¿Qué hacer cuando el mar cuida nuestro estaño y latón?

What to do when the sea takes care of our pewter and brass?

Elisa Frias-Bulhosa

Universidade do Porto. Portugal
ORCID: 0009-0005-9862-099X
up201805494@edu.letras.up.pt

Resumen:

Este artículo aborda el estudio de la colección de objetos metálicos de una colección que resulta del hallazgo de un naufragio de la Edad Moderna. A través del inventario de los objetos objeto de estudio se desarrolló un análisis formal, funcional y social. Se pretende poner de relieve el escaso estudio dedicado a los objetos de latón y, con especial énfasis, de estaño en Portugal, además de diseccionar las metodologías utilizadas internacionalmente y documentar la discrepancia de información entre los diferentes contextos científicos que se han dedicado al tema.

Palabras clave:

Historia del Arte; naufragio; objetos de metal; Era Moderna; Esposende (Portugal).

Abstract:

This article deals with the study of the collection of metal objects in a collection resulting from the discovery of a shipwreck from the Modern Age. Through the inventory of the objects under study, a formal, functional, and social analysis was developed. The aim is to highlight the scarce study dedicated to brass objects and, with special emphasis, pewter objects in Portugal, in addition to dissecting the methodologies used internationally and documenting the discrepancy of information between the different scientific contexts that have been dedicated to the subject.

Keywords:

Art History; shipwreck; metal objects; Modern Age; Esposende (Portugal).

Fecha de recepción: 31 de diciembre de 2024.
Fecha de aceptación: 17 de febrero de 2024.

Cómo citar este trabajo / How to cite this paper:
Frias-Bulhosa, Elisa. 2024. “¿Qué hacer cuando el mar cuida nuestro estaño y latón?”. Laboratorio de Arte 36:, pp. 141-165.

© 2024. Elisa Frias-Bulhosa. Este es un artículo de acceso abierto distribuido bajo los términos de la licencia Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0. International License (CC BY-NC-SA 4.0).

Introdução

Durante o inverno de 2014, a praia de Belinho, em Esposende (Portugal), foi cenário de um importante achado de um conjunto de madeiras, de objetos de metal, concreções ferrosas e pelouros em pedra que foi arrojado pelo mar. Provenientes de um naufrágio da Idade Moderna que terá ocorrido naquela zona há centenas de anos, este marcante achado contribuiu para o enriquecimento do património cultural ibérico. Nos últimos anos, o município de Esposende tem desenvolvido vários esforços no sentido de compreender, salvaguardar, divulgar e valorizar estes objetos patrimoniais que atualmente se encontram no Centro Interpretativo de São Lourenço em Esposende.

Este artigo concentra-se nos objetos executados em estanho e em latão, nomeadamente 200 peças de estanho e 13 de latão. De facto, no achado de Belinho, as peças em estanho distinguem-se em número, sendo que 428 objetos inventariados são executados em estanho1.

Durante a Época Moderna, o estanho e o latão dominavam a produção dos objetos do quotidiano. Apesar de o seu uso para estes fins existir desde a Antiguidade, floresceu extraordinariamente nos séculos XVI ao XVIII em substituição da madeira, da pedra e de materiais orgânicos, como o osso, por o metal se tratar de um material mais higiénico, eficaz e resistente quando associado a objetos quotidianos de preparar comida, servir e comer2. O uso destes metais surge em primeiro lugar nas classes mais altas3, porém a partir de meados do século XVI chega às famílias de classes inferiores4, passando estas peças a serem consideradas como uma necessidade prática e funcional e não tanto como um luxo5. Segundo algumas interpretações, a valorização destes objetos enquanto um bem prático e indispensável justifica a sua produção cimentada na simplicidade das formas e não tanto na ostentação artística. A predominância do estanho e do latão, nestes usos, retrocedeu, no entanto, com a proliferação dos objetos em faiança, porcelana e vidro6.

Tratando-se de uma presença tão comum no ambiente doméstico quotidiano, os objetos utilizados diariamente em estanho e latão influenciaram a cultura visual de um tempo alargado. Por isso, os artistas modernos escolhem representar estas peças nas suas obras, o que nos leva a inferir sobre o valor social que lhes era atribuído, para além da relevância da sua utilidade prática. Considerando que os objetos do quotidiano são parte integrante do seu tempo, o estudo destas peças procura interpretar a evolução das formas, das técnicas, dos usos e dos valores que lhes eram atribuídos, além de traduzir o dia-a-dia de uma sociedade que ficou para trás.

Graças ao colecionismo dos séculos XIX ao XXI, percebemos que, quando estes objetos não estão incorporados no seu tempo, continuam a ser valorizados. Passam a suscitar um interesse diferente, despertando o reconhecimento dos valores artísticos e patrimoniais que atualmente lhes associamos. É, por isso, admirável a influência que estas peças têm na sociedade contemporânea, espelhada no desenvolvimento de um ramo do colecionismo específico para o estanho e o latão que ainda hoje apresenta uma procura muito viva a nível internacional.

No entanto, o estudo dos objetos de quotidiano de estanho e de latão, no contexto científico e académico, é muito escasso. Não existe a necessária divulgação e compreensão destas peças, na perspetiva científica e também museológica. Tratando-se o achado de Belinho da descoberta de um acervo intocado durante séculos, deveria ser mais reconhecido e valorizado. De facto, o estudo de peças seculares está limitado àquelas que sobrevivem até aos nossos dias e, apesar de haver muitos objetos do quotidiano preservados de geração em geração, são escassas as peças anteriores ao século XVII7. Tal se deve às práticas de fundição, de alteração e de descarte8 dos objetos antigos ou gastos. De facto, era muito comum o metal que estrutura um objeto de quotidiano ser fundido para a criação de uma nova peça, além de que os objetos de metal poderiam ser remodelados e atualizados aos novos gostos formais e estilísticos9. É neste sentido que se deve valorizar intensamente o achado de Belinho, por proporcionar as condições para o estudo de um acervo da Idade Moderna preservado no mar e intocado pela mão-humana durante séculos.

