Moradia emancipatória. Uma utopia secular, operacional e multidirecional[1].

Minguet-Medina, Jorge1

1. Universidade de Málaga, Departamento de Arte e Arquitetura, Área de Projetos Arquitetônicos, E.T.S. Arquitetura de Málaga, Espanha, jminguet@uma.es https://orcid.org/0000-0001-6944-162X

https://dx.doi.org/10.12795/astragalo.2025.i38.01

 

A moradia constitui a base da estabilidade e da segurança dos indivíduos e das famílias. É o centro de nossa vida social, emocional e, por vezes, econômica, e deveria ser um santuário onde se vive em paz, com segurança e dignidade (ONU. Relator Especial sobre o direito a uma moradia adequada 2024).

Nos últimos anos, o problema da moradia na Espanha[2] -¾e não apenas aqui¾- tem ganhado cada vez mais relevância, entrando no debate público cotidiano, não apenas pelos dados sobre a dificuldade de acesso, mas também por descrições incomumente detalhadas das diversas facetas do problema. O debate político transcendeu, mais uma vez, o mero “e você mais”, e as diversas facções apresentaram propostas de ação radicalmente opostas, refletindo de maneira incomumente clara e explícita a contraposição de suas cosmologias (ver, como exemplo, Partido Socialista Operário Espanhol 2025; Partido Popular 2025; SUMAR 2024; VOX – Ana Otamendi Fudio 2025)[3]. Embora não seja nosso objetivo aqui interpretar essas políticas, como é de se esperar, aqueles mais à esquerda propõem diferentes formas de regulamentação do mercado imobiliário, enquanto aqueles à direita defendem a desregulamentação e o estímulo ao livre mercado. Se quase todos defendem a criação de mais moradias, enquanto os primeiros veem parques públicos, os últimos veem principalmente mercados privados.

 


Fig. 1. Charge de Flavita Banana publicada no El País, em 23 de janeiro de 2024, que mostra a sofisticação e a complexidade incomuns do debate cidadão na mídia, se percebido sob a perspectiva da habitação e suas condições de emancipação (ou não), durante o período de desenvolvimento do projeto de pesquisa, imediatamente antes da chamada para contribuições desta edição.

O período também viu a aprovação de uma Lei sobre a Qualidade da Arquitetura e, mais tarde, a Lei sobre o Direito à Moradia, cujo nome está inequivocamente ligado ao aspecto emancipatório do problema, ambas controversas, cada uma em sua própria escala. É, de fato, nas políticas de escala (Sevilla e Brenner, Neil 2017), que reside o problema que permite, mais uma vez, que as políticas legisladas não tenham aplicação real, ao recaírem suas competências em administrações de âmbito inferior à da legisladora, nas mãos de forças politicamente contrárias a ela que, de forma autônoma, inabilitam de fato a lei, ao não a aplicarem, favorecendo assim o statu quo anterior, geralmente associado ao capitalismo desregulado. Enquanto Brenner propõe a aplicação de políticas na escala apropriada (geralmente maior) para viabilizar a aplicação, nossos políticos pervertem o sistema ¾e sua teoria¾ para contornar a regulação[4].

A possibilidade de uma modificação da Lei de Terras é uma das estratégias de vários partidos para tentar mobilizar essa situação de bloqueio, mas nenhum deles chegou a um consenso suficiente para levar uma proposta adiante. Assim, enquanto a inação continua por um motivo ou outro, a situação habitacional só piora, em condições cada vez mais complexas. Mas, embora continue sendo uma grande preocupação para os cidadãos, ela foi colocada em segundo plano no debate público.

Desde a nomeação de Donald Trump como presidente dos Estados Unidos, são suas constantes e quase exclusivas piadas que estão no centro de todas as notícias e debates. Não é à toa que, no espaço de apenas alguns meses, sua atitude irracional já está ameaçando a estabilidade global construída desde o fim da Segunda Guerra Mundial. Seu estilo inadequado de valentão escolar, sua encenação, entre o espetáculo e o ridículo, suas ameaças constantes, suas mentiras descaradas e obliterações, foram calculados ao longo de anos de evolução da propaganda e da manipulação publicitária (Minguet 2017) para atrair a atenção de toda a mídia mundial.

Mas essa elaborada estratégia comunicativa não se limita já a atrair a atenção; de um mandato a outro, ela tem ganhado cada vez mais força propositiva e se convertido em ferramenta de ação política. Daniel Natoli, em sua apaixonante resenha de The Architect neste número, fala do poder da distopia literária e cinematográfica para nos tornar mais conformados com um futuro em que a linha do progresso foi invertida. O fato é que Trump transferiu essa estratégia do mundo da ficção para a política cotidiana, que ele concebe como uma amálgama indistinta de benefício privado e interesses geopolíticos. Suas numerosas boutades prenunciam um futuro imediato fortemente rupturista em relação aos consensos internacionais nos quais nos sentíamos estabelecidos desde meados do século passado, do sistema de Bretton Woods à ONU em suas diversas extensões e especificidades.

Cada vez que ele propõe um cenário que, à luz desses consensos, parece distópico e impossível, não faz senão medir a distância entre esse cenário e a realidade atual, bem como o grau de esgotamento da capacidade de resposta das instituições que o sustentam ¾instituições sobre as quais ele frequentemente exerce considerável controle. Considerando que essa distância só tende a diminuir e o esgotamento a aumentar (não sem sua contribuição), muitas vezes o resultado dessa operação é que se torna possível avançar mais em direção ao objetivo inicialmente proposto antes mesmo da consulta.

É assim que ele chega a compartilhar[5] em sua rede social ¾chamada nada menos que Truth, Pravda em russo, para quem ainda guarda alguma memória soviética¾ um vídeo sobre uma Gaza turistificada, à maior glória de sua dupla face como empresário imobiliário e hoteleiro (aparece, entre os inúmeros edifícios de luxo, um com seu nome em grandes letras iluminadas, em seu habitual e ostensivo estilo) e como líder político absolutista, venerado por meio de estátuas e produtos à venda, como balões infantis e estatuetas, todos eles invariavelmente dourados (Pérez 2025). Essa extrema confusão público-privada, entre o benefício privado e a geopolítica ¾paroxismo neoliberal¾ acentua‑se com as aparições alternadas de seus amigos Musk e Netanyahu, como potenciais ¾ao menos este último¾ executores da ideia.

E funciona. O surpreendente é que esse insulto extremo a qualquer aparência de respeito internacional ou humanitário cumpre completamente sua função. Netanyahu expressa sua aprovação imediata e, em poucos dias, Trump e Netanyahu são retratados juntos novamente, dessa vez sem IA, na Casa Branca do mundo real, discutindo, decidindo entre eles, o futuro de Gaza e de seus habitantes, a quem eles convidam a encontrar "... um novo e agradável pedaço de terra bonita e conseguir que algumas pessoas coloquem o dinheiro para construí-la e torná-la agradável e habitável". Dessa forma, "você não será alvejado ou destruído" (Trump, em BBC News World 2025 Newsroom) . Apenas alguns dias depois, e após consultar a Casa Branca, Netanyahu rompe o cessarfogo então vigente e reata sua guerra genocida em Gaza (Hameida 2025; UNRWA 2025). Será alcançado o objetivo fabulado? Avançase rumo a ele, constatandose uma resistência internacional que oscila entre o escasso e o ausente, e estabelecendo um precedente: o que for obtido em Gaza será, sem dúvida, aplicado em outros contextos. [6]

Esta situação inaceitável não é senão uma elevação da turistificação, como distopia realizável, à escala de uma guerra genocida; mas os efeitos de deslocamento pretendidos já foram experimentados antes em inúmeros casos, inclusive pelos mesmos atores. O que produz a turistificação ¾e a gentrificação, da qual não passa de uma versão globalizada¾ senão deslocamento populacional? A comparação nos remete àquela pichação em Barcelona que igualava o turismo a uma força de ocupação (ver Cheer 2018), mas também faz pensar em Rafi Segal e Eyal Weizman, que escreveram sobre a ocupação civil da Palestina ¾e a importância e ilegalidade de seu caráter civil¾ antes deste passo de Israel rumo à guerra aberta (2003). Será o próprio Weizman que dirá, pouco tempo depois:

A origem do termo "urbicídio"- a destruição da condição de pluralidade que define uma cidade ¾não se deu em Belgrado, Mostar, Grozny ou Gaza, mas sim nas regenerações e práticas “higiênicas” do urbanismo estadunidense, como descrito por Marshall Berman após a agressiva “limpeza” do Bronx. (2004, 61)[7].

