A influência da tecnologia da informação sobre os relacionamentos amorosos na modernidade líquida

The influence of information technology on love relationships in net modernity

La influencia de la tecnología de la información en las relaciones amorosas en la modernidad de la red

Thalita Lacerda Nobre
Universidad Católica de Santos. Brasil.
thalita.nobre@unisantos.br
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-4951-2301

Camila Xavier Umbelino
Universidad Católica de Santos. Brasil.
c.umbelino@hotmail.com
ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4277-6707

Livia Onofre Alves
Universidad Católica de Santos. Brasil.
livia.onofealves@gmail.com
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-5851-5101

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Resumo

O objetivo da pesquisa é estudar a respeito da influência da tecnologia da informação sobre os relacionamentos amorosos presentes na sociedade ocidental atual. Parte-se do pressuposto de que, ao longo dos anos, o conceito de amor, bem como as relações têm se modificado. A metodologia utilizada foi de levantamento bibliográfico em autores da área da psicologia e afins. Buscou-se, a partir da bibliografia levantada, realizar uma discussão sobre o conceito de amor, a formação e desenvolvimento da sociedade, modernidade líquida, a revolução tecnológica, a psicanálise como modo de ligação e compreensão do cenário e as questões pesquisadas. Como resultados, obteve-se que o mal-estar amoroso da atualidade pode decorrer de diversos fatores como: dificuldade do aprofundamento das relações relacionados ao pensamento em rede; excesso de alimentação do narcisismo (dificuldade em tolerar frustração); relação com o tempo alteradas (associadas ao excesso de expectativa de um relacionamento feliz, sem a capacidade de maturação do mesmo) e modelos anteriores considerados fracassados.

Palavras-chave

internet; narcisismo; relações amorosas; revolução tecnológica; sociedade líquida.

Abstract

The aim of the research is to study the influence of information technology on the love relationships present in Western society today. It is based on the assumption that, over the years, the concept of love, as well as relationships, have changed. The methodology used was a bibliographic survey of authors in the field of psychology and the like. It was sought, from the bibliography raised, to carry out a discussion on the concept of love, the formation and development of society, liquid modernity, the technological revolution, psychoanalysis as a way of connecting and understanding the scenario and the researched issues. As a result, it was found that the current malaise of love can result from several factors such as: difficulty in deepening relationships related to network thinking; over-eating narcissism (difficulty tolerating frustration); altered relationship with time (associated with the excessive expectation of a happy relationship, without the maturation capacity of the same) and previous models considered unsuccessful.

Keywords

internet; liquid society; love relationships; narcissism; technological revolution.

Resumen

El objetivo de la investigación es estudiar la influencia de la tecnología de la información en las relaciones amorosas presentes en la sociedad occidental de hoy. Se basa en el supuesto de que, a lo largo de los años, el concepto de amor, así como las relaciones, han cambiado. La metodología utilizada fue una encuesta bibliográfica de autores en el campo de la psicología y similares. Se buscó, a partir de la bibliografía planteada, llevar a cabo una discusión sobre el concepto de amor, la formación y desarrollo de la sociedad, la modernidad líquida, la revolución tecnológica, el psicoanálisis como forma de conectar y comprender el escenario y los temas investigados. Como resultado de ello, se constató que el actual malestar amoroso puede ser el resultado de varios factores como: la dificultad para profundizar las relaciones relacionadas con el pensamiento de red; el narcisismo sobrealimentado (dificultad para tolerar la frustración); la relación alterada con el tiempo (asociada a la expectativa excesiva de una relación feliz, sin la capacidad de maduración de la misma) y los modelos anteriores considerados infructuosos.

Palabras clave

internet; narcisismo; relaciones amorosas; revolución tecnológica; sociedad líquida.

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1. Introdução

Mensagens instantâneas, encontros casuais marcados de última hora, fotos postadas em tempo real, compras e serviços online, relacionamentos via aplicativos. As ações citadas são o retrato de situações cotidianas para indivíduos em sociedades ocidentais na contemporaneidade. As principais características que permeiam as ações estão relacionadas à velocidade, desejo de satisfação instantânea, informações a todo o momento, vindas dos mais diversos meios de comunicação, sem tempo para reflexão ou maturação da ideia.

