El espacio sagrado en construcción: el estudio del caso de la Iglesia de San Juan Bautista de Foz do Douro
The sacred space under construction: the case study of the Church of St. John the Baptist of Foz do Douro
Marisa Pereira Santos
Universidade do Porto. Portugal
ORCID: 0000-0002-8338-7487
marisaflup02@gmail.com
Resumen:
Por lo general, los edificios religiosos se constituyen como realidades orgánicas donde el paso de los siglos se percibe tanto en su estructura arquitectónica como en su configuración urbana dentro de un territorio concreto. Unas transformaciones que, paulatinamente, se presentan desde la superposición de estructuras y la reutilización de materiales hasta el desgaste propio de la naturaleza o la propia actuación humana. Con estas premisas, el presente artículo pretende hacer un análisis del desarrollo arquitectónico de la iglesia parroquial de São João Batista da Foz do Douro, analizando aquellos cambios que fundamentan y configuran su actual conservación. Así, con este objetivo se muestra un trabajo que expone el estudio de las fuentes archivísticas como de las mismas huellas materiales que han llegado hasta nuestros días.
Palabras clave:
Arquitectura; Territorio; Patrimonio; Iglesia de São João Batista da Foz do Douro.
Abstract:
In general, religious buildings are constituted as organic realities where the passage of centuries is perceived both in their architectural structure and in their urban configuration within a specific territory. Transformations that gradually occur from the superimposition of structures and the reuse of materials to the wear and tear of nature or human actions.With this point of view, this article aims to make an analysis of the architectural development of the parish church of São João Batista da Foz do Douro, analyzing those changes that underlie and configure its current conservation. Thus, with this objective, a work is shown that exposes the study of archival sources as well as the same material traces that have reached our days.
Keywords:
Architecture; Territory; Heritage; Church of São João Batista da Foz do Douro
Fecha de recepción: 30 de diciembre de 2023.
Fecha de aceptación: 10 de abril de 2024.
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© 2024. Marisa Pereira Santos. Este es un artículo de acceso abierto distribuido bajo los términos de la licencia Creative Commons Attribution-NonCommercial-ShareAlike 4.0. International License (CC BY-NC-SA 4.0). |
Introdução
Pelos vários territórios cristãos chegaram, até aos nossos dias, um grande número de igrejas, capelas, ermidas e oratórios, ora em pleno exercício das suas funções, ora em ruínas ou adaptados a novos usos. Estes espaços arquitetónicos afirmam-se como uma “delimitación claramente definida que garantiza una protección tanto física como psíquica”1.
Para a construção da narrativa de um espaço sacro é necessário refletir-se sobre o lugar, sobre a existência de estruturas anteriores, a ocorrência de alterações urbanas, mudanças de gosto e transformações litúrgicas. A estes fatores acresce a ação da natureza e/ou da mão humana, que influenciam diretamente a transformação, adaptação ou destruição das arquiteturas. Assim, aplicando à arquitetura a linha de pensamento de Marguerite Yourcenar, no ensaio “O tempo esse grande escultor”, neste artigo aplicado à arquitetura, no dia em que a obra é concluída “começa, de certo modo, a sua vida”2. Transforma-se, assim, no repositório de várias vidas. Consideramos que, a estas vidas, é transversal o conceito de “hierotopy”, alavancado por Alexei Lidov. O autor defende que “Hierotopy is creation of sacred spaces regarded as a special form of creativity, and a field of historical research which reveals and analyses the particular examples of that creativity”3. Partindo do estudo de caso da Igreja Paroquial de São João Batista da Foz do Douro, pretende-se relacionar o edifício e o seu processo construtivo com a história do lugar, analisando-o enquanto organismo vivo.
Nas últimas décadas a Foz do Douro tem sido abordada, essencialmente, segundo três linhas de investigação: o projeto quinhentista de D. Miguel da Silva e respetivos trabalhos de Francisco Cremona ao seu serviço, a construção e desenvolvimento do Forte de São João Batista da Foz do Douro e as transformações urbanísticas e arquitetónicas decorrentes da vilegiatura. Exemplo disso são os trabalhos de José Fernandes (1985), Rafael Moreira (1994), Isabel Osório (1994), Mário Barroca (2001), Marta Oliveira (2005), Nuno Moura (2009), Susana Marques Abreu (2010) e Ferrão Afonso (2017). A literatura publicada até então, encara a igreja da Foz do Douro como um edifício de construção única e não como o resultado de múltiplas fases, que se estenderam por quase um século.
Apesar de ser essencial a consulta destes autores, a reconstituição das camadas construtivas só é possível graças à análise do objeto in loco e ao cruzamento das fontes encontradas no Arquivo Paroquial da Foz do Douro4 e no Arquivo Distrital do Porto. Ao longo dos últimos quatro anos temos vindo a abordar a Foz do Douro segundo uma perspetiva holística e integrada, que relaciona o território com as devoções ancoradas no lugar, os seus espaços sacros, produção artística e práticas culturais5.
A Foz do Douro
A Foz do Douro, território localizado junto à barra do rio Douro e integrado na atual cidade do Porto foi, desde a sua génese, um ponto de passagem de pessoas e mercadorias. Entre o século XIII e o ano de 1834, data da Extinção das Ordens Religiosas em Portugal, foi Couto do Mosteiro Beneditino de Santo Tirso.