A turistificação e a gentrificação como forças de deslocamento populacional atuam há muitos anos, com consequências sempre crescentes, em contextos de paz. O próprio Trump, que vem do mercado imobiliário, não é nada alheio a essas dinâmicas, que já colocou em prática anteriormente em seu próprio campo. Elevado a um poder político quase omnímodo, que ele entende não como representativo, mas como pessoal, aplicouas, sem dúvida, sem respeito, humanidade ou senso de escala, aos seus habituais interesses.

 

Fig. 2. Torres Trump vistas desde Kuştepe, Istambul (Turquia). Fotos do autor. A visão das Torres Trump (centro comercial, escritórios e 200 moradias de luxo) sobre o bairro autoconstruído pela grande maioria dos habitantes de etnia romaní de Kuştepe parece anunciar um processo de gentrificação do qual já são visíveis várias marcas.

Ao falar desses procedimentos, estaríamos então falando de uma espécie de distopias assintóticas, apresentadas como um horizonte de possibilidade para o qual tender, sem estabelecer a necessidade de alcançálo, mas simplesmente de medir a aproximação a ele. Essas distopias assintóticas, que surgem em um ponto e podem se generalizar a muitos outros, não exigem sempre a ação de Trump; podem ocorrer ¾como antecipava Weizman¾ em qualquer contexto onde o mercado encontre pouca regulação em sua aplicação sobre as pessoas.

No que se refere à moradia, uma dessas distopias foi revelada ao mundo por uma coleção de fotos publicadas pelo fotógrafo radicado em Hong Kong, Benny Lam (2016). Nelas vêse como vivem as classes trabalhadoras menos favorecidas de Hong Kong: “os garçons que te servem nos restaurantes em que comes, os seguranças nos shoppings em que fazes compras, os faxineiros e os entregadores nas ruas por onde passas” (Lam e Stacke 2017)[8]. O aumento desmedido do preço do solo no centro da cidade, combinado com a necessidade de mão de obra para serviços nessa mesma área, possibilitou um mercado de subdivisão de apartamentos em que os lares de centenas de milhares de pessoas se resumem ao espaço físico onde dormem ¾e pouco mais. São praticamente armários para abrigar pessoas enquanto não estão sendo “utilizadas”. Essa redução do espaço praticamente nega a existência de uma vida própria a essas pessoas, reduzindoas à condição de mão de obra escrava e demonstrando, em sua forma mais extrema, a indiscutível e fundamental natureza emancipadora da moradia. Seus corpos armazenados, latentes, lembram inevitavelmente o estado em que permaneciam os corpos parasitados das pessoas cujas vidas haviam sido transplantadas para a Matrix, nos filmes das irmãs Wachowski (1999; 2003a; 2003b).

 

 

 

Fig. 3 Imagens das moradias-caixão de Hong Kong, de Benny Lam.

 

 

As imagens são aterradoras, e ainda mais se lembrarmos que são anteriores à pandemia de COVID19. É de gelar a espinha pensar como essas pessoas viveram a pandemia nessas circunstâncias, sem falar no número de vítimas — obrigadas a morar em espaços mínimos e mal ventilados, mas vizinhas e apenas separadas umas das outras, com todos os serviços básicos compartilhados. Mergulhadas na economia informal, faltam estudos que abordem suas vidas e seus avatares.

É esse extremo de limitação da moradia quase ao próprio corpo, ou ao núcleo familiar imediato ¾já que a família é o elemento irrenunciável da socialização ainda desejada (Donzelot 1998)¾ que quisemos apresentar, como dissonância cognitiva em contraposição extrema ao título, na capa de nosso número.

Não podemos esquecer que isto não é distopia, mas realidade, em um lugar muito preciso e extremo na geografia e na economia global. E, ainda assim, atua com o mesmo efeito assintótico sobre um mercado ávido por testar os limites de tolerância da população a que subjuga. Impossível de ser enfrentado frontalmente em uma democracia ocidental[9], assistimos ao surgimento de tentativas de aproximação. A estratégia é a mesma de Trump: ver até onde se pode chegar; os métodos, apenas um pouco mais ardilosos.

Em Espanha, essa aproximação vem-se dando através dos chamados hotéiscápsula. Herdados, em princípio, do modelo hoteleiro japonês, não ignoram ¾quando não explicam abertamente¾ a possibilidade de deslocamento habitacional para o modelo de Hong Kong, sobretudo se o negócio original, muito mais rentável, não funcionar conforme o esperado. É o caso de uma empresa que opera em Málaga, a mesma cidade onde este artigo é escrito, que oferece conjuntos de duas cápsulas de luxo para pequenos investidores, com altíssima rentabilidade[10], em hotéis que reúnem várias dessas cabines sob a gestão da empresa.[11] O El País revelou em um artigo que a documentação para investidores sugeria, em dezembro de 2024, que “devido à excessiva demanda por moradias, [este projeto] permite cobrir as unidades vagas em temporadas mais baixas, em modalidade coliving”, oferecendo também “uma garantia de ocupação diante de outro possível COVID”, identificando como possíveis clientes pessoas que estejam em processo de busca de um lar “devido à dificuldade de encontrar moradia” (folheto para investidores, citado em Sánchez 2024). Em janeiro de 2025, em um jornal local, negam essa possibilidade, limitando as reservas a um mês, porque “simplesmente nos é muito menos rentável” (Pedrosa 2025).

Na realidade, esse tipo de oferta já representa um recuo tático na busca do limite do possível. Em 2018, uma empresa de Barcelona propôs moradias-colmeia sem paliativos hoteleiros. O artigo do portal imobiliário Idealista[12] que relatava isso referia-se ao modelo de Hong Kong, esclarecendo que o japonês é hoteleiro e não habitacional. Entre as numerosas normas de cumprimento obrigatório que descreve, destaca-se que “não se poderá criticar o funcionamento das colmeias em público ou em perfis sociais; isso será considerado uma ação negativa contra a colmeia e o residente será expulso”, ou que todos os membros da colmeia podem se associar para expulsar um dentre eles. Neste caso, reconheciase abertamente que os destinatários do projeto “são pessoas em risco de exclusão, que, embora tenham renda mensal, estão no limite e não dispõem de uma moradia em condições adequadas para viver” (citações textuais incluídas em Pareja 2018). Esse tipo de medida, que deliberadamente aplica coerção e repressão de forma abertamente desigual, não apenas segue distopias de ficção ¾neste caso, a mais próxima seria o filme AntiSquat (Silhol 2023) ¾ mas, de fato, já as está antecipando[13].

Felizmente, aquele projeto não chegou a se desenvolver na Barcelona de Colau, e mesmo em Madrid, sob MartínezAlmeida[14] um desses hotéis acaba de ser fechado (González 2025), após o diário El País denunciar que estava sendo usado como moradia habitual (Peinado 2024). Nem tudo parece perdido, mas é imprescindível que as administrações públicas mantenham uma vigilância rigorosa diante desses processos de testagem da realidade, que sondam os limites da legalidade e dos direitos para expandir o capitalismo e a rentabilidade acima deles. Não esqueçamos que “a Espanha é o país que mais condenações recebeu por violar o direito à moradia por parte do Comitê de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais das Nações Unidas” (Anistia Internacional Espanha 2025).

Os problemas atuais de moradia[15] são numerosos e muito complexos, mas podem ser resumidos sem muita profundidade: a maioria dos problemas de moradia decorre de sua concepção como um bem de troca[16]. Essa consideração implica uma primeira fase, que é sua consideração como propriedade, e uma segunda, dedutível da primeira, mas não de forma unívoca, que é sua consideração como um mero bem de troca, além de seu valor de uso, sua alienação, como David Madden e Peter Marcuse a chamam, com razão e precisão, em seu livro seminal e significativo Em defesa da moradia (2018, 78-81). É esse segundo giro que dá origem à fatalidade do mercado imobiliário[17]. Como bem de primeira necessidade, não deveria permitirse a especulação sobre seus preços. É fácil compreender que a especulação com alimentos básicos e com a água não seja permitida, seja rigorosamente vigiada e punida em nossas legislações. Até mesmo em situações de escassez extrema (guerras, catástrofes etc.) sua gestão costuma ficar a cargo da administração pública, como reguladora do bem comum. E, ainda assim, não conseguimos estender esse tratamento a um bem de quase igual necessidade, como é a moradia. Para ela, o mercado. Não apenas aceitamos naturalmente que se especule com moradias, mas investir em moradia é o desejo aspiracional do cidadão médio. A bolsa, como meio natural de especulação econômica, fica reservada a investidores profissionalizados. O cidadão comum quer investir em moradia ou, como costuma dizerse, com uma zafiedade paralela à aspiração, “em tijolo”[18].

