatística da UE 18002.
Classe |
Origem |
Grupo |
Tipo |
Frgs. |
NMI |
MNMI Prod. |
% NMI Prod. |
Terra sigillata (31,21%) |
TSSG |
|
Drag. 27b |
1 |
1 |
2 |
4,08 |
|
Drag. 29 |
4 |
1 |
||||
TSH– La Rioja |
|
Indeterminado |
|
7 |
43 |
87,75 |
|
|
Drag. 18 |
8 |
8 |
||||
|
Drag. 24/25 |
1 |
1 |
||||
|
Ritt. 8 |
1 |
1 |
||||
|
Drag. 29 |
2 |
1 |
||||
|
Drag. 29, 30 ou 37 |
6 |
1 |
||||
|
Drag. 30 |
7 |
7 |
||||
|
Drag. 37 |
2 |
|
||||
|
Drag. 37a |
1 |
1 |
||||
|
Drag. 37b |
2 |
2 |
||||
|
Hisp. 20 |
1 |
1 |
||||
|
Tigela |
6 |
6 |
||||
|
Prato |
7 |
7 |
||||
TSHIntermédia-Ebro |
|
Dragenforff 37t |
1 |
1 |
1 |
2,04 |
|
Luzente |
|
Luzente 28 |
1 |
1 |
1 |
2,04 |
|
TSAf A |
|
Indeterminado |
2 |
1 |
1 |
2,04 |
|
TSAf D1 |
|
Hayes 73 |
1 |
1 |
1 |
2,04 |
|
Total |
54 |
49 |
49 |
100,00 |
|||
Cerâmica de cozinha (3,93%) |
Norte da Tunísia |
Patina cinzenta |
Hayes 197 |
3 |
2 |
3 |
60 |
H196B |
1 |
1 |
|||||
Byzacena |
Polimento |
Ostia II, 302 |
1 |
1 |
1 |
20 |
|
Tarraconensis |
Cerâmica comum |
Hayes 197 |
1 |
1 |
1 |
20 |
|
Total |
6 |
5 |
5 |
100 |
|||
Ánfora (65,6%) |
Africa, Tripolitana |
|
Schöne-Mau XXXV |
1 |
1 |
1 |
0,97 |
Africa, Zeugitana |
|
Indeterminado |
1 |
|
8 |
7,76 |
|
|
Af. II |
1 |
1 |
||||
|
Af. II ou Af. III/Keay 25 |
2 |
2 |
||||
|
Af. IIIA/Keay 25.1 |
2 |
2 |
||||
|
Af. IIIC/Keay 25.2 |
2 |
2 |
||||
|
Keay 27A |
1 |
1 |
||||
Baetica, litoral |
|
Almagro 51c |
1 |
1 |
23 |
22,33 |
|
|
Keay 19 |
2 |
2 |
||||
|
Keay 19A-B |
16 |
16 |
||||
|
Keay 19C |
1 |
1 |
||||
|
Keay 41 similis |
3 |
3 |
||||
Baetica, Malaga |
|
Keay 13 = Dressel 23 |
2 |
2 |
6 |
5,82 |
|
|
Keay 19A-B |
2 |
2 |
||||
|
Keay 13C = Dressel 23D |
1 |
1 |
||||
|
Almagro 51c |
1 |
1 |
||||
Tarraconensis |
|
Gauloise 4 |
1 |
1 |
24 |
23,3 |
|
|
Pascual 1 |
1 |
1 |
||||
|
Dressel 1 ou 2-4 |
1 |
1 |
||||
|
Dressel 2-4 |
2 |
2 |
||||
|
Tarraconense 1? |
18 |
18 |
||||
|
Tarraconense 2 |
1 |
1 |
||||
|
Indeterminado |
15 |
|
||||
Baleares |
|
Indeterminado |
2 |
1 |
1 |
0,97 |
|
Lusitania, Algarve |
|
Almagro 51a-b, var. A-B |
1 |
1 |
1 |
0,97 |
|
Gallia, Narbonensis |
|
Gauloise 1 |
1 |
1 |
2 |
1,94 |
|
|
Gauloise 4 |
1 |
1 |
||||
Italia, Calábria |
|
Keay 52 |
2 |
1 |
1 |
0,97 |
|
Italia, Empoli |
|
Empoli |
5 |
2 |
2 |
1,94 |
|
Italia, Forlimpopoli |
|
Forlimpopoli |
8 |
4 |
4 |
3,88 |
|
Mediterrâneo Oriental, Chipre Oriental |
|
LRA 1A |
1 |
1 |
1 |
0,97 |
|
Mediterrâneo Oriental, Cilícia |
|
LRA 1A |
5 |
5 |
17 |
16,5 |
|
|
LRA 1A/1B? |
1 |
1 |
||||
|
LRA 1A/1B |
2 |
2 |
||||
|
LRA 1 |
193 |
9 |
||||
Mediterrâneo Oriental, Creta |
|
Cretoise 1 |
1 |
1 |
1 |
0,97 |
|
|
Cretoise 3 |
1 |
1 |
1 |
0,97 |
||
Mediterrâneo Oriental, Creta ou Peloponeso |
|
Tardia A = VR 8, 198 |
1 |
1 |
1 |
0,97 |
|
Mediterrâneo Oriental, Egeu |
|
LRA 2 precoce |
1 |
1 |
1 |
0,97 |
|
|
Mediterrâneo Oriental, Indeterminado |
|
Dressel 24/Cup-shaped rim/MRA 18/Zeest 90 |
2 |
2 |
2 |
1,94 |
Mediterrâneo Oriental, Palestina |
|
LRA 4A1 |
1 |
1 |
4 |
3,88 |
|
|
LRA 4A2 |
3 |
3 |
||||
Indeterminada |
|
Indeterminado |
66 |
1 |
2 |
1,94 |
|
|
Tardia K |
1 |
1 |
||||
Total |
377 |
103 |
103 |
100,00 |
|||
Total |
437 |
157 |
157 |
100,00 |
|||
Residualidade: 46,49% |
|||||||
Intrusibilidade: 3,18% |
Uma pequena quantidade de material, todo anfórico e sempre de origem tunisina (Zeugitana e Byzacena) apresenta grafitos ante conturam sobre os pivots (fig. 20). A sua leitura levanta vários problemas e insuficiências (Cagnat, 1914):
O nº 173 parece indicar o numeral dez: X, numa Africana II ou III de Sullecthum, na Byzacena. Justamente, no centro de Sullecthum, uma ânfora publicada possui o mesmo numeral X sobre pivots de Africana IID e Sullecthum 10 (Nacef, 2015, p. 90, fig. 77, nº 4).