Observa-se que a internet é o fio condutor para a comunicação e informação cotidianas. Por meio dela os indivíduos experimentam a sensação de conexão com seu meio externo, em tempo real, o que pode gerar grande dependência. Com a evolução da “internet das coisas” e da inteligência artificial, pode haver uma confusão entre meio virtual e o real, o que pode levar à experiências diversas desde a expectativa de que os outros seres humanos se comportem no tempo, na velocidade e da forma esperadas, passando pela tendência as relações exclusivamente permeadas pela tecnologia e chegando em situações extremas como os casos retratados em uma reportagem do canal de informação BBC, em julho de 2017, em que alguns homens japoneses se relacionavam exclusivamente com bonecas infláveis (BBC News Brasil, 2017).

Tal situação se intensifica, segundo observa-se, a medida em que a internet e o virtual propiciam espaços ‘seguros’ para as pessoas se relacionarem. Não à toa, as empresas de aplicativos de relacionamento registraram aumento expressivo de usuários durante a pandemia do novo Coronavírus (COVID-19), ocorrida, sobretudo no primeiro semestre do ano 2020. De acordo com relatório divulgado pela empresa proprietária dos aplicativos Tinder, OkCupid e Hinge, a Match Group, em abril de 2020, o número de mensagens diárias enviadas por usuários de todo o mundo foi 27% superior ao comparado com a última semana de fevereiro (Tecchio, 2020). Pode-se, com esses dados, compreender que a pandemia pode ter causado impactos significativos no sentimento de solidão dos indivíduos, que buscaram como saída, o relacionamento por meio virtual. Também se pode observar que esse aumento pode estar relacionado à consideração de que os aplicativos são ferramentas que auxiliam na minimização do sentimento de solidão.

Observa-se também que haveria uma maior segurança na relação com o outro a partir da imagem projetada que se faz dele. Tal fator se diferencia da convivência pautada na realidade, em que há que se deparar, a todo o tempo, com a diferença em muitas ordens. Além disso, o ciberespaço, local onde a Internet acontece, permite a conexão com diferentes pessoas de diversos locais do mundo, inclusive e sobretudo, pessoas que tenham interesses iguais ou parecidos. O sujeito pode aceder a sensação de estar por toda a parte, sem estar fisicamente. Por estar preenchido de figuras humanas, o ciberespaço é grande possibilitador de relações que podem ou não chegar ao meio real, incluindo as amorosas.

De acordo com o site www.ourworldindata.org, a rede social digital Facebook conta, atualmente, com 2,4 bilhões de usuários (Ortiz-Ospina & Roser, 2020) e de acordo com informação publicada no Jornal Folha de São Paulo, o aplicativo Whatsapp, em fevereiro de 2020 chegou a 2 bilhões (Folha de São Paulo, 2020).

Um outro dado importante é que, de acordo com o site www.ourworldindata.org a maior quantidade de usuários de redes sociais digitais como Facebook, Instagram e Twitter, situam-se na faixa etária entre 18 e 29 anos, de acordo com pesquisa da população dos Estados Unidos, no ano de 2019 (Ortiz-Ospina& Roser, 2020).

Bauman, sociólogo polonês, precursor da denominada “modernidade líquida”, apresenta reflexões a respeito do que estaríamos fazendo com nossos relacionamentos, incluindo os amorosos, ponto principal do presente estudo. De acordo com o pensador, a individualidade presente nas relações gera impactos que podem ser estudados por diversos campos da ciência (Bauman, 2004).

2. Objetivos

Para discutir sobre isso, busca-se inicialmente compreender algumas das mudanças ocorridas cronologicamente em relação ao amor, de modo histórico, uma vez que as modificações não estão presentes somente em relação ao surgimento de novas tecnologias. É preciso discutir sobre as diferentes configurações de amor produzidas ao longo do tempo, nas sociedades ocidentais urbanizadas, a fim de identificar a relação existente entre: amor, tecnologias e sociedades urbanas.

O objetivo central deste trabalho é levantar informações que levem a discussão sobre a influência da revolução tecnológica, resultado da organização da sociedade contemporânea, nos relacionamentos amorosos, procurando identificar de que forma as novas tecnologias influenciam essas relações. O problema norteador da pesquisa é: Como a tecnologia tem influenciado nas relações amorosas contemporâneas?

