ISSN 0213-7771 - e-ISSN 2443-9991
https://doi.org/10.12795/CP.2024.i33.v2.09
Cuestiones Pedagógicas, 2(33), 2024, 171-184
171
Experimentações Pedagógicas: De Um Arquivo-
Acervo Estético-Artístico Numa Formação Inicial
Docente Criadora
Experimentaciones Pedagógicas: De Un Archivo-Acervo
Estético-Artístico En Una Formación Inicial Docente Creadora
Pedagogical Experimentations: An Aesthetic-Artistic Archive-
Collection In An Initial Formation Of Creative Teachers
José Alberto Romaña Díaz
Dr. Ensino Univates
josealbertoromanadiaz@gmail.com
https://orcid.org/0000-0002-8922-0194 .
Angélica Vier Munhoz
Dra. Educação UFRGS
angelicavmunhoz@gmail.com
https://orcid.org/0000-0002-2644-043X .
Glòria Jové Monclús
Dra. Educación UB
jovegloria@gmail.com
https://orcid.org/0000-0003-3750-861X .
Resumo: Resumen:
Esta proposta parte das experimentações
com artes vivenciadas nas disciplinas de dois
cursos de graduação: 1) Construção de
Contextos Educativos, grado de maestros da
Universidade de Lleida, CAT, Espanha; 2)
Seminário e Atelier, Arte para não artistas:
experimentações pedagógicas, licenciaturas
de Pedagogia e Letras da Univates, Lajeado,
RS, Brasil. Em ambas as disciplinas buscou-
se problematizar a ínfima existência de
processos criadores na formação de
Esta propuesta se aproxima a las disciplinas
impartidas en los cursos de graduación: 1)
Construcción de Contextos Educativos, de la
Universidad de Lleida, CAT, España; y, 2)
Seminario y Taller, Arte para no artistas:
experimentaciones pedagógicas, de las
licenciaturas en Pedagogía y Letras de
Univates, Lajeado, RS, Brasil. En ambas
materias se buscó problematizar la ínfima
existencia de procesos creativos en la
formación docente, y la idea tecnicista del arte,
Recibido: 21/06/2024 | Revisado: 18/07/2024 | Aceptado: 23/09/2024 |
Online First: 20/12/2024 | Publicado: 31/12/2024
Cuestiones Pedagógicas, 2(33), 2024, 171-184
ISSN 0213-7771 - e-ISSN 2443-9991
https://doi.org/10.12795/CP.2024.i33.v2.09
José Alberto Romaña Díaz / Angélica Vier Munhoz / Glòria Jové Monclús
172
professores e a ideia tecnicista de arte, a qual
evidencia uma compreensão limitada da
noção de formação docente criadora (Martins,
2014; Loponte, 2017; Ostetto & Silva, 2018).
Durante essas formações objetivou-se
explorar de que forma o processo de compor
colaborativamente um arquivo-acervo
estético-artístico pode contribuir para uma
formação inicial de professores mais criadora.
Auxiliou-nos os pressupostos teóricos da
noção de arquivo do Foucault (2008) e os
aportes de formação inicial de professores
como complexa configuração das formas de
funcionamento do subjetivo e de maneira de
se relacionar consigo mesmo e com o mundo.
(Farina, 2008; Dalla Zen, 2017). A proposta
de acervo, na Espanha e no Brasil, foi
construída a partir das seguintes questões:
como propiciar experiências estéticas num
ensinar e aprender que se quer criador?
Assim, pensamos que uma maior imersão,
contato assíduo e contaminação, em meio às
diferentes linguagens estético-artísticas,
poderia redundar num olhar sensível, mais
estético e poético, numa formação inicial
criadora?
Palavras-chave: Formação Inicial de
Professores; Criação; Arquivo; Ensino;
Aprendizagem.
que evidencia una limitada comprensión de la
noción de formación docente creativa
(MARTINS, 2014; LOPONTE, 2017). El
objetivo durante estas formaciones fue explorar
cómo el proceso colaborativo de construcción
de un acervo estético puede contribuir a una
formación inicial de docentes más creadora.
Tomamos los presupuestos teóricos de archivo
de Foucault (2008), y la formación inicial
docente como compleja configuración de las
formas de funcionamiento de lo subjetivo y
modos de relacionarse consigo mismo y con el
mundo. (Farina, 2008; Dalla Zen, 2017). La
construcción del acervo, en España y Brasil, se
construyó a partir de la siguiente pregunta:
¿cómo brindar experiencias estéticas en una
enseñanza y aprendizaje que quiere ser
creativa? Así, pensamos que una mayor
inmersión, un contacto asiduo y una
contaminación estética, el contacto e
interacción con diferentes expresiones
artísticas trabajadas en clase, puede dar como
resultado una mirada sensible, más estética y
poética, en una formación inicial creadora.