Compreende-se, assim, a utilidade científica de desenvolver uma investigação centrada em objetos de estanho e de latão. O âmbito da nossa pesquisa partiu do achado de Belinho e enquadra-se num objeto de estudo muito pouco explorado na tentativa de criar um incentivo para o avolumar da investigação nesta área. Tendo em conta esse objetivo, desenvolveu-se uma investigação que não só produziu conhecimento formal e técnico sobre as peças de latão e estanho do achado de Belinho, como também abordou a componente sociológica da mesma, refletindo sobre as abrangências geográfica, temporal e funcional, partindo da observação dos objetos e da sua contextualização histórico-social.

Problematizações prévias

Não existindo quase produção literária sobre a componente artística e sociológica destas peças sob as perspetivas da História da Arte, do Património e da Cultura Visual, reconhece-se como urgente a necessidade de desenvolver estudos focados em objetos de quotidiano em estanho e latão, contextualizando-os e relacionando-os, com as formas e funções que os objetos conheciam, bem como com o valor que lhes era atribuído socialmente.

A publicação de Van Zeller, de 1985, é única, no sentido em que reúne num só documento variada informação sobre os diferentes temas e subtemas que o estudo do estanho poderá desencadear. Ensina a interpretar os objetos a partir da observação e faz considerações a nível formal, técnico e funcional, para além de uma descrição e contextualização. No entanto, esta publicação não motivou o desenvolvimento deste âmbito temático no contexto científico português, apesar de clarificar o potencial que este assunto tem e a falta de produção científica que se reconhece. O autor expõe que

Apesar de existirem alguns trabalhos sobre a louça de estanho portuguesa publicados em várias revistas, a sua história encontra-se por fazer. Poucos são os artífices conhecidos, assim como diminutas as informações sobre os locais onde trabalharam, as cidades que possuíram marcas ou punções e principalmente a forma que tiveram os objetos. […] Mas todos estes elementos e alguns mais, espalhados por numerosos documentos, não nos elucidam sobre a arte em si, isto é, sobre a forma como eram fabricados os moldes, quais os formatos da louça de estanho e principalmente a nomenclatura das variadíssimas peças10.

A dissertação de mestrado de Sarah Brigadier concentra-se numa seleção de objetos de estanho achados em Portugal, em São Julião da Barra, sugerindo que a sua produção é portuguesa. Nesta publicação, são feitas considerações acerca da falta de estudo que este tema recebe. A autora reconhece como principais entraves ao desenvolvimento desta temática o facto de, diferentemente do resto da Europa, até ao século XVII raramente os fabricantes portugueses marcarem os seus objetos. Por outro lado, o terramoto de 1755, em Lisboa, destruiu muitos documentos que serviriam de fonte para o estudo do estanho português11. No entender da autora, estas duas circunstâncias são tidas como “dead ends for research on the topic”12.

O achado de Belinho é tratado em algumas publicações produzidas pela equipa que investiga a descoberta e o seu acervo. Contudo, o âmbito destes estudos não se particulariza nos objetos de estanho e de latão, abordando a totalidade do achado de uma forma mais geral. Para além disso, não é atribuída uma perspetiva de matriz da História da Arte ou do Património, mas da Arqueologia. Por isso, nestas publicações sobre Belinho, opta-se por desenvolver o contexto do achado, as metodologias de intervenção, entre outros temas, sem se aprofundar as questões artísticas e sociológicas do espólio achado. Não obstante, a consulta destas publicações foi fundamental para se compreender a informação já produzida sobre a coleção em geral. Desta consulta, os artigos Filipe Castro, 2015, Ana Almeida et al, 2017-2022 e Adolfo Martins/Filipe Castro/Nigel Nayling, 2017 destacam-se das restantes publicações no que toca à revisão da literatura necessária para a nossa investigação.

Na procura por uma metodologia de análise de objetos de metal produzidos durante a Época Moderna sob a perspetiva da História da Arte, consultou-se as obras de Ana Sousa, 1997; 2010 e Joana Martins, 2010. Esta leitura foi fundamental, pois as três publicações exploram o ofício do trabalho em metal, os processos de fabrico, as técnicas mais comuns de serem empregues e os usos funcionais, sociais e simbólicos dos objetos. No caso de Joana Martins, a autora centra-se especificamente no estudo dos pratos e das bacias de latão, porém, a autora Ana Sousa trata um muito mais amplo leque de tipologias de objetos e materiais. Aquando do levantamento de bibliografia do âmbito do Estudo dos Objetos, reconheceu-se que não há abundância de estudo de peças executadas em metal, privilegiando-se outros materiais, especialmente a cerâmica. Apesar de poderem esclarecer, de forma muito geral, as tipologias de objetos mais comuns e os seus usos na Idade Moderna, não dão resposta às especificidades associadas aos objetos de metal. Novamente, confrontamo-nos com a escassez de conhecimento produzido a priori sobre peças produzidas em estanho e latão.

De seguida, levantou-se bibliografia que tratasse especificamente no estudo dos objetos do quotidiano da Idade Moderna produzidos em estanho. Neste âmbito, levantaram-se obras de duas naturezas complementares. Primeiramente, publicações que de forma mais ou menos geral divulgam conhecimento sobre objetos modernos em estanho e latão, desenvolvendo as suas tipologias formais, as técnicas de produção, os usos e os valores sociais que lhes eram atribuídos ao longo do tempo. Em segundo, procurou-se textos que partissem de uma seleção de objetos de estudo descobertas num semelhante contexto ao do achado de Belinho, isto é, peças do quotidiano moderno executadas em estanho ou latão achadas por escavação ou provenientes de um naufrágio.