Para minimizar o impacto dessa cultura de investimento de pequenos proprietários, que o historiador Carmona Pascual estima ser majoritária no mercado de aluguel, “dever-se-á forçar um debate político onde se ponha em questão o ‘direito de especular’ que foi concedido por padrão aos proprietários particulares. Tratase também de eliminar todos os privilégios fiscais que existem para esse setor. E, claro, buscar alternativas de moradia pública” (Carmona Pascual 2022, 192).

Este cenário original, já complexo e motivo de inúmeras crises de moradia ao longo da história, não fez senão se complicar, como de resto a economia de mercado, desde a globalização. Os problemas de um mercado local de moradia tornamse enormemente mais complexos quando este, progressivamente, deixa de o ser, para se converter num mercado global. Novamente, tratase de uma questão de escala. Quando o Monopoly da especulação imobiliária muda a toponímia ¾das ruas de uma cidade para cidades em escala global¾ e suas cédulas deixam de ser moeda local para se tornar capital transnacional, o mercado se elitiza, a moradia tornase inacessível ao cidadão local, perdendo sua capacidade de satisfazer seu valor de uso, quiçá seus direitos a ele associados, e provocando deslocamentos e exclusão social.

Sob essa breve descrição podem se englobar muitos dos problemas mais recentes da moradia. A gentrificação ¾ou elevação mais ou menos progressiva do nível de classe e de renda em determinadas áreas urbanas (ver Smith [1996] 2012) ¾ supõe a substituição dos moradores tradicionais de um bairro por concidadãos de classe social mais alta, e a consequente expulsão dos primeiros para zonas menos valorizadas. Quando essas áreas entram no interesse do mercado global, como ocorre nas mais significativas das grandes cidades globais, começase a falar em hipergentrificação, pois a diferença de poder aquisitivo entre os habitantes originais e os investidores estrangeiros dispara, acelerando e extremando o processo de segregação e expulsão.

A turistificação é uma variante específica da gentrificação, na qual o recémchegado não se torna morador, mas apenas visita de férias. Ao maior poder aquisitivo do visitante somase a condição de excepcionalidade vacacional, que faz com que se esteja disposto a pagar bem mais do que por uma moradia habitual. Uma moradia submetida ao aluguel de temporada, portanto, é muito mais rentável do que no regime de aluguel residencial ou de longa duração. Surgidos originalmente como parte de uma “economia colaborativa”, supostamente à margem do capital ¾como se isso fosse possível¾ os aluguéis de temporada não apenas retiraram do mercado de locação um enorme número de moradias, reduzindo a oferta, mas também substituíram o comércio e a vida local de inúmeras cidades turísticas por um modelo repetitivo e sem alma de cidade franquiciada, dominada por uma hotelaria espacialmente agressiva em sua ocupação do espaço público e frequentemente mesquinha em suas transações, tanto com o consumidor quanto com seus empregados precarizados.

O turismo residencial é um fenômeno muito antigo, que existe desde que existe o turismo e era, originalmente, extremamente elitista. A globalização e a democratização[19] dos voos fizeram com que se expandisse muito mais, permitindo que camadas sociais cada vez mais amplas, nos países mais avançados economicamente, decidam investir em residências turísticas ou de aposentadoria, em áreas que combinem segurança e bom clima, encarecendo também os mercados locais dessas regiões e deslocando os habitantes originais. O inverso desse fenômeno seriam os nômades digitais. Inicialmente identificados com executivos elitistas de empresas de tecnologia, de perfil altamente imaterial, cujos trabalhos podiam ser realizados de qualquer lugar do mundo, o que lhes permitia escolher sua moradia entre todos os paraísos globais ¾incluindo, é claro, os paraísos fiscais. Sob a precarização dominante do atual capitalismo desenfreado, acabaram por se assemelhar mais a trabalhadores dessas mesmas indústrias, cujos salários precários lhes permitem viver melhor em países menos desenvolvidos, ainda que talvez mais ensolarados e tranquilos do que os seus[20]. Ambos os mecanismos desterritorializadores, simetricamente, redundam numa expansão dos deslocamentos e expulsões de habitantes locais.

A financiarização, que não afeta apenas a moradia, referese ao aumento da abstração econômica que ela sofre ao passar de mero valor de troca para se tornar um ativo financeiro, e tem graves consequências em, pelo menos, duas vertentes diferentes.

Por um lado, estende ao âmbito global e à desregulação mercantil os pequenos investidores. Aquele rentista popular (Carmona Pascual 2022, 91) que tinha uma moradia para aluguel como exploração de suas economias ou pequenos excedentes de capital, já sem poder aquisitivo para ser proprietário autônomo, agrupase de forma anônima em fundos de investimento — pessoas jurídicas que diluem a rastreabilidade da responsabilidade pessoal[21]. Dessa forma, nas mãos de operadores profissionais frequentemente transnacionais, esses capitais são investidos seguindo a única diretiva da rentabilidade, alheia a qualquer consideração ética ou sensibilidade local. Sob seu comando cada vez mais abrangente, o pequeno arrendador que podia estabelecer uma relação de confiança com seu inquilino é substituído por empresas anônimas, alheias a qualquer circunstância especial do locatário, que não hesitam em intimidar e sobrecarregar legalmente ¾e, por vezes, até fisicamente¾ para aumentar o valor do aluguel ou forçar a desocupação, quando entendem que a rentabilidade obtida não é a ideal, ou que o imóvel pode gerar maiores lucros por meio de uma remodelação, venda ou demolição. A extensão quase monopolística dos fundos de investimento não apenas desloca inquilinos e pequenos proprietários, mas também todos os demais agentes menores do processo de construção e imobiliário em geral. Desde pequenos incorporadores até escritórios de arquitetura de pequeno porte, todos são substituídos por uma concentração do negócio em uma minoria formada em torno dos grandes fundos de investimento ¾mais estáveis financeiramente, frequentemente parte das próprias entidades bancárias financiadoras¾ e seu entorno de grandes escritórios de arquitetura de confiança, ampliados à sua sombra desde o contexto da crise anterior. Seguindo a tendência capitalista atual, poder e dinheiro se acumulam cada vez mais em um número reduzido de mãos (ver Minguet 2017, 133-44).

Por outro lado, a financiarização da moradia referese, em contextos já fortemente desterritorializados e marcados pelos problemas acima mencionados e, consequentemente, com preços muito elevados, à quase total perda da função habitacional dos novos edifícios de moradias. Essas novas construções, geradas unicamente sob a perspectiva do lucro (como evidenciam suas formas ¾torres esbeltas além de qualquer lógica construtiva), erigemse com a única finalidade de imobilizar capital, de constituir investimento, sem a clara expectativa de que venham a ser habitadas, nem mesmo por grandes magnatas em férias, levando o processo de abstração ao seu grau máximo, onde a moradia é apenas valor de troca financeiro, sem qualquer fundamento em seu valor de uso (Soules 2021).

Todas essas problemáticas e aquelas que pudemos esquecer, ou elidir por falta de espaço, ocorrem simultaneamente em torno do problema da moradia e, muitas vezes, nos territórios mais tensionados, convergindo todas de uma vez. Apesar de sua variedade e diversidade, todas compartilham um efeito desterritorializador e acentuam a inclinação da moradia para seu valor de troca ¾do qual cada vez mais ela se alimenta¾ e um afastamento de seu valor de uso, esquecendo ou ignorando que este é fundamental para a própria subsistência das comunidades locais onde essas moradias se assentam e às quais conferem sentido como tais.

Nesse contexto tão complexo, o que significa apelar à moradia emancipadora? Por que fazêlo?