Palabras clave: Formación Inicial del
Profesorado; Creación; Archivo; Enseñanza;
Aprendizaje
DE UMA ALIANÇA TRANSOCEÂNICA
O presente texto diz respeito a uma parceria para além-mar, entre grupos de
pesquisa, de uma cidade do sul do Brasil e uma cidade do nordeste espanhol. O
desenvolvimento de tal aliança, estabelecida desde 2019, tem fortalecido os laços de
colaboração e cooperação entre a Universidade do Vale do Taquari (Univates), Rio
Grande do Sul, Brasil e a Universitat de Lleida (Udl), Cataluña, Espanha e seus
respectivos PPGs: PPGEnsino e PPGEdu; assim como os vínculos entre o Grupo de
Pesquisa Currículo, Espaço, Movimento (CEM/Univates) e o Grupo de Pesquisa
Espai Hibrid (EH/UdL).
O Grupo CEM, existente desde 2013, em suas pesquisas atuais, procura
investigar a aula, na relação com a docência e com os processos de ensinar e
aprender, tomando-a enquanto prática de criação. Assim, por meio de seu
macroprojeto “A aula como criação: interfaces com a docência, o ensinar e o
aprender”, busca expandir e aprimorar o olhar para a aula, a docência e os processos
de ensinar e aprender - elementos que configuram a prática de um currículo. Por sua
vez, o Grupo de Pesquisa EH, sediado na Faculdade de Educação, Psicologia e
Serviço Social (FEPTS, pelas suas siglas em espanhol), opera há duas décadas por
meio do Projeto Zona Baixa de formação inicial de professores. O referido projeto
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Experimentações Pedagógicas: De Um Arquivo-Acervo Estético-Artístico Numa Formação Inicial Docente
Criadora
173
investiga e propõe um trabalho de formação docente, voltado para a formação de
maestros, educação básica e anos iniciais, em meio aos campos da educação e arte,
com o intuito de espraiar às experimentações criadoras para docentes, discentes e
comunidade em geral.
Por meio de diferentes vias de parcerias, que incluíram visitas de
pesquisadores e estudantes de pós-graduação, por vezes, de modo on-line para
acortar distâncias transoceânicas, em outras, de forma presencial1, pré-pandêmica e
pós-pandêmica, e remota durante a pandemia. Para efeitos desta investigação
focaremos nas aulas vivenciadas na Universitat de Lleida, no primeiro semestre do
ano letivo 2021-2022, e no semestre 2022A, na Espanha e no Brasil respectivamente.
Nas aulas vivenciadas tanto no Brasil - no componente curricular Seminário e
Atelier Arte para não artistas: experimentações pedagógicas (AAEP), do curso de
licenciaturas Pedagogia e Letras, do Centro de Ciências Humanas e Sociais
Aplicadas, das licenciaturas de Pedagogia e Letras, Univates -, quanto na Espanha -
disciplina de Construcción de Contextos Educativos (CCE), no grado de maestros,
último ano de carreira, das licenciaturas em Anos Iniciais, Educação Infantil e
Educação Física, na FEPTS, UdL - buscou-se evidenciar a existência de processos
criadores na formação inicial de professores. Ao indagar por uma formação inicial
docente criadora que toma a arte como matéria do pensamento, propôs-se o processo
de compor colaborativamente um arquivo-acervo estético-artístico a partir dos artistas
trabalhados nas disciplinas. Para tal fim percorreu-se o seguinte percurso de
pensamento: inicialmente nos debruçamos nos estudos e discussões de uma
formação inicial docente que se quer criadora, em seguida nos deparamos com um
Arquivo-Acervo com inspiração foucaultiana, consequentemente, discutimos a co-
construção de um repertório artístico, finalmente a modo de considerações finais
apresentamos um olhar sensível, estético e poético que nos ajudam a pensar uma
formação inicial criadora.
POR UMA FORMAÇÃO INICIAL CRIADORA
Ao indagar os modos como a arte perpassa a formação inicial de professores,
percebe-se que a inserção da arte nos currículos é ainda ínfima, quando não
inexistente, o que nos leva a problematizar a escassa contaminação artística (Martins,
2014) ou estética na formação inicial docente. “No caso do professor em formação,
às vezes, não há essa contaminação estética, ou seja, não há uma formação
pedagógica estético-artística” (Díaz & Munhoz, 2019, p. 230).
Quiçá, o que impede essa aproximação é o caráter predominante de uma
lógica utilitarista da/na formação de professores, possivelmente pela associação
questionável de reduzir o repertório cultural ao acúmulo de informações artísticas,
sendo que a “posse de um considerável repertório estético, não é garantia de uma
1
Tais visitas foram possíveis pelos recursos: Edital Universal MCTIC/CNPq 2018; Edital no
008/Reitoria/Univates, de 23 de janeiro de 2020; PDSE - Edital nº 19/2020, processo 88881.624771/2021-01, e
o Código de Financiamento 001, CAPES.