O nº 174 a letra O, em cursivo.
O nº 172, também em cursivo, pode ser lido como ES ou EQ (as duas letras geminadas). A dar-se esta segunda hipótese, a letra Q estaria invertida, mas permitiria a hpótese de ser a abreviatura de EQ(ues), ou cavaleiro, um indivíduo pertencente à ordem esquestre, conhecida pela sua aptidão pelo mundo artesanal e comercial. Mas a leitura é frágil.
O nº 171 é sem dúvida o mais extenso, lendo sem dificuldade NAPO, com N e A geminados. Sendo uma ânfora de fabrico zeugitano, poderia ser a abreviatura de N(e)APO(lis), o nome latino de Nabeul, centro anfórico de primeira ordem da região. Mas o fabrico deste exemplar não corresponde com as pastas comuns em Nabeul, nem possui o seu característico engobe branco sujo (Bonifay, 2004), pelo que, a hipótese é meramente uma ideia de trabalho.
Se analisarmos o comércio anfórico nas UEs estudadas (UEs 18007 a 18002) e retirarmos o volume residual e intrusivo, chegamos à seguinte tabela infra, que sintetiza regiões e provinciae abastecedoras de Tarraco, segundo o sector de PERI-2. Para tal, tomamos como provável que todas elas se tenham formado ao longo do período de 50 anos decorrido entre c. 350 e c. 400 d.C.
Ao nível das regiões, Africa domina de forma clara, com 40,35%, embora a Hispania se situe numa posição sólida, com 26,42%. Neste sentido, é seguida de perto pela Italia (18,39%). Com fornecimentos mais ténues, encontramos, num terceiro patamar, o Mediterrâneo oriental, com 8,92%, e a Gallia, com meros 4,92%. Em relação a estes dois últimos casos, se o Mediterrâneo oriental está a cimentar uma posição comercial que será cada vez mais sólida ao longo da Antiguidade Tardia no Ocidente (Reynolds, 2010; Pieri, 2005), já a Gallia revela o que pensamos ser o seu momento final como exportadora de bens alimentares, no caso vertente, o vinho.
Depois da Zeugitana (35,39%), a Baetica litoral (13,39%) e a área de Empoli (11,6%) são de longe as principais áreas fornecedoras, já que, a plêiade de outras áreas não ultrapassa em nenhum caso os 4,82% (alcançados por Baetica-Málaga e Gallia Narbonensis).
No comércio africano, a Zeugitana é claramente superior, sendo mesmo a provincia que mais participa nestes fornecimentos a Tarraco, com 35,59% do total anfórico. Byzacena, Tripolitana e a costa africana indefinida (Keay 1=Dressel 30) participam com bastante inércia neste processo, variando entre 0,17 e 2,67%.
A Hispania revela, a par do Mediterrâneo oriental (embora esta sendo uma região muito mais vasta e, na verdade, uma plêiade de regiões), uma grande diversidade de provinciae. O comércio atlântico, protagonizado pela Lusitania, atinge uns meros 5,17%, valor, no entanto, que reflecte o alinhamento desta provincia nas redes de contacto mediterrânicas. Os produtos da área do Tejo/Sado duplicam sensivelmente os da costa meridional algarvia. Fundamental para a transição comercial da Lusitania em direcção ao Mediterrâneo ocidental foi necessariamente a Baetica, que abrange geografias atlânticas e mediterrânicas. A Baetica congrega 18,21% das importações do sector analisado, que se dividem em 13,39% da sua costa central e 4,82% da costa oriental malaguenha. Já a costa oriental peninsular é perfeitamente secundária nesta época. A Tarraconensis, região materna da própria cidade em análise, representa apenas 2,67% (através do vinho da Gauloise 4), acompanhada pelo Sudeste hispânico (bético ou tarraconense), cujas imitações de Keay 25 se resumem a 0,35% do total.