O lugar onde se ergue a atual igreja paroquial, no topo da encosta sobranceira ao rio Douro, não é o ponto fundacional da paróquia medieval deste antigo Couto beneditino. Os vestígios arqueológicos confirmam que, pelo menos desde os séculos IX/X, existiu junto à barra uma pequena ermida dedicada a São João Batista6. Esta construção foi substituída por uma igreja de maiores dimensões, erguida entre 1527 e 1547 por vontade de D. Miguel da Silva, Bispo de Viseu e Abade Comendatário do Mosteiro de Santo Tirso. A construção deste templo renascentista ficou a cargo do muratore Francisco de Cremona7.
No entanto, a vulnerabilidade do litoral português, devido às “incursões sempre temíveis da pirataria”, incentivou a construção de uma linha de fortificações para proteção de pontos débeis e/ou estratégicos da costa portuguesa8. Assim, em 1570, a coroa inicia a construção da fortaleza da Foz do Douro9 ao redor da Igreja Renascentista (Figura 1). Esta localização foi entendida como a mais favorável para a defesa da principal entrada na cidade do Porto. Com o início das obras “se opoz o Mosteiro pera não ser obrigado a edificar” um novo templo, dirigindo uma “petiçam a Sua Magestade pera que mandasse fazer outra igreja”.10 Apesar do pedido e do trabalho de levantamento levado a cabo por Baltazar Álvares11, não foi construído nenhum edifício. Ainda que rodeada pela estrutura militar, a igreja renascentista manteve-se em funções até ao século XVII. Este contexto levou a que se estabelecesse uma convivência forçada entre beneditinos e militares, mantida até 1640/1643. Esta época ficou marcada pela instabilidade sentida devido à Guerra da Restauração12 e à necessidade de requalificação da estrutura militar, a cargo de Lassart13. O ambiente vivido tornou incompatível a coabitação, levando os beneditinos a abandonarem a sua igreja e residência14. Outro fator que terá influenciado esta decisão foi a doação dos terrenos para a construção do novo templo, feita a 25 de agosto de 1640 por Frei André Marques de Almeida, Abade de Figueiras.
Figura 1 – Vestígios da antiga igreja Renascentista de D. Miguel da Silva e Fortaleza da Foz do Douro. Séculos XVI – XVIII. Fotografia da autora.
Apesar da promessa régia em arcar com todas as despesas da construção de uma nova igreja15, a doação de Frei André comprova o contrário. A coroa não esteve envolvida na doação dos terrenos, nem na fundação da capela-mor da nova igreja, que ficou a cargo do doador.
Os terrenos doados situam-se na encosta, com vista para o rio Douro e para a barra. No local existia “hum passal que sam huma corrente de cazas com seus racios e humas cazas e sellarias pera a parte do nasente e suas entradas e sahidas e hum pedaso de cham pera o Sull e outro pedaso pera Norte”16. Apesar das pré-existências, o terreno ia ao encontro das normas descritas nas Constituições Sinodais, uma vez que a igreja estaria edificada num “lugar povoado”, num “sitio alto & lugar decente”, no qual se podia “guardar bem o Santissimo Sacramento da Eucharistia & acodir melhor à obrigaçaõ de o administrar aos enfermos”17.
A distância entre a antiga Igreja Renascentista e os terrenos doados é, atualmente, pouco significativa. No entanto, no século XVII, o crente teria de percorrer a enseada, hoje desaparecida devido ao aterro do Jardim do Passeio Alegre18, e subir a pequena encosta repleta da rua estreitas até chegar à entrada da nova igreja (Figura 2).
Figura 2 – BIEL, Emílio. Passeio Alegre. 1885. Legenda: 1 – Forte da Foz do Douro e ruínas da Igreja Renascentista. 2 – Atual igreja paroquial. 3 – Jardim do Passeio Alegre em construção. Fonte: https://monumentosdesaparecidos.blogspot.com/2015/05/profissoes-da-foz-do-douro-porto.html.
Camadas de tempo: a construção da igreja paroquial da Foz do Douro
As fontes confirmam a reconfiguração das estruturas doadas por Frei André Marques de Almeida (1640) à “forma de igreja”, tendo-lhes sido retiradas as paredes interiores19. Coube ao doador a fundação da capela-mor, localizada no lado norte, que reservou para sua sepultura. Tal como a nave, este espaço resultou da adaptação de algumas paredes “delgadas” que eram “as mesmas que foram de cazas”.20
O testamento de Frei André, datado de 1645, confirma que, à data, a capela-mor já estaria praticamente concluída, tendo já o “presviterio, forra [de] azulejos, vidraças e fronte expicio”, bem como a sepultura “nomeio da dita capella mor” 21.
A igreja de meados do século XVII terá recebido, provavelmente, uma cobertura em madeira. Face à descrição das paredes “delgadas e de pedra e barro”, que rapidamente começaram a “ameaçar ruina” 22, é pouco provável que o sistema de cobertura fosse abobadado. Nesta época, o Mosteiro de Santo Tirso ordenou que se “assenta[ssem] huns botareos pela face fronteira ao rio Douro”. Estes elementos eram “de pedra e cal, tao altos e de tanta grossura que custaraom muito mais do que poderiaom custar as próprias paredes mestras se se fize[ssem] de novo”23. Esta solução mostrou-se ineficaz.