Em primeiro lugar, a moradia emancipadora apela, naturalmente, à moradia como direito, conforme estabelece o artigo 47 da Constituição Espanhola ¾e artigos semelhantes em muitas outras Constituições nacionais. É um direito que, se não o mais fundamental,[22] serve de base para quase todos os demais. Sem moradia ¾sem endereço pos tal, sem registro¾ uma pessoa não pode adquirir a condição de cidadão, tampouco manter interlocução adequada com as administrações públicas que poderiam zelar por seus direitos ou conceder-lhe auxílios. Mas não é só isso. É significativa a denominação do mais alto cargo representativo da ONU na área: o Relator Especial da ONU para uma moradia adequada. Porque o direito a reivindicar não é apenas o da moradia, mas o da moradia adequada, que ¾segundo a formulação do Relator¾ deve garantir: segurança de posse, disponibilidade de serviços, acessibilidade econômica, habitabilidade, acessibilidade física, adequação cultural e localização apropriada (2024). Só assim uma moradia pode ser emancipadora. Uma moradia que o submete ao medo constante de perdêla, que o escraviza para pagála, que lhe causa desconfortos e problemas de saúde contínuos, que o isola da sociedade, que o segrega ou que dificulta sua identidade cultural é mais uma prisão do que um lar, mais uma escravidão do que um meio de libertação. Portanto, a moradia emancipadora apela a um direito ampliado e multifacetado.

A condição poliédrica do direito a reivindicar antecipa o alcance do movimento a convocar. Em oposição à complexa multiplicidade dos problemas já descritos, a moradia emancipadora, como conceito, convida a abordar a problemática da moradia a partir de uma perspectiva simetricamente poliédrica e multiescalar. Desde os menores detalhes de design arquitetônico até as grandes diretrizes políticas e fiscais sobre moradia, e todas as escalas e esferas intermediárias, podem ser entendidos como faces de um mesmo problema, se o abordarmos sob o ponto de vista da emancipação. Essa multiplicidade é imprescindível para compreender a globalidade do problema e apresentar soluções minimamente sólidas. Não podemos esquecer que, como dizia Lefebvre, “a ordem estabelecida tem grande capacidade de adaptação e integração; assimila aquilo que a ela se opõe” ([1981] 2005, 106), o que, no caso do capitalismo, atingiu níveis de verdadeiro virtuosismo, a ponto de não deixar imaginar a possibilidade de um exterior, como tantos autores constataram a partir de perspectivas diversas (Boltanski e Chiapello [1999] 2002; Frank [1997] 2011; Debord [1988] 1990; e tantos outros).

Para confrontar o gigantesco mecanismo de mercantilização da moradia e suas ramificações em todos os âmbitos, não podemos reduzir nosso enfoque a contribuições disciplinares isoladas, que certamente serão incorporadas como mecanismos adicionais de mercantilização. Basta observar no que se tornaram as economias colaborativas, como o Airbnb, ou em que conceitos comunitários, como o coliving, estão se transformando; ou imaginar o que poderia ocorrer com propostas supostamente originadas de um feminismo emancipador, como a casa sem cozinha (Puigjaner 2014), se não considerarem permanentemente a complexidade do problema global e a ameaça constante de assimilação. Por isso, diante da mercantilização do capitalismo global, movido apenas pela ambição, mas de formas sofisticadíssimas e corais, em que cada intervenção em diferentes âmbitos e escalas contribui para a eficácia do todo[23], tornase necessária uma coralidade e conexão não menos amplas entre as escalas de intervenção por uma moradia melhor. A moradia emancipadora busca um enfoque que iguale, em sua coralidade e sofisticação, ao mesmo tempo em que na unidade de seus objetivos, os mecanismos mercantilizadores aos quais pretende enfrentar.

Esse sentido buscado de coralidade torna coerente que o tema desta publicação tenha sido abordado, ao menos inicialmente, como um chamado aberto. Colocando a emancipação no centro ¾tanto um conceito abrangente quanto preciso, mas abrindo a possibilidade de recepção a todos os enfoques ou olhares¾ buscavase encontrar essa panorâmica coral de perspectivas que, talvez em fases posteriores, pudesse organizar bem as tessituras de cada voz, agrupandoas em um coro mais estruturado e eficaz, que compreenda simultaneamente sua complexidade e sua indissolubilidade. A possibilidade de oferecer soluções viáveis ao problema não reside em nenhuma das peças isoladamente, mas no quebracabeça completo que elas constroem. Só com todo o imaginário em mente, ao mesmo tempo, poderemos desenhar estratégias que tenham alguma chance de resistir ao grande monstro poliédrico do capital desregulado e desumanizado em seu avanço. Felizmente, o sucesso de convocação, tanto na qualidade quanto na quantidade de contribuições, nos permite apresentar hoje um número de inegável interesse, um desejável início possível para novas contribuições e encontros entre suas vozes e, ao mesmo tempo, sempre aberto a outras novas, dispostas a afinar esta mesma canção[24].

O chamado a uma moradia emancipadora é, por fim, uma insistência contracorrente na utopia diante da recorrência das distopias, cada vez mais reais e que começam a antepor a realidade à ficção. No contexto de pessimismo que o triunfo distópico impõe, reivindicar algo aparentemente tão inalcançável (tão inexistente ou, pelo menos, excepcional até então) como a capacidade emancipadora da moradia ¾algo tão distante do que parece possível¾ permite traçar o horizonte de um desejo que não aceita as renúncias impostas. O velho slogan de Maio de 1968, soyez realistes demandez l'impossible[25], parece resgatar seu sentido no desmoralizado contexto atual de aceitação progressiva de distopias cada vez mais deprimentes e opressivas. Aceitar o pessimismo distópico é cumprir sua primeira premissa programática, a mais importante. Reivindicar uma moradia emancipadora é recusarse, de forma global, poliédrica, complexa e sofisticada, a essa premissa. É reivindicar aquilo que ninguém espera, mas que vai ao cerne, à medula do que é esperável, do que é desejável, e oferecer-lhe um imaginário que, embora distante, é possível ou, pelo menos, concebível. Dá nome preciso a uma demanda complexa.

A moradia emancipadora pretende, consciente como afirmamos do risco de sua instrumentalização pelas forças mercantilistas a que se opõe, ser o que o filósofo Francisco Martorell chama de utopia secularizada. Livre de todo atisbo de absoluto, consciente de sua contingência e incompletude, mas que atribui “a inteira responsabilidade pelo progresso aos desejos de justiça”[26] (Martorell Campos 2020, 26).

Também, por simetria às suas distopias opostas, poderíamos dizer que se trata de uma utopia assintótica, que traça um limite a que tender, sem a necessidade imperiosa de alcançar um objetivo preciso e completo, mas medindo permanentemente a distância até ele e incentivando os esforços na direção correta.

Em coerência com tudo o que foi escrito, a moradia emancipadora seria aquela que se imagine, conceba, projete e construa pensando unicamente em seu valor de uso. Nesse uso ampliado, que cultiva os direitos fundamentais, proporcionando o solo firme e o sustento em que esses possam crescer frondosos e livres. Isso não é fácil, nunca ocorreu antes, mas apenas imaginandoo, nomeandoo, poderemos ¾talvez não tornálo possível de imediato, mas ao menos saber para onde queremos caminhar, em vez de continuarmos sendo arrastados.

A condição coral de nosso número tornase ainda mais forte precisamente a partir daqueles saberes menos valorizados pela centralidade de nossa sociedade capitalista e ocidental, onde, como adiantam Sánchez Laulhé et al., é possível encontrar discursos renovadores e questionadores dos elementos opressivos do regime vigente. Assim, descobriremos que ideias particularmente potentes provêm de saberes de algum modo ofuscados pelo discurso hegemônico[27]: do feminismo dos cuidados, no caso de Garrido et al.; do sul global, nos casos de Cicuto e Moreno, ou Pérez e Pelegrín; de tradições disciplinares esquecidas, nos casos de Avilla e Barberá, ou das resenhas sobre a tradução de Xenofonte por Quetglas; ou ainda do Extremo Oriente, em Capdevila et al.

Realismo distópico. O cómo la producción cinematográfica invita a la aceptación del presente[28], a resenha da minissérie norueguesa The Architect, de Daniel Natoli, já teve bastante destaque neste editorial, que se alinha ao seu argumento sobre distopias e utopias ao apresentar o sentido de A Moradia Emancipadora como conceito. O cineasta reflete sobre o alcance da distopia de ficção para moldar nossas mentes e minar resistências, terreno com o qual a série joga não apenas em seu discurso, mas também em seu metadiscurso, na relação que o próprio espectador estabelece com ela, deixando várias perguntas em aberto, como adverte Natoli, talvez para uma segunda temporada ou, em todo caso, para nossas reflexões futuras, ou melhor dizendo, já presentes.