Este comércio é ainda estabelecido possivelmente pela Gallia Narbonensis, embora a Gauloise 4 possa ter terminado a sua produção ainda no século III (Laubenheimer, 1985, p. 391). No Mediterrâneo ocidental este papel é claramente agora uma prerrogativa da Italia, onde Empoli (Tirreno setentrional) domina com 11,6%, já que, a Calábria e a Sicília se quedam por meros 1,42 e 0,17%, embora Forlimpoli (Adriático setentrional) atinja 5%, que pensamos poderem ser demonstradores de uma possível continuidade da difusão destas ânforas (hipótese que colocamos igualmente para a Gallia).
O Mediterrâneo oriental espelha uma situação de profundo espartilhamento de áreas fornecedoras, num total de oito área definidas, às quais acresce um conjunto anfórico de proveniência indeterminada, que atinge até a maior percentagem deste conjunto geográfico, com 3,57% (tab. 7).
Tabela 7. UEs 18007 a 18002 – totais anfóricos por região e provincia/área.
Região |
Provincia/área |
NMI provincia |
% NMI provincia |
NMI região |
% NMI região |
Africa |
Africa |
11 |
1,96 |
226 |
40,35 |
Africa, Zeugitana |
199 |
35,59 |
|||
Africa, Byzacena |
15 |
2,67 |
|||
Africa, Tripolitana |
1 |
0,17 |
|||
Gallia |
Gallia, Narbonensis |
27 |
4,82 |
27 |
4,82 |
Hispania |
Baetica, litoral |
75 |
13,39 |
148 |
26,42 |
Baetica, Malaga |
27 |
4,82 |
|||
Hispania, Sudeste |
2 |
0,35 |
|||
Tarraconensis |
15 |
2,67 |
|||
Lusitania, Algarve |
9 |
1,6 |
|||
Lusitania, Tejo/Sado |
20 |
3,57 |
|||
Italia |
Italia, Empoli |
65 |
11,6 |
102 |
18,39 |
Italia, Forlimpopoli |
28 |
5 |
|||
Italia, Calábria |
8 |
1,42 |
|||
Sicília |
1 |
0,17 |
|||
Mediterrâneo Oriental |
Mediterrâneo Oriental, Chipre Oriental |
1 |
0,17 |
50 |
8,92 |
Mediterrâneo Oriental, Cilícia |
14 |
2,5 |
|||
Mediterrâneo Oriental, Egeu |
1 |
0,17 |
|||
Mediterrâneo Oriental, Creta |
1 |
0,17 |
|||
Mediterrâneo Oriental, Éfesos |
2 |
0,35 |
|||
Mediterrâneo Oriental, Palestina |
10 |
1,78 |
|||
Mediterrâneo Oriental, Egipto |
1 |
0,17 |
|||
Mediterrâneo Oriental, Indeterminado |
20 |
3,57 |
|||
Indeterminada |
Indeterminada |
6 |
1,07 |
6 |
1,07 |
Total |
559 |
100 |
559 |
100 |
Para a análise estatística dos conteúdos importados por Tarraco, a partir dos dados do sector PERI-2, excluímos os indivíduos de ânforas indeterminadas e de ânforas sem variante especificada, quando existem casos de variantes diagnosticada no conjunto. Assim, por exemplo, os vários exemplares de Keay 13=Dressel 23 foram excluídos, permanecendo apenas o NMI da variante especificada, Keay 13C=Dressel 23D.
Podemos identificar três grandes conteúdos, segundo as propostas (nem sempre seguras), que a bibliografia especializada aponta para as ânforas existentes no universo estudado. São eles o azeite, os preparados de peixe e sobretudo o vinho, ao qual ainda podemos acrescentar o defrutum.
O azeite é um bem de importação muito escasso na Tarraco da segunda metade do século IV, representando apenas 6,06%. A Keay 41 similis bética, com 0,75%, poderá ainda juntar-se a este leque. Os preparados de peixe são o segundo género alimentar mais representado, com 24,24%, aos quais ainda se poderá juntar outros possíveis 3,78%. A Tripolitana II, com meros 0,25% poderá ter transportado preparados de peixe ou azeite. O vinho domina claramente, com 47,47%, podendo mesmo representar mais de metade das importações, se se confirmar o conteúdo de outros possíveis 9,59%. E ainda resta outros 7,57% de ânforas que terão transportado vinus ou defructum (cf. tab. 10).
Ao nível das regiões, o azeite é basicamente fornecido, em posição paritária, pelo Mediterrâneo oriental (45,83%) e por Africa, com ligeiro predomínio desta (50%), quedando-se a Hispania (área de Málaga) por uns meros 4,16%.
Já os preparados de peixe levantam a dúvida sobre uma exclusividade da Hispania, pois existe uma possível percentagem pequena, cumulativa, de ânforas africanas com este conteúdo. A confirmar-se esta hipótese, Hispania ficaria com 87,27% e Africa com 12,73%.