Cuestiones Pedagógicas, 2(33), 2024, 171-184
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José Alberto Romaña Díaz / Angélica Vier Munhoz / Glòria Jové Monclús
174
usina sensível de vida” (Farina, 1999, p. 24). Entende-se, inclusive, que um acúmulo
enciclopédico de diferentes expressões artísticas ou linguagens artísticas, por si só,
atrapalha a experiência artística, a experimentação, o sensível, a afecção do
encontro; dado que a experiência estética põe em movimento as maneiras através
das quais vemos, tocamos e somos tocados pelas expressões artísticas, objetos e
pessoas (Farina, 2006).
Sendo assim a ínfima ou escassa existência da arte, das artes, das expressões
artísticas, das linguagens artísticas, nos processos formativos de novos docentes,
parece estar atrelada a ideia limitada ou tecnicista dos processos criadores aportados
pelas artes, em outras palavras, a existência mínima de processos criadores na
formação de professores e a ideia tecnicista de arte, evidenciam uma compreensão
limitada da noção de formação docente criadora (Martins, 2014; Loponte, 2017;
Ostetto & Silva, 2018). Dita visão estreita das artes nos endereçam a problematizar
que não se trata de “‘ensinar arte’, mas sim de propor encontros significativos com
ela” (Martins, 2014, p.253), encontros que nos levam a pensar a docência, em
especial a docência na educação básica, como uma formação aliada às artes,
estética, as linguagens artísticas e as inquietações advindas desse processo
(Loponte, 2013).
Posto isto, talvez o desafio seria apostarmos na expansão da dimensão
formativa perpassada pela arte, como apontam Ostetto e Silva (2018), no sentido de
explorar outras possibilidades, outros modos de pensar para dar forma a sentimentos
e ideias e à maneira como ele vai se relacionar consigo mesmo e com o mundo (Dalla
Zen, 2017). Também problematizar, de que forma sulcar esse mar de experiências
estéticas possibilita que esses docentes em formação pesquisem, preencham,
indaguem, questionem ao mesmo tempo que provocam e são provocados, alimentam
e são alimentados pela arte (Martins, 2006).
Nessa linha de raciocínio, considera-se importante visibilizar e difundir outras
práticas que vêm formando professores a partir de perspectivas mais inventivas e
criadoras, quer dizer estar aberto ao que se passa, a experimentar-se (Farina, 2008).
Na mesma esteira, o que se pretende, é uma relação com a(s) arte(s) “como prática
de formação docente, não prescritiva, que tende a favorecer outras formas de o
professor olhar para si mesmo e para sua prática pedagógica” (Dalla Zen, 2017, p.
101), pois, os processos gerados, através da arte, podem contaminar as práticas
educativas dos futuros professores e auxiliar no pensar e agir de diferentes maneiras.
Desse modo, as práticas de formação inicial que tomam a arte ou as
expressões artísticas como criação e resistência, possibilitam que o docente possa
“educar-se, humanizar-se, sensibilizar-se, passando a enxergar os alunos com outro
olhar” (Loponte, 2017, p.434). De fato, educar ou ensinar é um ato de criação, de
imaginação, de atualização de uma ideia (Díaz & Munhoz, 2018). Este espaço
formativo empapado de provocações, advindas das linguagens artísticas, permite
alinhavar as condições para a criação, para que um saber seja atualizado, imaginado,
criado; pois, só há criação se houver experimentação ou, dito de outro modo, sem
experimentação não há criação (Díaz & Munhoz, 2020). Assim, os diferentes
processos criativos dos artistas, os conceitos de suas obras, as ações e reações que
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Experimentações Pedagógicas: De Um Arquivo-Acervo Estético-Artístico Numa Formação Inicial Docente
Criadora
175
geram, permitem repensar, transformar, ampliar e contaminar a formação docente
(Martins, 2014). Com efeito, práticas docentes criadoras parecem ser práticas
docentes que resistem a arte no modo tecnicista, quer dizer que abandonam a ideia
tecnicista de arte, para agir como criação e resistência nos processos de formação
inicial, pois é nessa ação de criação e resistência que podem ser constituídas outras
formas do conhecimento que produzimos (Farina, 2008).
Portanto, a nossa hipótese gira em torno do fato de que uma maior imersão,
contato assíduo e contaminação em meio às diferentes linguagens estético-artísticas,
poderia redundar num olhar sensível, mais estético e poético para uma formação
inicial docente criadora.
ARQUIVO-ACERVO COM INSPIRAÇÃO FOUCAULTIANA
Para os efeitos deste estudo, em particular no âmbito dos procedimentos
metodológicos, toma-se a noção-chave de arquivo, a partir do prisma foucaultiano.
Assim, discorremos brevemente sobre os elementos constituintes de um arquivo-
acervo digital que se quer estético-artístico.