Podemos concluir que a igreja paroquial de meados do século XVII era uma estrutura de retalhos, feita de adaptações e reaproveitamentos, que contrastava com o “templo bem ornado e sumptuoso, muito perfeito e bem acabado” que D. Miguel da Silva deixara à comunidade e aos beneditinos, no século XVI24.
Rafael Moreira (1994) levanta a hipótese da igreja paroquial da Foz do Douro resultar de um projeto da autoria do beneditino Frei João Turriano (1611 – 1679)25. Este monge esteve envolvido, entre 1659 e 1679, nas obras da nova igreja, sacristia e dependências do Mosteiro de Santo Tirso26, instituição que administrava o antigo Couto da Foz. A tese levantada por este autor prende-se com o facto de Turriano se encontrar, em 1642, a trabalhar juntamente com Lassart na Fortaleza da Foz. De facto, comprova-se a presença de Turriano no território aquando da transformação dos primitivos edifícios doados por Frei André Marques de Almeida aos beneditinos. No entanto, a leitura feita por este autor não tem em conta as pré-existências do lugar, nem tão pouco reconhece a atual igreja como o resultado de várias fases de construção desfasadas no tempo. Até ao momento, não é possível identificar a autoria ou autorias do projeto ou projetos para este edifício, nem tão pouco levantar hipóteses corroboradas pela documentação.
A nova nave
Por volta da década de 60 de seiscentos, ter-se-á iniciado a construção de um novo corpo da igreja em “pedraria lavrada”, cujo custo ascendeu a “mais de sincoenta mil cruzados”27. Esta obra seguiu as determinações canónicas que davam preferência a uma nave com cobertura em madeira e pavimento “lageado ou ladrilhado”, com dimensão capaz de albergar os “fregueses todos” e “gente de fóra, que nas festas & outras occasioens concorre[-se]” ao local para “ouvir os officios Divinos”28.
A nova nave terá ficado concluída antes da Visitação de 1667, que a descreve como “bem servida” e com os seus altares “decentemente venerado[s]”29. No entanto, em 1673, é mencionado que o sacrário com o Santíssimo Sacramento estava na capela30 de Santa Anastácia31. As fontes não são claras quanto à data da trasladação. Confrontando os indícios recolhidos, consideramos plausível que o sacrário tenha circulado entre os espaços sacros, uma prática presente, pelo menos, durante a Época Moderna32.
A composição arquitetónica que chegou até nós é o resultado de um longo processo de transformação. Da estrutura mencionada, em 1667, correspondem as paredes laterais que, inicialmente, comportavam “seis capellas” laterais33, tendo sido acrescentadas mais duas no decorrer do século XVIII (Figura 3). Em julho de 2022 foram identificados vestígios de pintura mural e a presença das antigas pedras de altar no tardoz dos atuais retábulos (Figura 4). Através destes vestígios, conclui-se que os altares laterais do século XVII eram constituídos por uma estrutura granítica, enquadrada por pintura mural figurativa e fitomórfica. No início do século XVIII foram contratados, entalhados e ensamblados os retábulos em talha dourada, que ocultaram as anteriores pinturas e reaproveitaram algumas das antigas pedras de altar para suporte das estruturas de aparato setecentistas (Figura 4).
Figura 3 – Vista sobre o interior da Igreja Paroquial da Foz do Douro, nave, capela-mor e coro alto. Séculos XVII – XVIII. Fotografias da autora.
Figura 4 – Pedra de altar, século XVII. Vestígios de pintura mural seiscentista. Tardoz dos altares de Nossa Senhora de Fátima e Nossa Senhora da Graça da igreja paroquial da Foz do Douro. Fotografia da autora.
Os oito altares laterais que nos chegaram assentam sobre um patamar granítico, em tempos rodeado por uma grade em madeira abalaustrada, tal como demonstra a fotografia da festividade do Corpus Christi, de 1902 (Figura 5). Por cima das sanefas dos retábulos, encontra-se o clerestório, composto por oito vãos de iluminação, quatro de cada lado, orientados segundo os tramos do sistema de cobertura (Figuras 3 e 5).
Figura 5 – Autoria desconhecida. Vista do interior da igreja paroquial da Foz do Douro, ornamentada para a festa do Corpus Christi. 1902. Arquivo Paroquial da Foz do Douro.
Inicialmente, a nova nave recebeu cobertura em madeira, mas a projeção do espaço já contemplava a conceção de uma abóbada. A memória do primitivo teto é evocada por uma linha de cornija visível na fachada poente e no interior da igreja. Internamente este elemento apresenta-se parcialmente tapado pelas sanefas dos altares laterais, mantendo-se visíveis as mísulas34 sobre as quais assentavam as vigas de madeira.
