Montres e devantures: las orfebrerías en Oporto y su relación con el espacio urbano

Montres e devantures: goldsmithery shops in Porto and their relationship with the urban space

Ana Cristina Sousa

Universidade do Porto. Portugal
ORCID: 0000-0001-8442-8394
accsousa@letras.up.pt

Diana Felícia

Universidade do Porto. Portugal
ORCID: 0000-0001-7138-9058
diana.felicia.pinto@gmail.com

Resumen

Importadas de la moda francesa, las devantures permitieron transformar y renovar los establecimientos comerciales, adaptándolos a los nuevos gustos de los siglos XIX y XX. A pesar de su calidad estética, algunas de estas fachadas no resistieron al paso del tiempo, conservándose su memoria sólo en los dibujos que acompañaban a las licencias de obra y, en casos más concretos, en fotografías antiguas de los establecimientos que albergaban. Estas fuentes proporcionan información detallada sobre los materiales utilizados, así como sobre los responsables de los proyectos. A partir del estudio de las oficinas de orfebrería ubicadas en las calles de Flores y Santo António (31 de Janeiro) pretendemos con este artículo demostrar cómo estos elementos interactúan con el espacio urbano. Se analiza el diálogo que se genera entre la fachada artística y la propia calle, con el fin de captar la mirada del transeúnte y atraerla hacia el interior del establecimiento.

Palabras clave

Devantures; hierro fundido; orfebrerías; Rua das Flores / Rua 31 de Janeiro, Oporto (Portugal).

Abstract

Imported from French fashion, devantures allowed the transformation and renovation of commercial establishments, adapting them to the new tastes of the XIX and XX centuries. Despite their aesthetic quality, some of these faÇades did not last and their memory is only preserved in the drawings that accompanied the work permits and, in more specific cases, in old photographs of the establishments they housed. These sources provide detailed information on the materials used, as well as those responsible for the projects. Based on the study of goldsmithery workshops located on the streets of Flores and Santo António (31 January), we intend with this article to demonstrate how these elements interact with urban space. The dialogue that is generated between the artistic façade and the street itself is analyzed, with the aim of capturing the view of passers-by and attracting them to the interior of the establishment.

Keywords

Devantures; cast iron; goldsmithery stores; Flores street/ 31 de janeiro street; Porto (Portugal).

Fecha de recepción: 31 de diciembre de 2023.
Fecha de aceptación: 14 de febrero de 2024.

Cómo citar este trabajo / How to cite this paper:
Sousa, Ana Cristina y Diana Felícia. 2024. “Montres e devantures: las orfebrerías en Oporto y su relación con el espacio urbano”. Laboratorio de Arte 36, pp. 329-355.

© 2024. Ana Cristina Sousa y Diana Felícia. Este es un artículo de acceso abierto distribuido bajo los términos de la licencia Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0. International License (CC BY-NC-SA 4.0).

Introdução

Este artigo objetiva o estudo das devantures de ourivesarias localizadas nas ruas das Flores e de Santo António (atual 31 de Janeiro), na sua relação com o espaço urbano, com o contexto histórico em que se inserem e com os aspetos materiais que agregam.

Pretendemos, assim, estudar as metamorfoses do pré-existente introduzidas por esta prática nos finais do século XIX e inícios do século XX, no Porto. Procura-se compreender de que forma estas alterações na facies dos edifícios permitiram criar unidades de imagem e estética para os arruamentos onde foram instaladas, sem obrigarem à reconstrução total do edificado.

De forma a cumprir o objetivo enunciado, desenvolvemos um mapa interativo onde georreferenciamos as devantures, existentes e desaparecidas, e onde compilamos as respetivas licenças de obras (quando identificadas), os resultados da análise do objeto in loco e as transformações ocorridas nos últimos quatorze anos (recorrendo, para isso, a imagens históricas da Google)1.

Este trabalho procura, também, refletir sobre a evolução do conceito de devanture, dos seus usos (passados e contemporâneos) e da sua relação com a conjuntura histórica e com as transformações do espaço urbano, considerando a trilogia rua, casa, oficina.

Novas dinâmicas económicas, sociais e comerciais, no Porto, nos séculos XIX e XX

Aberta no século XVI (1521), a Rua das Flores conheceu o seu apogeu no XIX, quando a cidade se afastou do rio, o principal meio de distribuição de produtos até então. Durante o período medieval, os ourives concentravam-se na rua da Ourivesaria (mais tarde de S. Nicolau), a uma cota mais baixa, via que desapareceu no século XIX com a abertura da Rua Nova da Alfândega. A Rua das Flores garantiu uma importante ligação à cota alta, estendendo para norte uma cidade inicialmente ribeirinha, acompanhando a sua transformação urbanística e económica. Evidenciando-se como uma das principais ruas comerciais do núcleo antigo da cidade, cedo se distinguiu pela presença de artífices do Ouro e da Prata que ali se fixaram. É deste modo que Rebelo da Costa a descreve, em 1789, afirmando que aqui se localizavam “as lojas mais ricas da cidade, tanto em fazendas de lam, e seda, como em todo o género de Mercearía, Porcelanas, lojas de Ourives d’ouro, prata etc”2. Entre os muitos testemunhos desta concentração de ofícios, o Padre F. J. Patrício recorda a ameaça a estas indústrias durante a Guerra Civil (1832-1834) e no contexto do Cerco do Porto (1882-1833), mencionando o grito de pilhagem do exército invasor: “Se entrarmos na cidade, saltamos logo direitos á Rua das Flores para apanharmos cordões de ouro”3. O lema atesta, igualmente, a importância económica, social e simbólica atribuída a esta joia, peça distintiva da ourivesaria do Douro Litoral.

Também a literatura constitui uma fonte incontornável para o conhecimento deste cenário oitocentista. Alberto Pimentel (1849-1925), o tão versátil e injustamente esquecido escritor portuense, introduz-nos com ironia e humor nas casas destes ourives, sempre queixosos da concorrência dos vizinhos “que os obrigava a venderem com menor ganho”4. O comércio tradicional estava marcado pelo regatear do preço final, da interpelação do transeunte e da venda de “gato por lebre”5. Era esta realidade que tanto atormentava o ourives Cosme da Rua das Flores, ilustre personagem de Pimentel, obrigado a aturar as “labregas marralheiras” dos Carvalhos e da Maia (as lavradeiras dos concelhos limítrofes da cidade), para vender umas simples arrecadas ou cordão:

Ela regateia, regateia, e a gente vai fazendo o abatimento que pode. Por fim o diabo da mulher – Deus me perdôe – vira-nos as costas e deixa-nos a arrumar a fazenda. Dali a pouco entra pela porta dentro muito ufana: “Olhe, cá estão as arrecadas que o vizinho aqui do lado me vendeu por menos seis vintéis que vòmecê”. Assim é impossível! Para remediar isto seria preciso que chegássemos todos a uma combinação6.

É ainda Alberto Pimentel quem afirma que, nesta rua, “os ourives eram tantos [...] desde a Igreja da Misericórdia até à volta para a Feira de S. Bento [espaço fronteiro ao extinto Convento de São Bento de Avé-Maria, atual Estação de São Bento], que raras faziam exceção à ourivesaria”7.