A fim de buscar responder tal questão, utiliza-se da linha teórica psicanalítica, com conceitos que procuram dar conta dos aspectos individuais e sociais. Nesse sentido, a hipótese é a de que os processos de identificação atuais estão altamente presentes nessa nova configuração, bem como as estruturas narcísicas, já que tem-se uma sociedade, cada vez mais, pautada na cultura do status (conforme se discutirá a seguir com os autores que pensam a esse respeito).

A relevância desta pesquisa está na observação que as pesquisadoras realizaram acerca da sociedade atual e o avanço das novas tecnologias, com a possibilidade mais ampla de surgimento de meios para relacionar-se, bem como a construção de um corpo social peculiar. Consequentemente, tornou-se a grande ferramenta de influência direta em como as pessoas conectam-se entre si e consigo mesmas. Por estar em ascensão, o tema pode ser de grande valia para estudos posteriores no campo da Psicologia, uma vez que as transformações são rápidas e a psicologia pode auxiliar no aprofundamento das questões relacionadas ao mal-estar.

Na discussão dos resultados, aborda-se o histórico do amor na sociedade, as mudanças sofridas entre as gerações, até os dias de hoje. Em seguida, define-se o amor conforme conceitos da Psicologia, a fim de propiciar o diálogo da Psicologia com o cenário social e histórico. Então, realiza-se um levantamento acerca do histórico e atualidade das tecnologias utilizando como foco, da Internet, por entendermos que esta é um produto social e está diretamente ligada às configurações atuais de relacionamentos amorosos. A fim de ampliar a discussão, apresenta-se os conceitos psicanalíticos relevantes ao estudo em questão, trazendo maior entendimento das produções até então estudadas e análise do conteúdo pesquisado. Para finalizar, as considerações finais trazem o levantamento das principais problemáticas discutidas acerca do tema e propostas posteriores para o aprofundamento do tema.

3. Metodologia

A pesquisa se classifica como qualitativa, de cunho exploratório. Para tanto, realizou-se levantamento bibliográfico em artigos científicos e livros selecionados pelas autoras como pertinentes para a realização de uma discussão sobre a temática. A partir do material pesquisado, buscou-se criar uma linha de raciocínio para o entendimento dos indícios obtidos e realizar uma discussão entre os autores levantados. Sendo assim, utilizou-se, como metodologia para o tratamento dos dados o paradigma indiciário, tal qual proposto por Carlo Ginzburg e utilizado por pesquisadores do campo da história. Para o autor, a base desse modo de pensar é a ideia de que é possível:

...a partir de dados aparentemente negligenciáveis, remontar a uma realidade complexa não experimentável diretamente. Pode-se acrescentar que esses dados ‘são sempre dispostos pelo observador de modo tal a dar lugar a uma sequencia narrativa, cuja formulação mais simples poderia ser ‘alguém passou por lá’. (Ginzburg, 2007, p. 152)

O paradigma indiciário proposto por Ginzburg bem como o método de construção da história de um sujeito proposto por Freud em seu texto “Construções em análise” (1937) propiciam a ideia de um modo de tratamento metodológico de dados que buscam revelar aspectos desconhecidos a partir do que se apresenta.

4. Resultados e discussões

É possível observar que, na contemporaneidade, inicia-se um novo molde de relacionamentos amorosos. No início do século XXI, Guedes e Assunção (2006) definem os sujeitos dessas relações como “um indivíduo instável, frágil, volátil”, isso leva a compreender que os padrões sociais pautados em solidez, limitação da vida sexual à reprodução e presença social feminina quebram-se de forma contínua. Os autores apontam para um relacionamento com base em satisfação mútua, em que não há o vínculo emocional centralizado, e sim questões como divisão de tarefas, trabalho remunerado com futura autonomia e intimidade, além de ter a possibilidade de ser finalizado por ambas as partes em qualquer momento da relação.

Cacioppo et al. (2013) oferecem informação de que até 2012, um terço dos casais dos Estados Unidos se conheciam por meio da internet. Também concluem, a partir da pesquisa que os casais que se formam por mediação da internet são um pouco mais propensos a seguirem por mais tempo do que os iniciados presencialmente, além disso, são descritos níveis de satisfação maiores entre os dois. Uma hipótese possível para esses dados é de que cada individuo do par amoroso tenderia a um maior comprometimento com o relacionamento que procurou. Outra análise possível poderia ser a de que os sites e aplicativos de relacionamento apresentam dados superficiais mas importantes sobre gostos e interesses que podem ser previamente selecionados.