Reconhecendo-se rapidamente a escassez de estudos ibéricos dedicados ao tema, optou-se necessariamente por realizar um levantamento bibliográfico de âmbito internacional. Como referido, o país que mais produz e divulga conhecimento sobre objetos de estanho é Inglaterra e, por essa razão, a maior parte das obras consultadas sobre este campo de estudos são inglesas. Neste sentido, tomaram-se essenciais os estudos de William Redman, 1903; Malcom Bell, 1906; Massé, 1910, 1915, 1921; Fred Burgess, 1921; Shirley Gotelipemiller, 1990; Rosemary Weinstein, 2011. Estes autores construíram uma muito clara imagem sobre a produção de objetos de estanho; as tipologias e as formas, o seu valor social, tanto enquanto objeto funcional, como enquanto objeto colecionável; o seu valor económico; os seus usos e possíveis funções e a sua muito valorizada presença no quotidiano ao longo do tempo. Independentemente da coletânea acima citada se concentrar no estanho inglês e no estanho inglês exportado para as colónias americanas, muita da informação poderá ser válida para os objetos de estanho achados em contexto português, principalmente se se tiver em conta que Inglaterra era dos maiores centros produtores e exportadores de estanho13 e que a Península Ibérica era um dos maiores importadores do estanho inglês até ao final do século XVI14.

Na continuação da procura por publicações que se dediquem ao presente tema, consultou-se duas publicações periódicas que, concentradas unicamente em peças executadas em estanho, principalmente ingleses e norte-americanos, condensam muita informação dentro de um amplo leque temático e cronológico. Trata-se de The Pewter Society’s Journal e The Bulletin – The Pewter Collectors Club Of America Inc. Note-se que os artigos que integram estes periódicos são redigidos pelos membros das duas sociedades que, pelo que se entende, são na sua maioria colecionadores e amadores de estanho.

Relativamente à procura de achados semelhantes aos do naufrágio de Belinho, merece menção Catheryn Wadley, 1985; Shirley Gotelipe-Miller, 1987, 1990; Filipe Castro, 2000; Sarah Brigadier, 2002; Rosemary Weinstein, 2011 e Martin Roberts, 2013. Somente as publicações de Filipe Castro e de Sarah Brigadier tratam um achado português, originário de uma embarcação naufragada em São Julião da Barra, em Lisboa, que conta com um numeroso espólio em estanho. Infelizmente, não se deu continuidade ao estudo das peças em estanho encontradas. No caso de Weinstein e Gotelipe-Miller, não se conhece mais nenhuma publicação. Sabe-se que Roberts terá publicado um artigo, em 2014, sobre este tema, porém não se conseguiu acesso ao mesmo, devido ao facto de integrar uma publicação periódica de The Pewter Society, a qual exige a sua compra para se poder consultar.

De modo a complementar a informação adquirida através da leitura das obras supracitadas, foram levantados inventários ou catálogos de objetos de estanho. Neste sentido, cita-se Jan Gadd; John Richardson; Michael Boorer, 2000; Anthony North, 1999; Bonhams, 2010; Patricia Neish, 2018. Infelizmente, não se acrescenta à lista o catálogo da coleção de estanho do London Museum15, uma vez que não foi possível ter acesso à obra.

Paralelamente, realizou-se um levantamento de bibliografia de um âmbito mais específico e que se concentrasse numa só das tipologias em estudo. É o caso de Hilton Price, 1908; Ronald Homer, 1980 e Catheryn Wadley, 1985 para o estudo das colheres de estanho; Ron Michaelis, 1949 e Peter Hayward/Mike Marsden, 2015; 2016, relativamente a escudelas de estanho; Massé, 1909; Alexander Curle, 1926; Richard Neate, 1928; Howard Coterell, 1934 e Jan Gadd, 2001, específico para os castiçais de latão; Ana Sousa, 2010 e Joana Martins, 2010, esclarecedor para a análise das bacias de latão, e Antonia Herradón, 2008; 2018a; 2018b; André Teixeira/Luís Gil, 2011; Carlos Boavida, 2011, 2016; Jean Soulat/John de Bry, 2019; Aleksandra Kulesz/Jakub Michalik, 2020, especificamente para o estudo de fivelas da Época Moderna.

Por fim, outra temática que exigia um levantamento de publicações específicas foi o estudo das marcas encontradas nos objetos de estanho. Esclarecedor sobre as formas, a função, o valor e sobre a história destas marcas são Jan Gadd, 1998; 1999; Maximilian Hagnauer, 1948; Carl Ricketts/John Douglas, 1994 e Carl Ricketts, 2007; 2008. Para além destes artigos, encontra-se muita informação sobre este tema ao longo de Malcom Bell, 1906; de Massé, 1915, 1921 e de Shirley Gotelipe-Miller, 1990; no capítulo 6 de Rosemary Weinstein, 2011 e no capítulo 4 de Martin Roberts, 2013. De modo a complementar este processo de compreensão da história das marcas dos objetos de estanho, levantou-se alguns inventários de marcas, com o objetivo de se encontrar ilustrações com uma forma semelhante às marcas encontradas no achado de Belinho. Neste sentido, consultou-se Howard Coterell, 1934 e Richard Mundey, 1991, inventários de marcas em objetos de estanho de produção inglesa, e Erwin Hintze, 1921a, 1921b, 1923, 1926, 1927, 1928, 1931, relativo à produção alemã e suíça. Nestes inventários, para além de constar o desenho das várias marcas levantadas pelos autores, incluiu-se também toda a informação que lhe foi possível associar, tal como o nome do autor e alguns pormenores biográficos, a sua geografia e cronologia de produção e em que tipologias de objetos a marca em questão foi puncionada.