Perspetivava-se que as paredes da nova nave fossem de “pedra e cal taom grossas qui fossem capazes de receber abobeda de pedraria”35. Assim, entre os triénios de Frei Manuel da Ascensão (1728-1730) e de Frei Veríssimo da Ascensão (1731-1733)36 foi construída a abóbada de luneta que hoje vemos. A cobertura é marcada por tramos delimitados por um arco de volta perfeita em cantaria, intercalados com o arranque de duas nervuras que se cruzam ao centro (Figura 3)37. A abertura dos vãos de iluminação corresponde à intervenção da cobertura (c.1728-1733) que, consequentemente, levou à elevação do pé direito da nave (Figuras 3 e 5). Até ao momento não foram encontrados indícios que nos indiquem como era feita a iluminação no interior do espaço sacro antes de 1728.
A Capela-mor
Com a construção da nova nave nascia também um problema: a desproporção entre o novo corpo e a capela-mor de Frei André. As Constituições Sinodais defendiam que a capela-mor deveria estar “em proporçaõ” com o restante edifício, com cobertura em “abobada ou ao menos bem forrada”.38 Os monges constataram que, para a “fazer proporcionada [à] igreja a naom acabaria[m] com vinte mil cruzados”39. Apesar do avultado custo, manter a capela de Frei André contribuiria para a criação de “huma grande deformidade” estrutural40. Assim, os beneditinos decidiram erguer, entre 1673 e 1674, uma parede no enfiamento do arco triunfal. A igreja ficou sem capela-mor, que passou a servir apenas como capela funerária de Frei André, à qual se acedia por uma porta travessa41. A introdução desta solução arquitetónica levanta questões de foro simbólico. O espaço interno de uma igreja pode ser interpretado como um camino, que vai desde a nave até à capela-mor, através do qual se acede à “esencia de la existência”42. A supressão de uma das partes do edifício impacta a leitura simbólica do lugar e a sua vivência por parte do crente.
Perante a decisão tomada pelos beneditinos, a Santa Casa da Misericórdia do Porto, fiel depositária dos legados do doador, ordenou a abertura de um vão na parede recentemente edificada43. Apesar de terem acatado o pedido da instituição, os beneditinos insistiram na necessidade de se fazer uma nova capela-mor44. Dá-se então início a uma quezília entre a Santa Casa e os religiosos que durou cerca de 55 anos45.
Apesar das várias sentenças contraditórias, os beneditinos deram início à construção da nova capela-mor no triénio do Dom Abade Frei António de São Bento (1709-1712)46. Numa primeira fase foram realizados os alicerces47 e no triénio de Frei Pedro dos Martyres (1713-1715) foi erguida a parede norte até às “frestas”, ou seja, até aos vãos de iluminação48. Entre 1722 e 1724, sob a alçada de Frei Paulo da Assunção, o espaço foi guarnecido com “as cornijes feytas”, sendo a obra da capela consumada no triénio de Frei Manuel da Trindade (1725-1727). O custo total da construção ascendeu a “trinta mil cruzados”49. A demora da obra deveu-se ao seu financiamento, cuja origem derivava dos “rendimentos incertos do Couto da Foz”50.
Ao que tudo indica, os alicerces da parede norte mantiveram o alinhamento da antiga capela de Frei André, conservando-se o vão por de baixo do sacrário (Figura 6), que permite a ligação com as estruturas adjacentes que em tempos serviram como sacristia51 e como “fabrica e guarda dos paramentoz” da Confraria do Santíssimo Sacramento52. Estes espaços são referidos na documentação de 1713, quando a atual capela-mor estava em construção. As fontes mencionam que, no tempo de Frei André, se fez por detrás da capela-mor, “hua caza pera fabrica e guarda dos paramentoz” da Confraria do Santíssimo Sacrtamento, ficando “hua porta por baixo da tribuna do altar”53. Tanto a “capella mor da i[g]hreja” como a “caza da fabrica” se fizeram “ao mesmo tempo e as paredes setavao humas com outras”54. Tal confirma a existência destas dependências no tempo de Frei André, cuja configuração se manteve com a construção da atual capela-mor. Assim, através do cruzamento de fontes e da análise in loco confirma-se que a antiga sacristia, que hoje serve como casa mortuária, deverá corresponder à construção de Seiscentos55. Este espaço insere-se na tipologia construtiva defendida pelo Concílio de Trento (1545-1563) e por São Carlos Borromeu56, que as Visitações reforçam desde a primeira metade do século XVI.57 Trata-se de um modelo bastante aplicado no Brasil, indicando-se como exemplo a sacristia do convento de São Francisco de Olinda58. A atual sacristia, perpendicular à capela-mor e com ligação à mesma por porta lateral, foi erguida entre 1744 e 1746, por ordem de Frei Plácido de São Bento59.
Figura 6 – Vista sobre a capela-mor a partir do púlpito do lado do Evangelho. Fotografia da autora.
Durante a construção da nova capela-mor, a Santa Casa da Misericórdia manteve-se, aparentemente, silenciosa. Contudo, em 1722-1725, aquando do término das obras da cornija, foi ordenado aos beneditinos que “naom fichassem o arco da cappella mor sem nelle [se] por as armas e letreiros do dito Frei Andre Marques”60. Uma vez que os custos da nova edificação tinham ficado a cargo dos religiosos, estes entendiam não ser obrigados a atender a este pedido61. Porém, em 1728, os mestres pedreiros “Domingos Pires de Matos”, “Manoel [Moreira]” e “Manoel de Matos”62, foram intimados pelo “Doutor Corregedor do Civel da Relleçaom do Porto” para que “naom fecha[ssem] o Arco cruzeiro […] sem nele porem as armas” sob “penna de quinhentos cruzados pagos da cadea”.63 Os religiosos tiveram, assim, de acatar a sentença. No triénio do Reverendo Frei Manuel da Ascensão (1728-1730), ficou concluído o “remate sobre o arco da capela mor”, no qual “se gastou sete mil e tantos cruzados” 64, quantia superior aos “seis mil cruzados em dinheiro de contado livres”65 acordado em sede contratual.