Santoro (2016), ao analisar a queixa de seus pacientes acerca dos relacionamentos amorosos mediados pela tecnologia compreende que o individualismo é a característica central dos relacionamentos contemporâneos ocidentais.

Acredita-se que tenha sido construída juntamente ao avanço tecnológico com maiores bens de consumo e ao capitalismo presente. O ideal de velocidade, pautado na premissa de que quase tudo é possível, remete à ideia de escolha e descarte: a partir do momento que determinado objeto não proporciona satisfação, pode ser descartado sem muito pesar. O sociólogo Manuel Castells, propôs, no final do século XX, a ideia de que se estava criando uma sociedade em rede, o autor ainda defende que existe a possibilidade de a superflexibilidade de escolhas gerarem uma sociedade caótica, necessitada de meios de equilíbrio para recompor-se.

Tendo em vista as modificações referidas, fez-se necessário abordar um estudo com o questionamento do que seria viver em sociedade na era contemporânea e qual o reflexo disso nos relacionamentos afetivos.

Bauman denominou de “líquido” tudo o que se refere à fragilidade, o que se rompe e se modifica facilmente. Para o autor, a modernidade possui a característica de leveza, o que nos remete à “ausência de peso, à mobilidade e à inconstância” (Bauman, 2001, p. 22). A velocidade também está associada a essas questões.

Os padrões, códigos e regras, eram conformidades inquestionáveis, citadas como ‘sólidos’, serviam como guia para as tarefas e o sentimento de orientação estava presente. Atualmente, o volume de códigos e regras é alto e consequentemente conflitante, pois se enfrentam sem tornarem-se lineares. Bauman (2001) aponta para duas variáveis fundamentais que se transformam na contemporaneidade: a relação entre tempo e espaço.

O resultado da fragilidade dos laços humanos modernos, segundo o autor, é o amor líquido. A insegurança é o fator presente nas relações, por não haver uma decisão entre o desejo de estreitar esses laços e ao mesmo tempo afrouxá-los.

Os sólidos dos tempos modernos chocaram-se com os dos tempos pré-modernos, uma vez que já estavam se desintegrando, pois, a busca por solidez padronizada era constante, de modo que um mundo previsível torna-se mais fácil de ser administrado.

As tradições, bem como os direitos costumeiros e as obrigações limitantes foram as primeiras questões a serem liquefeitas. Bauman (2004) defende que a queda desses padrões gerou um caminho para uma sociedade com maior iniciativa e poder de escolha.

O filósofo Gilles Lipovetsky (2004, p. 88) define que:

Quanto mais a cidade desenvolve possibilidades de encontro, mais sós se sentem os indivíduos; mais livres, as relações se tornam emancipadas das velhas sujeições, mais rara é a possibilidade de encontrar uma relação intensa. Por toda a parte encontramos a solidão, o vazio, a dificuldade de sentir.

Acerca do sentido de escolha, o autor aponta que um dos requisitos para se ter um parceiro no mundo moderno é a característica da afinidade, diferentemente da escolha por amor, característica da era romântica. Essa prática atingiu diretamente o sentido dos laços matrimoniais, dando espaço ao ato de “viver junto” e construir em conjunto uma relação de intimidade. É nesse sentido, que se pode correlacionar ao fato da pesquisa de Cacciopo (2013) ter apresentado que haveria uma menor possibilidade de os casamentos iniciados por meio da internet terminarem em divórcio em relação aos iniciados de modo presencial, talvez as afinidades possam ser fator importante a ser considerado.

A afinidade é compreendida como algo que tem fim se não alimentada e, uma vez que a intimidade não sustenta e nem é sustentada pela afinidade, a relação tende a ser rompida. Também, diante de um cenário de pouco incentivo para o cultivo da afinidade e intimidade, a relação exigirá de maior movimento para que seja mantida. A partir de Bauman (2004) é possível interpretar que as relações líquidas, isto é não compostas por solidez, se esvaem, o que observamos como a tendência a serem desqualificadas e descartadas. É necessário estar disposto para manter as escolhas pautadas em afinidade, caso contrário o pensar duas vezes antes de concretizar é acionado.

Assunção e Guedes (2006) defendem que a reciprocidade é um elemento chave para os relacionamentos afetivos. Acreditam que é a partir dele que o casal irá alimentar suas intenções românticas. Quando não há reciprocidade, é preferível que a relação se desfaça e viver só passa a ser uma escolha plausível e justificada.