O estudo da Rua das Flores é, neste sentido, essencial para a compreensão da lógica de produção, venda e habitação dos ofícios tradicionais da cidade, entre o último quartel do século XVIII e primórdios do século XX. A Ourivesaria Eduardo Carneiro Lda., ainda com loja aberta no nº 225, constitui um testemunho vivo da tradicional integração entre as formas de habitar, o trabalho e a venda do produto final no mesmo edifício, lógica organizativa que tende a alterar-se a partir das primeiras décadas do século XX (Figura 1). A estreita relação entre habitação /produção/ e venda determinou a tipologia da casa urbana do Porto. De acordo com o modelo que imperou na cidade oitocentista, o “bazar” da Ourivesaria Carneiro situa-se no rés-do-chão, com a fachada voltada para a rua. Esta foi transformada, em 1913, através de uma devanture como se irá expor. No 1º andar, funcionou uma oficina, mais tarde desativada e o espaço convertido num quarto de dormir e numa pequena saleta (Figura 1). O normal era, no entanto, a oficina funcionar nas traseiras da loja, com ligação direta ao quintal onde se localizava a forja e respectiva preparação. Era o que se verificava na casa do ourives João António Mourão na Rua de Santo Ildefonso. O inventário elaborado após a sua morte, em 1844, diferencia a “loja de rua” da “loja de trás”, com “huma masseira coberta” destinada à preparação dos moldes para a fundição8. O acesso ao interior das habitações fazia-se através de portas de madeira de duas folhas, com aberturas de vãos para a iluminação dos sombrios corredores, protegidos por resistentes gradeamentos de ferro forjado e/ou fundido. Vários lanços de escadas ligavam os diferentes andares da casa, sendo os últimos reservados à habitação.

Figura 1. Arquivo Ourivesaria Eduardo Carneiro. Vista da rua das Flores a partir da Ourivesaria Carneiro (esq.), Antiga Oficina de ourivesaria que funcionava no primeiro piso do mesmo edifício (dir.). Segundo quartel do século XX.

Na lógica do comércio tradicional, estas lojas voltadas para a rua, por vezes pequenas, sombrias e pouco asseadas, compensavam a falta de espaço conquistando lugar aos passeios e até mesmo à rua, por onde estendiam os seus produtos. Estes negócios conviviam, tradicionalmente, com as feiras, mercados e a venda ambulante que atraíam diariamente à cidade os lavradores e lavradeiras dos concelhos rurais de Vila Nova de Gaia, Espinho, Gondomar, Valongo, Maia e Matosinhos. O chiar do carro de bois marcava o quotidiano da paisagem sonora da urbe, acompanhado pelos pregões das varinas, padeiras, “vendedeiras” de verduras e frutas, leiteiras, aguadeiros, entre muitos outros, cujo sustento dependia destas trocas.

A partir da segunda metade do século XIX, esta realidade vai-se alterando lentamente. O desenvolvimento industrial, a ascensão da burguesia e o consequente crescimento demográfico impulsionaram as transformações urbanísticas bem como as novas construções e requalificações dos edifícios pré-existentes. As alterações económicas e sociais determinaram o desenvolvimento comercial e o nascimento de um novo eixo implementado a uma cota mais alta, formado pela Rua dos Clérigos, Praça de D. Pedro IV (atual Praça da Liberdade) e Rua de Santo António, núcleo com ligação à antiga Rua das Flores. Nas palavras de Rio Fernandes, este novo alinhamento contribuiu para a definição da centralidade urbana, renovando a estreita relação entre o comércio e a cidade9.

O comércio fixo tende a impor-se neste Porto em renovação e, neste sentido, atuou igualmente como motor da mutação urbanística que se manifestou em ruas mais largas e retilíneas. Os pregões e o regatear dos preços nas ruas da nova “Baixa” tendem a diminuir. O preço do solo urbano sobe consideravelmente nestas artérias de maior circulação, sendo coberto pelos estabelecimentos modernizados. Os rés-do-chão e alguns andares superiores das antigas ou novas casas são ocupados por múltiplas lojas comerciais, focadas na especialização da venda dos produtos escoados pelas fábricas ou oficinas afastadas do novo centro. A separação entre o local de produção e de venda acentua-se. As lojas tornam-se maiores, mais iluminadas e uma nova atenção é dada à decoração das fachadas, alvo de uma cenografia pensada para reter o olhar e convidar o cliente a entrar.

As mulheres começam, nestas datas, a ser contratadas como empregadas comerciais, constituindo uma nova “atração na cidade”10. Fotografias do interior dos Armazéns Hermínio captam esta novidade11, realidade que não escapou aos escritores e estudiosos locais. Horácio Marçal recorda a Luveira Bonifácia, proprietária da “lojinha em miniatura, quase à esquina da Rua de Santa Catarina”, “bem educadinha, tão amável como modesta e, sobretudo formosa” que quem lhe comprava as luvas “olhava menos para as luvas, do que para a luveira”. Outras que lhe mereceram a me­lhor atenção foram as irmãs Bonhardes, modistas, “outras das caras bonitas da Rua de Santo António”, “que os rapazes desse tempo gostavam de espreitar através da vitrine da loja, quando passavam”12.

As lojas de ourivesaria ocuparam um lugar destacado neste processo, juntamente com as de tecidos, vestuário, sapatos e chapelarias. A Rua das Flores continuou a ser a principal via deste comércio, mas perdeu a quase exclusividade a favor da Rua de Santo António, Santa Catarina, Praça da Batalha e Santo Ildefonso. A concentração, na mesma rua, de um elevado número de estabelecimentos do mesmo género facilitava o reconhecimento dos locais por parte dos clientes, uma realidade que encontra raízes nos tempos medievais. A venda de produtos de maior valor e que exigia a melhor confiança dos clientes, impôs uma dinâmica muito particular a estes estabelecimentos. O marralhar dos preços de que se queixava o ourives Cosme foi lentamente substituído pela fixação dos mesmos, como se pode inferir pelo “lêmma” do anúncio de inauguração da Ourivesaria e Joalheria Âncora, datado de 1902: “Limitação de preços, os quaes são fixos, para maior garantia do publico em geral13.” No mesmo texto, informa-se os “amigos” e “publico em geral” que no novo estabelecimento poderiam encontrar “sortimento de objetos de joalheria, muitos dos quaes fabricados, a primor, nas suas oficinas, montadas como as mais modernas e aperfeiçoadas” 14.

A presença de estrangeiros na cidade foi igualmente essencial, segundo Rio Fernandes, para a renovação da atividade comercial15. A venda de produtos forâneos, nomeadamente franceses, afigurou-se como uma nova moda e eram vendidos como produtos de qualidade. Palavras como montres, devantures e vitrines atestam essa influência e determinaram o vocabulário do ramo comercial. Esta realidade estendeu-se também ao ramo da ourivesaria, como foi o caso da Joalharia Bonneville, “unique maison française”, instalada nos números 141 e 143 da Rua de Santo António. Os seus anúncios publicitários enfatizavam a venda de artigos importados de joalharia, ourivesaria e relojoaria, joias de “grande sentimento”, “dos mais modernos gostos, com brilhantes de qualidade garantida” a “preços módicos”, “marcados e sem competência”16. A publicidade impressa passa a assumir um papel muito relevante. Os slogans aludem aos escândalos e fraudes que dominaram o cenário da ourivesaria portuguesa nas últimas décadas do século XIX, tentando-se reconquistar, desta forma, a confiança do consumidor nacional. Os anúncios comerciais converteram-se, de facto, num importante meio de afirmação e conquista do mercado. A produção nacional, realizada maioritariamente nas oficinas do Porto e do concelho de Gondomar, continuou, no entanto, a dominar o volume de produtos vendidos nessas lojas.

Do exterior para o interior – montres e devantures

A modernização das fachadas, sobretudo ao nível do rés-do-chão, resulta desta nova lógica de mercado. As tradicionais tabuletas colocadas nos frontispícios das lojas, de longa data e executadas em vários suportes (azulejos, madeira, ferro) deixam de ser suficientes num cenário marcado pela concorrência. A combinação de materiais, os arranjos estéticos dos mesmos, os critérios com a exposição dos produtos nas montras e a qualidade dos artigos expostos distinguem os estabelecimentos e impõem-nos visualmente na malha urbana. Entre finais do século XIX e primeira década do XX, a Rua de Santo António converte-se numa das mais “elegantes” da cidade, nas palavras de Rio Fernandes, na qual se concentravam “quase todas as luvarias do Porto e muitas chapelarias, ourivesarias e relojoarias, o que favorecia a identificação da rua com a modernidade e a qualidade”17.