Foucault (2008), nos alerta que o arquivo não é o acúmulo de textos ou coisas
de uma determinada cultura; também não diz respeito às instituições encarregadas
da aglutinação de coisas ou textos; muito menos consiste em documentos
amarelados, arquivo morto, enferrujado; tampouco, interessa determinado manuscrito
ou os seus dados históricos. Mas, o arquivo é o que foi possível ser dito em
determinada época a partir dos sinais, dos indícios, das raias, dos rabiscos, dos
contornos, das migalhas, das evidências, dos vestígios, dos restos, entre outros. Ao
mesmo tempo em que o arquivo é composto por materialidades e discursividades que
se repetem (textos, documentos, vídeos, fotografias, voz, pele, etc.), também faz com
que determinadas coisas apareçam no espaço-tempo, por meio de jogos de relações
de saber-poder (Ribeiro et al., 2021).
O arquivo é, segundo Foucault:
O que faz com que todas as coisas ditas não se acumulem indefinidamente em
uma massa amorfa, não se inscrevam, tampouco, em uma linearidade sem ruptura e
não desapareçam ao simples acaso de acidentes externos, mas que se agrupem em
figuras distintas, se componham umas com as outras segundo relações múltiplas, se
mantenham ou se esfumem segundo regularidades específicas; ele é o que faz com
que não recuem no mesmo ritmo que o tempo, mas que as que brilham muito forte
como estrelas próximas venham até nós, na verdade de muito longe, quando outras
contemporâneas já estão extremamente pálidas (Foucault, 2008, p. 147).
Em suma, interessa pensar de que modo o que foi produzido e arquivado em
determinada época é capaz de estabelecer uma relação poética com o presente, uma
atualização inventiva do presente. Assim, com um olhar preocupado com o
acontecimento no tempo presente, o qual possibilita a emergência de inusitados focos
de experiência, compreendemos o arquivo não só como aquilo que possibilita falar
das matérias já criadas do mundo, mas também como o que permite criar novas
Cuestiones Pedagógicas, 2(33), 2024, 171-184
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José Alberto Romaña Díaz / Angélica Vier Munhoz / Glòria Jové Monclús
176
matérias, ainda que no campo da materialidade digital, o que comporia um arquivo
digital de pesquisa (Ribeiro et al., 2021).
No processo de compor esses arquivos-acervos, nas referidas disciplinas,
ministradas em cursos de graduação, levamos em consideração os seguintes
descritores: nome da(o) artista (nombre del artista); tipo/caracterização da obra (tipo/
caracterización de la obra); conceito/temática da obra em questão (concepto/ temática
de la obra en cuestión); links (enlaces) dos sites acessados material didático das
obras; usado por - se referia aos colegas que utilizaram esse artista; o que você
aprendeu (qué aprendiste) - convite para consignar os seus aprendizados com esse
artista. Dessa forma, as tabelas um (1) e dois (2) apresentam uma mostra dos
arquivos-acervos propostos, tanto na Espanha quanto no Brasil, respectivamente.
Tabela 1
Arquivo-Acervo proposto na CCE, UdL, Espanha
ACERVO CCE 2021/2022
N˚ Artista(s)
TIPO
(Obra/
Instalación
/ Live/
Otro)
Concepto/
Temática
Enlaces
(sitios, blog,
face, insta,
video)
Material
Didáctico
(sitio, blog,
face, insta,
video,
artículo)
Quién
Usado
por...
Qué
aprendiste...
Tabela 2
Arquivo-Acervo proposto na AAEP, Univates, Brasil
ACERVO AAEP 2022A
N˚ Artista(s)
TIPO
(Obra/
Instalação/
Live/ Outro)
Conceito/
Temática
Links
(site, blog,
face, insta,
vídeo)
Material
Didático
(site, blog,
face, insta,
vídeo, artigo)
Quem
Usado
por...
O que você
aprendeu...
As orientações dadas aos estudantes para o preenchimento do arquivo-acervo,
foram: Na coluna “nome” colocar o nome da(o) artista; a coluna “tipo” se refere a obra,
instalação, exposição que foi investigada. Já no “conceito/temática”, refere-se à obra
em questão; no espaço para “links”, colocar os diferentes canais ou sites que foram
acessados para extrair as informações; no “material didático” registrar, caso tenham
encontrado, o material produzido a partir das obras do(a) artista; na coluna “quem”,
seria o nome de quem apresentou; “usado por” se refere a se outros colegas que
utilizaram esse artista; na coluna “o que você aprendeu”, é um convite para consignar
os seus aprendizados com esse artista.
O material preenchido por discentes de ambos os países - Espanha e Brasil,
por meio das disciplinas CCE e AAEP, foi padronizado para calçar na forma
acadêmica e manter a força colaborativa do arquivo-acervo estético-artístico. Assim,
as tabelas2 três (3) e quatro (4), com o título de Arquivo-Acervo Estético-Artístico
dizem respeito ao material produzido e arquivado pelos discentes da CCE, UdL,
2
Algumas colunas foram desconsideradas para manter o anonimato dos estudantes.
ISSN 0213-7771 - e-ISSN 2443-9991
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Cuestiones Pedagógicas, 2(33), 2024, 171-184
Experimentações Pedagógicas: De Um Arquivo-Acervo Estético-Artístico Numa Formação Inicial Docente
Criadora
177
Espanha, AAEP, Univates, Brasil, respectivamente. Cabe ainda destacar que a
seguinte forma de organização permitiu agrupar as matérias em: Site (Sitio Web) (S);
Blog (B); Facebook (F); Instagram (I); Postal (P); Texto (T); Vídeo (Video) (V), Artigo
(Artículo) (A). A escolha pelo link curto é para manter esteticamente a visibilidade no
Tabela.