Uma outra necessidade reconhecida rapidamente foi a de contextualizar os objetos em estudo, a nível histórico, social, económico e comercial. Por um lado, tal implicou a consulta de várias publicações de Amélia Polónia e de Amândio Barros, a fim de compreender relações comerciais internacionais, os portos comerciais e a construção e ciência náuticas que Portugal dispunha na Época Moderna. Por outro lado, sentiu-se a necessidade de aprofundar o entendimento dos objetos em estudo a nível funcional e social e de os saber integrar nos costumes e tradições à mesa da Época Moderna. Para tal, consultou-se Ana Isabel Buesco, Hugo Miguel Crespo, Annemarie Jordan Gscwend e Juan Marsilla.

Metodologia

Face às problematizações prévias que o estudo de objetos do quotidiano moderno, executados em metal, tem recebido, definiu-se os principais objetivos desta investigação numa tentativa de colmatar as falhas enumeradas no ponto anterior, principalmente a falta de cruzamento das diferentes fontes. Neste sentido, a partir da análise do achado de Belinho, pretendeu-se compreender este conjunto de objetos patrimoniais, sob a perspetiva da História da Arte, dos Estudos Patrimoniais e da Cultura Visual, de modo a abranger a sua produção, usos e valores. Para além disso, criou-se um alicerce para uma futura divulgação e comunicação dos objetos em estudo e da respetiva informação científica recolhida e contribui-se para o reconhecimento da importância deste património cultural. Nesta perspetiva, constata-se a importância de proteger e preservar este património; de cultivar o interesse e o apreço da comunidade a que pertence atualmente e motivar a cooperação entre as instituições científicas e profissionais com a entidade responsável pelos objetos. Ciente da importância de que a pesquisa, a informação e a educação se revestem para a proteção e preservação do património cultural, tal ação cultivará o interesse e o apreço da comunidade e motivará a cooperação entre as instituições científicas e profissionais com a entidade responsável pelos objetos. Entende-se que este último propósito está intrinsecamente articulado com o objetivo de contribuir para o desenvolvimento de uma comunidade de agentes patrimoniais educados e ativos (Figura 1).

Figura 1. Esquema da metodologia aplicada na presente investigação, Elisa Frias-Bulhosa.

A metodologia utilizada concentra-se nas quatro esferas acima representadas. Complementando a informação que era conseguida durante a observação dos objetos, foi-se avançando com a leitura da bibliografia. Note-se que as bibliotecas nacionais e as suas bases de dados não serviram suficientemente os interesses da investigação. Deste modo, privilegiou-se a bibliografia estrangeira. Como fontes visuais, levantou-se obras produzidas durante a Idade Moderna que representassem as tipologias de objeto em estudo. De facto, sendo estes objetos tão comuns no ambiente doméstico moderno, os artistas optam por os integrar nas suas obras, revelando, assim, a importância que estes tiveram na cultura visual deste tempo. Neste sentido, a procura por representações das peças em estudo permite testemunhar a evolução formal que a tipologia de objeto sofreu e os vários usos que lhe eram atribuídos. Também se levantou objetos em contexto museológico formalmente semelhantes às peças em estudo. A consulta das suas fichas de inventário, disponibilizadas em-linha, proporcionou o acesso à informação facultada pela instituição referente ao contexto espacial e temporal de produção, à denominação da tipologia, entre outros aspetos. Deste modo, através de uma metodologia comparada entre esses objetos musealizados e as peças achadas em Belinho, torna-se possível averiguar se alguma informação será válida para o achado de Belinho ou não. Os sítios em-linha dos museus e bases de dados em que se realizou a pesquisa e levantamento de objetos e de imagens artísticas foram: Victoria and Albert Museum, Museum Boijmans Van Beuningen, Louvre, The Metropolitan Museum of Art, Rijksmuseum, The British Museum, Museum of Fine Arts Boston, The National Gallery, Museo Nacional del Prado, Museu Nacional de Arte Antiga, The Mary Rose, Vasamuseet, Google Arts and Culture, Web Gallery of Art, MatrizNet e inventário em-linha de Bens Culturais da Igreja que inclui os inventários da Arquidiocese de Braga, Arquidiocese de Évora, Diocese de Lamego, Diocese do Porto, Diocese de Viana do Castelo e Tesouro-Museu da Sé de Braga.

Casos práticos e dificuldades

Falta de atualidade das publicações e os seus contextos de produção

Durante as pesquisas bibliográficas realizadas, percebeu-se que as publicações mais acessíveis são as mais antigas e que, por isso, o tema em estudo carece de fontes atualizadas e sistemáticas. Neste sentido, reconhece-se que estas fontes datadas constituem um risco, se analisadas e interpretadas como fontes inteiramente adequadas no contexto académico atual. Primeiramente, uma grande parte desta bibliografia foi produzidas no início do século XX, um período de sobrecategorização no campo da História da Arte, que resultou, em alguns casos, na definição de um conjunto de grupos ou de classificações dogmáticos. Em segundo, pressupõe-se que, desde a publicação dessas obras, o conhecimento relativo aos objetos de estanho tenha sido atualizado. Aproveita-se para questionar o porquê de não haver acesso a obras mais atualizadas. De facto, as publicações mais recentes são consultadas somente através da sua compra. Tendo em conta que um dos maiores motores de divulgação sobre objetos de estanho é uma Sociedade inglesa, a informação que divulga só é consumida pelos membros inscritos. Neste sentido, deixa-se a recomendação de que, para se desenvolver uma investigação sobre estanho sob o ponto de vista do Estudo dos Objetos, uma subscrição na The Pewter Society é um recurso essencial para se garantir acesso a uma importante quantidade de informação.