As devantures e montres assumem, neste sentido, um papel relevante no diálogo entre vendedores e consumidores. No Porto, os materiais explorados pelas indústrias em expansão, como a do ferro e do vidro, conjugados com a hábil carpintaria tradicional, proporcionaram os meios necessários à metamorfose das fachadas. O Padre Patrício descreve a experiência vivida depois da inauguração da Ourivesaria Reis & Filhos (gaveto entre as Ruas 31 de Janeiro e de Santa Catarina), “um verdadeiro templo consagrado à arte”, recordando que os curiosos passaram “horas na contemplação das bem delineadas vitrines e na sumptuosidade dos objetos expostos”18.

A indústria do ferro fundido conheceu uma franca ascensão durante os séculos XIX e XX, tendo-se apresentado, por isso, como uma sólida alternativa para a execução de devantures. Devido às condições tecnológicas introduzidas pela Revolução Industrial, nomeadamente ao nível das máquinas a vapor que alimentavam a produção e permitiam aos fornos de fundição uma maior capacidade de fusão, este setor oferecia produtos de relativa acessibilidade económica, de rápida produção e de elevada robustez. Aplicado à arquitetura, o ferro fundido podia(e) assumir uma multiplicidade de formas, permitindo metamorfosear as fachadas pré-existentes sem alterar a estrutura interna do edificado. Combinado com o vidro, permite rasgar amplas frentes envidraçadas19 que convidam o olhar do transeunte e potencial cliente a deter-se sobre as peças cuidadosamente expostas. Através da colocação de estruturas removíveis que corriam entre as armações em ferro fundido, e devido à solidez estrutural deste material, a segurança dos produtos ficava garantida após o encerramento dos estabelecimentos.

Devantures: evolução do conceito, usos e novos usos

O termo devanture aplica-se, de acordo com o Centre National de Ressources Textuelles, aorevestimento em madeira, ferro, vidro, etc. que adorna uma loja [...] designando, por extensão, a vitrine de loja20. Segundo a mesma fonte, foi utilizado pela primeira vez na obra de Mozin e Biber, em 1811, aplicado ao “revestimento de marcenaria e vidro que decora a parte voltada para a rua de uma loja”21 e, mais tarde, em 1859, por Ponson du Terrail, para designar a “exibição de mercadorias expostas dentro ou fora da vitrine”22. Os primeiros exemplares que geraram esta verdadeira “moda” foram, portanto, construídos em madeira.

Dos trabalhos conhecidos que se dedicaram ao estudo destas fachadas, a maior parte valorizou as obras produzidas em ferro fundido e, pontualmente, em pedra, sendo mais raras as referências aos exemplares produzidos em madeira e/ou outros materiais. Uma das exceções é a dissertação de Hugo Barreira, na qual foram analisadas as devantures construídas em Espinho na primeira metade do século XX. Neste estudo, o autor contemplou exemplares em madeira23, argamassas de cimento e areia24, mármore25, cimento armado e tijolo26, demonstrando a diversidade de materiais que podem ser aplicados neste campo e aos quais acresce ainda o ferro, como material de revestimento ou utilização no vigamento. Para Barreira, estas obras são “importantes campos de ensaio das novas linguagens e soluções e oportunidades para a expressão de critérios estéticos27.

Observa-se, igualmente, um emprego lato e por vezes pouco claro do conceito devanture. Andreia Ribeiro, no entanto, procurou precisar a aplicação do termo no seu trabalho, escrevendo que o utilizou para referir

a estrutura metálica composta por viga e pilastras que adornam e suportam a área envidraçada. Este tipo de montra comercial corresponde comummente a uma modificação posterior à construção do edifício através da qual se suprime um prumo estrutural entre vãos, substituindo-o por uma estrutura de ferro, existindo contudo casos em que estas integram o projeto original28.

Apesar da circunscrição ao ferro enquanto objeto de estudo, Ribeiro admite que, sobretudo a partir da década de 1920, se começaa observar o abandono das estruturas metálicas, que até aí iam conferindo uma certa uniformidade às montras da cidade, em prol de materiais como o cimento e o betão armado, em propostas de expressão ora modernistas ora ecléticas”29. O custo mais elevado do ferro, bem como a facilidade de aquisição, execução e preço destes materiais explicam esta alteração.

A valorização das fachadas em ferro fundido, no seio da comunidade científica, deve também ser entendida à luz do contexto histórico em que se inserem. As características materiais do ferro conferiam resistência, durabilidade, rapidez de produção e relativa acessibilidade económica, num período em que a indústria de fundição se encontrava próspera. Diversas fachadas em ferro fundido, produzidas sobretudo nos inícios do século XX, sobreviveram até aos nossos dias apenas com pontuais renovações, o que não se verifica com tanta frequência nas de madeira, pedra ou outros materiais. Por outro lado, e no caso das matérias referidas, não é frequente a indicação dos fabricantes da obra, contrariamente ao que acontece com as peças de fundição, onde as marcas das mais emblemáticas fábricas foram deixadas, atestando o seu local de produção e permitindo o estudo para além das licenças de obra. As fachadas em ferro fundido podem, neste sentido, constituir a chave do conhecimento para o seu próprio estudo.

Apesar de ter atingido o seu apogeu na primeira metade do século passado, a produção de devantures estende-se até aos nossos dias e tem sido alvo de um evidente revivalismo nos últimos anos. A observação das ruas que constituem o eixo em estudo permite verificar a construção recente de vários destes elementos, cronologicamente balizados nos últimos dez anos, compostos maioritariamente por estruturas de madeira e um caso em ferro fundido. As novas composições dialogam, por vezes, com as pré-existentes e ajudam a conferir uma unidade visual ao arruamento, um critério naturalmente intencional.

O revivalismo na construção de devantures verifica-se também a nível internacional, nomeadamente em França, onde diversas cidades tem vindo a regulamentar a construção de novas fachadas para edifícios comerciais, determinando as tipologias que estas podem adotar, os seus elementos constituintes, os materiais que devem ser utilizados e as policromias a aplicar. São, por isso, dezenas as “Chartres des devantures commerciales” que podem ser encontradas, reportando-se a cidades como Bourg la Reine30, Alès31, Landerneau32, Questembert33, Nemours34, Argenteuil35, Reims36, Cadière d’Azur37 e Lyon38, para citar apenas algumas.

Nas “Chartres de devantures” consultadas, é unânime a identificação de duas tipologias de fachadas: as “devantures de aplicação (ou salientes)” e as “devantures de integração”39. No primeiro caso, o novo elemento resulta numa camada autónoma que se molda à estrutura pré-existente40. É o caso da fachada da antiga Ourivesaria Aliança na rua das Flores. Por seu lado, as “devantures de integração são parte constituinte do corpo da própria fachada, sendo emolduradas por elementos arquitetónicos de linguagem comum ao edifício41. Um exemplo desta realidade é a fachada do restaurante Botânico, também na rua das Flores. As duas tipologias serão consideradas neste artigo.

Devantures de estabelecimentos comerciais - Rua das Flores

Na rua das Flores existem hoje cerca de dezanove devantures42. O revivalismo na exploração destas fachadas é notório neste arruamento, contando-se quatro exemplos de transformação datados entre 2009 e 2023 (Eugénio Campos, Botânico Restaurante, Candy Lisa e Ótica Médica Rogério). Nos dois primeiros casos, tratam-se de “devantures de integração” e nos dois segundos de “devantures de aplicação”. Por outro lado, observa-se, também, a transformação e alteração da policromia em outros casos, o que revela uma alteração nos gostos e/ou adaptação às atuais circunstâncias de harmonização estética. Como se pode observar pela figura 2, em 2009 existiam ainda pelo menos três fachadas em ferro fundido pintadas de vermelho, provavelmente influenciadas pela policromia dos ferros do Mercado Ferreira Borges (também eles vermelhos), edificio localizado a escassos metros e classificado como Imóvel de Interesse Público, em 1982. As referidas fachadas foram recentemente pintadas e apresentam-se agora maioritariamente em tons de azul-escuros e cinzentos (Figura 2).