Se esta resenha mira o limite do futuro, as outras duas, paralelas, voltamse ao extremo fundacional da disciplina arquitetônica ¾não já ao Renascimento, mas ainda mais além, até a Grécia Clássica. Ambas versam sobre a tradução e o prólogo que José Quetglas oferece do Oikonomikós de Xenofonte. Ao qual ele, evitando qualquer relação forçada com a palavra muito mais moderna economia, intitula Saber habitar. O interesse de Quetglas, habitualmente centrado na crítica moderna e contemporânea, em uma referência tão antiga, reside numa pergunta que Roberto Fernández, nosso diretor e seu primeiro resenhista, apressase em destacar: “Por que nos fizeram ler durante séculos Vitrúvio ou sobre o templo de Salomão, que são coisas de pedreiros ¾dirseá ao curioso, se é algo exagerado¾ e não Xenofonte?” (2023, 10). Sua tradução e prólogo consistem, portanto, em explorar a possibilidade de uma ucronia: o que seria da disciplina arquitetônica se, em vez de se fundar na obra de Vitrúvio, tivesse se apoiado mais na de Xenofonte? Na resenha de Roberto, cujo título, Antes e melhor que Vitrúvio, não deixa dúvidas sobre sua recepção da proposta do crítico catalão, seremos guiados na leitura de Quetglas, entendendo que Xenofonte propunha uma diferenciação chave entre dois saberes ¾epistemes¾ distintos: a tektoniké, ou construção, derivada inicialmente da carpintaria, que é o tipo de saber em que Vitrúvio se centrará e que Quetglas considera trabalho de pedreiros; e o oikonomikós, ou arte de saber habitar, que de fato é, e deveria ter sido desde Xenofonte, reconhecido como o verdadeiro arte da arquitetura. Em seu passeio pela leitura de Quetglas, outros temas que conectam surpreendentemente Xenofonte à nossa atualidade vão surgindo ¾o habitar austero, o armazenamento e até uma certa ideia de feminismo, necessariamente traduzida, por sua vez¾ e aparecem no deleite da leitura que Fernández confessa desta tradução de Quetglas de Xenofonte.

El arquitecto curioso[29], a outra resenha desta tradução de Xenofonte, do professor e tradutor de línguas clássicas Alberto Marina, prendese menos ao texto literal e o aborda a partir de um requintado senso sobre o significado de traduzir ¾assim como o próprio, curioso, Quetglas faz¾ situando sua introdução em um tempo em que, segundo Gilbert Murray, “os manuais ainda não haviam abandonado, especializandose, o reino das Musas”. Ele o contextualiza também entre uma série de referências culturais recentes que o acompanham em sua busca por conexões entre o pensamento clássico e o nosso presente, distanciandose de um Michel Foucault, que sai particularmente mal na análise.

Não ocorre o mesmo no texto de Sánchez, Gisbert e Nieto, Emancipación y arquitectura a partir de la vivienda obrera. Apuntes genealógicos del concepto de habitar en la arquitectura[30], em que a obra de Foucault ¾removida do título apenas nas versões mais recentes¾ desempenha um papel fundamental: certas obras distantes das interpretações da época clássica que ofendem Marina. A acepção de habitar que adotam também não se afasta de Xenofonte, na sua consideração como saber central da arquitetura. Só que, em sua acepção foucaultiana, associam a fundação da disciplina arquitetônica, como exclusividade ¾em oposição a todos os outros saberes¾, à sua função de normalizadora do habitar humano, gerada em torno do projeto da moradia social, assim como a psiquiatria se erigiu em torno da saúde mental, quase simultaneamente, não importando tanto se “cumpria os preceitos de uma ciência ou não, mas como a ciência respaldou metodologias e elevou certos profissionais enquanto especialistas”. A partir dessa exclusividade excludente e normalizadora, entenderemos a dificuldade de propor elementos de emancipação desde o interior da disciplina.

Talvez por isso, as duas intervenções seguintes, ambas de temática sulamericana, referemse a formas de construção de moradias em que o arquiteto não é o técnico exclusivo, mas que, se existe, se limita a acompanhar e assessorar processos de criação sociais e compartilhados.

Autoconstrução, mutirão e autogestão. Um estudo dos debates no Brasil a partir da década de 1970, de Cicuto e Moreno, é uma história das formas coletivas e autogeridas de produção do habitat no Brasil desde 1970 ¾cujo enfoque temos muito a aprender nas sociedades supostamente mais avançadas, onde essas possibilidades hoje se apresentam como alternativas mais ou menos inovadoras e como antídotos à mercantilização capitalista. Apenas para atrair brevemente o leitor, sem simplificar demais nem revelar tudo, sua discussão parte do conceito de supertrabalho, cunhado por Francisco de Oliveira no início dos anos 1970. Referese ao trabalho que o autoconstructor realiza em sua moradia durante o tempo livre do trabalho remunerado, o que faz com que este seja menos exigido para cobrir os gastos com habitação. O supertrabalho, em vez de beneficiar o supertrabalhador, reverteria em favor das empresas e instituições, retirando-lhes não só a responsabilidade civil de proporcionar acesso à moradia do trabalhadorcidadão, mas permitindo-lhes reduzir sua remuneração ao aumentar seus lucros ou diminuir seus custos, conforme o caso. Ao incidir em temas já tratados, como alienação e valor de uso, sua leitura deveria ser obrigatória para aqueles que trabalham com essas fórmulas ¾às vezes de forma ingênua¾ no norte mais capitalista.

Evolución y actualización de las cooperativas de vivienda en Uruguay: La propiedad colectiva, la autogestión y la asistencia[31], de Pérez e Pelegrín, contribui com a sempre interessante história do cooperativismo habitacional uruguaio, que representa hoje uma das melhores demonstrações de que é possível um capitalismo social, não predatório. É um exemplo mundial de produção coletiva e participativa de moradia, apoiada e dirigida pela administração pública durante décadas ¾mesmo durante a terrível ditadura de quase doze anos¾ em que os técnicos, em vez de se dedicarem à produção em massa de unidades habitacionais repetitivas, acompanham os cooperativistas em todo o processo de projeto e construção ¾um modelo exemplar também na distribuição do trabalho, que privilegia a repartição equitativa em detrimento da acumulação competitiva. As cooperativas foram se adaptando às diferentes necessidades habitacionais e urbanas, passando de obras novas na periferia para a reabilitação dos centros urbanos, buscando sempre formas de ajustar o modelo às necessidades mutantes do presente. O artigo culmina na busca de possíveis maneiras de continuar essa adaptação às necessidades do futuro imediato.

Até Seul vão Capdevila, López e Marcos para nos trazer de lá sua entusiasmada proposta: El Bang coreano entre lo público y lo privado: una vivienda atomizada como emancipación de la vivienda normativa[32]. Os bang ¾nome genérico para um espaço associado a uma função¾ são ambientes de usos muito diversos espalhados pela cidade, que podem ser alugados temporariamente para realizar as mais variadas atividades, do banho ao karaokê, passando pelo jogo ou pela exibição, quem sabe com certa intimidade, de filmes. Diante da rigidez normativa e machista do neoconfucionismo culturalmente dominante ¾e talvez desconsiderando demais a longa influência americana na Coreia[33]¾, para nossos autores, “os bang atuais representam uma atualização engenhosa, vital, intrépida e, em muitos aspectos, bottom-up. Os bang diluem a fronteira entre o espaço privado e o público, e questionam a aplicabilidade universal, assim como a especificidade histórica, das ideias ocidentais de modernidade.” Sua aparição, como elementos dispersos da casa fora dela ¾tanto no sentido topológico do termo quanto no hierárquico¾ favorece “o surgimento de um sentido de pertencimento alternativo”, que daria origem a uma “nova cartografia da emancipação do cidadão coreano contemporâneo”. Concordese a princípio mais ou menos com o enfoque histórico e contextual de onde surgem e no qual fazem sentido esses bang, o que nossos autores tornam definitivamente convincente ¾e que ganha maior relevância em nosso contexto emancipador¾ é que eles representam uma forma inovadora capaz de questionar os conceitos espaciais estabelecidos no Ocidente, não menos normatizado, propondo modalidades imprevistas de emancipação capazes, ao menos, de abrir alternativas ao pensamento dominante ¾confiando, ou melhor, vigiando novamente, que este não as instrumentalize imediatamente.