O vinho é partilhado por Italia, Hispania, Mediterrâneo oriental e Africa. A Italia é predominante, com mais de metade dos fornecimentos (54,25%), duplicando sensivelmente a Hispania (26,59%), quadruplicando o Mediterrâneo oriental (13,29%) e decuplicando Africa (5,85%), cujo canon vinarius, instituído pelas remodelações anonárias de Aureliano, ainda no século III d.C. (Bonifay, 2004), não parece ter Tarraco como um mercado previlegiado. Contudo, o peso escasso do vinho africano deve ser fortemente interrogado, visto a existência de outros 38 indivíduos anfóricos africanos, cujo conteúdo vínico poderá ser a única possibilidade. Referimo-nos ao papel da Keay 25 neste domínio (Bonifay, 2004). Se assim for, o total africano de 11+38 NMI, ficaria em posição igualitária com a Hispania, mantendo-se a liderança clara de Italia. Em termos de percentagens, teríamos uma maioria itálica (45,13%), uma paridade africana e hispânica (21,67 e 22,12%, respectivamente) e um papel secundário oriental (11,06%).
E, paralelamente a este conjunto, devemos ainda problematizar o possível elevado papel do defructum, exclusivamente fornecido por Africa (tab. 8).
Se analisarmos os diferentes conteúdos alimentares pelas provinciae e/ou áreas de fornecimento, obtemos novos dados sobre as dinâmicas geo-económicas em curso, nos circuitos que abastecem Tarraco, durante a segunda metade do século IV. d.C..
O azeite é fornecido por duas grandes áreas em posição paritária, a Zeugitana e as áreas indeterminadas orientais, com 41,66% cada. Mas a Zeugitana é acompanhada pela Byzacena, com 8,33%. A área malaguenha da Baetica e o Egeu quedam-se por meros 4,16%.
Nos preparados de peixe, encontramos nova informação muito relevante. O conjunto seguramente relacionado com este conteúdo é dominado pela Baetica litoral (55,2%), acompanhada ainda por outros 15,62% da sua costa malaguenha (=70,82% acumulados). O Atlântico participa neste segmento alimentar, através da Lusitania, com uns significativos 29,16%, que se partilham pelo Tejo/Sado (20,83%) e pelo Algarve (8,33%). Contudo, se aceitarmos os exemplares anfóricos que poderão transportar possivelmente este conteúdo, passamos a ter uma participação de Africa, que faz descer levemente os pesos das restantes áreas: a Baetica manteria a sua liderança clara (60,25%), a Lusitania deteria 25,21% e Africa entraria na terceira posição, com 12,72%.
Tabela 8. UEs 18007 a 18002 – totais anfóricos de conteúdo por região.
Conteúdo |
Região |
NMI região |
% NMI região |
||
Indeterminado |
Africa |
1 |
100 |
||
Azeite |
Africa |
12 |
50 |
||
Hispania |
1 |
4,16 |
|||
Mediterrâneo Oriental |
11 |
45,83 |
|||
Azeite ou Vinho |
Hispania |
3 |
100 |
||
Preparados de peixe |
Hispania |
96 |
100 |
87,27 |
100 (Prep. Peixe) |
Preparados de peixe? |
Africa |
14 |
100 |
12,73 |
|
Preparados de peixe ou Azeite |
Africa |
1 |
100 |
|
|
Vinho |
Africa |
11 |
5,85 |
4,86 |
100 (Vinho) |
Hispania |
50 |
26,59 |
22,12 |
||
Italia |
102 |
54,25 |
45,13 |
||
Mediterrâneo Oriental |
25 |
13,29 |
11,06 |
||
Vinho? |
Africa |
38 |
100 |
16,81 |
|
Vinho ou Defructum |
Africa |
31 |
100 |
|
|
Total |
396 |
100 |
|
|
No comércio vínico, encontramos a maior diversidade regional de fornecimentos, onde, por contraponto, Africa poderá diminuir a sua diversidade geográfica, já que ainda não é seguro este conteúdo para as ânforas da Zeugitana e Byzacena. O território africano ficaria assim limitado à sua costa (da Mauritania Caesarensis ?), através do tipo Keay 1=Dressel 30. Com a estatística vínica corrigida, em função da aceitação da participação tunisina neste segmento comercial, o peso entre as diversas áreas, no geral, não sofre alterações significativas, com excepção do novo papel, significativo, da Zeugitana.
Assim, teríamos um domínio de Empoli (28,76%), seguido por Forlimpoli (12,78%) e pela Gallia Narbonensis, com 11,94% (aceitando que ainda possa existir a difusão de Gauloise 4), mas com a Zeugitana a ocupar a segunda posição, com 15,48%. Num segundo patamar encontraríamos a Tarraconensis, provincia capitalizada por Tarraco e que constitutiria assim um comércio intra-provincial, com 6,63%, aos quais se poderão somar outros 0,88% de imitações de Keay 25 do Sudeste peninsular (cuja origem poderá ser, no entanto, igualmente bética). Ainda neste segundo patamar, encontraríamos a costa africana (Caesarensis?), com a referida Keay 1 (4,86%), a Palestina, com 3,98%, e a Calábria, com 3,53%. Num terceiro patamar, entre 0,44 e 2,65%, estaria a Baetica (central e oriental), a Sicilia e a Byzacena, e uma plêiade de áreas orientais: Chipre, Cilicia, Creta, Éfesos, Egipto e áreas indefinidas. Nas áreas indefinidas poderemos colocar a hipótese do Norte da Palestina (se aceitarmos a classificação da Agora M334) (tab. 9).