Na rua das Flores pode comprovar-se, também, a recuperação de devantures antigas para servir os novos setores comerciais que ali se têm instalado43 (Figura 2). É o caso da Imobiliária do Porto que recuperou a fachada do edifício que ocupou, optando pelo tom verde da sua congénere, a antiga Ourivesaria Aliança, localizada no lado oposto do mesmo arruamento. Em toda a rua pode observar-se uma linguagem eclética nas formas, de inspiração “beauxartiana”, um gosto que confere unidade estética ao arruamento e que continua a ser evocado nas novas fachadas.

Figura 2. Diana Felícia e Ana Cristina Sousa. Comparação de devantures na rua das Flores (Felícia & Sousa, 2023). 2009-2023.

Naquela que foi tida como “a rua dos ourives e a “rua do ouro do Porto, multiplicavam-se, em meados do século XIX, as ourivesarias, contando-se quase quatro dezenas de estabelecimentos dedicados a este ofício. A maior parte delas não resistiu à passagem do tempo, acabando por encerrar. Atualmente, não chegam a dez as ourivesarias instaladas nesta rua, recentemente reabilitada e novamente icónica na cidade. Não obstante, a memória ficou eternizada no desenho da rua, através das diversas devantures. Algumas permanecem no seu local original, ainda a servir de cartão de visita a estabelecimentos dedicados à venda de artigos de ourivesaria, outras foram requalificadas e adaptadas a novos sectores comerciais e existem ainda outras que desapareceram, mas que conhecemos através dos respectivos processos de obra. Esta circunstância da rua das Flores tem vindo a ser explorada na época contemporânea.

É conhecido o pedido de António Simões Pina, médico e proprietário do edifício sito no n.º 223 desta rua, datado de 1912, para alterar a fachada do prédio e nele instalar um bazar de ourivesaria. Neste local, onde ainda hoje se encontra a Ourivesaria Eduardo Carneiro, previu-se a colocação de “um frontispício em ferro e vidro de cristal, fechando-se por meio de portas onduladas que vão recolher num capitel [...]”. “A cantaria das aberturas” utiliza “um granito lavradoe o projeto previu, igualmente, um conjunto de outras modificações ao alçado com vista à sua durabilidade e resistência às intempéries.

A obra, assinada pelo mestre-de-obras diplomado Francisco dos Santos Silva, foi executada na Fundição de Francos, conforme demonstra a marca colocada na base de uma das cinco colunas que integram a devanture. Esta fábrica de fundição, não sendo das mais reconhecidas da cidade, funcionou primeiro na rua da Travagem n.º 44244 e depois no n.º 318 da rua de Francos45. Na lista dos seus proprietários/gerentes contam-se Augusto Paiva Ranito (190846-1909), Miguel Rodrigues da Costa (191547-1919), a Sociedade de Máquinas Agrícolas e Industriais Limitada (1927-1936) e finalmente Miguel da Costa Limitada (1937-1980).

Num anúncio publicitário datado de 1908 e publicado nos almanaques comerciais da cidade do Porto (importantes fontes para o conhecimiento dos estabelecimentos e do comércio da cidade), a Fundição de Francos executava “todos os trabalhos de serralharia mechanica e civil, taes como portões, gradeamentos, marquizes, de ventures, etc. Funde qualquer obra tanto em ferro como em bronze48. Saída desta fundição destaca-se a marquise do Salão de Festas do Jardim de Passos Manuel, datada de 190949.

Nos números 261-263, localiza-se a antiga Ourivesaria de José Dias Moura (Figura 3), funcionando atualmente com a designação Elements Contemporary Jewellery. O edifício, na interseção da rua das Flores com a rua Trindade Coelho, foi transformado em 1919. O pedido de autorização para a obra especifica a pretensão de se construir “uma devanture em ferro e madeira [...] cuja frente é constituída por duas montras com uma porta ao centro [...] feita em ferro fundido.50 O trabalho, executado pela Fundição da Vitória (Figura 3), aproveita a esquina como forma de ampliar o raio de persuasão das suas montras, retendo, desta forma, o olhar de um maior número de transeuntes e garantido, assim, uma clientela mais vasta. De linguagem decorativa eclética, demonstra bem as capacidades produtivas da fundição que executou a obra.

Figura 3. Diana Felícia. Devanture da antiga ourivesaria de José Dias Moura. 2019. Gaveto entre a rua das Flores e a rua Trindade Coelho.

A Fundição da Vitória era, segundo Francisco Queiroz, uma fábrica de pequenas dimensões que “desapareceu sem rasto.51 Sabe-se que resultou da ampliação sucessiva da antiga oficina de serralharia de Manuel Luís Sentieiro, fundada em 1851 e, a partir do Inquérito Industrial de 1890, que se localizava na rua da Vitória, n.º 14852. Segundo o mesmo autor, esta fundição foi responsável pela produção do gradeamento do jazigo das vítimas do Teatro Baquet, no cemitério de Agramonte53, à qual se pode acrescentar a fachada da antiga Papelaria Araújo e Sobrinho, no Largo de São Domingos, próxima desta em estudo.

Queiroz indica que, em 1897, a fábrica terá sido comprada pela Companhia de Fundição do Ouro, passando a funcionar como sucursal desta última54, facto corroborado pelo estudo dos almanaques comerciais do Porto55. Não obstante, o autor regista o “desaparecimento de referências à fábrica em 190356, apesar de a mesma surgir mencionada nos almanaques até 192857, apresentando como gerentes António José Nogueira (190558-191259), Manuel Rodrigues Ferraz e A. B. da Cruz Nogueira (191560) e, finalmente, Manuel Rodrigues Ferraz (1916).

O pedido de Celestino da Mota Mesquita, destinado à reforma e ampliação da Ourivesaria Aliança, sita na interseção da rua das Flores com a rua dos Caldeireiros, data de 1925 (Figura 4). O projeto, da responsabilidade de Francisco de Oliveira Ferreira, previa

As fachadas dos prédios ocupados pelas referidas instalações, serão nos seus rés-do-chão e primeiro andar, alteradas no seu aspecto sendo colocadas vigas de ferro armadas, apoiadas em prumos de cimento armado, conforme os detalhes e cálculos juntos. Interiormente, as paredes divisórias dos prédios serão demolidas até ao nível do tecto, do primeiro andar para dar lugar à galeria, e taes paredes aumentarão em vigas de ferro armadas e às quaes os cálculos se referem. As janelas do primeiro andar serão também alteradas conforme indica o projecto. Toda a frente do estabelecimento será de mármore nacional e com cristaes assentes em ferro.

O pavimento será de ‘corticite’ assente em betonilla, sendo bem asfaltado, bem como as paredes, pelo lado interior, afim de evitar humidade. Os tabiques serão de tijolo vassado, de 0,05 de espessura, assente com gesso e as paredes e tectos serão estucadas, sendo estes dourados61.

Figura 4. Diana Felícia. Devanture da antiga ourivesaria Alliança. 2019. Gaveto entre a rua das Flores e a rua dos Caldeireiros.

A obra em ferro fundido é fruto de una parceria entre as Fundições de Massarelos e Bolhão (Figura 4), estando as suas marcas ainda hoje visíveis na referida fachada. A marca deixada pela Fundição de Massarelos regista a data de 1929, o que corrobora a colocação da devanture na sequência do pedido de licença de obra suprarreferido. A Fundição de Massarelos, propriedade da Companhia Aliança, foi uma das fábricas que conheceu um maior prestígio e longevidade na cidade do Porto. Fundada em 185262, esta unidade de produção surge listada nos almanaques comerciais até 1978/7963 e foi responsável por notáveis obras de arquitetura do ferro na cidade. Entre as obras mais renomadas, contam-se as estruturas em ferro do Mercado Ferreira Borges (1885-188864), da Alfândega Nova do Porto (1960 - juntamente com as fundições do Bolhão, Miragaia e Bom Sucesso 65) e do Mercado do Bolhão. Estas últimas foram alvo de uma significativa intervenção de recuperação, na CIF (Companhia Industrial de Fundição), em 2022.