É possível relacionar esse novo modelo de vida conjugal com o desenvolvimento cronológico da sexualidade. Bauman (2004) critica que o que conhecemos a respeito da repressão sexual postulada por Freud, dispersou-se no tempo e nos diversos tipos de sublimação. Os meios de sublimar um desejo modificaram-se com a variedade de oferta e estímulos sexuais, em oposição ao passado, no qual a coerção era evidente. Em suas palavras: “os objetos ‘socialmente úteis’ oferecidos para descarga sexual não precisam mais ser disfarçados como ‘causas culturais’. Eles desfilam, com orgulho e, sobretudo, grandes benefícios, sua sexualidade endêmica ou inventada” (Bauman, 2004, p. 36).

Pode-se associar a solidão contemporânea com a ampliação dos aparelhos eletrônicos. Estar em diversos locais mas não fisicamente é algo bastante corriqueiro e comum para grande parte das sociedades urbanizadas. Para Rüdiger (2014), vive-se em tempos de liberdade, em que a busca por ela é incessante e passível de admiração. Viver de modo egoísta, segundo o filósofo, não facilita as relações amorosas na prática, ao contrário: as desqualifica enquanto relacionamentos.

A atenção direcionada a objetos eletrônicos é grande na atualidade. A tendência de tornar-se invulnerável é maior, uma vez que é possível esconder-se atrás de máscaras virtuais em constante movimento. A distância entre grupos, lugares e pessoas é pequena ou nula, sendo inversamente proporcional à demanda de contatos, que é diversa. Assim, “cada conexão pode ter vida curta, mas seu excesso é indestrutível. Em meio à eternidade dessa rede imperecível, você pode se sentir seguro diante da fragilidade irreparável de cada conexão singular e transitória” (Bauman, 2004, p. 37). Essa mesma atenção pode também ser facilmente descartada, como os relacionamentos.

As novas tecnologias de informação e comunicação, segundo Castells aponta, tem efeito positivo na sociedade e suas interações, mesmo com a tendência de crescimento no grau de exposição.

Nessa linha, Bauman (2004, p. 40) justifica que a realidade virtual é que virou de fato a realidade total, inclusive para a questão dos relacionamentos amorosos. O autor afirma que os namoros virtuais possuem vantagens que o real não tem, pois “nestes últimos, o gelo, uma vez quebrado, pode permanecer quebrado ou derreter-se de uma vez por todas, mas no namoro pela internet é muito diferente”. O meio virtual permite que o relacionamento seja ajustado de acordo com as escolhas de cada indivíduo, sendo, em sua grande maioria, feitas para satisfazer o ser humano de modo individual.

A fim de discutir mais profundamente tal problemática, ressalta-se o que a teoria psicanalítica oferece de arcabouço. Taddei (2004, p. 50) afirma que, “cada evento psíquico é determinado por aqueles que o precederam”. Quando o autor faz essa afirmação, referência que o inconsciente e as experiencias anteriores estão sempre presente nas ações do presente. Essas situações que são dadas como “causalidades”, na verdade, são intencionadas pelos desejos, que normalmente são ditos como inconscientes, já que são ações desconhecidas para nós – pelo nosso consciente, conforme será discutido adiante.

De acordo com a teoria freudiana, na psicanálise existem diversos processos interligados que formam a estrutura e o funcionamento do aparelho psíquico. O aparelho psíquico é composto de uma estrutura mental que “[...] atribui ao psiquismo: a sua capacidade de transmitir e de transformar uma energia determinada e a sua diferenciação em sistemas ou instâncias.” (Laplanche & Pontalis, 2001, p. 64). Uma forma interna de organizar o sistema mental seria dividindo em etapas e funções específicas para cada seção.

Laplanche e Pontalis (2001, p. 64) relatam, ainda, que “a função do aparelho psíquico é, em última análise, manter ao nível mais baixo possível a energia interna de um organismo”. Por essa estrutura percebe-se a influência de vários processos interligados formando uma estrutura dinâmica. No aparelho psíquico, as experiências internas em correlação com o mundo externo, bem como o que fora vivido com as figuras de identificação se estruturam.

Laplanche e Pontalis (2001) definem identificação como o “processo psicológico pelo qual um sujeito assimila um aspecto, uma propriedade, um atributo do outro e se transforma, total ou parcialmente, segundo o modelo desse outro”. Afirmam ainda que a personalidade do sujeito se constitui e distingue-se conforme suas identificações. Os autores também assinalam um subtipo de identificação, a primária, sendo o primeiro modo humano de ter o outro como modelo.