Tabela 3
Arquivo-Acervo Estético-Artístico preenchido colaborativamente na CCE, UdL,
Espanha
ACERVO CCE 2021/2022
N˚ Artista(s)
TIPO (Obra/
Instalación/ Live/
Otro
Concepto/
Temática
Enlaces
(sitios, blog, face,
insta, postal,
texto, video)
Material
Didáctico
(sitio, blog, face,
insta, postal,
video, texto)
1
Adrià Julià
Una Flor
Blanquísima
Efimero, Fugaz,
Desaparición,
Cotidiano, Sonido,
Cinema, Tiempo,
Imágen
S: bit.ly/30KdwRF
T: bit.ly/3VaV501
P: bit.ly/3REIVcV
2
Conquista de lo
inútil
Inútil S: bit.ly/3nvbq0C
3 David Perlov Diary 1973-1983
Cinema, Cotidiano,
dia a dia
S: bit.ly/3rCFWa2
V: bit.ly/3FudWKO
4
Tony Cragg
Congregation,
Sculptures 1990-
1999
Congregar,
Escultura, Madera,
Tiempo
S: bit.ly/3SNhq1Y
P: bit.ly/3T3qHD0
5 Calendar
S: bit.ly/3SNhq1Y
S: bit.ly/3edwneH
6
Colectivo
Baurama
Reciclaje
Trabajo con material
reciclado
S: bit.ly/3HwPoCQ
7
Gregory
Kloehn
Homeless Project
Casas con
materiales reciclados
I: bit.ly/30EFVsv
8
Os
Espacialistas
Diversas
Pensar, Espacio,
Arquitectura,
Patrimonio
S: bit.ly/3fOs9uv
I: bit.ly/3rCJfxY
F: bit.ly/3MhDVK1
9
José Val del
Omar
Estampas
Misiones
pedagógicas 1932
V: bit.ly/3qTosaA
10
Ana Flávia
Baldisserotto
Historias
Ambulantes
Intercambio de
historias
S: bit.ly/3yevyZa P: bit.ly/32a0WM6
11
Albert Bayona i
Fernández
Diversas
Cinema, Error,
Ilusionismo,
Paralelismo, Remix
S: bit.ly/3cvw1vs
Cuestiones Pedagógicas, 2(33), 2024, 171-184
ISSN 0213-7771 - e-ISSN 2443-9991
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José Alberto Romaña Díaz / Angélica Vier Munhoz / Glòria Jové Monclús
178
12
Murray
Schaffer
Listen; Ejercicios
de Escucha
Escucha, Atención,
Cotidiano,
Sensibilidad, Sonido
V: bit.ly/3VdqcYC T: bit.ly/3vnw70v
13
Daniel
Canogar
Scanner el
Tanque
Memória, Energía,
Proyección
S: bit.ly/3VdrGSG V: bit.ly/3McHotr
14 Walmor Correa
A biblioteca dos
enganos [2009
Biblioteca dos
Enganos
7ª Bienal do
Mercosul, Porto
Alegre / RS -
Brasil]
Archivo, bibliotecas,
Inventarios
S: bit.ly/3FmXa07
15 Zhang Yimou Un segundo
Cinema, nomadismo,
poética
V: bit.ly/3Ckdf6X
Sitio Web (S); Blog (B); Facebook (F); Instagram (I); Postal (P); Video (V), Texto (T)
Na tabela três (3) - Arquivo-Acervo Estético-Artístico - preenchida
colaborativamente na CCE, UdL, Espanha, pode-se visualizar a mostra dos artistas
que foram registrados e trabalhados pelos professores em formação ao longo da
disciplina citada, a saber quinze (15) obras, sendo que dois artistas se repetem,
totalizando treze (13) artistas. Dentro desse conjunto, também se percebe dois (2)
coletivos de artistas, assim como outros artistas locais, nacionais e internacionais. Em
matéria de temática/conceitos, os ítens que mais se repetem são: cinema (4);
cotidiano (3) e Sonido e Tempo (2). Entre as expressões artísticas trabalhadas
destacam-se: cinema (filmes, curtas metragens e remixes), esculturas, instalações,
literatura e fotografia.
No que se refere aos links (enlaces), foram registrados pelos docentes em
formação, doze (12) sites (sitios web), na sua grande maioria sites dos próprios
artistas e/ou coletivos. Alguns correspondem ao site do espaço de arte que
comportava tal obra ou exposição. Também foram registrados quatro (4) vídeos
(videos) ou material audiovisual (filmes, curtas metragens e remixes). Finalmente uma
(1) postal e uma (1) conta do Instagram fecham os sites. No que tange ao material
didático, algumas propostas aparecem diretamente no site da(o) artista ou na página
do espaço de arte. Ainda aparecem dois (2) textos em sites de espaços de arte, dois
(2) postais, e um (1) de cada para Facebook, Instagram e vídeo.