Aquando do levantamento bibliográfico, compreendeu-se que o maior recurso de conhecimento e de estudo sobre objetos de estanho é produzida no Reino Unido, principalmente graças às instituições The Pewter Society16 e Pewterbank17, motoras de uma produção e de uma divulgação de conhecimento em grande escala. Contudo, a nível metodológico e de qualidade académica, há alguns riscos a ter em conta. Os artigos publicados por estas instituições são escritos e direcionados a colecionadores amadores de estanho. Desde já, reconhece-se que a prática de colecionismo de estanho impulsiona a produção e divulgação de conhecimento. Não obstante, aos olhos do contexto científico, as metodologias aplicadas e os métodos de seleção de objetos de estudo, de observação e de reflexão estão desatualizadas e, por isso, suscitam desconfiança aquando da sua leitura. Por um lado, o olhar de um colecionador poderá ser muito especializado para a compreensão de uma certa tipologia de objetos e, por isso, o seu conhecimento poderá ser uma mais-valia. Por outro lado, é um risco basear uma investigação nessas mesmas obras, pois não se deve ignorar o facto de não se tratar de uma perspetiva científica, com metodologias e objetivos cientificamente desenvolvidos. Exemplifica-se com o caso da publicação de Hilton Price de 1908 que, apesar de apresentar muitas conclusões a partir do seu conhecimento sobre colheres de estanho, fundamenta este estudo numa seleção de objetos cujo critério não deve ser considerado academicamente válido. A sua seleção de objetos de estudo constituiu a sua própria coleção e a coleção de um seu amigo, também connoisseur do tema. Entende-se, por isso, que se trata de uma seleção de objetos reduzida e limitada. Daí que é oportuno qualquer leitor desta publicação questionar o processo de categorização e classificação dos objetos em estudo e se os resultados apresentados por Price são rigorosamente válidos.

Após se contextualizar a formação dos autores das obras levantadas, reconhece-se que estes não são formados na História da Arte, predominando as áreas da Arqueologia na sua maioria e, muitos outros, tratando-se meramente de conhecedores e colecionadores de estanho. Naturalmente, o conhecimento técnico de um arqueólogo ou de um connoisseur do tema é diferente de um historiador de arte e, por isso, estes não podem dar resposta às perguntas e às metodologias que um historiador de arte procura. Daí que seja essencial o cruzamento de várias áreas científicas e de vários tipos de conhecimento que, de maneira complementar, acrescentem um novo e diversificado valor ao objeto em estudo. Um caso a sublinhar é o de Martin Roberts, dedicado ao estudo do achado de Punta Cana, que possui como formação de base a Geografia e uma pós-graduação em Arqueologia, concentrando-se nos métodos de prospeção geomagnética, na análise XRF, entre outros18. As suas publicações são uma essencial contribuição, porém aponta-se para a falta de metodologias de observação e de descrição dentro do domínio do Estudo dos Objetos integrados na área da História da Arte. Por conseguinte, conclui-se que, em todos os contextos geográficos, se nota a falta de estudar o tema dos objetos de estanho sob as perspetivas que a História da Arte potencializa e aplicando as metodologias científicas específicas da área, por técnicos formados especificamente neste ramo.

Relativamente à tentativa de contextualização social, económica e comercial dos objetos em estudo, reconheceu-se a escassez de atenção atribuída às peças em metal, uma vez que os produtos de maior foco neste campo de estudo são as especiarias, a cerâmica, os escravos, entre outros. Sobre os objetos de metal, há uma preferência por explorar a importação de mão-de-obra, especialmente vinda do Norte da Europa para Lisboa, e não tanto a importação dos objetos em si.

Apesar dos obstáculos reconhecidos, persistiu-se num exaustivo levantamento bibliográfico. Compreendeu-se que, além de se duvidar da veracidade dos factos e da informação contida e de se notar fragilidades nas metodologias de investigação empregues e nas hipóteses que os autores constroem, a consulta das fontes levantadas revela uma enorme dispersão da informação pelos diferentes contextos geográficos de produção. Neste sentido, constata-se a inexistência e, consequentemente, a necessidade de um cruzamento de conhecimento gerado pelos diferentes autores nesses diferentes contextos. Esta dispersão e esta falta de cruzamento das fontes fragiliza a investigação e pode gerar ambiguidade, equívocos, imprecisões e, como verificamos, informação contraditória quando se compara textos de diferentes autores ou quando se confronta informação conseguida em texto e objetos levantados, tanto de estanho musealizados como outros suportes artísticos que incluam uma representação de objetos de estanho. Por conseguinte, tal gera hesitação na construção de reflexões, de conclusões e de hipóteses. Não obstante, considerando que o presente trabalho foi construído com base nas informações levantadas, tratando-se estas das problematizações e das investigações prévias do estudo dos objetos de estanho, foi necessário partir dos factos e da informação aí tratados e desenvolvidos. No entanto, atende-se sempre às fragilidades e hesitações que as suas leituras levantam.