Atualmente ainda são visíveis as armas de Frei André Marques de Almeida, por baixo das armas da Ordem de São Bento (Figura 7). Cumpriu-se, assim, a memória do fundador da primeira capela-mor, mas também o reconhecimento do esforço que os religiosos tiveram na edificação da nova estrutura.
Figura 7. Remate do arco triunfal com as armas da Ordem Beneditina e de Frei André Marques de Almeida. Fotografia da autora.
O coro alto e o frontispício
A par da construção da capela-mor e arco triunfal realizaram-se as obras da abóbada, coro alto e frontispício66. O espaço sacro terá sido, durante este período, um verdadeiro estaleiro de obras. A igreja que hoje conhecemos só ficou concluída no triénio de 1731/1733 (Figura 8)67.
Figura 8. Pereira, Carlos. Vistas aéreas da Igreja Paroquial da Foz do Douro.
Sobre o portal de entrada encontra-se o coro alto (Figuras 3 e 8). A sua localização vai ao encontro das diretrizes canónicas tridentinas, que determinavam para as igrejas paroquiais de grandes dimensões a construção “sobre as portas principais” de “coros em que se possaom rezar & cantar os officios Divinos”68. O tramo da abóbada do coro foi, em tempos, revestida por “tella e madeira”69, ou seja, forrada a caixotões de madeira com telas, possivelmente pintadas70. A dificuldade de manutenção da talha devido à grande humidade ainda hoje existente no edifício, decorrente da sua proximidade ao mar, parece ser ter sido a condicionante que impediu que o revestimento tenha chegado até nós71. Desconhece-se, ao certo, qual a época da sua retirada, bem como o provável conteúdo pictórico.
Atualmente acede-se ao coro alto através das dependências paroquiais. No entanto, é conhecida a existência de umas escadas localizadas no primeiro arco abatido do lado da Epístola, junto à entrada da igreja, que permitiam a ligação entre a nave e o coro. Este acesso terá deixado de prestar serventia em 1937, época em que a imagem da Senhora da Luz e o seu antigo retábulo, em talha dourada, foram colocados no interior do arco72. Na torre nascente ainda se conservam os vestígios destas escadas, destruídas em 195573.
Junto à entrada da igreja, do lado do Evangelho, conserva-se outro arco abatido, que alberga a pia batismal. Em 1659, há já referência a uma peça desta tipologia, mandada consertar pelo “Reverendo Prior Dom Abbade” que ordenou que lhe pusessem “fechadura pera estar fechada”74. Deixaremos o desenvolvimento deste campo de estudo para um trabalho futuro.
O frontispício, com as suas duas torres, foi realizado entre 1728-1733, juntamente com as “escadas em redondo” de acesso à igreja 75. A fachada é composta por dois corpos. O inferior corresponde ao portal principal, ladeado por trabalho de cantaria e rematado por um frontão curvo, interrompido pelo nicho que hoje alberga a imagem de São João Batista. Esta pequena edícula é rematada por um frontão curvo, enquanto os nichos laterais, localizados no alinhamento do frontão do portal, culminam num frontão triangular. No seu alinhamento estão os vãos de iluminação verticais e no enfiamento central está um óculo oitavado, correspondentes à iluminação do coro alto. Todos estes elementos são emoldurados por trabalho em cantaria, bem como o pano murário, destacando-se, lateralmente e na linha dos frontões dos nichos laterais, o arranque de uma cornija, que remete para o primitivo nível da cobertura (Figura 8).
O segundo corpo corresponde ao remate da fachada, composto pelas duas torres sineiras que ladeiam uma empena (Figura 8). Esta, é rematada por um frontão circular, encimado por uma cruz. Atualmente, a empena desempenha um papel funcional, ligando internamente as torres. Cada uma delas é rematada por um pináculo e em cada vértice encontram-se urnas encimadas por uma esfera. O corpo da igreja e capela-mor recebem telhado em duas águas.
A torre do lado poente apresenta um pequeno vão de iluminação retangular e um outro entaipado, que corresponde ao antigo acesso, feito a partir da residência dos beneditinos76. Por sua vez, a torre do lado nascente conserva duas janelas quadrangulares desniveladas que servem para iluminar o interior (Figura 8).
No final do século XIX, a fachada principal foi guarnecida de azulejo. A aplicação da “obra de forramento a azulejo da frente e torres da igreja parochial” deu-se entre 1883 e 1886, e esteve a cargo de Joaquim José Martins, “mestre trolha, morador na rua Central desta freguezia [Foz do Douro]” 77. A obra teve um custo de 504,33 mil reis78. Em ata de 1886, a Confraria do Santíssimo Sacramento procede à “arrematação da empreitada da obra de forramento a azulejo da parede do corpo da igreja parochial do lado do mar”, entregue ao mesmo “mestre trolha”, pela quantia de “duzentos e sessenta e oito mil reis”79. No registo fílmico da Procissão do Senhor dos Passos80 ainda são visíveis os azulejos da fachada da igreja de tipo padrão. A fonte confirma a retirada deste revestimento após 1950-1956.