Tabela 9. UEs 18007 a 18002 – totais anfóricos de conteúdo por provincia/área.
Conteúdo |
Provincia/área |
NMI Provincia |
% NMI Provincia |
||
Indeterminado |
Africa, Zeugitana |
1 |
100 |
||
Azeite |
Africa, Byzacena |
2 |
8,33 |
||
Africa, Zeugitana |
10 |
41,66 |
|||
Baetica, Malaga |
1 |
4,16 |
|||
Mediterrâneo Oriental, Egeu |
1 |
4,16 |
|||
Mediterrâneo Oriental, Indeterminado |
10 |
41,66 |
|||
Azeite ou Vinho |
Baetica, litoral |
3 |
100 |
||
Preparados de peixe |
Baetica, litoral |
53 |
55,2 |
47,74 |
100 (Prep. Peixe) |
Baetica, Malaga |
15 |
15,62 |
13,51 |
||
Lusitania, Algarve |
8 |
8,33 |
7,2 |
||
Lusitania, Tejo/Sado |
20 |
20,83 |
18,01 |
||
Preparados de peixe? |
Africa, Byzacena |
3 |
21,42 |
2,72 |
|
Africa, Zeugitana |
11 |
78,58 |
10 |
||
Preparados de peixe ou Azeite |
Africa, Tripolitana |
1 |
100 |
|
|
Vinho |
Africa |
11 |
5,85 |
4,86 |
100 (Vinho) |
Baetica, litoral |
3 |
1,59 |
1,32 |
||
Baetica, Malaga |
3 |
1,59 |
1,32 |
||
Hispania, Sudeste |
2 |
1,06 |
0,88 |
||
Tarraconensis |
15 |
7,97 |
6,63 |
||
Gallia, Narbonensis |
27 |
14,36 |
11,94 |
||
Italia, Calábria |
8 |
4,25 |
3,53 |
||
Italia, Empoli |
65 |
34,57 |
28,76 |
||
Italia, Forlimpopoli |
28 |
14,89 |
12,38 |
||
Sicília |
1 |
0,53 |
0,44 |
||
Mediterrâneo Oriental, Chipre Oriental |
1 |
0,53 |
0,44 |
||
Mediterrâneo Oriental, Cilícia |
5 |
2,65 |
2,21 |
||
Mediterrâneo Oriental, Creta |
1 |
0,53 |
0,44 |
||
Mediterrâneo Oriental, Éfesos |
2 |
1,06 |
0,88 |
||
Mediterrâneo Oriental, Indeterminado |
6 |
3,19 |
2,65 |
||
Mediterrâneo Oriental, Palestina |
9 |
4,78 |
3,98 |
||
Mediterrâneo Oriental, Egipto |
1 |
0,53 |
0,44 |
||
Vinho? |
Africa, Byzacena |
3 |
7,89 |
1,32 |
|
Africa, Zeugitana |
35 |
92,1 |
15,48 |
||
Vinho ou Defructum |
Africa, Byzacena |
1 |
3,23 |
|
|
Africa, Zeugitana |
30 |
96,77 |
|
|
|
Total |
396 |
100,00 |
|
|
Ao nível tipológico, o azeite conta com apenas quatro tipos anfóricos: a Africana I (sem variantes definidas), para a Byzacena e Zeugitana ; a Keay 13C=Dressel 23D, para a Baetica (costa maleguenha) ; a LRA 2 precoce do Egeu e a família de bordos próxima do último tipo referido, que denominámos de Dressel 24/Cup-shaped rim/MRA 18/Zeest 90. Ainda da Baetica, mas da área litoral, a Keay 41 similis poderá pertencer a este grupo oleário (Keay, 1984) ou antes ao vinário (Berrocal Caparrós, 2016, citando proposta de D. Bernal).
No seio das ânforas para preparados de peixe, a Baetica litoral, tal como a sua área costeira malaguenha, são dominadas pela Keay 19A-B, estando o que nos parece ser a genuína Keay 19C numa posição secundária. A Almagro 51c é particuarlmente importante na Baetica litoral, e aparenta ter poucos indivíduos oriundos da costa oriental (Málaga), onde a sua produção está bem atestada em vários centros anfóricos (ver supra). A Lusitania, tanto pelo Tejo/Sado, como pelo Algarve, é dominada pela Almagro 51c, com a Almagro 51a-b em segunda posição. Este tipo é menos importante no Algarve, onde, por outro lado, surgem os únicos exemplares de Almagro 50. Esta ânfora de grande porte não surge no Tejo/Sado, mas surge também, em posição muito secundária, na Baetica litoral. Aceitando que Africa foi igualmente uma área fornecedora de preparados de peixe, tanto a Zeugitana como a Byzacena previlegiam as variantes Africana IIC e IID, com um aparente domínio de Africana IIC na Zeugitana.
O vinho tem, como já problematizado, uma quantidade avultada de áreas de origem. É interessante notar aqui, com excepção de algumas poucas áreas, o recurso de um só tipo anfórico para o transporte do vinho produzido por cada área, sendo que, no máximo, uma região pode recorrer a três tipos anfóricos diferentes.