Por fim, desenvolve-se uma crítica aos estudos prévios específicos ao achado de Belinho, publicados pela equipa de investigação. Estes concentram-se especialmente no estudo das madeiras estruturantes da embarcação e não tanto no seu espólio, apesar de serem feitas considerações sobre estes objetos. Após a sua leitura, compreende-se que a datação do naufrágio, da construção da embarcação e do fabrico dos objetos a bordo é inconsistente ao longo dos anos. Os elementos que mais contribuíram para a datação do achado foram as madeiras do barco e a artilharia que este possuía. Relativamente à construção da embarcação, é dito que esta é característica das embarcações ibéricas dos séculos XVI ao século XVII19, excetuando um artigo no qual se alarga a baliza temporal entre os séculos XV ao XVII20. Relativamente à artilharia, lê-se que terá sido produzida na primeira metade do século XVI21, além de que a forma da colubrina octogonal só tem um paralelo formal e este respeita a uma nau de 153322. Reconhecendo estas informações, segue-se para a análise das datações propostas ao longo do tempo. Nas primeiras publicações, do ano 2015, lê-se que a coleção tratar-se-á de uma produção de meados do século XVI23 ou que o navio terá sido construído no século XVI ou inícios do século XVII e que os objetos a bordo seriam também do século XVI ou XVII24. Num artigo do ano seguinte, especifica-se que a embarcação terá sido produzida entre os anos 1580 e 164025, sem reflexões relativamente ao restante espólio. Em 2017, conclui-se que o achado terá sido produzido no século XVI ou XVII26, especificando-se a baliza temporal entre o último quartel do século XVI e o primeiro do século XVII27. Na publicação mais recente, de 2022, reflete-se acerca da datação especificamente dos objetos de metal. Lê-se que a marca do martelo coroado indica que os objetos de estanho que a possuem são do século XVI e que os pratos de latão achados foram datados entre 1520 e 158028. Nesse texto, chega-se à conclusão que uma parte dos objetos, incluindo o armamento, indicam uma cronologia da primeira metade e de meados do século XVI29.

Após a leitura destas fontes, reconhece-se o risco que é especificar uma datação quando não existe o alicerce teórico necessário para a suportar. Neste seguimento, compreende-se que um estudo mais aprofundado dos objetos de metal poderá corroborar a datação definida, sugerir uma outra ou sustentar a noção de que ainda não existe informação suficiente sobre o achado para prosseguir com tal objetivo.

Falta de cruzamento entre diferentes autores e entidades e entre fontes de diferentes naturezas

Uma das mais notórias necessidades que o presente âmbito temático precisa de prevenir é a necessidade de combater a discrepância de informação sobre objetos de estanho e de latão que há entre diferentes contextos geográficos, entre diferentes autores e entre a informação produzida na bibliografia e aquela que é divulgada nos equipamentos museológicos. Como mencionado, a intenção foi analisar os objetos em estudo sob uma leitura comparativa entre a observação das peças achadas em Belinho, a leitura da bibliografia levantada sobre o tema, o levantamento de objetos musealizados formalmente semelhantes aos objetos em estudo e a informação associada a estes e, por fim, representações da Idade Moderna de peças formalmente semelhantes. De facto, o confronto entre estas quatro esferas permitirá conhecer de forma mais completa e aprofundada evolução formal, técnica, funcional e social das peças em estudo. Contudo, após a análise das problematizações prévias, reconhece-se que esta metodologia nunca tinha sido aplicada de forma sistemática e aprofundada.

Toma-se como exemplo o estudo realizado com a tipologia do prato de estanho. Entre o achado de Belinho reconheceu-se duas tipologias formais. A mais comum corresponde a pratos fundos ou semi-fundos, de fundo em ônfalo, com uma aba larga ou ultra-larga e de bordo dobrado. Na língua inglesa, esta categoria define-se como “broad rimmed pewter”30 (Figura 2).

Figura 2. Prato de aba ultra-larga e fundo em ônfalo, século XVI-XVII, Centro Interpretativo de São Lourenço, Câmara Municipal de Esposende, ME.ARQ.SUB.0031.

A segunda categoria, de menor número, trata-se de pratos rasos, sem profundidade, de aba semilarga e de bordo em aro. Na língua inglesa, trata-se de “narrow rimmed plates with broad flat bases”31 (Figura 3).

Figura 3. Prato raso de aba semi-larga, século XVI-XVII, Centro Interpretativo de São Lourenço, Câmara Municipal de Esposende, ME.ARQ.SUB.0075.

Relativamente à datação destas duas tipologias formais, os diferentes autores concordam nas balizas temporais que se têm vindo a construir. Por outras palavras, parece ser coerente que a categoria dos pratos fundos de aba larga se enquadra nos séculos XVI e XVII32, ou especificando como Weinstein o fez, entre 1530 e 167033. Apesar de esta baliza temporal parecer ser consensual, North menciona dois pratos de aba larga, de covo em ônfalo e de bordo dobrado produzidos aproximadamente em 140034. Tal facto propõe a existência desta forma anterior à datação supracitada. Relativamente à forma do prato raso de menor aba, esta domina a partir do último quartel do século XVII ou mais especificamente, segundo Weinstein, a partir de 167035.

Neste ponto, confrontamo-nos com o primeiro impasse no processo de datação dos pratos de estanho achados na praia de Belinho. Como poderá uma parte do achado de Belinho ser datada entre 1530 e 1670 e uma outra ser datada posteriormente a 1670, quando todos eles são transportados por uma mesma embarcação e, por isso, paradoxalmente estarem todos eles no mesmo lugar ao mesmo tempo?

Atente-se que o achado de Belinho não é a única coleção de objetos que contradiz a veracidade e a adequação das balizas temporais tratadas. Também os achados de Punta Cana, tratado no relatório feito por Martins Roberts (2013), e o de São Julião, estudado por Filipe Castro (2000) e Sarah Brigadier (2002), confirmam a sobrevivência das formas para lá das balizas que autores anteriores criaram. Em segundo, imagens artísticas da Época Moderna que incluem representações de objetos do quotidiano de estanho, e objetos de estanho moderno musealizados, também nos fazem questionar as balizas temporais que limitam as características formais de um objeto (Figuras 4 y 5).