À semelhança do que ocorrera com a antiga ourivesaria de José Dias Moura, também a antiga ourivesaria Aliança aproveitou a localização estratégica na intersecção de dois arruamentos, desenvolvendo o desenho da fachada de modo a rentabilizar a sua posição em ambas as artérias. Estendendo a superfície envidraçada das montras nas duas ruas, colocaram no cunhal uma cartela com a identificação do nome do estabelecimento. Desta forma, conseguiam atrair eficazmente a clientela que passava em cada uma dessas vias.

Anos mais tarde, em 1936, regista-se o pedido de modificação da Ourivesaria Queirós, “negociantes na rua das Flores n.º 269, inicialmente assinado pelo arquiteto Serafim Martins de Sousa e concluído por João Queirós, “diplomado pela Escola de Belas Artes do Porto que assume a responsabilidade, uma vez que o técnico responsável tinha já falecido”66. Na memória descritiva do projeto, prevê-se a demolição do mainel existente “sendo as padieiras substituídas por vigas de ferro67, bem como a “colocação de armação de ferro e cristais, com respetiva porta e montras laterais. A frente seria revestida de mármore até ao peitoril das janelas do 1.º andar. A armação de ferro e os caixilhos do 1.º andar seriam devidamente pintados”68.

Atualmente, esta devanture já não existe, conservando-se a sua memória somente através dos desenhos que acompanham o projeto da obra.

Ourivesarias históricas na cidade do Porto - Rua 31 de Janeiro

Na rua de Santo António são inúmeras as devantures que subsistem até aos nossos dias, observando-se igualmente uma maior diversidade de materiais69. A par das formas “beuxartianas” registadas para a Rua das Flores, a linguagem Arte Nova marcou o gosto destas fachadas. A cronologia de expansão destes estabelecimentos (finais do século XIX e inícios do XX) e a influência francesa já assinalada, contam-se entre as principais razões desta predominância. Por outro lado, a capacidade de modelação do ferro e das argamassas de areia, associadas à versatilidade e poder adaptador das madeiras, ajustavam-se bem à linearidade das formas vegetalistas, florais e figurativas impostas pela Art Nouveau na cidade. Pertinente é também a relação, de alguma forma simbólica, entre os motivos decorativos e o nome dos estabelecimentos comerciais. É o caso da Ourivesaria e Joalharia Âncora que faz representar na sua fachada elementos associados à navegação (âncoras e cordas)70. O fervor nacionalista que marcou esta cronologia não pode ser dissociado, igualmente, da escolha destes motivos. A Rua de Santo António distingue-se, assim, pela maior diversidade de gramáticas decorativas observáveis nas fachadas das suas lojas.

Na contemporaneidade, a construção de fachadas para estabelecimentos comerciais continua a verificar-se e a transformar a imagem do arruamento. A observação das seguintes figuras permite confirmar a permanência de algumas estruturas a par da transformação total de outras. A construção recente da devanture da loja Nata Sweet Nata, após 2019, assim o atesta, tendo-se construído uma fachada em madeira pintada de azul que dialoga com as madeiras no interior da loja que compõem os balcões (Figura 5). Pela sua policromia, esta fachada distingue-se das restantes existentes na rua.

Figura 5. Diana Felícia e Ana Cristina Sousa. Comparação de devantures na antiga rua de Santo António (Felícia & Sousa, 2023). 2009-2023.

Nesta importante artéria da cidade, notabiliza-se ainda hoje a fachada da antiga Ourivesaria Cunha & Sobrinho, localizada no n.º 202 (Figura 6). Em 1914, o seu proprietário Alfredo Pinto da Cunha, desejando construir um estabelecimento comercial neste arruamento, solicita autorização para alterar a fachada pré-existente recorrendo, para isso, ao ferro fundido:

Toda a frente sera de mármore lios nacional [tipo de pedra calcária originária da região de Lisboa, Portugal] com aplicações de bronze dourado e a armação sera de ferro fundido e forjado levando também aplicações de bronze e latão amarelo polido, sendo os vãos vedados com cristaes. No arco serão aplicadas lâmpadas elétricas71.

Figura 6. Diana Felícia. Fachada da antiga ourivesaria Cunha & Sobrinho (atual Machado Joalheiro). 2019. Rua 31 de janeiro.

A ideia de modernidade evocada pelo ferro e pelo cristal das vitrines é aqui intercalada com elementos em bronze dourado e de latão amarelo polido, nomeadamente nos camafeus que ladeiam a montra. O gradeamento previsto no projeto, em ferro forjado, não sobreviveu até aos nossos dias.

Ao desenho desta fachada, assinado por Francisco Santos Silva, foi acrescentado, mais tarde, o conjunto escultórico “Grupo de Amores”, composto por dois putti colocados no remate central do arco a brincar inocentemente, enquanto uma pomba suporta uma caixa de joias, ambos atributos da deusa Vénus. O programa é da autoria de José de Oliveira Ferreira, irmão do arquiteto responsável pelo desenho da fachada e integrava, anteriormente, o estabelecimento da ourivesaria situada no número 56 da Rua do Loureiro72.

No antigo estabelecimento da Rua do Loureiro merecem ainda destaque os tetos pintados por Acácio Lino (1878-1956), reconhecido pintor portuense, “em tom alegórico e ao gosto das elites da época73, que demonstram o forte investimento que os proprietários faziam na decoração das suas lojas. Apesar de pouco ou nada se conservar da fachada primitiva, também da autoria de Francisco de Oliveira Ferreira, o edifício da rua do Loureiro preservou uma boa parte da sua traça interior, conservando as pinturas de Acácio Lino74. Atualmente, funciona ainda neste prédio uma ourivesaria, testemunha de um ofício já secular, agora com a designação Machado Joalheiros.

Na interseção da Rua 31 de Janeiro com a Rua de Santa Catarina impõe-se a devanture que outrora pertenceu à Ourivesaria Reis & Filhos. O pedido de licenciamento para “substituir a fachada do estabelecimento, situado à Rua de Sto. António n.º 243 e 247 e Rua de Santa Catarina n.º 1 a 5, por uma frente em ferrofoi submetido a 26 de dezembro de 1905. À semelhança do que se verificou na rua das Flores, o estabelecimento comercial aproveitou o gaveto entre duas artérias (rua de Santo António e rua de Santa Catarina) para desenvolver a nova devanture. No remate do pequeno alpendre, formado pela estrutura em ferro, domina visualmente um busto feminino dourado. O elemento decorativo estabelece um diálogo imediato com a fachada da Livraria Latina Editora, localizada no gaveto oposto do mesmo arruamento. Ocupando dois edifícios, a Ourivesaria Reis & Filhos ensaiou diferentes linguagens plásticas na sua composição, fundindo as duas tendências assinaladas, a “beauxartiana” e a de inspiração Arte Nova.

Na mesma rua funcionou, nos inícios do século XX, a Ourivesaria de E. Pinto de Almeida, Sucessores. Atualmente desaparecida, esta loja solicitou a licença em 1915para revestir a frente do prédio n.º 50 e 51. No documento, pode ler-se que o projeto consistia na colocação de

molduras sobre as guarnições dos portaes, que são em pedra mármore levantar uma coluna torneada em cada extremidade da casa, terminando por uma cornija suspensa em dois cachorros. O espaço entre portaes do réz-do-chão e andar destina-se a taboletas, sendo todos os revestivementos tectos em madeira de riga75.

A importância da incorporação dos letreiros comerciais e publicitários nestas construções é aqui demonstrada, bem como o recurso a diversos materiais para a composição das fachadas. O edifício é atualmente ocupado pela Moutinho Opticas e apresenta uma devanture posterior à original, de gramática mais contida.