Assim, a Palestina apresenta esse máximo de três tipos disponíveis, embora a Kingsholm 117 esteja fortemente interrogada como classificação. Por outro lado, se se confirmar a classificação de alguns exemplares de origem indeterminada como sendo de Agora M334, esta poderá ser de produção norte-palestiniana (ver supra). Quanto às áreas com dois tipos anfóricos, elas são seguramente a de Éfesos e possivelmente as da Zeugitana e Byzacena (confirmando o muito provável canon vinarius africano, com recurso à Keay 25).
Do ponto de vista tipológico, as ânforas de Empoli surgem em primeira posição, seguidas pela Keay 25, nas suas variantes Keay 25.1 e 25.3 (=Africana IIIA e IIIB, respectivamente), com 38 indivíduos africanos (sobretudo da Zeugitana, mas também da Byzacena), aos quais se pode juntar outros dois do Sudeste da Hispania. Logo de seguida surgem as ânforas de Forlimpoli (28 NMI) e da Gallia Narbonensis (27 NMI). O peso destas duas últimas, tipo Forlimpopoli e Gauloise 4, leva-nos a supor, como afirmado supra, que possam alcançar o século IV d.C., não sendo residuais na estratigrafia em análise. Aliás, na posição seguinte surge a Gauloise 4 tarraconense (15 NMI), o que reforça este raciocínio, e a Keay 1=Dressel 30 da costa africana, com 11 indivíduos. Num patamar mais baixo, encontramos a Keay 52 da Calábria (8 NMI), a LRA 4 da Palestina (8 NMI: LRA 4A1 e 4A2) e a LRA 1A da Cilicia, com cinco indivíduos, acompanhados por um outro de Chipre.
Finalmente, nas ânforas potencialmente destinadas a defructum (para os conteúdos africanos, ver Bonifay, 2004, pp. 474-475), encontramos novamente a Keay 25, mas na sua variante Keay 25.2 (=Africana IIIC).
Tabela 10. UEs 18007 a 18002 – totais anfóricos de conteúdo por provincia/área e tipos anfóricos.
Conteúdo |
Provincia/área |
Tipo |
NMI Tipo |
NMI conteúdo |
% NMI conteúdo |
Indeterminado |
Africa, Zeugitana |
Keay 27A |
1 |
1 |
0,25 |
Azeite |
Africa, Byzacena |
Af. I |
2 |
24 |
6,06 |
Africa, Zeugitana |
Af. I |
10 |
|||
Baetica, Malaga |
Keay 13C = Dressel 23D |
1 |
|||
Mediterrâneo Oriental, Egeu |
LRA 2 precoce |
1 |
|||
Mediterrâneo Oriental, Indeterminado |
Dressel 24/Cup-shaped rim/MRA 18/Zeest 90 |
10 |
|||
Azeite ou Vinho |
Baetica, litoral |
Keay 41 |
3 |
3 |
0,75 |
Preparados de peixe |
Baetica, litoral |
Keay 19C |
6 |
96 |
24,24 |
Keay 19A-B |
33 |
||||
Almagro 51c |
11 |
||||
Almagro 50 |
3 |
||||
Baetica, Malaga |
Almagro 51c |
2 |
|||
Keay 19A-B |
13 |
||||
Lusitania, Algarve |
Almagro 50 |
2 |
|||
Almagro 51a-b, var. A-B |
1 |
||||
Almagro 51c |
5 |
||||
Lusitania, Tejo/Sado |
Almagro 51a-b, var. A-B |
4 |
|||
Almagro 51c |
16 |
||||
Preparados de peixe? |
Africa, Byzacena |
Af. IIC1 |
1 |
14 |
3,53 |
Af. IID1 |
2 |
||||
Africa, Zeugitana |
Af. IIC1 |
2 |
|||
Af. IIC2 |
2 |
||||
Af. IIC3 |
4 |
||||
Af. IID1 |
2 |
||||
Af. IID2 |
1 |
||||
Preparados de peixe ou Azeite |
Africa, Tripolitana |
Tripolitana II |
1 |
1 |
0,25 |
Vinho |
Africa |
Keay I=Dressel 30 |
11 |
188 |
47,47 |
Baetica, litoral |
Beltrán 68 |
3 |
|||
Baetica, Malaga |
Gauloise 4 |
3 |
|||
Hispania, Sudeste |
Keay 25 |
2 |
|||
Tarraconensis |
Gauloise 4 |
15 |
|||
Gallia, Narbonensis |
Gauloise 4 |
27 |
|||
Italia, Calábria |
Keay 52 |
8 |
|||
Italia, Empoli |
Empoli |
65 |
|||
Italia, Forlimpopoli |
Forlimpopoli |
28 |
|||
Sicília |
MRA 2? |
1 |
|||
Mediterrâneo Oriental, Chipre Oriental |
LRA 1A |
1 |
|||
Mediterrâneo Oriental, Cilícia |
LRA 1A |
5 |
|||
Mediterrâneo Oriental, Creta |
Cretoise 1 |
1 |
|||
Mediterrâneo Oriental, Éfesos |
Agora F65 |
1 |
|||
LRA 3 |
1 |
||||
Vinho |
Mediterrâneo Oriental, Indeterminado |
Agora M273 |
3 |
|
|
Agora M334? |
3 |
||||
Mediterrâneo Oriental, Palestina |
LRA 4A1 |
1 |
|||
LRA 4A2 |
7 |
||||
Kingsholm 117? |
1 |
||||
Mediterrâneo Oriental, Egipto |
AE 3 |
1 |
|||
Vinho? |
Africa, Byzacena |