“Talvez o pensamento que melhor resistiu a toda instrumentalização pelo capital, por ser particularmente inassimilável aos seus propósitos, seja o feminismo dos cuidados. Ao colocar sua atenção justamente na parte não produtiva da vida, esse gênero específico de feminismo, voltado a todos, consolidouse como vanguarda da resistência ao capital nas últimas décadas. E não é diferente no âmbito da moradia. Embora tivéssemos gostado de contar com mais, ao menos dispomos de uma contribuição que aborda a moradia emancipadora a partir desse enfoque. A hombros de mujeres: transformación de un espacio inmobiliario a un vecindario de cuidados[34], de Garrido, Martín e Urda, relata, como bem indica seu título, a evolução de El Naranjo, em Fuenlabrada (Madri), um dentre tantos bairros da fase de abertura da ditadura de Franco, de uma operação imobiliária rápida e lucrativa a um bairro onde os cuidados se tornam possíveis e a identificação de seus moradores com seu pedaço de cidade é mais satisfatória do que o esperado. Tudo isso aos ombros de mulheres. A solidez do argumento e sua potencial aplicabilidade a outras circunstâncias semelhantes ¾são centenas os bairrosdormitório que lembram El Naranjo por toda a Espanha¾ fazemno talvez um tanto rígido e obrigam a negligenciar certas qualidades arquitetônicas específicas dos projetos originais, bem como a decidida aposta dos governos municipais democráticos em dotar de serviços aqueles bairros que sequer tinham ruas, simplificando talvez em demasia a análise local. No entanto, o reconhecimento a essas mulheres que, na privacidade oculta de suas vidas cotidianas esforçadas, vêm construindo em silêncio e sem alarde as bases para que as cidades atuais possam se tornar ¾a batalha mal começou¾ espaços de cuidados, mereceria provavelmente mais contribuições do que conseguimos reunir neste número.

As duas intervenções seguintes provêm de um âmbito mais disciplinar, mas buscam em tradições e genealogias algo esquecido, de onde resgatar valores que não foram adequadamente valorizados e que talvez ajudem a melhorar ou explicar de alguma forma o nosso presente. É o caso de Cellular Domesticities: Lessons from The City in Space and Its Relevance in Barcelona’s Contemporary Debates on Flexible and Collective Housing[35], artigo de Raül Avilla que investiga La Ciudad en el Espacio, o conjunto de projetos de moradia que tornou relevante o Taller de Arquitectura dirigido por Ricardo Bofill, antes de este se entregar às retóricas formais pósmodernistas de Abraxas, que marcariam o resto de sua carreira. Em continuidade com os temas do artigo anterior, Avilla destaca a relevância de Anna Bofill, irmã de Ricardo, cuja tese (1975) analisava e estruturava as ordenações das células habitáveis que compunham esses conjuntos, cujas formas de agrupamento permitiam espaços e possibilidades inéditos. A pesquisa de La Ciudad en el Espacio coincide sensivelmente com o período de ingresso de Anna no Taller, o qual ela abandonaria abruptamente após sua saída do escritório.

Revelando uma preocupação social utópica e muito inovadora em relação à habitação social, essas obras do Taller de Arquitectura ¾já então um grupo multidisciplinar¾ atraíram o apoio de numerosos artistas e pensadores vinculados aos movimentos políticos de 1968 na Espanha, dos quais acabaram ¾particularmente o Walden 7¾ por se tornar emblemas. Se a transformação dos revolucionários do movimento de 1968 ¾não apenas na Espanha¾ em líderes neoliberais é talvez o exemplo de assimilação mais recorrente e admitido da história recente, a passagem do Taller de Arquitectura da pesquisa e experimentalidade militante de La Ciudad en el Espacio ao pósmodernismo formalista e retórico de Abraxas e projetos subsequentes o é, talvez, no âmbito da arquitetura.

E, no entanto, os projetos permanecem, e, mesmo não deixando heranças diretas nem no próprio taller nem em outros potenciais seguidores, parecem retomar hoje uma nova vigência. Avilla parece vislumbrar, na forma de priorizar a célula em relação ao conjunto ¾ainda que em uma versão bidimensional, aplainada da ideia¾ algum resgate das propostas do Taller nas formas emergentes de projetar moradia dos estúdios de arquitetura mais pujantes na atual cena espanhola. Isso põe em relação o artigo escrito por Avilla com seu artigo visual, uma experiência de research by design em que ele estuda possíveis formas de agregação de células, a partir das reflexões de Robin Evans sobre os atritos nos espaços de habitação ([1978] 2005). Confirmando em parte a proposta de Avilla, podemos ver como Marta Peris ¾talvez a mais conhecida dessas potenciais herdeiras¾ usa a mesma referência de Evans para explicar as células e suas agregações em seus projetos de moradia (Peris, em Fundación Arquia e Fernández Galiano 2025), embora não faça referência expressa ao Taller de Bofill. Em todo caso, a dupla tarefa de Avilla é tão elucidativa em exemplos e intenções resgatáveis quanto esclarecedora das novas tendências do presente.

Unidad A y Unidad B en Berlin Masque. Viviendas para una transformación cultural[36], de Carlos Barberá, também nos conduz por caminhos hoje um tanto ofuscados da história da arquitetura recente. No seu caso, o arquiteto a resgatar é John Hejduk, cuja obra Barberá domina com reconhecida expertise. Essas unidades, e outros projetos correlatos, ofereceriam, segundo o autor, uma possibilidade artística de tornar visíveis as desigualdades sociais na cidade. Destinadas a ser habitadas por pessoas em situação de rua, e concebidas como elementos livremente móveis pela cidade, com capacidade de interagir com o espaço público, essas intervenções de pequena escala permitiriam não apenas a integração, mas também a visibilização e a participação no espaço coletivo das pessoas menos favorecidas pela sociedade, conferindolhes simultaneamente um conjunto de direitos de outra forma difíceis de obter.

Talvez, como no caso coreano, e apesar da minuciosa pesquisa de Barberá e das evidências associadas a projetos semelhantes, alguém possa questionar as hipóteses do autor quanto a esses projetos em particular. No entanto, mais relevante ¾da nossa perspectiva emancipadora¾ é a potencialidade emancipadora da proposta e das reflexões que ela suscita, mais do que sua precisa atribuição autoral como intenções originais de Hejduk. A intencionalidade primeira do autor tornase irrelevante diante da capacidade criadora ou sugerente de sua obra.

A segunda intervenção de Pelegrín e Pérez ¾mesmos autores do artigo sobre cooperativas uruguaias, que aqui alteram a ordem de autoria¾, Investigación y práctica en los márgenes de la regulación normativa de las siedlungen de la postguerra de la región del Rin-Meno[37], combina uma primeira parte de análise com uma segunda de proposta. Convencidos de que “não é o projeto nem o espaço da moradia que por si só se tornam emancipadores, mas sim os processos com que são gestados, ocupados e utilizados”, a primeira parte é um estudo muito sério e atento às complexidades multidisciplinares dos mecanismos de produção, aceitação e redesenho das siedlungen alemãs do pósguerra até hoje. O conhecimento aprofundado desse patrimônio herdado deveria ser útil para resolver seus problemas de obsolescência, num desafio que se repete, com diferentes matizes, em ao menos toda a Europa herdeira do Movimento Moderno[38]. Não se limitando à análise e passando à ação, a segunda parte do artigo propõe, para a intervenção num conjunto específico dessas siedlungen, “um processo de projeto que pudesse ser intuído como emancipador: um conjunto de ferramentas espaciais simples que, à medida que são implementadas, transcendem o ambiente doméstico e ambiental, e convocam os moradores a reconfigurar em comum o espaço da moradia”. Talvez essa segunda parte ainda necessite de maior desenvolvimento e espaço expositivo para equiparar a profundidade e complexidade da análise prévia. Não obstante, o compromisso de estar coerentemente em ambos os lados do problema ¾análise e proposta¾ é surpreendentemente raro nessas pesquisas, e seu valor deve ser exaltado sem hesitações.