Figura 4. Esquema com o levantamento de objetos musealizados formalmente semelhantes, Elisa Frias-Bulhosa.

Figura 5. Esquema com o levantamento de representações modernas de objetos formalmente semelhantes, Elisa Frias-Bulhosa.

Esta seleção de objetos e de imagens da Época Moderna é suficiente para compreender que as balizas temporais definidas nas últimas décadas e divulgadas pelos vários autores referidos na lista de bibliografia consultada não são válidas, uma vez que recorrentemente encontramos pratos de fundo em ônfalo posteriores ao século XVI, além de se reconhecer uma enorme variedade de proporções que as abas, a profundidade do covo e o diâmetro total do objeto podem tomar. Curiosamente, as casas de bonecas, datadas dos séculos XVII e XVIII, esclarecem muito rapidamente sobre a convivência das formas. As suas cozinhas, que são um reflexo das do seu tempo, apresentam lado a lado pratos rasos ou fundos, de aba curta ou larga e com fundo em ônfalo ou raso.

Incitando à reflexão, lê-se a seguinte citação

Since the available dating schemes have been compiled from flatware survived in attics, or have been passed down through generations as keepsakes or “collector’s items”, it is felt that these are biased towards the more remarkable examples of pewter manufacture, and that everyday utilitarian wares are not well represented. Indeed we may see a Shift in existing dating horizons as more archaeological pewter is recovered36.

Em conclusão, questiona-se o porquê de se persistir em datar objetos modernos executados em estanho com base nos sistemas para já definidos, uma vez que rapidamente se reconhecem estes sistemas como inapropriados à realidade da produção de peças para uso quotidiano da Época Moderna. Neste sentido, toma-se necessário o desenvolvimento de novos alicerces teóricos que permitam datar estes objetos com maior veracidade, depreendendo-se que a sobrecategorização das formas e a tendência para a datação dogmáticas dos objetos de estanho não são adequadas à realidade do seu fabrico durante a Época Moderna. Por isso, não é apropriado seguir escrupulosamente as balizas limítrofes que têm vindo a ser definidas e dogmatizadas. Neste sentido, a presente investigação confirma a coexistência de duas formas que, ao longo das últimas décadas, eram consideradas como sendo temporalmente distantes e alerta para a necessidade de repensar as balizas cronológicas destes objetos. Para além disso, testemunha o quão vantajosa é a aplicação de uma metodologia comparativa entre objetos em estudo, bibliografia e objetos musealizados ou representados, na tentativa de se validar ou invalidar o conhecimento que é divulgado neste âmbito temático.

Apesar de Inglaterra ser um dos mais importantes centros de divulgação de objetos de estanho, denota-se, mesmo neste contexto geográfico, uma falta de atenção por parte dos equipamentos museológicos. Cite-se, como exemplo, o caso do Victoria and Albert Museum. A sua coleção é incontornável para uma investigação centrada no estudo das Artes Decorativas. Após uma pesquisa na sua base de dados em-linha, constatou-se que várias fichas relativas a objetos de estanho apresentam muita pouca informação acerca do objeto, incluindo somente uma superficial análise técnica e formal e a datação relativa do mesmo. Em muitos dos casos, ainda, não incluem reflexões acerca da origem geográfica, das marcas ou inscrições que o objeto possui e do seu valor funcional. Para além disso, um considerável número das fichas disponibilizadas em-linha não inclui uma imagem da peça. Semelhantes constatações poderão ser dirigidas a outros museus como o London Museum, o The British Museum, o Louvre, o Rijksmuseum, entre outros. Esta desvalorização patrimonial e museológica das peças do quotidiano moderno constitui mais uma de várias dificuldades que um investigador deste âmbito temático terá de enfrentar.

Uma última dificuldade a ter em conta centra-se na discrepância que existe na definição de um só vocábulo. Exemplificando, um autor utiliza a palavra saucer para se referir a um prato com menos de 16.5 cm de diâmetro, como é o caso de Gotelipe-Miller37, enquanto um outro chama saucer a um prato com 19cm de diâmetro, como Weinstein38. A seguinte tabela organiza algumas das definições que foram levantadas aquando da análise das diferentes fontes consultadas, evidenciando, assim, a discrepância e a discordância de informação entre os diferentes autores e as diferentes instituições dedicadas ao estudo do estanho.

39 40 Tabela 1. Definição do vocabulário relativo à categorização de pratos com base na sua dimensão no domínio científico mais atual, Elisa Frias-Bulhosa.

Além disso, não foi possível compreender o critério das instituições museológicas inglesas e americanas para a denominação das peças que as suas coleções possuem. Por vezes, uma só instituição opta pelo vocábulo dish e outras vezes plate sem se reconhecer um critério de diferenciação entre ambos. Por outras palavras, dois objetos formalmente semelhantes e de tamanho aproximado diferem entre estes dois vocábulos. Em suma, reconhece-se que não existe ligação entre a discussão linguística que tem vindo a surgir entre autores e as definições atribuídas pelos museus. Tais discordâncias linguísticas, que criam uma enorme ambiguidade que afeta necessariamente o entendimento de um certo objeto, deveriam ser rapidamente reconhecidas, a fim de se criar um mais coerente alicerce linguístico para ser possível desenvolver o estudo da tipologia do prato. Este deverá ser um desafio a valorizar no futuro.