Af. IIIA/Keay 25.1 |
1 |
38 |
9,59 |
Af. IIIB/Keay 25.3 |
2 |
||||
Africa, Zeugitana |
Af. IIIA/Keay 25.1 |
25 |
|||
Af. IIIB/Keay 25.3 |
10 |
||||
Vinho ou Defructum |
Africa, Byzacena |
Af. IIIC/Keay 25.2 |
1 |
31 |
7,82 |
Africa, Zeugitana |
Af. IIIC/Keay 25.2 |
30 |
|||
Total |
396 |
396 |
100,00 |
Tarraco padece de uma falta de base empírica estratigráfica para o século IV d.C., por comparação com a riqueza de dados para os períodos anteriores e posteriores. Tal já foi devidamente sublinhado e demonstrado por J. A. Remolà Vallverdú, na sua monografia sobre a evolução estratigráfica do comércio anfórico, onde elabora igualmente uma resenha dos principais aspectos evolutivos do urbanismo da cidade (Remolà Vallverdú, 2000, pp. 292-298), depois de uma fase de intensa disrupção urbana ocorrida no último terço do século III (Járrega, 2008).
Do ponto de vista urbanístico, esta conjuntura reflecte-se numa aparente maior heterogeneidade da ocupação dos espaços intra e extra muros da cidade, com áreas agora desocupadas, comprovadas em alguns sectores escavados: nos sectores Carrer Fortuny 2 e GAS-2, verifica-se a destruição de áreas intra muros da parte baixa da cidade; nos sectores Carrer Apodaca 7, Carrer Fortuny 12 e Carrer Gasomètre 32/GAS 1, verifica-se a amortização de muitas caleiras de esgoto, urbanas e suburbanas, durante o período de 350-400 d.C.; e, no sector PMA (Carrers Pere Martell, Eivissa, Mallorca), a amortização de áreas suburbanas portuárias, em final do século IV e inícios do V d.C. (Remolà Vallverdú, 2000, pp. 292-298).
No sentido inverso, o sector PERI-2, sobre o qual fazemos o estudo deste artigo, é um dos que indicia continuidades de ocupação, nomeadamente no suburbium portuário em que se integra. Pela Epigrafia, sabemos da construção de um Porticus Ioviae, em 286-293 d.C., e da reconstrução das Thermae Montanae, em final do século III ou inícios do IV d.C. (Remolà Vallverdú, 2000, pp. 292-298).
O início do processo de amortização do sector PERI-2 que analisamos neste artigo poderá então recuar a meados do século IV d.C., embora os dados, apesar da qualidade do conjunto numismático, mas em face da escassez de terra sigillata, não permitam assegurar com maior certeza uma baliza inferior a 350-400 d.C.
Ao nível ceramológico, nomeadamente anfórico, a obra de J. A. Remolà Vallverdú (Remolà Vallverdú, 2000, p. 292-298) elenca três contextos para a época em apreço no nosso estudo. Temos assim alguns contrapontos aos resultados obtidos no sector PERI-2, que vêm, por seu lado, complementar o quadro comercial de Tarraco, numa época de urbanismo menos intenso.
Nos sectores GAS-2 (Carrer Gasomètre) e APO (Carrer Apodaca), datados do século IV, e no sector PMA (Carrers Pere Martell, Eivissa, Mallorca), datado de final do século IV ou inícios do V, as ânforas representam apenas 6, 18 e 18%, respectivamente; são por isso, evidenciadoras de uma mais baixa intensidade comercial nesta época, por comparação com os valores percentuais anfóricos, nas fases anteriores e posteriores do século V d.C.. Os valores anfóricos elevados do sector PERI-2 são, por isso, eminentemente resultantes da sua situação urbanística específica, na qual o uso sistemático de ânforas para a recolha e transporte de água do seu fontanário originou o descarte de grandes quantidades desta tipologia cerâmica, ao longo do tempo, com a sua conservação arqueológica in situ a ter ainda tirado partido da colmatação gradual da via de circulação, em terra batida, com muito material anfórico, fracturado, a servir certamente de drenante do piso da rua. Este fenómeno, muitas vezes com recurso a cerâmica de construção fragmentada, está bem atestado noutras cidades da Hispania tardo-antiga (Gurt Esparraguera, 2000-2001). E explica igualmente, no sector PERI-2, a anormal baixa frequência de cerâmicas finas.