A identificação acontece muito pela observação e imitação, como sorrir, falar, usar maneirismos, jogos ou brincadeiras que proporcionem tal comportamento, que ocorre, inicialmente, na infância e perdura por toda a vida do sujeito.

Durante o início da vida, percebe-se que a identificação acontece em pessoas altamente catexizadas pela libido, um procedimento muito importante para a vida mental e constituição do ego. Por catexia, conforme o “Dicionário Técnico de Psicologia” escrito por Cabral e Nick (2006), compreende-se a pulsão canalizada para determinado objeto. Pode ser classificada em três tipos: objetal – investimento no objeto; do ego – pulsões do próprio indivíduo e por fim, catexia fantástica – pulsões do inconsciente. “Literalmente significa canal (grifo do autor) [...] Tolman deu o nome de catexia ao tipo de engate (grifo do autor), no processo de aprendizagem, que representa as propriedades afetivas adquiridas pelo objeto” (Cabral & Nick, 2006, p. 55).

Outro aspecto importante para o processo de identificação é a perda do objeto – que consiste na morte física do mesmo ou uma separação prolongada ou até mesmo permanente. Nestes casos, o sujeito que perdeu o objeto, em sua maioria carregado de afeto, passa a imitá-lo em sua totalidade ou absorver muitas de suas características, como sendo suas, conforme Freud propõe em seu trabalho destinado à compreensão dos fenômenos da perda, intitulado “Luto e melancolia”, publicado pela primeira vez em 1917.

Ferreira (2004, p. 19) aponta que a oposição entre o Eu e o objeto faz referência à constituição do sujeito, dos objetos e das relações que entre eles se estabelecem. “O eu é considerado passivo em relação aos estímulos externos, e ativo no que diz respeito às suas pulsões”. Para melhor entendimento, é preciso esclarecermos os termos “objeto” e “pulsão”, de acordo com a Psicanálise.

Pulsão, segundo Laplanche e Pontalis (2001) é a força energética que impulsiona o indivíduo ao movimento ou ao repouso. Origina-se em determinado estado de tensão do corpo, e tem por finalidade a descarga.

Para as primeiras relações de objeto, Freud refere que a criança as faz de modo egocêntrico. O interesse maior está em satisfazer suas necessidades pessoais. As partes do corpo infantil, tais como dedos, boca, recebendo altos investimentos da libido e gratificando-se, ou seja, posicionando-se no estado de libido autoerótica postulado por Freud (1914) fazem referência ao narcisismo.

A relação com outras pessoas é fator importante para a vida psíquica do sujeito. Ferreira (2004) define que as relações são iniciadas quando se investe libido nelas. O interesse, aproximação ou até mesmo um diálogo passageiro são meios de investimento de libido. Concentrando nos relacionamentos amorosos, a escolha do parceiro partirá do princípio das satisfações pessoais.

Freud (1996/1914, p. 94) aponta que “os instintos sexuais estão, de início, ligados à satisfação dos instintos do ego; somente depois é que eles se tornam independentes destes”. Os primeiros objetos sexuais infantis seriam então, as primeiras pessoas que solucionaram suas satisfações, no caso, com proteção e cuidados: os pais, sendo principalmente a mãe. Associa-se essa escolha à constituição e alimentação do narcisismo do sujeito, uma vez que conforme Freud postula em “Sobre o narcisismo: uma introdução” (1914), o ego se constitui a partir do movimento de uma espécie de empréstimo do narcisismo dos pais. Em suas palavras:

O amor dos pais, tão comovedor e no fundo tão infantil, nada mais é senão o narcisismo dos pais renascido, o qual, transformando em amor objetal, inequivocamente revela sua natureza anterior (Freud, 1996/1914, p. 98).

Graças ao investimento dos pais, do narcisismo “emprestado”, a criança constrói a noção de investimento e sustentação do ego.

Assim, compreende-se a importância das primeiras relações sociais da criança que podem reproduzir em laços tanto de amor como de ódio ou até mesmo os dois, conseguindo diferenciar o próprio corpo do objeto – esses laços construídos com o objeto podem resultar em uma relação ambivalente, o que diminui a frequência ao passar dos anos ou tornam-se inconscientes. Ambivalência, de acordo com Zimerman (2001, p. 28) “consiste numa condição do psiquismo pela qual o sujeito tem, concomitantemente, sentimentos, ideias ou condutas [...] opostas em relação a uma mesma pessoa ou situação [...] por exemplo, de uma simultaneidade de amor e ódio, aproximação e afastamento”.