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Cuestiones Pedagógicas, 2(33), 2024, 171-184
Experimentações Pedagógicas: De Um Arquivo-Acervo Estético-Artístico Numa Formação Inicial Docente
Criadora
179
Tabela 4:
Arquivo-Acervo Estético-Artístico preenchido colaborativamente na AAEP,
Univates, Brasil
ACERVO AAEP 2022A
N˚
Artista(s) e
Artista(s)
Etc...
TIPO (Obra/
Instalação/ Live/
Outro
Conceito/ Temática
Links
(site, blog, face,
insta, postal,
vídeo)
Material Didático
(site, blog, face,
insta, postal,
vídeo, texto, )
1 Élida Tessler
Doador: Objetos
terminados em
dor
Criação S: bit.ly/3I2KYUK S: bit.ly/3NymDr1
2
Ricardo
Basbaum
Artista etc Curadoria I: bit.ly/3NzMHCi T: bit.ly/3ntZ5cn
3
Willian
Kentridge
Obra Fortuna
Herança do
apartheid, história
social.
S: bit.ly/3IzzA3f
4
Rosangela
Rennó
Pequena Ecologia
da Imagem
Apropriação de
imagens anônimas
S: bit.ly/3Rfofcn V: bit.ly/3uuXd6V
5 Cildo Meireles Arte e Política
Expressa os desvios
da sociedade e da
política da época.
B: bit.ly/3Io3MxV
B: bit.ly/3RdhEPD
6 Kátia Canton Site da artista Pequenas coisas S: /bit.ly/3ajIt49
7 Francis Bacon Tripticos (Triptych)
Retrata hábitos dos
bares e clubes de
Londres. Mostrando,
de certa forma, o
lado grotesco do ser
humano.
S: bit.ly/3pXLlrm
8 Jaider Esbell Arte Indígena
Arte contemporânea
feita por Esbell, na
qual ele retrata
vivências que teve
em sua terra
indígena e suas
percepções como
parte do povo
Raposa.
S: bit.ly/3uqpJXq Site
9
Ana Flávia
Baldisserotto
Armazém de
histórias
ambulantes
A Carroça ou
Armazém de
Histórias Ambulantes
é uma banca
itinerante de
escambo
S: bit.ly/3yevyZa
Site, Instagram e
Youtube
1
0
Andy Warhol Pop Art -
Pop Art movimento
que visava a ideia
que a arte pode ser
extraída de qualquer
fonte.
S: bit.ly/3NJt3nf Site
1
1
Pablo
Helguera
Exposições de
caricaturas
Transpedagogia S: bit.ly/3yKoOUq Site
1
2
Maxwell
Alexandre
Exposição de arte
contemporânea
Arte contemporânea,
representação da
I: bit.ly/3yO8dig
B: bit.ly/3bSfMeX
Cuestiones Pedagógicas, 2(33), 2024, 171-184
ISSN 0213-7771 - e-ISSN 2443-9991
https://doi.org/10.12795/CP.2024.i33.v2.09
José Alberto Romaña Díaz / Angélica Vier Munhoz / Glòria Jové Monclús
180
favela e da
população negra
1
3
José Leonilson
Bezerra Dias
Documentário: A
paixão do JL
Anotações como
registro de vida
V: bit.ly/3At8WXE Site
1
4
Antônio
Augusto
Bueno
Encontros com a
natureza
Arte contemporânea
a partir dos
'descartes' da
natureza. Ex: folhas,
sementes, frutos, etc.
B: bit.ly/3yPdZQU Site
1
5
Diana
Aisenberg
Historias del Arte
Diccionario de
certezas e intuiciones
I: bit.ly/3bZKz9B
F: bit.ly/3CFfvHu
V: bit.ly/3uz57fD
T: bit.ly/3nMnlXf
Site (S); Blog (B); Facebook (F); Instagram (I); Postal (P); Vídeo (V), Texto (T)
A Tabela quatro (4) - Arquivo-Acervo Estético-Artístico - preenchido
colaborativamente na AAEP, Univates, Brasil, apresenta uma mostra dos artistas que
foram registrados e trabalhados pelos professores em formação ao longo da
disciplina, a saber 15 artistas locais, nacionais e internacionais. Uma artista é comum
para os dois arquivos-acervos transoceânicos (Tabelas 3 e 4). Se trata da artista
brasileira, Ana Flávia Baldisserotto. Em matéria de temática/conceitos, os itens
destacados foram: Arte contemporânea, Criação, Apropriação e Curadoria. Entre as
expressões artísticas trabalhadas, distinguem-se instalações, literatura, desenho,
fotografia, pintura e escultura.