Conclusão
Como comprova a documentação conservada no Arquivo Paroquial da Foz do Douro e no Arquivo Distrital do Porto, bem como a análise dos vestígios materiais recolhidos, a atual igreja paroquial da Foz do Douro resulta de múltiplas e sucessivas empreitadas que se prolongaram durante quase um século.
O constante uso desta estrutura devocional com função paroquial permitiu que a mesma chegasse até nós. As fontes do século XIX aludem constantemente à manutenção e restauro da igreja. Nos registos de despesas da Confraria do Santíssimo Sacramento é recorrente a alusão à caiação da nave e da capela-mor, bem como o conserto dos telhados81. Ao longo do século XX, manteve-se a preocupação na manutenção da estrutura registando-se o montante “[pago] a Joze Antonio de Carvalho por obra de trolha nos telhados da egreja 22.000 $”82. Em 1953 é anotada a despesa com “os telhados e reparos de toda a igreja matriz constantes dos recibos dos mestres trolhas, carpinteiros e pedreiro 134.910$”83 Sabe-se que a permanente manutenção arquitetónica era suportada pela receita de peditórios aos irmãos das confrarias e restantes fregueses84. Atualmente, este espaço sacro encontra-se a ser alvo de uma campanha de consolidação e restauro, essencial para travar a profunda degradação a que a estrutura se encontra exposta.
Através do cruzamento de fontes foi possível reconstituirmos a evolução construtiva da igreja paroquial, influenciada pelos ritmos de vida da comunidade, pelas suas devoções e pelas práticas religiosas. Os vestígios documentais e materiais das várias camadas de história arquitetónica que a compõe denunciam o ritmo dos tempos e a sua ação sobre o edificado. Assim sendo, partindo do estudo de caso da igreja paroquial de São João Batista da Foz do Douro, demonstra-se a necessidade de se refletir sobre os espaços sacros como realidades sujeitas ao devir, compostas por várias camadas que o tempo encerra e, simultaneamente, transporta.
Entendemos que esta narrativa deve ser divulgada junto das comunidades local e visitante. Tendo por base o estudo presente neste artigo, o grupo de investigação do projeto85 “Igreja de São João Baptista da Foz do Douro: digitalização do Arquivo paroquial, reconstituição 3D e visita virtual 360º”86, desenvolveu, ao longo de 2023, um modelo interpretativo 3D87 da evolução arquitetónica deste espaço sacro. Esta reconstituição encontra-se inserida na visita virtual 360º, desenvolvida pela DETALHAR. Desta forma, apresentam-se duas possibilidades de divulgação para o grande público de uma investigação feita essencialmente em arquivo, tornando possível a disseminação de conhecimento de uma forma interativa.
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Yourcenar, Marguerite. 1984. O Tempo esse grande escultor. Lisboa: Difel.
1. Norberg-Schulz 1975, 52.
2. Yourcenar 1984, 47-53.
3. Lidov 2006, 32.
4. Para além dos habituais registos de óbitos, casamentos e batizados, preservaram-se os estatutos das Confrarias, inventários, registos de despesa e receita, atas, narrativas mnemónicas, certidões e testamentos.
5. Esta investigação culminou na tese de Doutoramento em Estudos do Património – História da Arte (FLUP), intitulada “Silêncio… a Foz vai doirando lentamente…” Território, Devoção e Práticas Culturais da Foz do Douro (2022). No capítulo 4 da referida tese abordamos as fases construtivas da igreja paroquial que damos a conhecer neste artigo. Esta investigação foi financiada por bolsa de Doutoramento FCT SFRH/BD/145807/2019 (2019-2022).
6. Silva 1994, 110; Osório 1993, 71-78.
7. Abreu 2011, 561-562; Afonso 2017, 131-134.
8. Silva 1987, 28.
9. Também conhecida como Castelo da Foz do Douro.
10. Arquivo Paroquial da Foz do Douro (APFD), Títulos do Santíssimo, Livro 15a, 1586, ff. 163-164.
11. Sobre o tema consultar: Santos 2022, 173-174.
12. A Guerra da Restauração (1640-1668) colocou as coroas de Portugal e Castela em conflito pelo direito ao trono português. Esta época é embebida numa grande instabilidade política. Após a aclamação do Duque de Bragança como rei de Portugal, os Comandantes que mantinham a sua lealdade a Filipe IV recolheram-se nas fortalezas de Viana do Castelo e da Foz do Douro com o intuito de resistirem, esperando apoio logístico vindo por mar a partir da Galiza. (Silva, 1987: 29) Sobre o tema consultar: Espírito Santos 2006; Rodríguez Trejo 2015, 555-572.
13. Santos 2022, 171
14. Manuel Pereira de Novais refere a transferência do Santíssimo Sacramento da igreja renascentista para a Capela de Santa Anastácia, que terá funcionado como igreja paroquial até à construção do novo templo em terrenos doados por Frei André Marques de Almeida (Novais 1915/1916a, 216; 1915/1916b, 205).