A Ourivesaria de Jaime Gomes da Costa, localizada no n.º 29 da rua de Santo António, também alterou o edifício onde se encontrava instalada em 1917. Neste caso, o proprietário “manda revestir a madeira, o portal de pedra que da entrada para o seu estabelecimento76materializando um exemplar de devanture nesta matéria orgânica. O desenho da devanture subsiste na licença de obra, mas a construção não chegou aos nossos dias. Atualmente, o edifício apresenta uma outra fachada, construída em data posterior.

Modos de fazer as devantures em ferro fundido

Na rua dos Clérigos, importante arruamento histórico e comercial da cidade, as ourivesarias não eram abundantes, tendo-se identificado apenas uma licença de obra para transformação de uma loja deste setor. Contudo, as devantures multiplicaram-se na cronologia em estudo e são várias as que sobreviveram até aos nossos dias. A observação e estudo contemporâneo destes objetos reforça a leitura desenvolvida para as ruas das Flores e de Santo António, por ser parte integrante do grande eixo comercial da nova “Baixa” da cidade.

Apesar de não estar dedicada ao comércio de ourivesaria, a recente execução da devanture da loja Força Portugal, em 2017, permite conhecer os processos de execução destas peças na atualidade e, por dedução pelas poucas alterações operadas, no decorrer do século passado. Localizada na Rua dos Clérigos, n.º 80-82, é uma réplica da devanture da loja adjacente, produzida durante o século XX na Fundição de Francos. Encomendada à Companhia Industrial de Fundição (CIF), secular fábrica de fundição de ferro localizada em Foz do Sousa (Gondomar), constitui um bom exemplo de “devantures de integração”, proporcionando o conhecimento do seu processo de instalação e montagem.

À primeira vista, as fachadas são semelhantes e partilham os mesmos elementos estruturais (Figura 7). Um olhar mais atento permite, no entanto, identificar algumas diferenças ao nível da escala de cada um dos elementos, facto compreensível pela utilização de novos moldes produzidos pela CIF exclusivamente para o efeito.

Figura 7. Diana Felícia e Ana Cristina Sousa. Comparação de devantures nos números 76 a 92 da rua dos Clérigos (Felícia & Sousa, 2023). 2009-2023.

O processo de produção destas fachadas inicia-se pela definição e desenho dos elementos a incluir na composição (que, como é o caso, incluem pilastras/colunas, com os respetivos embasamentos e capitéis de diversas gramáticas decorativas, entablamentos retos e elementos de linguagem vegetalista, como florões, guirlandas e festões, ou geométricos), sendo, em seguida, produzidos os moldes de fundição. Pela sua dimensão, os moldes são constituídos por partes distintas que, após arrefecidas, são depois “ensambladas” para dar origem à devanture. Isto significa que os modelos são realizados em partes e que, no final, se interligam por meio de solda ou encaixes. No caso da loja Força Portugal, os moldes das pilastras, entablamentos e florões foram executados separadamente (Figura 8). Estes são normalmente obtidos a partir de contraplacados de madeira. No sentido de assegurar a fidelidade dos motivos, a execução dos moldes pode agregar a parceria de diversos oficiais ligados aos trabalhos de carpintaria: entalhadores, carpinteiros e técnicos de moldes77.

Figura 8. Diana Felícia. (superior): Contramoldes de pilastra (esq.), de capitel (centro) e de florão (dir.). 2022. (inferior): Arquivo Companhia Industrial de Fundição. Processo de montagem da devanture da loja Força Portugal. 2022.

Na CIF, devido às dimensões de cada um dos elementos da fachada, bem como ao facto de serem de utilização “única”, foram produzidos contramoldes para moldação manual em areia. Os moldes adquirem, assim, a morfologia do produto final que se pretende obter, ainda que ligeiramente sobredimensionada para acautelar os fenómenos de contração do ferro78 e as perdas por maquinagem posterior79. A opção pela produção de contramoldes (por oposição às chapas-molde, que permitem um processo de fundição de ferro mais automatizado) requer, obrigatoriamente, que todo o processo seja acompanhado por um operário, responsável pela definição da localização dos respiros e canais de ataque, necessários para assegurar o eficaz vazamento da liga no interior do produto de moldação.

A moldação em areia decorre em caixas de fundição compostas por duas partes: a caixa superior e a inferior. Após a disposição dos moldes sobre uma palete de madeira (que servirá de base à caixa de fundição), a caixa é repleta de areia de fundição que em seguida é compactada em redor do molde para formar o negativo do contramolde. Dependendo da tipologia de areia utilizada, a moldação pode necessitar de ser polimerizada antes de se proceder ao passo seguinte. Para garantir a uniformidade da superfície do produto final, o vazio deixado na moldação pelo contramolde é revestido com uma espécie de tinta seca à chama antes do encerramento das caixas.

Finda a moldação, o perímetro das caixas de fundição é vedado com uma matéria moldável que garante resistência ao local de junção entre as duas partes. Depois de unidas e encerradas, as caixas são consolidadas por meio de grampos de metal e colocam-se-lhes pesos em ferro fundido para assegurar que comportam, sem se desagregarem, a pressão exercida pelo ferro em fusão durante o processo de vazamento.

Ditado, uma vez mais, pela dimensão dos elementos integrantes desta devanture, o vazamento tem de ocorrer por meio de dois ou mais canais de ataque, que recebem em simultâneo o metal liquefeito. Enquanto isso, e por forma a acompanhar a progressão do volume preenchido, um funcionário ateia fogo aos gases libertados a partir dos respiros80. A chama extingue-se, convertendo-se num fumo negro quando a moldação está prestes a completar-se pelo metal, indicando ao fundidor que deve diminuir o fluxo do vazamento81. Quando o metal ao rubro alcança a superfície dos respiros está completo o vazamento82 e resta esperar o arrefecimento da peça para poder libertá-la.

O arrefecimento dos diversos elementos de uma devanture demora várias horas. Depois disso estão finalmente prontos para serem submetidos a processos de limpeza e acabamento, que incluem a consolidação das diversas partes e a pintura.

A montagem final é concluída no local, sendo necessários técnicos especializados para a instalação destas soluções feitas à medida. Pela observação da figura 8, pode verificar-se o modo como as devantures se ajustam à estrutura arquitetónica do edificado, tornando-se parte essencial dele, não deixando, contudo, de ser uma estrutura efémera que pode ser transformada, substituída ou adaptada a qualquer momento.

A rua dos Clérigos permanece, assim, como uma realidade viva no que respeita à execução de devantures. O mapeamento realizado para o propósito deste artigo permite verificar as diversas alterações ao nível das fachadas que vão sendo adaptadas, renovadas e modernizadas para receber novos estabelecimentos comerciais83. O exemplo mais notório desta realidade ocorre na Manteigaria, localizada no número 37, onde se ergueu uma fachada em madeira, em 2018, e que hoje se impõe necessariamente no desenho da rua.

Considerações Finais

Neste artigo, procurou-se demonstrar a incontornável ligação entre o desenvolvimento industrial do Porto de Oitocentos com a afirmação da atividade comercial. Esta, por sua vez, determinou a transformação do espaço urbano, conquistando lugar numa cota mais alta e gerando novas dinâmicas económicas e sociais. O Porto da segunda metade do século XIX é uma cidade em franco crescimento demográfico, resultante, acima de tudo, da migração do interior rural. A burguesia industrial e comercial, em plena ascensão, promove uma “cultura da aparência e do usufruto das coisas boas da vida, em busca do reconhecimento e da afirmação social”84.

Na continuidade da Rua das Flores, a nova “Baixa”, formada pelo eixo Rua dos Clérigos /Praça Nova (Praça da Liberdade) e Rua de Santo António, converte-se num espaço cenográfico e o comércio numa realidade encenada, no qual atuam múltiplos intervenientes: proprietários, comerciantes, clientes ou simplesmente os transeuntes curiosos que olham sem comprar.