Mais comum é o enfoque dos dois artigos seguintes da edição, que reúnem projetos e realizações recentes em uma narrativa que os estrutura como tendência atual ou emergência do presente. Mais moradia, menos arquitetura: cinco paradoxos do habitat contemporâneo como estratégia frugal de emancipação, de Francisco Muñoz, nos oferece “Más vivienda con menos arquitectura. Sin aditivos. Una estrategia participativa que redefine la relación entre el habitante y el espacio que ocupa, impulsando un modelo de vivienda, frugal, sostenible y por lo tanto, emancipadora”[39]. Em seu artigo, ele revisita algumas estratégias recentes que lidam com poucos recursos para continuar oferecendo maior flexibilidade de usos tanto no espaço quanto no tempo e outras vantagens obtidas por meio da redução do determinismo arquitetônico. A maior parte delas é amplamente reconhecida e valorizada, ensinada como estratégias projetuais nas escolas de arquitetura mais atentas e evoluídas. No entanto, o enfoque baseia-se na assunção incontestada de condições de austeridade cujas causas permanecem fora de cena, e os epígrafes repetem a estrutura do inevitável oxímoro miesiano “menos é mais”: menos x, mais y. Pode-se imaginar um incorporador imobiliário ou um político experiente tentando obter proveito econômico de cada um desses menos. Após a proposta, esmagadoramente conclusiva, de Druot, Lacaton e Vassal, com seu Plus (2013), não poderíamos simplesmente falar em mais?

Numa linha de compilação semelhante, De herramienta productiva a máquina de habitar. Estrategias para la reconversión del patrimonio industrial en desuso en vivienda pública[40], de Gual e García, abre uma nova via de exploração: as possibilidades do patrimônio industrial abandonado para acolher propostas de habitação social emancipadora. Por meio da compilação estruturada de uma série de projetos ilustrativos ou boas práticas, eles elaboram um conjunto de estratégias de intervenção: prolongar a rua, fracionar o espaço, articular os vazios, liberar a planta e gerar centralidades, sistematizando, de certo modo, formas de intervir no patrimônio industrial de nossas cidades como janelas de oportunidade.

As duas últimas intervenções concentramse nas histórias da habitação social em duas cidades espanholas, Barcelona e Granada. Em La vivienda en Barcelona: una problemática estructural de larga duración[41], Maribel Rosselló e Manel Guàrdia, conscientes de que “a atualidade e as urgências do problema da habitação ocultam frequentemente seu caráter estrutural”, propõem “um olhar de longa duração […] para entender melhor até que ponto o passado pesa sobre o presente e, consequentemente, sobre as opções de futuro”. Seu análise da história da habitação social em Barcelona, específico e detalhado, poderia ser transferido, apesar disso, a muitas outras cidades espanholas que seguem uma mesma trajetória, sobretudo sob uma ditadura centralista e homogeneizadora como a franquista. E, ainda assim, baseandose em estudos prévios de sua própria equipe de pesquisa, apontam algumas paradoxos de grande interesse, não tão contrastados em outras cidades. Os primeiros movimentos reivindicativos em torno da habitação, surgidos na decadência da ditadura, emergem em Barcelona em zonas operárias, mas onde a maioria das habitações era de propriedade. “De modo que o acesso à propriedade, ao contrário do esperado, não domesticou a população dos bairros periféricos que foram sendo criados na segunda metade do franquismo”[42], mas, antes, ocorreu o contrário: “a estabilidade habitacional e o enraizamento no bairro foram o fermento da progressiva ação reivindicativa e do surgimento de uma força política inesperada e com um sólido capital social”. Isso confirma a força irrefutável da capacidade emancipadora da habitação. Mesmo uma habitação com grande número de deficiências constitui uma base a partir da qual o morador pode se tornar cidadão e, encontrando um tecido social ao qual pertencer, articular sua própria voz na consolidação dos tímidos direitos que ela lhe proporciona. A conclusão esperada do artigo é que as heranças e inércias históricas do franquismo colocam a Espanha em uma situação bem diferente do resto da Europa, o que requer “ações decididas e sustentadas no longo prazo, sabendo que os efeitos não serão nem imediatos nem completamente previsíveis”.

Em La regeneración de la vivienda social como alternativa al problema actual de la vivienda. La Zona Norte de Granada como caso de estudio[43], Rafael de Lacour concorda com seus predecessores ao afirmar que “a situação possui uma inércia difícil de vencer e as soluções não são imediatas”. Sua análise histórica é conciliadora ao generalizar as motivações do crescimento urbano de Granada em torno de emergências demográficas na relação cidade-vega, organizadas numa lógica de centro e periferia, sem abordar outros conflitos sociais ou especulativos possíveis. Mais ousado que seus homólogos catalães, de Lacour avalia algumas propostas sem se decidir por elas ¾maior oferta de solo, maior facilidade de sua gestão, facilitação de crédito aos jovens[44]. Sua proposta final inclina-se para a recuperação do patrimônio edificado, particularmente o mais obsoleto, “por estar afastado da especulação imobiliária, precisamente por seu estado de deterioração”; por meio da reabilitação orientada espacialmente a jovens “prioritariamente pertencentes a gerações que nasceram e cresceram nesses locais, com os quais fortalecer a noção de arraigamento, necessária para articular a convivência socioespacial”. Essa intervenção deve estar ciente de que “trata-se de um processo integral de revitalização urbana e social”, e não apenas arquitetônico. “Ao reorientar essas intervenções para uma perspectiva emancipadora, a habitação deixa de ser um objeto de especulação para tornarse um instrumento de autonomia, identidade e coesão comunitária”.

Se, no caso de Barcelona, sentese falta de uma aposta por soluções concretas, no caso de Granada ¾mais ousado¾ elas não se mostram totalmente convincentes. Já são muitos os exemplos que demonstram que, há anos, a especulação incide nos bairros mais desfavorecidos com quase a mesma intensidade que nos mais rentáveis[45]. Por outro lado, o Decreto que regula a demanda de habitação pública da Junta de Andaluzia[46] estabelece, com bom critério, que a demanda por habitação na Andaluzia deve obedecer aos Registros Municipais de Demandantes, em condições de igualdade, o que limita a orientação de soluções a faixas etárias, que não estão entre as exceções muito restritas à regra.

As soluções são, de fato, difíceis e devem ser testadas cuidadosamente com toda a experiência prévia e em todos os âmbitos. O que parece correto em um determinado campo disciplinar ou escala pode falhar em outro, e a ameaça de assimilação é constante. Contudo, somente mantendo o olhar num objetivo como a emancipação ¾que, sendo ambicioso, rejeita toda pretensão de totalidade e assume sua contingência¾; e somente mantendo o leque de escalas e enfoques permanentemente aberto e em teste, é possível vislumbrar soluções com a complexidade necessária para contrapôrse às enormes inércias mercantilistas. Aqui há um bom conjunto delas: algumas válidas por si mesmas, outras que poderiam ser coordenadas para elevarse a um nível superior.

A definição do objetivo adequado deve arrancar a vontade política. As soluções complexas devem alcançar, ou ao menos nos aproximar o máximo possível, do objetivo desejado e necessário.

 

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[1] Esta pesquisa faz parte do projeto “A questão da moradia: tensões de mercado, desigualdades socioespaciais e vulnerabilidade residencial nas cidades do sul da Espanha” (PID2023-151195OA-I00), financiado pelo MICIU/AEI/10.13039/501100011033 e pelo FEDER/EU, e teve sua origem no Projeto de Pesquisa: B1-2021_19: “Habitação Emancipatória. Por uma moradia europeia mais democrática e socialmente sustentável até o horizonte de 2030”. II Plano Próprio de Pesquisa, Transferência e Difusão Científica da Universidade de Málaga.

[2] Esse período coincide significativamente com implementação do projeto que financia essa questão, que se mostrou particularmente oportuno.

[3] Por meio de uma pesquisa com as palavras "problema vivienda" (problema habitacional) seguidas da sigla de cada partido e, em seguida, buscando o primeiro resultado relevante em nível nacional, essas referências são selecionadas como uma primeira aproximação das diferentes abordagens e tendências de cada partido.

[4] Não é a primeira vez que nos deparamos com essa forma distorcida de imobilismo que favorece o status quo capitalista diante de suas tentativas de regulação (Minguet Medina 2022).

[5] É impossível atribuir a autoria diretamente a ele, mas é difícil imaginar que seja totalmente alheia.

[6] Durante a redação deste editorial, foi divulgado o prestigiadíssimo concurso World Press Photo de 2025, vencido por uma imagem que deve ser lembrada ao ler estes parágrafos que, apressadamente, narram uma tragédia e uma crueldade extremas à plena luz do dia — que este texto insiste em não ignorar. A imagem mostra um menino palestino de nove anos com os dois braços amputados muito perto dos ombros, em decorrência de um ataque israelense em março de 2024. https://www.worldpressphoto.org/collection/photo-contest/2025/Samar-Abu-Elouf-POY/1

 

[7] Ele continua: "A pretensão de o planejamento facilitar a melhoria social e econômica de um “público” abstrato há muito foi ignorada, e o desenvolvimento físico se manifesta agora em grande parte como o braço executor de uma agenda geopolítica estratégica ou impulsionada pelo mercado" (2004, 61).