A escolha do objeto é baseada nos vínculos obtidos pela relação com as figuras parentais, assim, elegemos uma pessoa ou um determinado tipo de pessoa como objeto de amor, conforme definido por Laplanche e Pontalis (2001).

Ao decorrer da construção do Eu, o que era reconhecido apenas para satisfazer a si próprio passa a ser do outro. A escolha do objeto ocorre desde a infância, como vimos anteriormente, com o afeto que é atribuído aos pais e parentes mais próximos, advinda dos instintos do ego, conforme Freud postula (1996/1912).

Freud (1996/1914, p. 95) afirma que “dizemos que um ser humano tem originalmente dois objetos sexuais –ele próprio e a mulher que cuida dele– e ao fazê-lo estamos postulando a existência de um narcisismo primário em todos”. Ainda para o autor, há uma significante diferenciação entre a escolha objetal feminina e masculina, mesmo sem ser universais, podem ser consideradas nas análises dos sujeitos.

Ferreira (2004, p. 19) exemplifica que a escolha narcísica pode ser considerada a escolha do Eu, “amamos o que somos, o que fomos, o que gostaríamos de ser e alguém que foi parte de nós mesmos”, associada à passividade e ao feminino. Já a escolha anaclítica é referida como sendo a adoção das imagens materna e paterna: “amamos a mulher que alimenta ou o homem que protege”, associada à atividade e ao masculino (Ferreira, 2004, p. 20).

Ferreira (2004) aponta também para a intensidade de deslocamento da libido do Eu para o objeto, sendo que na escolha anaclítica, o nível é maior, podendo gerar uma relação neurótica de submissão, causada pela idealização - processo no qual as qualidades de determinado objeto são enaltecidas, de modo que ele seja a origem de todas as coisas boas, atingindo então, a autoestima do sujeito que enaltece, que se torna submisso e reverente. Para o ser que ama dessa forma, perder o objeto amado é como subtrair uma parte de si mesmo. Já na escolha narcísica, o “eu ideal é amado com a mesma intensidade com que o eu do prazer foi amado no autoerotismo” (Ferreira, 2004, p. 22), ou seja, o objeto amado é confundido com o próprio sujeito que ama, na qual as satisfações do outro são também suas, uma vez que há o retorno ao narcisismo primário da infância.

Freud (1996/1914) pontua também sobre a questão da autoestima. Esta é complementar ao estudo do narcisismo. Quando o ser que ama não é correspondido, há a redução da autoestima, enquanto quando é correspondido, há a elevação. “A finalidade e satisfação em uma escolha objetal narcísica consiste em ser amado” (Freud, 1996/1914, p. 104).

Para o autor, um sujeito com ego empobrecido, amará conforme determinada satisfação substitutiva, baseado em suas escolhas narcísicas. Por ser impossibilitado de realizar seu ideal de ego, busca no outro características semelhantes às que gostaria, gerando um ideal sexual, sendo que “o que possui a excelência que falta ao ego para torná-lo ideal é amado” (Freud, 1996/1914, p. 107).

De acordo com Laplanche e Pontalis (2001), a fim de ligar o narcisismo com as identificações Freud postulou o conceito de ideal do Eu dando conta de que a partir das referências parentais gera-se um modelo no qual o indivíduo irá espelhar-se. Zimerman complementa que, “dessa forma, o sujeito fica submetido às aspirações dos outros, em relação ao que ele deve ser e ter” (2001, p. 202).

Relacionando os termos psicanalíticos referenciados acima, de modo conclusivo, é possível correlacionar com os traços narcisistas presentes nos sujeitos da atualidade. A busca frequente pelo parceiro ideal (grifo nosso), está associada às características faltantes no próprio indivíduo.

A plataforma virtual consegue colocar as pessoas como esboços daquilo que gostariam de ser, conforme a idealização que constroem. O número de pessoas que se conectam pode estar associado às inúmeras insatisfações com elas mesmas. Por ser um meio rápido, camuflado e populoso, a Internet facilita o contato com todo tipo de pessoa e consequentemente, com as diversas formas de satisfações pessoais. Os sujeitos se colocariam em uma vitrine fornecendo dados superficiais e como a oferta é grande e a experiência do tempo muito acelerada, não haveria disponibilidade para aprofundamento, portanto, o descarte imediato protegeria o narcisismo de ambas as partes.