A modernização das fachadas dos estabelecimentos comerciais assumiu, neste contexto, um papel da maior relevância. Ditada, em parte, pela moda francesa, as devantures, os novos rostos dos rés-do-chão dos edifícios, encontraram resposta na indústria do ferro, em plena ascensão a partir da segunda metade do século XIX, na cidade do Porto. Estes elementos constituíram um recurso de exceção, proporcionando a transformação visual e artística das fachadas sem obrigar à alteração do edificado. As montres de madeira e ferro, conjugadas com as suas vitrines transparentes, impuseram um outro diálogo entre rua /loja e comerciante /cliente, atraindo os olhares dos transeuntes e convidando-os a entrar nestes “novos templos”. Pelo elevado valor e reconhecimento social dos produtos que expunham, as ourivesarias conheceram uma relevância muito particular neste processo, constituindo, por isso, o objeto particular deste estudo.

Executadas sobretudo em madeira nos primórdios do século XIX, esta matéria orgânica foi depois substituída pelo ferro e outros materiais industrializados, voltando a ser novamente predominante na contemporaneidade. As devantures sintetizam, neste sentido, cerca de duzentos anos da história da produção local, tendo acompanhado o desenvolvimento industrial e comercial da cidade e, por extensão, de toda a Europa. Para além de se precisar o conceito e a evolução do termo devanture, a análise dos vários exemplares de ourivesarias distribuídas pelas Ruas das Flores e 31 de Janeiro assentou nas duas tipologias definidas pelas Chartes de devantures: as “devantures de aplicação” e as “devantures de integração”.

Os estabelecimentos de Ourivesaria das duas artérias estudadas podem ser integrados, também, nas circunstâncias culturais que determinaram o gosto artístico da segunda metade do século XIX e primeira de Novecentos. Nelas é visível o cruzar do gosto eclético “beauxartiano” com a introdução das formas Art Nouveau e depois Deco, estas em maior número na Rua 31 de Janeiro, onde a influência francesa foi mais determinante. Por outro lado, é notório que os primeiros estabelecimentos ditaram a “moda”, servindo como modelo para as fachadas que vão sendo refeitas nos nossos dias. O levantamento das fases de execução de uma devanture na CIF, a única fábrica de fundição oitocentista que continua a laborar na área metropolitana do Porto, permite-nos compreender não só as dinâmicas de produção na atualidade, mas, e não menos significativas, as do passado. Neste sentido, a importância deste texto é incontornável.

Estas construções, “ricas e ornamentais”, como refere a memória descritiva do projeto da Ourivesaria Reis & Filhos, embelezavam as ruas comerciais da cidade, expondo ao público os “artigos do seu negócio”. Perante a transparência das suas vitrines, os transeuntes podiam contemplar estes museus vivos e a sumptuosidade dos objetos neles expostos, como poeticamente as imortalizou o Padre Francisco José Patrício.

Bibliografía:

Anúncio “Ourivesaria e Joalheria Ancora”. 11-12 de 09 de 1902. O Comércio do Porto.

Barreira, Hugo. 2013. Improvisos de Progresso: Arquiteturas em Espinho (1900-1943). Porto. Dissertação de Mestrado.: Faculdade de Letras da Universidade do Porto.

Barros, A. d. 1905. Anuário do Comércio do Porto para a cidade do Porto, Gaia e demais concelhos do distrito (1.º ano).

Branco, Luís Aguiar. 2009. Lojas do Porto. Porto: Edições Afrontamento.

Castanheira, J. A. 1882. Almanach Histórico, Comercial, Administrativo e Industrial da Cidade do Porto para o ano de 1883.

Conseil General La Cadiere d’Azur. 2011. Charte des devantures commerciales. La Cadiere d’Azur: Conseil General, https://lacadieredazur.fr/wp-content/uploads/2018/01/plu27_charte_devantures_caue.pdf.

Costa, A. 1914. Almanak do Porto e seu distrito para o ano de 1915.

Costa, Agostinho Rebelo da. 1789. Descripção topografica, e historica da Cidade do Porto. Que contém a sua origem, situaçaõ, e antiguidades: a magnificencia dos seus templos, mosteiros, hospitaes, ruas, praças, edificios, e fontes... Porto: na Officina de Antonio Alvarez Ribeiro.

Devanture - definition. s.d. Obtido em 12 de 2023, de Centre National de Ressources Textuelles et Lexicales, https://www.cnrtl.fr/definition/academie8/devanture

Devanture - etymologie. s.d. Obtido em 12 de 2023, de Centre National de Ressources Textualles et Lexicales, https://www.cnrtl.fr/etymolgie/devanture

Duarte, Liliana. 2017. Paraíso no Porto: O Jardim Passos Manuel 1908-1938. Dissertação de mestrado. Porto: Faculdade de Letras da Universidade do Porto, https://repositorio-aberto.up.pt/bitstream/10216/108939/3/231942.1.pdf.

Felícia, Diana. 2022. “Ferro fundido com alma de madeira. a carpintaria da Companhia Industrial de Fundição (CIF)”. Em Madeiras, 129-148. Porto: Departamento de Ciências e Técnicas do Património. Universitade do Porto.

Felícia, Diana e Ana Cristina Sousa. 12 de 2023. Devantures Eixo Clérigos> 31 de Janeiro> Flores. Obtido de Os Meus Mapas Google, https://www.google.com/maps/d/u/0/viewer?hl=pt-PT&mid=1KtKJb_Gsy1NaEEukw-f8npEP3YuAWew&ll=41.14617180000002%2C-8.609971099999997&z=18

Fotografia aérea da cidade do Porto: 1939-1940: fiada 15, n.º 269. (1939/40). Obtido em 11.12.2023, de Arquivo Municipal do Porto, http://gisaweb.cm-porto.pt/units-of-description/documents/587689/?

Licença de obra n.º: 1100/1936. 1936. Obtido em 11.12.2023, de Arquivo Municipal do Porto, http://gisaweb.cm-porto.pt/units-of-description/documents/113159/?q=licen%C3%A7a+de+obras+ourivesaria+rua+flores.

Licença de obra n.º: 217/1914. 1914. Obtido em 11.12.2023, de Arquivo Municipal do Porto, http://gisaweb.cm-porto.pt/units-of-description/documents/81729/?q=licen%C3%A7a+de+obras+ourivesaria+rua+trinta+e+um+de+janeiro.

Licença de obra n.º: 333/1919. 1919. Obtido em 11.12.2023, de Arquivo Municipal do Porto, http://gisaweb.cm-porto.pt/units-of-description/documents/87150/?q=licen%C3%A7a+de+obras+ourivesaria+jos%C3%A9+dias+moura.

Licença de obra n.º: 488/1915. 1915. Obtido em 11.12.2023, de Arquivo Municipal do Porto, http://gisaweb.cm-porto.pt/units-of-description/documents/83423/?q=licen%C3%A7a+de+obras+ourivesaria+rua+trinta+e+um+de+janeiro.

Licença de obra n.º: 570/1925. 1925. Obtido em 11.12.2023, de Arquivo Municipal do Porto, http://gisaweb.cm-porto.pt/units-of-description/documents/97308/?q=licen%C3%A7a+de+obras+ourivesaria+alian%C3%A7a.

Licença de obra n.º: 853/1917. 1917. Obtido em 11.12.2023, de Arquivo Municipal do Porto, http://gisaweb.cm-porto.pt/units-of-description/documents/85983/?q=licen%C3%A7a+de+obras+ourivesaria.

Machado Joalheiros, s.d. História. 1880-1914: As origens, https://www.machadojoalheiro.com/pt/sobre-nos/historia/1880-1914-as-origens.

Marçal, Horacio. 1966. “A Rua de Stº António (conclusão)”. O Tripeiro, Série VI, Ano IV, 331-337.

Noé, Paula. 1997. Mercado de Ferreira Borges. Obtido em 11.12.2023, de SIPA - Sistema de Informação para o Património Arquitetónico, http://www.monumentos.gov.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=5550.

Paiva, A. G. 1908. Almanak do Porto e seu distrito para 1908.

Paiva, A. G. 1912. Almanak do Porto e seu distrito para 1912.