Ao nível anfórico, os sectores GAS-2 (Carrer Gasomètre) e APO (Carrer Apodaca), revelam um claro domínio africano (64 e 74%, respectivamente), com a Baetica a situar-se também em segunda posição, com 18 e 36%, enquanto a Italia (7 e 7%) e o Mediterrâneo oriental (4 e 4%) se posicionam, ambos, em valores muito baixos (Remolà Vallverdú, 2000, p. 86-87, 292-298). Estes pesos percentuais de Africa e Baetica são consentâneos com os resultados do sector PERI-2, mas, naqueles sectores, é notória a grosseira subrepresentatividade do comércio anfórico recebido, em Tarraco, ao longo do século IV, e sobretudo entre 350 e 400 d.C., por comparação com o sector PERI-2. Neste, para além do maior peso de Italia, do possível ainda coevo comércio da Gallia e da presença de importações atlânticas oriundas da Lusitania, a diversidade provincial das origens é muito mais rica, como vimos.
O sector PMA (Carrers Pere Martell, Eivissa, Mallorca), datado de final do século IV ou inícios do V d.C., é também muito interessante, pois revela uma nuance que, nos dados de PERI-2, apenas se prenuncia: o fortalecimento crescente do comércio bético. No sector PMA, o domínio anfórico inverte-se claramente, sendo agora hispânico, passando Africa para a segunda posição; mas o Mediterrâneo oriental mantém-se em posição embrionária. Sendo um contexto com relativamente poucos exemplares, demonstra, no entanto, essa inversão – em indivíduos, temos o seguinte panorama: Baetica (21), Africa (14), Tarraconensis (1), Lusitania (1), Asia (1) e Palestina (1) (Remolà Vallverdú, 2000, p. 94, 292-298).
A escassez da amostra não transparece, porém, a riqueza comercial reflectida no secto PERI-2. E o domínio bético pode ser meramente fruto de algum acaso tafonómico. Não deixa de ser lúcido pensar-se numa causalidade correlacionada com o devir histórico dos inícios do século V d.C., na Hispania, com a entrada de Suevos, Vândalos, Alanos e Visigodos, em 409-411 d.C., que fez da Tarraconensis o bastião remanescente do Império Romano do Ocidente, na Hispania, mas também, desta área, a porta e corredor de entrada e base de operações militares (Leguay, 1993; Arce, 2009). Uma instabilidade militar, demográfica e política pode justificar uma disrupção conjuntural na actividade comercial, mas tal necessita de estudos mais apurados, nomeadamente com gráficos de evolução do comércio de terra sigillata, que, em torno a 400 d.C., atingem floruits em vários pontos urbanos e rurais peninsulares (Quaresma, 2012, cap. 4; Quaresma, 2021).
Assim, nos contextos muitos mais ricos de VIL-2 e STE-1, datados de 425-450 e 450 d.C., respectivamente (Remolà Vallverdú, 2000, pp. 37 e 50), a diversidade do comércio em Tarraco volta a estar espelhada, no que parece ser uma linha de continuidade com os dados de PERI-2, respeitantes a 350-400 d.C.
No contexto de VIL-2, a Tunísia lidera (23,69%), seguida de perto pela Baetica (20,21%), Mediterrâneo oriental (14,99%) e as origens indeterminadas (14,13%). Num patamar inferior, situam-se a Asia (9,78%), a Tarraconensis (5,62%) e a Lusitania (7,6 e possivelmente outros 2,39=10,8%). Por fim, a Tripolitana apresenta meros 1,52%.
No contexto de STE-1, a Tunísia lidera (30,95%); encontrando-se, num segundo patamar, as origens indeterminadas (21,08%), Oriens (14,3%), Baetica (13,56%) e Lusitania (8,16 e possivelmente outros 2,04=10,2%); num terceiro patamar, situam-se Asia (3,44%), Tarraconensis (3,06%), Suburbicum (2,4%) e Tripolitana (1,36%).
O estudo do sector PERI-2, cuja datação crono-estratigráfica, para as UES 18007 a 18002, decidimos estabelecer em c.350-400 d.C., vem, em nosso entender, esclarecer o real papel comercial alimentar de Tarraco durante o século IV. Não só a intensidade fica diagnosticada, como também, e sobretudo, a sua diversidade. Encontra, igualmente, fortes paralelos ou vectores de continuidade com o que se vai passar nos universos anfóricos dos contextos de 425-450 d.C., quando Tarraco demonstra uma «intensa transformación del espacio urbano y un significativo predominio de los objectos cerámicos importados» (Remolà Vallverdú, 2000, p. 290).
Diríamos nós, uma cidade portuária de importância crucial nos circuitos comerciais do Mediterrâneo ocidental, que usufrui, desde a segunda metade do século IV, de ligações estáveis, num quadro geo-econonómico que se estende do Atlântico (Lusitania) ao extremo do Mediterrâneo oriental (Palestina).
https://revistascientificas.us.es/index.php/spal/article/view/19654/19573
Este artigo teve o apoio do CHAM (NOVA FCSH/UAc), através do projecto estratégico apoiado por FCT (UIDB/04666/2020) e foi terminado enquanto professor auxiliar da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e investigador da linha de Antiguidade do CHAM (Centro de Humanidades - NOVA/FCSH).
Devemos agradecer a Josep Anton Remolà i Valleverdú pelo seu apoio, assim como a disponibilidade demonstrada pelo anterior Director do Museu Nacional Arqueològic de Tarragona, Francesc Tarrats Bou, bem como à actual Directora, Mònica Borrell. No seio da equipa, igualmente a Juli Molas, pelo apoio técnico nas instalações.
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