Observa-se também, que a medida em que se exalta “o amor próprio” distorcido de narcisismo alimentado a qualquer preço, sem vivência de insatisfação, há uma tendência maior à escolha do parceiro a fim de que ele seja a realização das satisfações próprias que falta em si mesmo.

O culto à própria imagem está presente nos componentes da sociedade pós-moderna. De modo narcísico, apresentar-se como quase perfeito é algo bastante atraente. As ferramentas tecnológicas auxiliam alimentando esse ideal de perfeição. Porém, assim como se cumpriu a maldição de narciso, que encontrou com sua imagem e teve um fim trágico, os sujeitos (homens e mulheres) não desejam ter o mesmo fim, por isso buscam em um outro sua completude. De acordo com Rios (2008, p. 424):

O Eu passa a vida se fazendo e refazendo nas relações com o mundo. A falta de relações intersubjetivas autênticas impossibilita experiências de vida que são imprescindíveis para a felicidade do eu. Ou seja, não nos bastamos [...].

Logo, conclui-se que a busca pela satisfação a todo tempo é alta, portanto, os resultados obtidos nos primeiros contatos superficiais são satisfatórios momentaneamente e a inclinação para aprofundá-los torna-se cada vez mais escassa.

6. Considerações finais

A tecnologia faz parte da realidade cotidiana das sociedades urbanas, na contemporaneidade. Estar conectado a uma rede que não tem tempo para o fim é um advento um tanto quanto poderoso, uma vez que transforma o modo como os indivíduos percebem a si mesmos e aos outros. Somos pessoas diferentes em ambientes diversos e o mesmo acontece no meio virtual, aliás, principalmente lá – onde podemos ser quem quisermos ou quem acreditamos melhor ser, uma vez que estamos na vitrine publicada de acordo com o autor.

A partir da pesquisa tem-se que o tentador ciberespaço faz parte da realidade atual. Dessa forma, produz-se sujeitos de diversas ordens e como toda transformação tem seus aspectos positivos e negativos. A rede pode ser inclusiva e ampliadora, uma vez que possibilita uma espécie de quebra da hierarquia, oferecendo voz e direito de opinião a qualquer pessoa que a ela acessar. Porém, por outro lado, pode alimentar o ódio – que até então ficava reduzido ao grupo em que o indivíduo fazia parte e que agora se expande. Também, a sociedade em rede, pode contribuir para a constante visibilidade que cada indivíduo adquire dentro do meio que faz parte, o que leva a alimentação do narcisismo e a dúvida sobre quem deveria ser.

O amor líquido, caracterizado por Bauman, é o resultado de anos de modificação de relações amorosas, agora sem formato e com fluidez, conforme os componentes no estado líquido. A construção de um relacionamento, antes da era contemporânea foi marcada pela construção da intimidade e pela concepção de tempo com maior profundidade. Sabe-se que os casais mais antigos, não necessariamente eram mais felizes que os da atualidade, porém o que quisemos demonstrar com a pesquisa é que o modo em que se dá o encontro e que se constrói as relações afetivas, tem se transformado.

Atualmente, o leque de escolhas, para tudo, é múltiplo e diverso. De modo geral, qualquer uma que se faça é bem aceitável e as que não são, podem ser facilmente defendidas. Entretanto, o sentimento de não pertencimento é incontestável.

Associando tal fator aos relacionamentos amorosos, sentir que algo está faltando é mais do que comum. Preocupar-se em atingir o máximo de sujeitos e satisfazer necessidades parece estar gerando uma sociedade em outras configurações.

Por fim, a discussão acerca do narcisismo e das identificações em correlação aos novos meios tecnológicos de encontro interpessoal tem diversos vieses possíveis para discussão e, dentre eles, o que se pode considerar mais significativo é a facilitação da projeção sobre o outro de aspectos do próprio Eu. A convivência na realidade “ao vivo” promove a constatação de algumas características que correspondem ou não ao modelo projetado e os relacionamentos virtuais podem alimentar o ideal de projeção.

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IROCAMM- International Review Of Communication And Marketing Mix | e-ISSN: 2605-0447

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