Patrício (Padre), F. J. 04 de 11 de 1906. A ourivesaria portuense. O Comércio do Porto.

Pimentel, Alberto. 1945. O Arco de Vandoma. Porto: Livraria Figueirinhas.

Queiroz, Francisco. 2000. “Património fabril do Porto”. Boletín Associação cultural amigos do Porto 18: 65-74.

Ribeiro, Andreia Sofia. 2013. (Re)interpretar uma identidade. Dissertação de mestrado. Porto: Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto.

Rio Fernandes, José. 1993. O comércio na cidade do Porto: uma abordagem geográfica. Tese de Doutoramento. Porto: Universidade do Porto.

Rio Fernandes, José. 1994. “O estrangeiro e o comércio retalhista no século XIX”. O Tripeiro, Série VII, Ano XIII: 25-27.

Santos Viseu Júnior. 1928. Anuário Comercial do Porto. Ano de 1928.

Sereno, Isabel. 1995. Edifício na Rua 31 de janeiro, n.º 200 a 202 / Edifício da Ourivesaria Cunha. Obtido de Sistema de Informação para o Património Arquitetónico (SIPA), http://www.monumentos.gov.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=3971.

Sereno, Isabel. 1996. Alfândega Nova do Porto. Obtido em 11.12.2023, de SIPA - Sistema de Informação para o Património Arquitetónico, http://www.monumentos.gov.pt/Site/APP_PagesUser/SIPA.aspx?id=3967.

Silva, J. J. 1897. Almanak do Porto e seu distrito para 1898 (43.º ano de publicação).

Sousa, Ana Cristina e Nuno Resende. 2012. “Os brilhantes do Brasileiro: uma visita à família dos ourives Mourão”. Em Actas do I Congresso O Porto Romântico, coordinado por Gonçalo Vasconcelos. Porto: Universidades Catolica de Portugal Editora.

Ville de Alés. 2021. Charte des devantures et enseignes commerciales. Alés Agglomération: Ville de Alés, https://www.ales.fr/wp-content/uploads/2021/11/charte-devantures-commerciales-Ales.pdf.

Ville de Bourg-la-Reine, Conseil d’Architecture, d’Urbanisme et de l’Environnement des Hauts-de-Seine. 2012. Charte Esthétique des devantures commerciales. Bourg-la-Reine: Ville de Bourg-la-Reine, https://www.bourg-la-reine.fr/cms_viewFile.php?idtf=70304&path=Charte-estethique.pdf.

Ville de Landerneau. 2021. La charte des recommandations des devantures commerciales. Landerneau: Ville de Landernau, https://www.landerneau.bzh/medias/2022/09/charte_devantures_facades-commerciales_landerneau-2021.pdf.

Ville de Lyon. 2018. Cahier de recommandations. Façades, devantures - rue Victor Hugo. Lyon: Ville de Lyon, https://www.lyon.fr/sites/lyonfr/files/content/documents/2018-09/cahier-reco-fa%C3%A7ades-devantures-rue-Victor-Hugo.pdf.

Ville de Montelimar. 2023. La charte devantures & enseignes commerciale. Montelimar: Ville de Montelimar, https://www.montelimar.fr/wp-content/uploads/2023/02/charte-guide-2.pdf.

Ville de Nemours. 2019. Charte de l’esthetique des devantures commerciales. Nemours: Ville de Nemours, https://www.nemours.fr/wp-content/uploads/2019/08/Charte-esthetique-des-devantures-commerciales-120419-1.pdf.

Ville de Questembert. 2017. La charte de devantures commerciales. Questembert: Ville de Questembert, https://www.mairie-questembert.fr/medias/2017/01/Charte-devanture-commerciale-Questembert-1.pdf.

Ville de Reims. 2018. Charte des enseignes et des devantures commerciales. Reims: Ville de Reims, https://www.reims.fr/fileadmin/reims/MEDIA/12_Economie_Emploi/Commerce_et_artisanat/Valise_du_commercant/Devanture/Charte_des_enseignes_et_des_devantures_commerciales_-_Reims_2018.pdf.


1. Felícia e Sousa 2023.

2. Costa 1789, 26.

3. Patrício (Padre) 1906.

4. Pimentel 1945, 86.

5. Rio Fernandes 1993, 26.

6. Pimentel 1945, 88.

7. Pimentel 1945, 85; Rio Fernandes 1994.

8. Sousa e Resende 2012, 126.

9. Rio Fernandes 1993, 27.

10. Rio Fernandes 1993, 27.

11. Datadas de 1893.

12. Marçal 1966, 331-332.

13. Anúncio “Ourivesaria e Joalheria Ancora” 1902.

14. Anúncio “Ourivesaria e Joalheria Ancora” 1902.

15. Rio Fernandes 1993, 73.

16. Anúncios.

17. Rio Fernandes 1993, 94.

18. Patrício (Padre), O Comércio do Porto, 1902.

19. Branco 2009, 66.

20. Devanture – definition. (tradução livre).

21. Devanture – etymologie. (tradução livre).

22. Devanture – etymologie. (tradução livre).

23. Na Casa Angélica, renovada em 1920 e localizada na rua 19. Barreira 2013, 94.

24. Na Dias & Irmão, renovada em 1921 e localizada na rua 8. Barreira 2013, 94.

25. Aplicado numa doçaria e salão de chá. Barreira 2013, 95.

26. Na Ferreira & Couto, renovada em 1941. Barreira 2013, 95.

27. Barreira 2013, 19.

28. Ribeiro 2013, 113.

29. Ribeiro 2013, 114.

30. Ville de Bourg-la-Reine 2012.

31. Ville de Alés 2021.

32. Ville de Landerneau 2021.

33. Ville de Questembert 2017.

34. Ville de Nemours 2019.

35. Ville de Argenteuil.

36. Ville de Reims 2018.

37. Conseil General La Cadier d’Azur 2011.

38. Ville de Lyon 2018.

39. No original “devantures en aplique” e “en feuillure”, respectivamente. Creil.

40. Creil. (tradução livre).

41. Creil. (tradução livre).

42. Felícia e Sousa 2023.

43. Felícia e Sousa 2023.

44. Paiva 1908, 234.

45. Costa 1914, 126. Fotografia aérea da cidade do Porto, 1939-1940, fiada 15, n.º 269, 1939/40.

46. Paiva 1908, 234.

47. Costa 1914, 126.

48. Paiva 1908, 234.

49. Duarte 2017, 146.

50. Licença de obra n.º: 333/1919, 1919,

51. Queiroz 2000, 69.

52. Queiroz 2001, 171-172.

53. Queiroz 2001, 171-172.

54. Queiroz 2001, 171-172.

55. Silva 1897, 448.

56. Queiroz 2001, 172.

57. Santos Viseu Júnior 1928, 210.

58. Barros 1905, 336.

59. Paiva 1912, 312.

60. Costa 1914, 126.

61. Licença de obra n.º: 570/1925, 1925.

62. Castanheira 1882, seção de anúncios.

63. Póvoas 1978-79, 708.

64. Noé 1997.

65. Sereno 1996.

66. Licença de obra n.º: 1100/1936, 1936.

67. Licença de obra n.º: 1100/1936, 1936.

68. Licença de obra n.º: 1100/1936, 1936.

69. Felícia e Sousa 2023.

70. Felícia e Sousa 2023.

71. Licença de obra n.º: 217/1914, 1914.

72. Sereno, Edifício na Rua 31 de janeiro, n.º 200 a 202 / Edifício da Ourivesaria Cunha, 1995.

73. Machado Joalheiros s.d.

74. Machado Joalheiros s.d.

75. Licença de obra n.º: 488/1915, 1915.

76. Licença de obra n.º: 853/1917, 1917.

77. Felícia 2022, 136-137.

78. Felícia 2022, 141.

79. Felícia 2022, 135.

80. Felícia 2022, 145.

81. Felícia 2022, 145.

82. Felícia 2022, 145.

83. Felícia e Sousa 2023.

84. Rio Fernandes 1994, 25-27.