15. APFD, Títulos do Santíssimo, Livro 15a, 1586, ff. 162-164.
16. APFD, Documentos importantes da Confraria do Santissimo Sacramento, Livro CSS-11, 1640, ff. 3.
17. Bispado do Porto 1735, ff. 362.
18. Santos 2022, 100-107.
19. Arquivo Distrital do Porto (ADP), Fundo Convento de São João da Foz – Porto, K/16/4 – 45, 1726: ff. 128.
20. ADP, Fundo Convento de São João da Foz – Porto, K/16/4 – 45, 1726, ff. 131.
21. APFD, Instrumento de doação. CSS – 77, 1645: ff. 5.
22. ADP, Fundo Convento de São João da Foz – Porto, K/16/4 – 45, 1726, ff. 128.
23. ADP, Fundo Convento de São João da Foz – Porto, K/16/4 – 45, 1726, ff. 128.
24. APFD, Títulos do Santíssimo, Livro 15a, 1586, ff. 163.
25. Moreira 1994, 66.
26. Dias 2018, 370-413.
27. ADP, Fundo Convento de São João da Foz – Porto, K/16/4 – 45, 1726, ff. 128.
28. Bispado do Porto 1735, ff. 362-366.
29. APFD, Documentos avulso. Livro CSS-61, ff. 1.
30. A capela de Santa Anastácia da Foz do Douro localiza-se na Rua Padre Luís Cabral, anteriormente designada de Rua Direita ou Rua Central. Sobre o tema consultar Santos 2022, 556-570.
31. APFD, Documentos avulso, Livro CSS-61, Documento Avulso 8, ff. 1-1v.
32. Sousa 2010, 162.
33. ADP, Fundo Convento de São João da Foz – Porto, K/16/4 – 45, 1726, ff. 128v.
34. As mísulas são compostas por uma moldura côncava em quilha assente sobre um triângulo estriado com remate em óvulo e ladeado por volutas.
35. ADP, Fundo Convento de São João da Foz – Porto, K/16/4 – 45, 1726, ff. 128.
36. ADP, Fundo Convento de São João da Foz – Porto, K/16/6 – 16, 1728, ff.162-162v.
37. Esta solução pode ser encontrada na igreja do antigo Mosteiro de Santa Maria de Arouca (Rocha 2011), apresentando-se como um sistema de cobertura bastante recorrente nos períodos Renascentista e Barroco. Plaza Escudero 2014, 31).
38. Bispado do Porto 1735, ff. 365.
39. ADP, Fundo Convento de São João da Foz – Porto, K/16/4 – 45, 1726, ff. 128v.
40. ADP, Fundo Convento de São João da Foz – Porto, K/16/4 – 45, 1726, ff. 128v.
41. ADP, Fundo Convento de São João da Foz – Porto, K/16/4 – 45, 1726, ff.128 – 128v.
42. Norberg-Schulz 1975, 59.
43. ADP, Fundo Convento de São João da Foz – Porto, K/16/4 – 45, 1726, ff. 128v.
44. ADP, Fundo Convento de São João da Foz – Porto, K/16/4 – 45, 1726, ff. 128v.
45. ADP, Fundo Convento de São João da Foz – Porto, K/16/4 – 45, 1726, ff. 130v-132. Apesar do desacordo entre o Mosteiro Beneditino de Santo Tirso e a Santa Casa da Misericórdia do Porto relativamente à questão da Foz do Douro, as fontes asseveram uma estreita relação entre as duas instituições. A 9 de abril de 1752 é emitida uma nota de agradecimento pela ajuda que o dito Mosteiro deu para a “compra de dez traves que servissem de linhas pera a armação da Igreja que atualmente se está reformando” e outras mercês, aludindo-se às obras que decorriam então na igreja da Misericórdia localizada na Rua das Flores, no Porto. Tal doação confirma os laços existentes entre as duas entidades (Arquivo Santa Casa da Misericórdia do Porto, Livro 5º de Lembranças: s/p).
46. ADP, Fundo Convento de São João da Foz – Porto, K/16/6 – 16, 1709-1712, ff. 60.
47. ADP, Fundo Convento de São João da Foz – Porto, K/16/6 – 16, 1713-1715, ff. 160.
48. ADP, Fundo Convento de São João da Foz – Porto, K/16/6 – 16, 1713-1715, ff. 161.
49. ADP, Fundo Convento de São João da Foz – Porto, K/16/6 – 16, 1725-27, ff. 62.
50. Basto 1945, 186.
51. A antiga sacristia funciona hoje como capela mortuária.
52. APFD, Títulos do Santíssimo, Livro 15a, 1780, ff. 82. O acesso a este espaço pode, também, ser feito por duas portas travessas, uma com serventia para a rua e a outra com ligação interna à atual sacristia, perpendicular à capela-mor.
53. APFD, Titulos do Santíssimo, Livro 15a: ff. 80.
54. APFD, Documento avulso: Sentença cível, Livro CSS-67, ff. 6v-7.
55. Sobre o tema consultar Santos 2022, 183.
56. Instrucciones Fabricae Ecclesiasticae et Supellectilis Ecclesiastica, obra difundida em Portugal pelas edições de 1577 e 1747.