[8] Eles não são, de acordo com o próprio autor, e como se poderia pensar inicialmente, mendigos ou pessoas em situação de exclusão social, excepcionais ou minorias, mas trabalhadores que, para exercer seus ofícios, precisam viver relativamente perto dos espaços urbanos mais centrais e caros e que, na época da publicação, eram mais de 200.000.

[9] Hong Kong é uma Região Administrativa Especial da República da China e, portanto, embora tenha maior grau de liberdade do que a China continental, não pode ser considerada uma democracia. No entanto, é uma área de mercado livre capitalista, e é lá, em vez de no continente mais intervencionado, que esses casos ocorrem (ou de onde eles se tornam conhecidos para nós).

[10] Cerca de 20%, sobre investimentos entre € 43.000 e € 48.000, uma suposta barganha que visa aumentar a democratização do investimento para investidores cada vez menores (e desprotegidos). Mais sobre isso adiante.

[11] Seria interessante, do ponto de vista jurídico, analisar as fórmulas de multipropriedade nas quais se baseiam esses investimentos, bem como a segurança e as garantias os mesmos oferecem.

 

[12] Nada suspeito de qualquer rebeldia contra o mercado imobiliário, no qual vive e do qual se alimenta.

[13] O filme é posterior ao artigo que mencionamos.

[14] Para leitores pouco familiarizados com a política local espanhola: Ada Colau foi prefeita de Barcelona entre 2015 e 2023. Vinda do associativismo em defesa da moradia, sua gestão se caracterizou por levar essa preocupação à instituição, impulsionando numerosas iniciativas inovadoras e também polêmicas por se afastarem dos interesses do mercado. No extremo oposto, José Luis Martínez‑Almeida, prefeito conservador de Madrid desde 2019, era até então conhecido por sua inação, em termos regulatórios, diante do complexo mercado de moradia da capital espanhola.

[15] Pedimos desculpas aos leitores muito versados em temas de moradia pela talvez excessiva simplicidade dos parágrafos seguintes, mas nos parece adequado lançar, ainda que brevemente, um foco sobre a complexidade da problemática combinada que enfrentamos atualmente, para entender melhor a adequação conceitual de A moradia emancipadora.

[16] “Para compreender corretamente a crise da moradia em que estamos imersos atualmente, é necessário entender a sua mercantilização. E, para alcançar avanços reais nos problemas da moradia, será preciso desenvolver alternativas concretas a essa mercantilização” (Madden e Marcuse 2018, 73).

[17] O enfoque bem mais radical de aspirar a uma sociedade sem propriedade excede por completo as já muito ambiciosas aspirações deste número.

[18] Essas condições, seguramente compartilhadas em muitos outros países, são, na Espanha, parte de uma cultura profundamente enraizada, imprimida a ferro pela Espanha dos proprietários que, formulada pelo primeiro ministro da Habitação do regime, José Luis Arrese (1959), foi aplicada com insistência pelo franquismo.

[19] Enfatizamos esse termo para manifestar nosso desacordo com ele, pois nada tem a ver com democracia, mas sim com uma mera redução de preços e de qualidade, buscando, de forma muito pouco sustentável, a expansão do negócio.

[20] E frequentemente com sistemas de saúde e de segurança muito piores, que por vezes causam sustos aos jovens aventureiros do precariado internacional.

[21] Outras alternativas aos fundos de investimento para pequenos investidores seriam os investimentos em multipropriedade, como os que vimos em cabines ou quartos que são oferecidos à venda tanto como investimento quanto — particularmente estes últimos — para moradores dos próprios espaços (Martín 2023). Essa “enxugamento” do mercado de propriedade e investimento imobiliário não é apenas legalmente discutível, mas provavelmente conduz a uma complicação ainda maior dos problemas já existentes. Veja https://habitacion.com/ (segundo o site, a empresa está “certificada como empresa emergente pelo Ministério da Indústria, Comércio e Turismo”).

[22] A clássica discussão terminológica e legalista sobre se é ou não um direito fundamental tem sido usada como digressão para simplesmente não atendê‑lo. Será que não é fundamental um direito sobre o qual outros se fundamentam, ou sem o qual outros não são possíveis?

[23] Sempre por meio de um grande número de perdedores, investidores que fracassam e se arruinam, por vezes de forma dramática, e que não fazem parte de nenhuma das narrativas de sucesso do capital.

[24] Retomando aqui a citação de Marina Garcés que Pelegrín e Pérez nos presenteiam neste número: “Emancipação é aprender a viver juntos, sendo, porém, condição poder pensar esta vida cada um por si mesmo” (Garcés 2021, 28).

[25] Sejam realistas, peçam o impossível.

[26] Eu as chamaria de “utopias secularizadas”, na medida em que atribuem toda a responsabilidade pelo progresso aos desejos de justiça […] O seguidor da utopia secularizada […] vislumbra as utopias vindouras brotando do acúmulo de propostas ambiciosas e concretas, sem descartar o surgimento de descontinuidades, saltos ou involuções ao longo do processo. […] trata-se de um sonho factível, compatível com sonhos mais radicais (Martorell Campos 2020, 26-27).

[27] Vale a pena alertar que, possivelmente, são também aquelas que, por serem mais diferentes e novas, são mais apetitosas para serem revertidas e instrumentalizadas pelo próprio capitalismo, a seu favor. É importante estarmos atentos a isso, e nunca é demais repetir.

[28] Realismo distópico. Ou como a produção cinematográfica convida à aceitação do presente.

[29] O arquiteto curioso.

[30] Emancipação e arquitetura a partir da moradia operária. Apontamentos genealógicos do conceito de habitar na arquitetura.

[31] Evolução e atualização das cooperativas de moradia no Uruguai: A propriedade coletiva, a autogestão e o apoio.

[32] O Bang coreano entre o público e o privado: uma moradia atomizada como emancipação da moradia normativa.

[33] A discussão apareceu nas revisões, que os autores gerenciaram com determinação e ousadia.

[34] Aos ombros de mulheres: transformação de um espaço imobiliário em um bairro de cuidados.

[35] Domesticidades celulares: Lições de A Cidade no Espaço e sua relevância nos debates contemporâneos sobre habitação coletiva e flexível em Barcelona

[36] Unidad A e Unidad B em Berlin Masque. Moradias para uma transformação cultural.

[37] Investigação e prática nas margens da regulação normativa das siedlungen do pós‑guerra na região Reno‑Meno.

[38] A qualidade desse patrimônio, muitas vezes incompreendido, varia muito em diferentes países, mas no caso escolhido, sob influência recorrente de Ernst May, estaríamos nos referindo quase ao seu cânone.

[39] Mais moradia com menos arquitetura. Sem aditivos. Uma estratégia participativa que redefine a relação entre o morador e o espaço que ocupa, impulsionando um modelo de habitação frugal, sustentável e, portanto, emancipador.

[40] De ferramenta produtiva a máquina de habitar. Estratégias para a reconversão do patrimônio industrial em desuso em habitação pública.

[41] A habitação em Barcelona: uma problemática estrutural de longa duração.

[42] Alargamos a citação até este esclarecimento final, claramente intencional em sua divisão em dois períodos do franquismo, sem o qual não há compreensão correta do mesmo.

[43] A regeneração da habitação social como alternativa ao problema atual da habitação. A Zona Norte de Granada como estudo de caso.

[44] Alguns dos principais ingredientes da crise anterior.

[45] Em outro lugar tratamos até de casos em que um deterioro negligente ou intencional pode ser usado como preparação para uma onda especulativa ainda mais irresistível e rentável” (Minguet Medina 2022; ver também Benach 2021). Em matéria específica de reabilitação integral, é particularmente claro o caso de Park Hill, em Sheffield, onde moradias simbólicas da marginalidade urbana se converteram, por meio de reabilitação, em um bairro trendy.

[46] Decreto 1/2012, de 10 de janeiro, que aprova o Regulamento Regulador dos Registros Públicos Municipais de Demandantes de Habitação Protegida e altera o Regulamento de Habitações Protegidas da Comunidade Autónoma da Andaluzia.