No que diz respeito aos links (enlaces), foram registrados pelos professores
em formação, nove (9) sites (sitios web), dos quais, grande parte são sites dos
próprios artistas. Alguns correspondem ao site do espaço de arte que comportava tal
obra ou exposição. Também, foram registrados quatro (4) blogs de artistas e três (3)
contas de Instagram. Ainda foi registrado um (1) material audiovisual (curta
metragem) e uma (1) página de Facebook.
No quesito material didático, aparecem dois (2) textos de produções de artistas,
e dois (2) materiais audiovisuais; salienta-se que algumas propostas didáticas
aparecem diretamente no site da(o) artista ou na página do espaço de arte; uma (1)
das artistas registradas apresenta material didático no site, no Instagram e em formato
vídeo no Youtube; uma (1) outra artista comporta no seu próprio site material didático.
DA CONSTRUÇÃO DE UM REPERTÓRIO ARTÍSTICO
O propósito deste texto se decanta por uma formação inicial docente criadora
que toma a arte como matéria do pensamento. Pois bem, a construção coletiva do
arquivo-acervo estético-artístico, tomou como pedra de toque a inquietação pela
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Experimentações Pedagógicas: De Um Arquivo-Acervo Estético-Artístico Numa Formação Inicial Docente
Criadora
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maneira ou possibilidade de acompanhar a contaminação estético-artística de
estudantes de licenciaturas, no Brasil e na Espanha, mediante o processo
colaborativo, a partir dos artistas trabalhados nas disciplinas citadas. De outro modo,
nos perguntar: de que modo a co-construção de um arquivo-acervo estético-artístico
que envolve práticas educativas e artísticas, pode contribuir para aulas criadoras?
Ao longo do desafio de preenchimento coletivo de um arquivo-acervo estético-
artístico, com o intuito de uma formação inicial docente criadora, no Brasil e na
Espanha, nos deparamos com as seguintes questões: O que escolhemos mostrar?
Com quais critérios? Escolhemos apenas o que gostamos ou obras que “sabemos
falar”? Ou obras que nos provoca, nos causa estranhamento e sobre as quais
queremos problematizar para ir além das primeiras impressões? Como propomos os
encontros entre educadores/imagens/aprendizes? (Martins, 2006, p. 4)
Algumas outras questões também surgiram nesse processo: que tipo de
linguagens artísticas abordar? Quais artistas escolher para serem trabalhados e
pesquisados? Quais seriam os critérios lançados? De que maneira propiciar a
construção colaborativa? Quais propostas problematizam as nossas verdades? Que
tipo de obras propiciam a criação? Que obras viriam a encontro do intuito de gerar
resistência e criação? Quais processos de artistas reverberam na criação? Existem
fios que movimentam conexões possíveis entre as linguagens artísticas trabalhadas
com o ponto de vista de um ensino criador, mais poético?
Como dado chamativo, podemos destacar que, uma vez apresentada a
proposta de arquivo-acervo estético-artístico, tanto no Brasil quanto na Espanha,
quase de forma automatizada, o primeiro questionamento por parte dos discentes
estava relacionado com o valor avaliativo, o peso da nota. Eles perguntavam: “vai ter
nota?” Insistimos que o intuito da proposta estava mais do lado da aprendizagem
colaborativa, da experiência em prol de um duplo objetivo: por um lado perceber o
contato com diversas linguagens artísticas desses docentes em formação e, por outro
lado, o enriquecimento e aprimoramento dos canais sensitivos face a uma docência
criadora e poética.
Como já mencionado na seção anterior, no que diz aos marcadores propostos,
também, foi indicado que o arquivo-acervo em construção estava aberto para
acréscimos, de alguns outros marcadores ou questões que os professores em
formação consideraram relevantes. Foi assim que ocorreu com a apresentação de
uma das discentes, que, ao descritor Artista (segunda coluna do arquivo-acervo),
adicionou Artistas etc…, conceito trabalhado pelo artista Ricardo Basbaum:
Quando um artista é artista em tempo integral, nós o chamaremos de “artista-
artista”; quando o artista questiona a natureza e a função de seu papel como artista,
escreveremos “artista-etc” (de modo que poderemos imaginar diversas categorias:
artista-curador, artista-escritor, artista-ativista, artista-produtor, artista-agenciador,
artista-teórico, artista-terapeuta, artista-professor, artista-químico) (Basbaum, 2013,
p.8)
A partir dessa provocação, por um lado, tencionamos as concepções
tradicionais ou senso comum a respeito de artistas que tínhamos desde nosso
processo formativo e, de outro lado, expandimos nossa concepção de artista,
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colocando especial foco nos processos criativos dos mesmos, com o intuito de tomar
como matéria para pensar uma formação inicial que se quer criadora.
Em grandes rasgos, os artistas que foram registrados e trabalhados pelos
professores em formação nas disciplinas, no Brasil e na Espanha, totalizaram trinta
(30) obras, vinte e oito (28) ao todo, locais, nacionais e internacionais, desses dois (2)
são coletivos de artistas. A artista Ana Flávia Baldisserotto é a única que se repete
nos dois arquivos-acervos transoceânicos.