57. Sobre o tema consultar: Cunha 2012.
58. Sobre o tema consultar: Costa 2017.
59. ADP, Fundo Convento de São João da Foz – Porto, K/16/6 – 16, 1710-1791, ff. 164.
60. ADP, Fundo Convento de São João da Foz – Porto, K/16/4 – 45, 1726, ff. 132v-133.
61. ADP, Fundo Convento de São João da Foz – Porto, K/16/4 – 45, 1726, ff. 134.
62. José Ferreira e Silva (2021) identifica uma teia de relações entre artistas, compostas por sociedades de obras e parcerias entre mestres conterrâneos e/ou com ligações familiares. Muitos dos comitentes da cidade do Porto recorriam a nomes e sociedades que tinham já dado provas da sua qualidade em trabalhos anteriores. Comprova-se, pela documentação, que os mestres contratados podiam trabalhar em várias obras encomendadas pela mesma ordem religiosa, demonstrando a confiança depositada no trabalho
63. ADP, Fundo Convento de São João da Foz – Porto, K/16/4 – 45, 1728, ff. 163-185v.
64. ADP, Fundo Convento de São João da Foz – Porto, K/16/6 – 16, 1728, ff. 162-162v.
65. ADP, Fundo Convento de São João da Foz – Porto, K/16/4 – 45, 1728, ff.185v.
66. ADP, Fundo Convento de São João da Foz – Porto, K/16/6 – 16, 1731/1733, ff.162-163.
67. ADP, Fundo Convento de São João da Foz – Porto, K/16/6 – 16, 1731/1733, ff.165.
68. Bispado do Porto 1735, ff. 369.
69. ADP, Fundo Convento de São João da Foz – Porto, K/16/6 – 16, 1731/1733, ff.162v.
70. Esta solução era muito utilizada na época Moderna, sugerindo-se a consulta de autores como Martins 2008; Rodrigues 2015; Coelho 2021.
71. A documentação do douramento e pintura do conjunto de talha da Igreja Paroquial da Póvoa do Varzim (1760) menciona o emprego de um processo específico para combater os efeitos da humidade no douramento, aplicados anteriormente aos retábulos-mor da igreja da Foz do Douro (1734) e capela da Senhora da Luz (séc. XVII/XVIII) (Brandão 1987, 170). Desconhecemos se este processo foi empregue no revestimento do coro alto.
72. As imagens da Senhora da Luz e São Bartolomeu foram trasladadas, em 1835, da antiga capela do Monte da Luz, destruída no decorrer das Lutas Liberais (1833), para a igreja paroquial. A Senhora foi colocada no terceiro altar do lado do Evangelho, anteriormente dedicado a São Bento. Em 1937, o altar passa a ter como orago Nossa Senhora de Fátima, levando à transferência da imagem da Virgem da Luz para o arco abatido do lado da Epístola. Anteriormente o retábulo da antiga capela da Luz foi armado na sacristia, tendo servido entre 1937 e 1998/99 no corpo da igreja. Atualmente encontra-se em serventia na Capela de Santa Anastácia (Ver SANTOS 2022, 534-540). Sobre o tema consultar também: Furtado 2019.
73. Arquivo Episcopal do Porto (AEP), Estudo de Consolidação do Arco e Abóbada do coro alto da Igreja da Foz do Douro, s/caixa, Planta 2 do Coro, 1955.
74. APFD, Documentos avulso, Livro CSS-61, 1659, ff. 1.
75. ADP, Fundo Convento de São João da Foz – Porto, K/16/6 – 16, 1728, ff. 162v.
76. A casa paroquial que hoje conhecemos faria parte das estruturas residenciais beneditinas, tendo sofrido bastantes alterações e adaptações ao longo dos séculos, difíceis de descortinar.
77. APFD, Fundo Confraria do Santíssimo Sacramento. Livro 24a, 1883, ff. 58-82. Livro 46, 1886, ff. 4.
78. APFD, Fundo Confraria do Santíssimo Sacramento. Livro 24a, 1883, ff. 58-82. Livro 46, 1886, ff. 4.
79. APFD, Fundo Confraria do Santíssimo Sacramento. Livro 46, 1886, ff. 4.
80. Autoria Desconhecida. Registo Fílmico da Procissão do Senhor dos Passos da Foz do Douro. Cópia digital de uma bobine, 1950-1956. Sem distribuição: (00:00:01 –00:00:05).
81. APFD, Fundo da Confraria do Santíssimo Sacramento, Livro 22, 1854/1855, ff. 38v e 47v.
82. APFD, Fundo da Confraria do Santíssimo Sacramento, Livro 28, 1906, ff. 75.
83. APFD, Fundo da Confraria do Santíssimo Sacramento, Livro 23, 1953, ff. 29.
84. APFD, Fundo da Confraria do Santíssimo Sacramento, Livro 47, 1852, ff. 54v.
85. Composto por Ana Cristina Sousa (investigadora responsável), Marisa Pereira Santos e Tiago Trindade Cruz (investigadores).
86. Projeto financiado pelo Centro Transdisciplinar Cultura, Espaço e Memória, UIDB/04059/2020 com o identificador DOI:10.54499/UIDB/04059/2020.
87. Este modelo resulta de um trabalho colaborativo entre o Doutor Tiago Trindade Cruz e a Doutora Marisa Pereira Santos.