A complexidade da produção oficinal da Época Moderna

Um dos maiores desafios que se reconhece neste âmbito temático é o de desmitificar a informação que, à medida que se foi desenvolvendo a presente investigação, se toma como inválida e inadequada à realidade da produção oficinal durante a Idade Moderna. De facto, reconheceu-se uma tendência para a sobrecategorização das formas que as diferentes tipologias de objetos conhecem e uma dogmatização na definição das balizas temporais de produção de uma só forma.

Primeiramente, deve-se compreender que uma tipologia formal não tem um fim quando se começa a produzir uma outra forma. Nas palavras de Wadley, “An old style did not simply disappear when a new type was introduced”41. Há bastantes e diversos fatores que contribuem para a sobrevivência de uma forma para lá do tempo que lhe é atribuído pela historiografia.

Após a compreensão dos métodos de produção destes objetos, surge a primeira reflexão que se centra nos moldes.

Surviving inventories show that these bronze moulds were the most valuable items in the workshop. It is clear that once an investment had been made in such moulds, there was no incentive to change a design. […] This is why pewter shapes became so traditional, continuing in production over many years42.

Esta afirmação de North é muito importante, pois compreende-se que, sobrevivendo um molde durante vários anos, também sobrevive a forma que este estrutura. Note-se que um molde não seria necessariamente utilizado numa só oficina, uma vez que os moldes poderiam ser emprestados ou copiados e, por isso, partilhados por diferentes locais de produção43. Para além disso, a Inglaterra exportava moldes para fabrico de objetos de estanho44. Tendo isto em consideração, entende-se que este sistema de partilha e de distribuição de moldes corresponde a mais uma maneira de divulgação e de sobrevivência das formas, podendo esta sobrevivência durar anos devido ao custo que acarretava a execução de um novo molde e à durabilidade dos antigos que, certamente, continuariam em uso.

Em segundo, era natural os objetos serem simplesmente descartados45 ou refundidos para aproveitamento do metal para a produção de uma nova peça. Outra solução seria remodelar, através da adição ou eliminação de elementos, para atualização da forma a um novo gosto ou estilo46. Exemplificando com o caso da produção da escudela durante a Idade Moderna, o covo e as suas asas poderão ser, originalmente, dois elementos independentes, pelo que se entende como possível que estes elementos tenham sido produzidos por duas mãos diferentes. Neste sentido, é possível identificar vários cenários que levem a que uma escudela seja, na verdade, uma produção inter-temporal. Em alguns casos, seria possível comprar uma tijela e soldar as asas posteriormente. Igualmente possível será encontrar escudelas de asas formalmente diferentes47. As possíveis circunstâncias são variadas. Neste seguimento, identifica-se um risco na datação de uma escudela através da sua forma, uma vez que, erroneamente, um investigador poderá datar a escudela como um todo, ignorando que os diferentes elementos poderão ter um contexto de produção temporal diferente entre si.

Outra questão estudada que demonstra a complexidade da produção oficinal moderna, ignorada pela historiografia contemporânea, trata-se do vocabulário utilizado hoje pelos estudiosos do tema e pelos equipamentos culturais. Primeiramente, Martin Roberts defende que a categorização das formas deveria ser mais apropriada à realidade moderna, através da análise de documentos do século XVI48, para reconhecimento terminologia do tempo de produção. Em segundo, durante a Idade moderna, a terminologia não era baseada nas dimensões dos objetos, mas sim no seu peso49. Por outras palavras, as formas de charger, platter, dish e saucer tinham de cumprir com um certo peso padrão50, questionamos se não seria mais válido manter a sua categorização centrada no peso e não no tamanho. Outra possibilidade levantada, após a leitura de Raymond (1947), centra-se na profundidade do covo dos pratos51.

Tendo em conta que foi apresentada uma lacuna na terminologia que tem sido desenvolvida atualmente, considera-se necessário rever o sistema linguístico e classificativo que os colecionadores e os estudiosos têm aplicado atualmente e questionar a sua adaptabilidade à realidade oficinal moderna.

Considerações finais

Os objetos do quotidiano moderno produzidos em metal marcaram o dia-a-dia da sociedade durante séculos. Naturalmente, a cultura visual, enquanto reflexo da realidade, valoriza estas peças de uso diário e, por conseguinte, foi o colecionismo contemporâneo que conseguiu garantir a sobrevivência de objetos em estanho e em latão até aos dias de hoje. De facto, os objetos de uso diário tendem a perder-se com o desgaste e o passar do tempo ou com a perda de função, daí que a importância do colecionismo para este tipo de âmbitos temáticos seja uma via de investigação de interesse. Poderá ser vantajoso aprofundar o lugar destes objetos na prática de colecionar, sendo que a procura por este tipo de peças permanece com força, principalmente a nível internacional.

Um dos grandes contributos da presente investigação consiste no questionamento dos sistemas cronológicos definidos para as tipologias formais dos objetos em estudo, confrontando a informação lida na bibliografia com os dados observados através de um levantamento de objetos musealizados e um outro de representações modernas de objetos formalmente semelhantes às peças em estudo. Deste cruzamento, resultou o questionamento dos sistemas de datação para já produzidos, devido às incongruências achadas ou às convenções que se passaram a tomar como fragilizadas. Neste seguimento, é essencial cultivar e perpetuar com a aplicação desta metodologia comparativa. A compreensão dos objetos do quotidiano moderno deve partir da compreensão deste mundo oficinal como uma realidade mutável e fluída, em detrimento da perspetiva dogmática e da tendência para a sobrecategorização das formas que tem vindo a ser construída, uma vez que os dogmas reconhecidos ao longo da presente investigação não são apoiados pelo conhecimento que a bibliografia, que os objetos musealizados e que as representações modernas constroem em conjunto.

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