As temáticas/conceitos mais trabalhados pelos docentes em formação foram:
Cinema, Cotidiano, Sonido, Tempo, Arte contemporânea, Criação, Apropriação e
Curadoria. Já em matéria de linguagens artísticas trabalhadas nas aulas
apresentaram-se: cinema (filmes, curtas metragens e remixes), esculturas,
instalações, literatura, fotografia, desenho e pintura.
Em matéria das páginas web pesquisadas vieram a compor os arquivos: vinte
e um (21) sites (sitios web) maioritariamente sites dos próprios artistas e/ou coletivos;
cinco (5) materiais audiovisuais (filmes, curtas metragens e remixes); quatro (4)
contas do Instagram; quatro (4) blogs de artistas; uma (1) página de Facebook e uma
(1) postal. Percebemos uma prática cada vez mais frequente, no tempo pré-
pandêmico e parece mais acentuado no tempo pós-pandêmico, no que diz respeito a
procurar fontes de pesquisa não habituais no padrão acadêmico.
O material pedagógico que foi movimentado aparece diretamente no site da(o)
artista ou na página do espaço de arte, ou no blog, ou nas suas mídias, Instagram,
Facebook e Youtube. A maior parte das propostas pedagógicas aparecem
consignadas em: aparecem quatro (4) textos, três (3) materiais audiovisuais, três (3)
imagens. No caso da artista "transoceânica", apresentam material didático no site, no
Instagram e em formato vídeo no Youtube.
No momento de compartilhar o link de acesso ao arquivo-acervo, se deixou
aberta a possibilidade de preenchimento anônimo, contudo no que diz respeito às
colunas: “quem (quién)”, e, “usado por”, percebemos muitos discentes decidiram
manter o anonimato maioritariamente no descritor “usado por”. Já no que respeito ao
descritor “o que você aprendeu (qué aprendiste)”, percebemos que embora nas
intervenções verbais dos discentes manifestaram alguns aprendizados e situações
vivenciadas nas suas práticas docentes em estágios e trabalhos, timidamente foi
registrado no arquivo-acervo. Em linhas gerais, eles se referiram a como foi
modificada a concepção e visão que se tinha da arte, das artes e dos artistas, e da
maneira como o processo de criação de alguns artistas contaminaram as suas
práticas docentes.
De forma geral, na empreitada da co-construção do arquivo-acervo estético-
artístico, ou de outra forma, da constituição de um repertório artístico de forma
colaborativa entre pares que foi operacionalizado e experienciado na aula, entendeu-
se esse espaço/tempo da aula como um lugar de criação. Claramente algumas
questões pulula(va)m, a saber: como propiciar experiências estéticas num ensinar-
aprender que se quer criador? De que forma é possível ampliar a compreensão da
noção de formação docente criadora por meio da expansão de um repertório artístico
de forma colaborativa?
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Criadora
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OLHAR SENSÍVEL E POÉTICO, NUMA FORMAÇÃO INICIAL CRIADORA
Esta primeira experiência de construção colaborativa de um arquivo-acervo
com vistas a uma formação inicial docente criadora, no Brasil e na Espanha, permite-
nos perceber que a co-construção do arquivo-acervo estético-artístico possibilitou
trocas entre estudantes e o manuseio e interação com diferentes expressões
artísticas.
De igual forma percebemos que podemos tomar os processos criativos dos
artistas como sementes a ser lançadas no espaço de formação, como espaço de
experimentação ou campo fértil para a criação, para que um saber seja atualizado,
imaginado, re-pensado, re-criado. Desse modo, práticas docentes criadoras parecem
ser práticas docentes que resistem a arte na sua forma tecnicista e propõem a agir
como criação e resistência nos processos de formação inicial. Assim, pensamos que
uma maior imersão, contato assíduo, e contaminação em meio às diferentes
linguagens estético-artísticas, poderia redundar num olhar sensível, mais estético e
poético, numa formação inicial criadora.
Mais do que um modelo, essa experiência e matéria de pensamento, pretende
ser um pontapé inicial, que pode ser modificado e acrescentado pelos professores em
formação e aos interessados no assunto, como já mencionado anteriormente, no
acréscimo do artista etc… para um pensar-fazer da aula como espaço de
experimentação e criação. Além disso, com a elaboração desse arquivo-acervo
estético-criativo, pretendíamos provocar um duplo tensionamento: o senso comum
com respeito aos artistas, as artes e aos processos de criação advindos daí e o
desafio de ampliar a compreensão da noção de formação docente criadora por meio
da expansão de um repertório artístico de forma colaborativa.
Do mesmo modo, esperamos que este tipo de experimentações possa
subsidiar a construção e a vivência de outras experiências educacionais em espaços
educativos do Brasil quanto da Espanha, na educação superior no que tange a
formação inicial docente. Novos e complexos modos de aprender necessitam ser
compreendidos, o que implica também em uma reinvenção de práticas pedagógicas,
sobretudo neste momento pós-pandemia, em que as relações pedagógicas se
tornaram tão virtuais.
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